Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CRITICAS AS REGRAS DO CONCURSO PARA O BANCO CENTRAL, QUE CONCEDE PONTUAÇÃO DIFERENCIADA PARA CANDIDATOS COM DIPLOMAS ORIUNDOS DE INSTITUIÇÕES ACADEMICAS QUE CONCORDAM IDEOLOGICAMENTE COM A EQUIPE ECONOMICA DO GOVERNO FEDERAL.

Autor
Roberto Saturnino (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • CRITICAS AS REGRAS DO CONCURSO PARA O BANCO CENTRAL, QUE CONCEDE PONTUAÇÃO DIFERENCIADA PARA CANDIDATOS COM DIPLOMAS ORIUNDOS DE INSTITUIÇÕES ACADEMICAS QUE CONCORDAM IDEOLOGICAMENTE COM A EQUIPE ECONOMICA DO GOVERNO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2000 - Página 4240
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, ELIO GASPARI, JORNALISTA, DENUNCIA, NORMAS, CONCURSO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), CANDIDATO, DIPLOMA, UNIVERSIDADE, DEFESA, IDEOLOGIA, PENSAMENTO, GRUPO ECONOMICO, GOVERNO FEDERAL.
  • PROTESTO, DISCRIMINAÇÃO, NORMAS, CONCURSO PUBLICO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PSB – RJ. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muito se tem falado no Brasil sobre o pensamento único que domina os pronunciamentos oficiais sobre assuntos econômicos e até mesmo as colunas da mídia sobre o tema. Contudo, Sr. Presidente, ainda não se havia oficializado o pensamento único a ponto de colocá-lo como condição para assunção de cargos no Banco Central.  

Eis que agora leio trechos de um artigo publicado no jornal O Globo do dia 5 de março último, do jornalista Elio Gaspari, dando conta de que o Banco Central abre concurso para contratar 300 funcionários, entre os quais 30 analistas de pesquisa econômica, concedendo pontuações diferenciadas, na prova de títulos, para aqueles que têm diplomas de certas universidades cujo pensamento e orientação é exatamente a do Presidente do Banco Central, Dr. Armínio Fraga, do Ministro da Fazenda e do Presidente do BNDES. Além disso, também concede pontos mais elevados para artigos publicados em certas revistas que exatamente veiculam esse pensamento único que tomou conta da vida econômica brasileira, até impondo à opinião pública a grande mentira de que não existe alternativa, a não ser as soluções ditadas pela ciência desse pensamento único. Elas é que têm valor, que têm eficácia e podem, enfim, desenvolver o País, segundo essa corrente.  

Sr. Presidente, passo à rápida leitura de um trecho do artigo do jornalista Elio Gaspari: "Ninguém aqui é bobo. Os critérios de titulagem inventados pelo Banco Central destinavam-se a favorecer os candidatos com formação acadêmica semelhante à que a ekipekonômica supõe ter. Tratou-se de triagem ideológica (...)."  

O Banco Central, até então considerado órgão eminentemente técnico, ideologiza-se a partir de agora, uma vez que estabelece que, para que os funcionários tenham possibilidade de aprovação na prova de títulos, têm de trazer graduação, pós-graduação e artigos publicados em determinados lugares.  

Continua o jornalista Elio Gaspari:  

Tratou-se de triagem ideológica, feita por gente que nem história sabe. Se soubesse, lembraria que o fato de FFHH trabalhar na Cepal já foi considerado nódoa.  

Durante a ditadura, censurava-se o pensamento alheio, mas não se impunha aos aborígenes uma corrente exclusiva de pensamento alienígena.  

E termina o artigo com o seguinte parágrafo:  

Num país cujo presidente do Banco Central saiu da Casa de Soros e o do BNDES da Morgan Stanley é o caso de se pensar se a coisa não está indo longe demais. O Governo dos Estados Unidos é extremamente restritivo na concessão aos estrangeiros do direito de trabalhar em seu território. Quando o permite, lhes dá um documento chamado green card (cartão verde). Tem todo o direito de agir assim. O que não faz sentido é que meia dúzia de senhores que têm green card (y muchas cositas verdes más) restrinjam, em Pindorama, com critérios americanos, o direito dos brasileiros de disputar um emprego no Banco Central.  

Sr. Presidente, seria de estarrecer, mas nós, já acostumados a esse tipo de manifestação e de decisão, ficamos aqui a pensar que quase não vale a pena nem protestar. Entretanto, estou aqui em nome de uma corrente de pensamento que não concorda com esse pensamento único, exatamente para protestar.  

Por que se tira a Unicamp, universidade que tem louros de ter produzido economistas da maior competência no Brasil? Por que aqui é rebaixada à condição de universidade só de cinco pontos?  

Então, Sr. Presidente, encerro dizendo isto: é preciso protestar. Esse pensamento único leva fatalmente à dolarização, que é aonde esses senhores querem chegar. E aqui no Senado assistimos, perplexos, a essas manifestações antidemocráticas e – por que não dizer? – antibrasileiras. Eis a grande verdade.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2000 - Página 4240