O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Para encaminhar a votação.) - Sr. Presidente, Sr^as e Srs. Senadores, o voto de pesar pelo falecimento de Carlos Chagas Filho, dirigido à Senhora Anná Leopoldino de Melo Franco Chagas, que ora submetemos a este Plenário não objetiva homenagear apenas um grande cientista, mas sobretudo a figura de um notável brasileiro que participou intensamente da evolução das atividades científicas do País, indo além das nossas fronteiras, para pontificar, na Europa, como emérito pesquisador e estudioso.

Médico, Professor e homem de letras, Carlos Chagas Filho era um profundo humanista, dominando seis idiomas; graças ao nível de seus conhecimentos, presidiu por 16 anos a Pontifícia Academia de Ciências de Roma, período em que, por sua iniciativa, foi revisto o processo de Galileu Galilei, resultando na reabilitação do Astrônomo, por nada ter sido encontrado contra ele, nem mesmo a existência de pretensa frase a respeito da rotação da Terra em torno do Sol.

Criador do Instituto de Biofísica da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, entre outras pesquisas desenvolvidas ao longo de sua existência, levantou a idade do Santo Sudário, concluindo que, na verdade, aquele não era o lençol que cobriu Jesus Cristo, tratando-se apenas de uma relíquia do ano 600.

Filho de Carlos Chagas, também pesquisador e descobridor do parasita causador da doença que levou seu nome, dele Carlos Chagas Filho herdou o apreço à Ciência, conquistando 19 condecorações no meio acadêmico, além de 16 títulos de doutor honoris causa de diversas universidades brasileiras e estrangeiras.

Essa trajetória deverá ser oferecida ao conhecimento mais amplo da sociedade em maio próximo, quando será comemorado o centenário da Fundação Osvaldo Cruz e editado por essa Instituição, em conjunto com a Editora Nova Fronteira, a autobiografia de Carlos Chagas Filho, à qual ele deu modestamente o nome de Um Aprendiz da Ciência. O título da obra reflete a simplicidade de quem, ao invés de aprendiz, sempre perfilou como grande mestre do nosso mundo científico.

Carlos Chaga Filho, de elevada formação católica, acompanhou o Papa João Paulo II por ocasião de sua viagem ao Brasil, inclusive a Belo Horizonte. Como homenagem ao nosso grande cientista, leio, neste ensejo, a carta de condolências que o Sumo Pontífice dirigiu à Srª Anná Carolina de Mello Franco Chagas:

      Exm.ª Senhora

      Anná Carolina de Mello Franco Chagas

      Foi com profundo pesar que recebi a notícia do falecimento do Professor Carlos Chagas Filho. Este ilustre filho da nação brasileira, que, como cristão exemplar e bondoso pai de família, será recordado pela sua generosa e abnegada dedicação como Presidente da Pontifícia Academia de Ciências, graças à qual a Igreja se tornou mais presente no mundo da Ciência, pelos seus méritos de prestigioso pesquisador, chamado à Casa do Pai.

      Em espírito de filial resignação aos desígnios da Divina Providência, desejo compartilhar com a dor dos seus familiares e amigos de todo o Brasil e elevo ao Todo-Poderoso ardentes preces em sufrágio da sua alma, para que, à luz da gozosa esperança da ressurreição, o Senhor o acolha para sempre no Seu reino de Paz e Amor.

      Ao formular-lhe minhas mais sinceras condolências, envio com afeto uma confortadora Benção Apostólica, extensiva aos seus familiares.

      Joannes Paulus PP. II

            Sr. Presidente, esse requerimento, de minha iniciativa, foi elaborado por motivo sentimental e expressa a minha admiração por Carlos Chagas Filho e também por seu pai, Carlos Chagas, cientista que nasceu na cidade de Oliveira, no Estado de Minas Gerais.