Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-SENADOR PETRONIO PORTELLA.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO EX-SENADOR PETRONIO PORTELLA.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2000 - Página 3270
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, PETRONIO PORTELLA, EX SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, RESTAURAÇÃO, DEMOCRACIA, EPOCA, REGIME MILITAR.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente Antonio Carlos Magalhães, Srs. ex-Presidentes aqui presentes, meus grandes amigos e conhecidos Jarbas Passarinho e Mauro Benevides, Srs. Ministros, representantes das entidades governamentais aqui presentes, senhoras e senhores, meus caros colegas, Srª Iracema, por intermédio de quem presto, neste instante, homenagem a Petrônio, e a quem conheci ainda jovem, mocinha, filha de uma ilustre família: vim a conhecer Petrônio de uma maneira talvez diferente da de quantos possam falar sobre ele aqui. Talvez eu seja o mais velho Parlamentar desta Casa; creio que ninguém tem mais idade do que eu. E espanto-me como envelheci depressa, pois parece que tudo aconteceu ontem.  

E Hugo Napoleão já falou tudo sobre Petrônio. Ninguém pode falar mais. S. Exª abordou todos os ângulos da personalidade desse homem extraordinário, que se chamou de gênio político – e creio que podemos confirmar isso.  

Mas como conheci Petrônio? Se Hugo Napoleão já disse tudo, vou dizer um pouco; registrar episódios que revelam a personalidade, a grandeza de caráter e os conhecimentos que ele tinha.  

Saí da minha escola e fui trabalhar no Rio de Janeiro. Eu era engenheiro da Central do Brasil. Um dia, fui passar férias na minha cidade de Parnaíba. Houve uma eleição e meteram-me nela. E a minha mulher disse: "Por que vamos entrar em política se vivemos no Rio? Você é um engenheiro muito bem situado na Central do Brasil e trabalha com o que gosta". Eu lhe disse: "Minha mulher, não posso ser eleito, pois estou distante daqui há mais de dez anos. Portanto, vou perder a eleição. Todos estão pedindo, a UDN está pedindo". Eu nem sabia que partidos estavam disputando as eleições no Piauí.  

O destino deu-me setenta votos a mais e fui eleito Prefeito de Parnaíba. Um engenheiro que trabalhava na Central do Brasil, de repente, tornou-se Prefeito de Parnaíba, a sua cidade. Mas Parnaíba era mais ou menos desligada do Estado; era uma cidade de cunho excepcionalmente comercial, ligada à Europa e aos Estados Unidos, por causa da exportação. A capital parecia distante para os cidadãos de Parnaíba.  

Nessa ocasião, comecei a conhecer Teresina. Era Governador Rocha Furtado. Havia uma pressão política muito grande. Comecei a me informar sobre a política do Piauí e tive oportunidade de conhecer Eurípedes Clementino de Aguiar, Secretário-Geral do Governo Rocha Furtado, um homem que ajudou a formar e a criar uma política especial para o Piauí. Como era engenheiro, comecei a trabalhar em Parnaíba fazendo eletrificações, defendendo a cidade de inundações e isso chamou a atenção do Governador, que me pediu para ajudá-lo a construir uma usina em Teresina.  

Quando a usina ficou pronta, o Governador Rocha Furtado perguntou-me: "Quem vou contratar para dirigir a usina? Os engenheiros daqui estão do outro lado, são meus adversários". Havia uma luta entre o PSD e a UDN. Eu estava começando a compreender a política; eu era um engenheiro, estava construindo a minha cidade, que tanto eu amava – como ainda hoje. Eu disse ao Governador: "Tenho um colega de escola – aliás, fui eu quem o levou para Itajubá –, o Elói do Egito Coelho. Ele disse-me: "Ele está em Teresina". Dr. Rocha Furtado, eu falei: "Eu soube que ele é noivo de uma das filhas do Coronel Pedro Freitas, que é, conforme vejo, seu adversário político. Mas ele é altamente competente, foi meu colega e poderia ser o diretor desse serviço de água e de energia elétrica". O Dr. Rocha Furtado teve a grandeza de responder: "As nossas lutas políticas não têm nada a ver com o interesse do povo: eu nomeio o rapaz". Assim, Elói assumiu a direção de uma empresa da UDN.  

E, então, conheci o Coronel Pedro Freitas. Que homem! Que extraordinário político era ele! E Petrônio era noivo da outra filha, aqui presente neste momento. Eram moças da elite teresinense, da família Freitas – de que há vários representantes presentes nesta oportunidade.  

Ao terminar meu mandato de Prefeito, fui eleito Deputado, com a maior votação da UDN. Eu disse: "Vou largar a política, pois quero voltar para o Rio de Janeiro, para o meu trabalho na Central do Brasil". Porém, retrucaram-me: "Não, você vai ser Deputado". Assim, fui para Teresina como Deputado pela UDN. E, apesar de ser um engenheiro que nada sabia de política, fui eleito Líder. Eu pensava: "O que vou fazer aqui?"  

Então, morreu o Diretor da Estrada de Ferro Central do Piauí – assim ela era chamada naquela época – e toda Parnaíba reivindicou que eu ocupasse o cargo. Mas eu tinha que ser nomeado por Getúlio Vargas. Foi quando se iniciou outra corrida política. Nessa hora, conheci o Senador José Cândido Ferraz, da UDN e amigo de Getúlio. Foi uma batalha. Fomos ao Rio de Janeiro para conversar com Getúlio e encontrei um jovem simpático e falante. "Quem é esse rapaz?" – perguntei. Responderam-me: "Ele acaba de se formar na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. É um jovem e brilhante advogado". Era Petrônio, que começava a entrar na minha vida, ajudando a José Cândido e a mim. Fui nomeado Diretor da estrada de ferro e tive de renunciar ao meu mandato de Deputado.  

Terminado o meu período como Diretor da estrada de ferro, começou uma luta política e encontrei-me novamente com Petrônio, naquela época Prefeito de Teresina – depois ele foi Governador. Por razões políticas, devido à luta que havia em Parnaíba na época em que Jânio Quadros renunciou, o Governador de então, Chagas Rodrigues, exigiu que eu saísse da estrada de ferro. Assim, fui para o Ceará.  

Passei oito anos naquele Estado. Nesse período, Petrônio tornou-se Governador do Piauí. E já havia uma diferença política entre o grupo de Parnaíba e o grupo chefiado por Petrônio. Começamos a nos considerar adversários políticos.  

Enquanto estava no Ceará, esqueci um pouco a política. Um belo dia, recebi um convite do Governador Petrônio Portella para que eu fosse a Teresina. Eu havia esquecido que tinha sido político no Piauí. Petrônio me disse: "Eu preciso de um engenheiro da sua competência para representar o Piauí no conselho da nova empresa de eletricidade, a companhia hidrelétrica do Parnaíba, Cohebe." Por nomeação dele, passei a ser representante do Governo do Piauí na Sudene, em Recife, onde era a sede da companhia.  

De membro daquele conselho, fui indicado Governador do Piauí. Foi uma luta. Meu nobre e sempre inesquecível amigo Jarbas Passarinho, aqui presente, era Ministro da Educação e acompanhou todo o drama, pois era muito complicado levar um parnaibano para o Governo estadual. Petrônio fez o possível para superar as dificuldades políticas no Estado e, como conseqüência, assumi o Governo do Piauí na época do regime militar.  

Daí em diante, Petrônio tornou-se o companheiro de todas as nossas iniciativas, pois, com sua experiência, reconhecida posteriormente pelo Brasil inteiro, ele sabia como dialogar, como apresentar as questões.  

Do Governo do Piauí, vim para o Senado Federal, onde encontrei Petrônio presidindo a Casa. Ele me chamou e disse: "Precisamos organizar agora o caminho para a redemocratização". Havia somente a Arena e o MDB, e Petrônio estimulou a criação do PP. Eu, Tancredo Neves, Olavo Setúbal, Magalhães Pinto e vários outros políticos criamos o Partido Popular.  

Entretanto, repentinamente, Petrônio não estava mais aqui. E eu pensei: "Agora vai ser difícil. Quem vai levar o projeto adiante?" Com palavras de Hugo Napoleão, quero registrar que Petrônio deixou tudo pronto: ele preparou, dialogou, levou a situação na direção que o País precisava.  

E gostaria também de registrar um fato que me chamou a atenção. Petrônio foi um homem que, pela sua competência, pela sua visão global e política, conseguiu aquilo que muita gente não conseguiu: a confiança, digamos assim, do lado político do regime militar.  

Conheci todos os Presidentes. O que me indicou foi Médici, depois Geisel. E o Petrônio conseguiu, entre eles e Golbery, estabelecer o diálogo político, sem o qual não se governaria este País. Eles acreditaram em Petrônio, e tinham que acreditar, porque ele era competente. Quando desapareceu, deixou um vazio na política do País, sem dúvida nenhuma. Não vou falar mais porque o Senador Hugo Napoleão já disse tudo, com a sua facilidade de falar, de registrar e com sua memória, da qual tenho inveja - ele busca fatos dos quais me lembro, mas, na minha idade, às vezes esqueço.  

Senhores, esta homenagem é mais do que justa. Estivemos juntos em diversas ocasiões. Estivemos juntos quando ele foi Prefeito e eu também; trabalhei como engenheiro quando ele foi Governador. Posteriormente, estivemos juntos nesta Casa, ambos como Senadores. Depois fiquei sozinho, e ele se foi. E aí o destino me aproximou da família. Quem eram os nossos adversários? Membros da família de Petrônio. Quem eram os meus maiores adversários, os meus respeitáveis – posso dizer assim porque eles eram sérios – adversários? A nobre família Portella, bem como o é nobre a família Freitas. E um dia Lucídio, meu maior adversário, mandou-me um recado: "Quero falar com você". Eu lhe disse: "Não é possível! Há alguma coisa aí que não dá certo." Ele respondeu: "Quero que façamos as pazes, quero você seja candidato ao Governo, e eu o vice." "Vamos fazer o contrário", eu disse. "Você vai ser o Governador e eu vou ser o vice." E ele me disse: "Não. É isso mesmo" E acabamos ganhando a eleição. A partir desse nosso entendimento, eu conheci a família mais de perto. Quantas vezes encontrei com alguns de seus membros – e está ali o engenheiro da Portobras, altamente competente, Sr. Elói Portela – com quem mantive encontros a fim de resolvermos problemas do Estado e do País. Em sua pessoa e também na de D. Iracema, saúdo os irmãos – não sei se estão aqui – , registrando minha grande admiração e a grande saudade que todos sentimos desse homem que foi um símbolo e um exemplo para o Brasil e para o Piauí. Muito obrigado. (Palmas!)  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2000 - Página 3270