Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REALIZAÇÃO EM MANAUS, NO ULTIMO DIA 25, DE SEMINARIO INTITULADO "AMAZONIA - NOSSO DESAFIO E DESENVOLVE-LA", PROMOVIDO PELA CENTRAL SOCIAL DEMOCRACIA SINDICAL.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • REALIZAÇÃO EM MANAUS, NO ULTIMO DIA 25, DE SEMINARIO INTITULADO "AMAZONIA - NOSSO DESAFIO E DESENVOLVE-LA", PROMOVIDO PELA CENTRAL SOCIAL DEMOCRACIA SINDICAL.
Aparteantes
Amir Lando, Geraldo Melo, Mozarildo Cavalcanti, Ney Suassuna, Romero Jucá, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 01/03/2000 - Página 3773
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, INICIATIVA, CHICO BRAGA, DIRETOR, ENTIDADES SINDICAIS, REALIZAÇÃO, SEMINARIO, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), DEBATE, BUSCA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO AMAZONICA.
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, AMAZONINO MENDES, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, OMISSÃO, AUSENCIA, INTERESSE, BUSCA, ALTERNATIVA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO AMAZONICA.
  • REGISTRO, TRABALHO, AUTORIA, WARWICK KERR, CIENTISTA, DIRETOR, INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZONIA (INPA), REFERENCIA, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, PESQUISA, CIENCIA E TECNOLOGIA, NECESSIDADE, REDUÇÃO, EFEITO, GLOBALIZAÇÃO.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, eminente Senador Geraldo Melo, eminente Secretário, Senador Ramez Tebet, Srªs e Srs. Senadores, no último dia 25 de fevereiro, sexta-feira, a diretoria da Central Social Democracia Sindical, por intermédio de seu diretor nacional, engenheiro Chico Braga, e do presidente estadual, líder sindical Roberto Miranda, levou a efeito um seminário regional que teve como tema "Amazônia – o nosso desafio é desenvolvê-la", com o objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável da região e os riscos ambiental, social e demográfico. O público alvo eram operários, trabalhadores rurais e trabalhadores de serviço.  

Eu trouxe esta publicação, Sr. Presidente, para que todos possamos examinar a responsabilidade com que sindicalistas, hoje, tratam de um problema que de há muito era apenas de uma meia dúzia talvez de intelectuais e de escritores, que é o desafio da Amazônia.  

Na solenidade de abertura, fizeram-se ouvir o Presidente Nacional da Social Democracia, Enilson Simões de Moura, que todos conhecemos como Alemão, e o Governador do Estado, Dr. Amazonino Mendes, de cujo pronunciamento a imprensa destacou o seguinte tópico:  

Todos os segmentos têm que se preocupar com isso. A Amazônia é uma questão delicadíssima. Todo cidadão do mundo tem esse direito, então, com base nisso, passa a ter uma força moral no sentido de intervir numa escalada de pronunciamento.  

Segundo destaque da imprensa, Amazonino afirma que o Brasil é omisso em relação à Amazônia. Ressalta a publicação que, segundo o Governador:  

...o Brasil tem-se mostrado muito omisso, muito isento com a Amazônia, e, na sua concepção, os próprios caboclos da região têm que se esforçar para buscar o desenvolvimento. Para isso, nada melhor do que o envolvimento da sociedade.  

Foram convidados para participar desse seminário os seguintes palestrantes: às 10h desse mesmo dia, abordando o tema "A Ocupação da Amazônia - A ameaça da invasão estrangeira", o Dr. Bernardo Cabral, Senador da República; às 11h30, com o tema "O Desenvolvimento Econômico da Região", o Deputado Federal Arthur Virgílio Neto; às 13h40, falando sobre a "Educação Profissional", o Dr. Roberto Nolasco; às 15h, sobre "O Movimento Sindical", o engenheiro Chico Braga; e, às 16h, como último participante, abordando "A Questão Ambiental na Amazônia", o Dr. Warwick Kerr, cientista, Diretor do Inpa.  

Quero trazer para os Anais da Casa, a fim de que não se perca uma matéria de tão alta importância, o que disse o Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o cientista Warwick Kerr, quando abordou a questão ambiental na Amazônia. Destacou ele, conforme a imprensa – e é por isso que trouxe este documento, Sr. Presidente –, "a necessidade de se investir em educação e pesquisa. (...)Posicionando-se contra a globalização, o cientista afirmou que a abertura de mercados só serve para aumentar as diferenças entre ricos e pobres nos países subdesenvolvidos. Segundo ele, é preciso saber dosar a abertura da economia de modo a evitar prejuízos para a população do País".  

Ao longo da minha exposição – e trago essa matéria para debate –, fiz questão de destacar que a Amazônia possui o maior banco genético do mundo. Salientei, mais essa vez, como de resto já recebi apoio deste Plenário, sobretudo dos companheiros que integram a nossa região, que, no meio farmacêutico, 40% dos remédios têm origem exatamente nas nossas riquezas florestais.  

Fiz questão de destacar a biodiversidade amazônica e chamei atenção para um ponto que começa a ficar esquecido: é que alguns visitantes estrangeiros carregam kits nas suas mochilas com a finalidade de recolher amostras de plantas, cascas de árvores, flores, terras, microorganismos, besouros, borboletas, aranhas, etc.  

Eu disse aqui, certa feita, Sr. Presidente, que um roraimense de origem bretã, chamado Conrad Gorinsky, havia registrado algumas patentes de fármacos da nossa região e chamava atenção para, primeiro, o rupunine. Espero que os nossos telespectadores, que dão prioridade à TV Senado, fiquem atentos para esses três fármacos. O rupunine é extraído do bibiru, que é uma árvore comum da fronteira do Brasil com a Guiana. Além de grande efeito anticoncepcional, ele tem o poder de inibir o crescimento de tumores cancerígenos. O outro fármaco é o cunaniol, retirado da planta cunani, potente estimulante do sistema nervoso central e forte anestésico, que pode ser usado em cirurgias onde há necessidade da parada de batimentos cardíacos. Além do jaborandi, todos esses fármacos, conforme disse, já fazem com que passemos a pagar direitos, royalties, a laboratórios estrangeiros, porque o registro da patente já se fez.  

A imprensa noticiou dessa minha intervenção – e faço questão de trazer para os Anais da Casa – os seguintes parágrafos:  

De acordo com Bernardo Cabral, a intervenção de grupos economicamente fortes estaria impedindo o desenvolvimento da região. Informações equivocadas, como a de que a Amazônia é o pulmão do mundo ou ainda de que os índios seriam um obstáculo para o desenvolvimento da região, gerariam, segundo o Senador, conclusões erradas sobre sua ocupação e seu aproveitamento.  

Já fiz questão de dizer, e faço isso Brasil afora, que essa história de alguns grandes mitos amazônicos, de que a Amazônia é só brasileira - para imputar a responsabilidade apenas ao nosso País, quando ela não é só brasileira, pois os países vizinhos também dispõem da Amazônia, há a Amazônia equatoriana, a Amazônia venezuelana, que faz fronteira inclusive com o nosso Estado de Roraima –, que a Amazônia é o pulmão do mundo, o mito do solo, o vazio, enfim, todos esses mitos, nós, amazonenses, estamos pondo por terra para que se acabe com essa história de que a Amazônia deve ser apenas uma espécie de patrimônio da humanidade, escapando de nosso controle e, assim, fazendo com que fiquemos sem a nossa soberania. Além disso, Sr. Presidente...  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB – PB) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Já o concederei com muita honra. Vou fazer apenas o registro final do que disse a imprensa.  

Para solucionar esses problemas [referindo-se a mim, diz a reportagem], o Senador ressaltou o incentivo ao Pacto Amazônico, a exemplo de outros grupos já criados e o aproveitamento racional de recursos naturais. Além disso, seria necessário identificar e isolar as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que estão comprometidas com interesses internacionais que não condizem com os nossos. "O desenvolvimento de tecnologias não tem valor se não tivermos compromisso com o desenvolvimento da Amazônia e ela não é só Brasil", disse.  

Disse, Sr. Presidente, porque realmente a Amazônia tem outros pontos. Veja que quando vim para a tribuna e fiz questão de dar repercussão à denúncia que me trouxe o Senador Nabor Júnior, de que forças paramilitares estariam atuando naquela região, a idéia que se teve foi de que nós, daquela área, estávamos tentando fazer o retrato catastrófico da invasão da nossa fronteira, esquecidos de que o que estávamos querendo dizer é que há, no mundo afora, por esses grupos interessados, uma espécie de lema de que a Amazônia seria uma presa fácil a esse tipo de invasão, pois o Brasil não teria como defendê-la.  

Ora, todos sabemos que aquela dicotomia que havia anteriormente no sentido ideológico – de um lado, o capitalismo; de outro, o comunismo –, essas fronteiras ideológicas, após a Queda do Muro de Berlim e do desastre do Leste Europeu, cederam lugar às fronteiras econômicas. Veja, Sr. Presidente, que cada fronteira economicamente forte tenta subjugar a que é mais fraca. E daí um passo para dizer que não temos condições de defender a nossa soberania.  

Ouço V. Exª com prazer, Senador Ney Suassuna. E, a seguir, o Senador Mozarildo Cavalcanti e o Senador Gilberto Mestrinho.  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB – PB) – Meu caro Senador Bernardo Cabral, sempre ouço com muita atenção os discursos de V. Exª, principalmente quando eles têm como tema a Amazônia. O Brasil ainda não sabe o que é a Amazônia, o seu potencial; só na área de biodiversidade, é um patrimônio incrível. E tentamos protegê-lo de todas as formas quando relatamos a Lei de Patentes. Tínhamos dez anos; demos um ano para o registro da maioria dos princípios ativos. Lamentavelmente, temos descuidado desse patrimônio, seja no zelo pela sua segurança, seja até mesmo em detectar a grande riqueza mineral que ainda está por ser levantada. Sabemos de algumas manchas em alguns lugares, mas a Amazônia ainda vai trazer muita alegria para o Brasil, se Deus quiser! E tenho certeza disso. Porém, é preciso que estejamos muito atentos, porque não falta olho grande. Lembro-me sempre de que os Estados Unidos apresentavam um desenho animado onde éramos os vilões, e os americanos e seus amigos eram os salvadores da Amazônia. Esta idéia é incutida na cabeça das crianças em muitos países: tratamos mal a Amazônia, que é o patrimônio de todos, como se a Amazônia não fosse nossa. Precisamos estar mais atentos, ser mais zelosos, levantar todo esse rol de riquezas que a natureza nos deu. E, nesse papel, V. Exª tem sido um ativo e eficaz lutador. Parabenizo V. Exª e digo que, embora do longínquo Nordeste, estamos solidários com V. Exª na interminável luta pela proteção e pelo descobrimento da nossa Amazônia.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Senador Ney Suassuna, acolho o aparte de V. Exª. Com a precisão do nordestino, V. Exª fala sobre o descaso ou eqüidistância - para não dizer indiferença - que o nosso País tem pela Amazônia. E por que digo isso? Um quinto de água doce do mundo está naquela Região. Por que me refiro à água? V. Exª é de Campina Grande, Paraíba, uma das cidades mais populosas, portanto, de um valor eleitoral muito grande, que está sofrendo uma profunda escassez de água. Há no seu Estado, ao que estou rigorosamente informado, não só por V. Exª e pelo Senador Ronaldo Cunha Lima, mas também pela imprensa, um tal racionamento que já começa a inquietar a Paraíba. Mas veja V. Exª que isso também acontece em Pernambuco, onde se raciona água e em parte do Ceará, apesar das providências que foram tomadas. E, no entanto, nos Emirados Árabes compram-se, com um dólar, seis litros de gasolina, e, com seis dólares, um litro de água. E a nossa riqueza é tamanha! Não sei por que esse descaso, essa falta de sensibilidade em se atacar o problema de imediato - sem dúvida, ele virá a galope daqui a algum tempo.

 

Eu já disse desta tribuna que será lançado este ano um papel na Bolsa de Chicago chamado water commodities , e o lançamento vai ser da ordem de US$20 bilhões. Falo em bilhões e falo em dólares, não falo em reais. Por isso, Senador Ney Suassuna, a afirmativa de V. Exª tem absoluta procedência: determinadas áreas tratam a Amazônia com descaso.  

Com muito prazer, vejo que os Senadores Mozarildo Cavalcanti, Gilberto Mestrinho e Amir Lando, todos da nossa Região, desejam apartear-me.  

Concedo o aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti.  

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL – RR) – Senador Bernardo Cabral, V. Exª, como sempre, brilhante tribuno que é, faz um importante pronunciamento denunciando o descaso do Brasil com a Amazônia e mostrando a importância de o País voltar-se para aquela Região. O Brasil precisa sair do litoral e, efetivamente, preocupar-se com a Amazônia de uma maneira global e planejada. Não podemos ter a visão, resultante da propaganda internacional, de que a Amazônia deve-se manter intocada para nós, brasileiros, mas não pelos estrangeiros. Gostaria de aproveitar uma frase do nobre Senador Ney Suassuna. S. Exª disse que o Brasil ainda terá muita alegria com a Amazônia. Acho que, se o Brasil não acordar logo, terá muitas saudades da Amazônia. Isso porque, do jeito como as coisas estão andando, dentro de pouco tempo não teremos mais a Amazônia. Quero, inclusive, aproveitar este aparte para dizer que, a partir de hoje, estarei me abstendo de votar em todas as votações, a exemplo do que fiz esta manhã na Comissão de Assuntos Econômicos, como um protesto contra o Governo Federal pelo crime que vem cometendo contra o meu Estado, Roraima. A cada ano que passa se faz mais uma reserva ecológica, uma reserva ambiental, um parque natural, uma reserva indígena e, hoje, ao Estado restam menos de 19% de sua área para o seu desenvolvimento. Peço a permissão para fazer este registro no pronunciamento de V. Exª.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Nobre Senador Mozarildo Cavalcanti, o protesto de V. Exª já está subscrito por todos nós daquela Região. Mas gostaria de lhe fazer uma pergunta: V. Exª não foi convidado por membros do Governo a participar dessas reuniões que estão mutilando o seu Estado?  

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PFL - RR) – Não só eu, Senador, como nem sequer o Governador de Roraima. É uma verdadeira intervenção federal no Estado. Temos, portanto, que protestar.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Então veja V. Exª que eu tenho razão quando falo sobre o descaso que há por parte do Governo Federal, por meio de seus tecnocratas, que não entendem nada daquela Região e jamais colocaram a sola dos seus pés naqueles caminhos que não são tão fáceis de serem percorridos como para eles parece. V. Exª dramaticamente afirma que, por enquanto, se absterá, ou seja, V. Exª está a sinalizar com a luz amarela para, depois, utilizar a luz vermelha.  

Ouço o nobre Senador Gilberto Mestrinho.  

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo. Fazendo soar a campainha.) – Senador Bernardo Cabral, a Mesa faz um apelo a V. Exª e aos aparteantes para que sejam breves, em virtude de estar esgotado o tempo de V. Exª há mais de dois minutos.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Sabe V. Exª, Sr. Presidente, que na minha profissão de advocacia - sou advogado por formação - se diz que aos apelos como os de V. Exª se dá sempre provimento. Claro que ele já está provido, e farei o possível para não ir adiante. Mas permita-me V. Exª, já que o provimento é sobretudo presidencial, ouvir dois companheiros para que possa encerrar com chave de ouro o meu pronunciamento. Seremos todos breves, Sr. Presidente.  

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) – A Mesa agradece a V. Exª e agradece antecipadamente aos aparteantes, na certeza de que não se alongarão em seus apartes.  

O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) – Nobre Senador Bernardo Cabral, acredito que a compreensão do nobre Presidente é mais forte até que o apelo de V. Exª, pois a Amazônia é muito grande e tem que ser discutida com um tempo razoável. Já que o País não se preocupa com a Amazônia, pelo menos aqui devemos discuti-la dentro do tamanho amazônico, da grandiosidade amazônica e das potencialidades da Região. V. Exª está fazendo um bom discurso, porque, mais uma vez, apela à consciência nacional - não só à consciência dos Senadores, mas à de todos os brasileiros - para o problema da Amazônia. Efetivamente, há muitos mitos em relação à Amazônia, criados não em benefício da Região, mas para justificar a política que é ditada no exterior. O Senador Mozarildo Cavalcanti e a Bancada de Roraima, com certeza, não foram consultados sobre a decisão de se mutilar o Estado, mas, com certeza, determinadas ONGs e determinados governos foram consultados ou deram as ordens para que se fizesse isso, como sempre fizeram nas questões ambiental e indígena. Essa é a dolorosa realidade. Não é que o Brasil não esteja preocupado com a Amazônia. O Brasil está preocupado em engessar a Amazônia, em criar condições para não se poder viver na Amazônia, para expulsar aqueles que vivem lá, nas margens dos rios, dos lagos, dos igarapés, dos centros, para que a Amazônia se esvazie efetivamente e seja presa fácil da cobiça internacional. Há um movimento no sentido de que as reservas ecológicas, os parques e florestas nacionais, as reservas ambientais e extrativistas não sejam visitadas por pessoas que não morem e nem vivam lá. Há pouco tempo, estive em uma dessas reservas e, ao invés de participar, de acompanhar o Presidente na festa de comemoração que acontecia em Mamirauá, preferi conversar com os moradores. Perguntei-lhes se a vida deles estava melhorando. Eles disseram que foram criados três ou quatro empregos de guarda da reserva, mas, no resto, tudo continuava na mesma. O que os preocupa é que os gringos – como eles mesmos os chamam - estão semanalmente levando caixas e caixas de espécies da Região, como V. Exª afirmou há pouco. Eles não sabem exatamente que espécies são embarcadas, mas têm conhecimento de que até ovas de peixe são levadas. Então, essa é a realidade. Não podemos fiscalizar, não podemos ver nada, mas eles podem fazer tudo. Sabemos que o Greenpeace, que já domina o Ministério do Meio Ambiente, agora começa a intervir no Incra, na questão madeireira, nas propriedades da Região. Imaginem, uma organização conhecida como organização terrorista, que só serve para aparecer na televisão, ao invés de ajudar - como poderia ter feito no caso do acidente da Petrobras - é consultado, recebido aqui no Senado e nos Ministérios e participa de reuniões com o Presidente da República. O Greenpeace nem nome brasileiro tem. Isso acontece. Lamentavelmente, é necessário que todos abramos os olhos; caso contrário, não enxergaremos, num futuro próximo, mais a Amazônia. Parabéns a V. Exª.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) - Senador Amir Lando, ouço V. Exª para dar a resposta a ambos, a fim de cumprir meu tempo.  

O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) – Nobre Senador Bernardo Cabral, pelos seus reconhecidos méritos, V. Exª impõe autoridade política, admiração intelectual e reconhecimento moral de todos nós, amazônidas.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Obrigado a V. Exª.  

O SR. Amir Lando (PMDB – RO) – Mais uma vez, com brilho e arte, V. Exª fere um tema de interesse nacional e, sobretudo, dos amazônidas. Diante dessa rapina visível e indisfarçável, especialmente da nossa biodiversidade, é preciso que uma voz mais alta se levante, e todos nós façamos coro, para colocar um basta em tudo isso. Chega de pensar na Amazônia como um res nullius das potências estrangeiras. Não vamos tratar, aqui, neste momento em que o aparte deve ser curto, da questão da soberania nacional da Região, nem tampouco da possibilidade de a Amazônia ser ou não considerada bem da Humanidade ou da soberania relativa que o País possa exercer sobre ela. Mas, no momento em que V. Exª lança essa advertência, não podemos permanecer inermes. Como disse muito bem o Senador Gilberto Mestrinho, hoje há uma pressão brutal para que ocorra a desocupação da Amazônia. Parece até que foi lançado um decreto de despejo, tendo em vista as dificuldades cada dia maiores em ocupar, permanecer e continuar na Região. O Estado de Rondônia, que já vem povoando aquela região de maneira efetiva com a presença de brasileiros, está sofrendo toda sorte de humilhações, seja do Ibama, seja do Incra. Como? O Incra não desapropria, pois existe uma portaria do Ministro Extraordinário de Política Fundiária proibindo qualquer desapropriação que envolva a Mata Amazônia. Tal atitude tem o objetivo de deixar a Amazônia vazia. Quem fixa as reservas, como por exemplo a dos Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia? São os consultores do Banco Mundial. Eles dão os limites, fixam as exigências e fornecem os argumentos - argumentos esses que não têm nenhuma identidade histórica, porque tudo é montado a fim de justificar a criação de reservas que não atendem aos índios nem aos interesses do País. Infelizmente, estamos ficando estranhos na imensa terra que Deus, no testamento divino, outorgou aos brasileiros. Parabéns, mais uma vez, a V. Exª.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – O que me deixa profundamente satisfeito é ouvir um aparte de um ex-Governador - o Senador Gilberto Mestrinho -, profundo conhecedor do problema da área, por ter sido o chefe do Executivo, e de V. Exª, um especialista em Direito Agrário, reconhecidamente um dos melhores procuradores jurídicos que já passaram pelo Incra - sem dúvida, não lhe faço nenhuma homenagem -; um advogado que junta ao primeiro aparte uma união indelével em defesa da Amazônia. Os Senadores Gilberto Mestrinho e Amir Lando sabem, de conhecimento próprio, que a idéia de tornar vazia a nossa Região é como se no cartório da cidadania aqueles que ali nasceram não tivessem direito ao registro de serem brasileiros. Por isso mesmo falo em brasileiro.  

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) – Permite-me um aparte, nobre Senador?  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM) – Vou encerrar, Sr. Presidente, com a permissão de V. Exª, que é da área, ouvindo um Senador que já foi proclamado amazonense de coração: o Senador Romeu Tuma.

 

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) – Sr. Presidente, vou ser rápido. Senador Bernardo Cabral, ouvi V. Exª pela Rádio Senado e me dirigi rapidamente a este plenário para tentar ainda alcançá-lo em seu pronunciamento. E pouco teria a acrescentar àqueles que conhecem a Amazônia, como o Senador Gilberto Mestrinho e os demais que apartearam V. Exª. Mas, como amazonense de coração, eu não poderia deixar de cumprimentá-lo, principalmente por tudo que tem feito, junto aos seus companheiros de Bancada, em defesa de uma área que eu diria ser uma Região santificada, abençoada por Deus e que pertence ao território brasileiro. Não podemos permitir, nem por sonho, que essa soberania seja machucada. Ouvi, com muito carinho, V. Exª, que é um especialista sobre o tema da água. O seu livro virou um best-seller - até já fiz um pedido pessoal para que pudéssemos enviar um exemplar a uma certa universidade que tomou conhecimento da importância do mesmo, pois traz o resumo de toda a legislação sobre o assunto. Domingo, Senadores Gilberto Mestrinho e Bernardo Cabral, fui ao batizado de uma criança cujo padrinho foi meu filho médico. Naquela solenidade, o padre esclareceu cada um dos simbolismos daquele sacramento, entre eles a água benta, o porquê da água no batizado, a sua importância. Sua Reverência disse simplesmente que Deus reconhecia que água é vida e que sem ela não há sobrevivência.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – É a fonte da vida. Isso mesmo.  

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) – É esse o simbolismo. Para o Brasil, a vida é o Amazonas. A Amazônia é o sinônimo de vida para nós, brasileiros, porque nela reside toda a esperança na biodiversidade, na água, nas suas florestas. A água é uma das grandes preocupações internacionais, e o mundo sentirá a sua falta em breve. Não podemos abrir mão dessa soberania, mas não devemos perder de vista que, se há alguma ajuda que possa ser oferecida à Humanidade, que seja pelas nossas mãos.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Senador Romeu Tuma, V. Exª, logo ao início de sua intervenção, disse que estava ouvindo o rádio e que temia chegar atrasado. Pois lhe digo que V. Exª é como a Providência Divina: quando tarda, está a caminho. E veio a caminho para poder enriquecer o meu discurso.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) – V. Exª me permite um aparte?  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) – Sr. Presidente, sei que V. Exª não impedirá o Senador Romero Jucá de manifestar-se, pois Roraima está inserida nesse contexto. Prometo encerrar sem dar nem mais uma palavra.  

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) – Senador Bernardo Cabral, já passam catorze minutos do tempo de V. Exª, e, nessa primeira fase da sessão são três os Srs. Senadores que se inscrevem para falar. V. Exª sabe que há disputa por essa oportunidade. Portanto, solicito a V. Exª e ao Senador Romero Jucá que compreendam a situação dos outros Srs. Senadores.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) – Sr. Presidente, desejo apenas aplaudir o discurso do Senador Bernardo Cabral. S. Exª, com o brilho de sempre, expôs questões importantes sobre a Amazônia. Desejo também lembrar que tudo é difícil quando se trata da Amazônia. Nós tivemos, por exemplo, a maior dificuldade para aprovar aqui o projeto Sivam e vamos continuar lutando porque temos um compromisso com o desenvolvimento e a integração dessa região com o restante do País. Parabéns ao Senador Bernardo Cabral pelo seu pronunciamento.  

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL - AM) - Sr. Presidente, ao finalizar, quero agradecer a V. Exª e pedir que faça chegar à Central Social Democracia Sindical, na região do Amazonas, Rua Marcílio Dias nº 256, Centro, Casa do Trabalhador, CEP 69.005-270, Manaus, Amazonas, este pronunciamento acompanhado de todos os apartes, para que possamos sentir que não estamos sozinhos na luta em defesa da Amazônia.  

Muito obrigado a V. Exª.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/03/2000 - Página 3773