O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB – PA) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um país com a saúde pública com tantos problemas, com hospitais sucateados, com falta de médicos para o atendimento, sem verbas para atingir os objetivos mínimos necessários à manutenção da saúde de nossa população – apesar de todos os esforços desenvolvidos pelo atual Ministro da Saúde, nosso colega Senador José Serra, – é um país que vive o caos num setor social imprescindível ao bem estar dos seus cidadãos.  

Entretanto, quando visitamos qualquer uma das instalações da Rede SARAH de Hospitais do Aparelho Locomotor renovamos as esperanças de que algum dia ainda possamos ter uma assistência à saúde digna sob todos os aspectos. A Rede Sarah, composta atualmente por quatro hospitais, localizados em Brasília, Salvador, São Luís e Belo Horizonte, é um modelo de serviço a ser seguido pelo Governo Federal.  

O SARAH-Brasília acumula as funções de hospital, centro de administração, centro de pesquisas e centro formador de recursos humanos para a Rede. O SARAH-Salvador é dedicado à reabilitação do grande incapacitado físico; o SARAH-São Luís, ao tratamento de patologias da infância, ortopedia, lesão medular e lesão cerebral; o SARAH-Belo Horizonte cuida da reabilitação do lesado medular, lesado cerebral adulto e lesado cerebral infantil, desenvolve programas de genética médica, de distúrbios neuro-musculares e complementar ortopédico clínico e cirúrgico.  

O padrão de eficiência do SARAH-Brasília é reconhecido internacionalmente, tendo sido classificado pela Organização Mundial de Saúde – OMS como centro de referência para doenças do aparelho locomotor. O trabalho desenvolvido com crianças vítimas de lesão cerebral está sendo adotado em todo o mundo sob o nome Método Sarah. A diferença dos métodos tradicionais é que todo o trabalho é desenvolvido pelos pais, permitindo que tenham um contato mais íntimo com as crianças e possibilitando um número maior de atendimentos.  

Criado na década de 60, graças aos esforços de Dona Sarah Kubitschek, o Centro de Reabilitação teve sempre excelentes profissionais de medicina em seus quadros. Mas foi a partir de 1968, quando o Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior passou a integrar sua equipe médica, que o hospital começou a ser conhecido. O Dr. Campos da Paz, carioca, médico ortopedista com pós-graduação na Universidade de Oxford, na Inglaterra, teve a idéia de montar uma rede de hospitais do aparelho locomotor. Foram seus incentivadores e colaboradores o arquiteto João Filgueiras Lima(o Lelé) – autor de vários projetos arquitetônicos premiados – e o economista baiano Eduardo Kertz.  

A visão do Dr. Campos da Paz conseguiu fazer com que os médicos, enfermeiros, paramédicos e auxiliares que trabalham na Rede SARAH absorvessem sua filosofia de que a medicina deve ser dirigida ao ser humano, o que transformou a instituição num centro de excelência do tratamento de doenças do aparelho locomotor. O Dr. Campos da Paz é uma das figuras mais importantes da medicina moderna brasileira por sua capacidade de gerenciar com perfeição uma rede tão complexa e de demonstrar que a medicina gratuita pode e deve ser exercida com a mesma competência e seriedade com que se exerce a particular.  

O primeiro hospital, inaugurado em Brasília, em 1980, cujo projeto é de autoria de Lelé, tem uma idéia arquitetônica hospitalar completamente oposta à até então praticada no Brasil. A concepção e a montagem em argamassa armada constitui técnica por ele desenvolvida e barateia em até 40% as construções.  

Em 1991, a Lei n° 8.246, transformou a antiga Fundação das Pioneiras Sociais na Associação das Pioneiras Sociais – APS, uma organização de direito privado, sem fins lucrativos, gerenciada por um conselho administrativo. O Governo não interfere na administração dos hospitais. Repassa o dinheiro necessário ao atendimento e ao Tribunal de Contas da União cabe a fiscalização dos recursos. A APS administra a Rede SARAH por meio de um Contrato de Gestão firmado com a União. O objetivo principal é "retornar o imposto pago por qualquer cidadão, prestando-lhe assistência médica qualificada e gratuita, formando e qualificando profissionais de saúde, desenvolvendo pesquisa científica e gerando tecnologia".  

Foi inovadora a filosofia adotada pelo Dr. Campos da Paz de atendimento igual para qualquer paciente. O objetivo principal consistiu em criar um centro especializado de saúde "que entenda o ser humano como sujeito da ação e não como objeto sobre o qual se aplicam técnicas". Assim, um milhão de pacientes foram atendidos em 1999, contando com a boa vontade, a generosidade, a solidariedade, a humanidade e a competência das equipes multidisciplinares da rede Sarah. Pobres e ricos são atendidos com espírito de igualdade. Todos os que se tornaram incapacitados de alguma forma, em seus movimentos, por acidente, doença congênita ou adquirida, são tratados de forma igual e saem animados pela assistência que receberam.  

O reconhecimento mundial da equipe médica da Rede SARAH concretizou-se, ano passado, quando a Dra. Lúcia Willadino Braga foi agraciada com o título de doutora honoris causa pela Universidade de Reims, na França. Essa Universidade, fundada há 450 anos, pela bula do Papa Paulo III, foi uma das mais notáveis da Europa na Idade Média. Fechada durante um século e meio em virtude da Revolução Francesa foi reaberta e homenageia, de 50 em 50 anos, três personalidades mundiais com a concessão do título doutor honoris causa . Pela primeira vez, a láurea foi concedida a uma mulher, como reconhecimento de seu trabalho de recuperação de pacientes com lesões cerebrais. Essa médica que tem lutado, com denodo, pela recuperação de lesados físicos e cerebrais foi escolhida entre cem cientistas cujos currículos foram analisados pela Universidade de Reims.  

Finalizando, quero homenagear todos os funcionários da Rede SARAH na figura de seu idealizador e Cirurgião-Chefe, Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior, que vêm demostrando como é possível exercer uma medicina gratuita de qualidade. A Rede SARAH é, hoje, um centro de referência nacional e internacional no tratamento de doenças do aparelho locomotor. Abrange as áreas médico-científica, de construção hospitalar e produção de equipamentos de reabilitação. Provavelmente a dedicação exclusiva de todos os seus funcionários tenha permitido esse grau de perfeição da instituição.  

Esperamos que novos hospitais da Rede SARAH possam ser abertos pelo País afora, beneficiando os 16 milhões de incapacitados do Brasil que constituem cerca de 10% de sua população. E ficaríamos entusiasmados se Belém do Pará pudesse contar com uma unidade que traria atendimento a toda a Região Norte do País.  

Era o que tínhamos a dizer.  

Muito obrigado.