Discurso durante a 14ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS COMEMORAÇÕES DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER E SOBRE O DIA INTERNACIONAL DO CONSUMIDOR.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE AS COMEMORAÇÕES DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER E SOBRE O DIA INTERNACIONAL DO CONSUMIDOR.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2000 - Página 4581
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, LANÇAMENTO, MARCHA, ESTADO DO ACRE (AC), DEFESA, BUSCA, JUSTIÇA, SOCIEDADE.
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, CONSUMIDOR, OPORTUNIDADE, DEFESA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, PROBLEMA, ALIMENTOS, ALTERAÇÃO, GENETICA.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quero me ater às comemorações do Dia Internacional da Mulher ocorridas nesta semana, dizendo que, em todo o País, os mais diferentes eventos tiveram lugar nos mais diversos Estados da Federação. Ontem tivemos, no meu Estado, um encontro muito significativo, que culminou com o lançamento da marcha das mulheres em busca de uma sociedade mais justa, fraterna, cidadã. Hoje, pela manhã, tivemos a realização de uma sessão solene do Congresso Nacional em comemoração à semana da mulher.  

Por outro lado, Sr. Presidente, quero registrar também que hoje é o Dia Internacional do Consumidor. Neste caso, é forçoso lembrar que temos de estar atentos para a defesa do consumidor.  

Todavia, primeiramente, tentarei tecer breves considerações sobre as comemorações havidas em função do Dia Internacional da Mulher.  

Geralmente, essas datas ocorrem em função de algum acontecimento histórico, cultural, a partir do qual estabelecemos um marco em que se comemoram determinados aspectos da vida social, no caso aqueles referentes à questão feminina.  

Essas datas, além do seu conteúdo social, político e histórico, têm também um lado simbólico que talvez seja mais forte do que até mesmo os conteúdos aos quais me referi anteriormente.  

Do ponto de vista político, acredito que, na sessão de hoje, falamos com muita propriedade no que tange às nossas bandeiras, às nossas reivindicações e àquilo em que se constitui toda a luta das mulheres pela igualdade de condições, assegurando-se o direito à diferença.  

Então, Sr. Presidente, ater-me-ei rapidamente ao aspecto simbólico dessas datas comemorativas, como o Dia Internacional da Mulher, o Dia do Índio, o Dia do Meio Ambiente, o Dia da Terra, o Dia da Água etc. – e cada um dos 365 dias do ano é dedicado a homenagear cada uma dessas questões.  

Lamentavelmente, o nosso problema é que precisamos de um data para lembrar aquilo que deveria fazer parte da nossa postura enquanto seres humanos durante todos os momentos e instantes da nossa vida. Não temos uma vida compartimentada e dividida; somos um todo, temos uma ação – digamos assim – transrelacionada com as mais diferentes dimensões da pessoa.  

O aspecto simbólico do Dia Internacional da Mulher é o de que temos uma relação quase de apelo, isto é, de deificação da mulher. Isso pode parecer uma contradição: como é que a mulher vem sendo discriminada, relegada a um segundo plano na sociedade, em suas mais diferentes áreas - na economia, na religião, nas artes, na política, nos processos sociais de um modo geral -, durante milhares e milhares de anos, se estou dizendo que houve uma deificação da mulher. Ocorre que essa deificação se deu de forma tão sutil que nos tirou algo essencial à nossa existência: a nossa condição humana.  

Ao longo do processo civilizatório, nas mais diferentes culturas, com algumas exceções, nos momentos em que algumas comunidades se firmaram como matriarcais, as mulheres foram subtraídas da sua condição humana. O ser que se foi criando passou, então, a não ter rosto, a não ter vontade, a não realizar nada, colocando-se à margem para que outros seres se realizassem, sem lhe ser permitida a condição de um ser humano, mas tão-somente ser um espírito, uma santa, ou o que fosse.  

Ora, somos espírito, algumas de nós até são santas, mas também somos pessoas, e, como tais, temos vontade, necessidade de realizações. A propósito, alguns estudiosos do inconsciente humano dizem que nossas ações são motivadas por quatro elementos – dois do ponto de vista interno e dois do ponto de vista externo. Do ponto de vista interno, os seres humanos se mobilizam para suas realizações. O primeiro elemento que nos mobiliza é o desejo da autoria. Precisamos nos sentir realizando algo. O segundo elemento é a necessidade do reconhecimento. Todos nos mobilizamos externamente, na relação com a sociedade, na relação com a cultura, mediante esses dois aspectos.  

Do ponto de vista dos processos internos, dos processos mais sutis, mobilizamo-nos por dois aspectos. Para alguns, a lógica é a seguinte: temos que fazer alguma coisa para evitar o sofrimento. Logo, se estudo, se trabalho, se faço alguma coisa é para evitar ser desempregado, ser analfabeto e que o sofrimento venha até mim.  

Outras pessoas se mobilizam pela busca do prazer. É só invertermos a lógica: tenho que estudar, tenho que trabalhar para se inteligente, respeitado, para ter uma boa condição de vida. Todos os seres humanos têm essa necessidade de reconhecimento.  

No Livro de Mateus, capitulo 16, versículos de 13 a 16, Jesus Cristo pergunta a seus discípulos: o que as pessoas lá fora dizem que eu sou? E eles responderam: "Uns dizem João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias ou algum dos profetas." Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Pedro responde: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo."  

Fico imaginando que Jesus Cristo deve ter estufado um pouco o peito e pensado: poxa, que bom, alguém me reconhece sendo o filho de Deus. A lógica de buscarmos a autoria, de buscarmos o reconhecimento está presente até mesmo no homem que era o próprio Deus.  

Logo, nós, mulheres, não podíamos prescindir disso em nenhum momento da nossa condição humana. No entanto, a civilização nos colocou em uma situação de sermos apenas aquilo que nos imprimiu. Uma escritora americana, autora do livro "Boa demais para você mesma", diz que nós mulheres fomos submetidas a um código de perfeição típico dessa negação dos desejos que mobilizam a ação humana para as realizações. O primeiro item desse código é que nós, mulheres, devemos ser belas. Se somos belas, ótimo, é isso aí. Uma mulher tem que ser bonita. E aí, coitada de nós que não somos tão avantajadas, porque já ficamos numa situação muito complicada. Não somos bonitas, não temos aquela beleza da Globeleza, e aí - meu Deus do Céu! - já estou perdendo no código de perfeição.  

O segundo item no código de perfeição é que nós, mulheres, devemos ser sempre calmas. Já viram como se comporta um homem quando está bravo? Se o Senador Tião Viana não conseguir resolver os problemas da saúde, S. Exª pode ir para a tribuna, dar murro na mesa, fazer e acontecer. Agora, se eu, as Senadoras Marluce Pinto, Heloisa Helena, Luzia Toledo, Maria do Carmo e Emilia Fernandes começarmos a dar murro na mesa, alguém vai dizer: "Poxa, as Senadoras ficaram histéricas". Os homens são valentes: "Eta! cabra macho, esse vai lá e briga". O Senador Pedro Simon parece um polvo, balança o braço, faz e acontece. Se fizermos o mesmo, não é valentia, não é coragem, mas histeria. A abordagem muda. Então, nós, mulheres, temos que ser calmas.  

Outro item do código de perfeição, segundo a escritora, diz que nós mulheres devemos ser altruístas. As mulheres têm que renunciar para que os outros se realizem. Se buscamos alguma forma de realização, isso é egoísmo, é não ser a mulher perfeita.  

Diz ainda outro item que devemos fazer os relacionamentos funcionarem. Dentro de casa, quem é responsável pela funcionalidade dos relacionamentos são as mulheres. Já vi muitas mulheres - eu mesma faço isso às vezes - dizendo o seguinte: olha, fulano, amanhã é o aniversário da tua mãe, liga para ela senão ela fica chateada. Digo para o meu filho: olha o aniversário da tua avó. Liga para a tua avó, senão ela fica chateada.  

As mulheres funcionam cuidando dos relacionamentos, para que eles aconteçam.  

O último ponto desse código de perfeição é que nós mulheres devemos ter controle, nunca perder a calma, nunca mostrarmos que estamos agoniadas, que não estamos serenas com aquilo que estamos vendo, mesmo quando as coisas não estão acontecendo muito bem.  

Com esse código, não há ser humano que agüente. É uma santa, um espírito, uma alma, menos um ser humano, porque ninguém consegue acumular tudo isto: ser bonita, altruísta, calma, nunca perder o controle, tudo, tudo e tudo, e ainda viver para que os outros se realizem.  

De sorte que eu, analisando esse aspecto do ponto de vista mais interno do que significa a condição feminina, quero dizer que, graças a Deus, em um século de luta das mulheres para se tornarem humanas como somos, fizemos muito do ponto de vista das conquistas sociais, políticas, culturais e espirituais e encontramos respaldo para isso na própria espiritualidade. A Bíblia diz que as mulheres devem ser submissas aos maridos, e as pessoas decodificam como se isso fosse pura submissão, negação da condição humana. Para quem lê um versículo ou dois, tudo bem. Todavia, para quem entende a Bíblia como um sistema, logo adiante encontra o seguinte: que os homens devem amar as suas esposas como a si mesmos. Se uma pessoa ama alguém como a si mesmo, logo respeita esse alguém da mesma forma. Se acha bom realizar-se, fazer as coisas, logo permite ao ser que ama que este também se realize.  

O SR. Pedro Simon (PMDB - RS) – Senadora Marina Silva, V. Exª me permite um aparte?  

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) – Concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) – Senadora Marina Silva, estamos tendo um belo fim de tarde, no Senado, com o pronunciamento de V. Exª. Ontem, gravei uma entrevista para uma revista no Rio de Janeiro, onde V. Exª tinha feito o mesmo. O encantamento que todos os jornalistas, fotógrafos e diretores tinha por V. Exª era unânime. O pronunciamento, o estilo, a feição, a forma de falar de V. Exª tinha-os deixado maravilhados. Eles acompanhavam V. Exª, por meio da TV Senado , mas nunca poderiam imaginar chegar ao que V. Exª alcançou. Casualmente – perdoe-me o que vou dizer - tudo o que V. Exª disse que a mulher deveria ter, não se ofenda, V. Exª possui: é bonita, tranqüila, não perde a calma, tem grandeza, tem espírito de luta, liderança, cultura, capacidade de luta e garra. Assim, diria, de certa forma, que, em primeiro lugar, beleza é muito relativo. Para quem é negro, a beleza é uma; para quem é chinês, americano, índio, a beleza é outra. Achei muito sem graça este Carnaval no Rio de Janeiro. Não sei o que a

Rede Globo fez. Só faltava essa! De repente, o destaque era para os seios da mulher. Pode ser para os americanos, para nós não é, nunca foi. Cada um tem o seu estilo. Há um aspecto que não há como deixar de diferenciar: a mulher é infinitamente superior ao homem porque é mãe, dá vida a uma criatura, sabe que é filho seu, que saiu de seu corpo. O que é que há de mais importante e mais lindo na história da humanidade? É só a mulher. Concordo que o trabalho que V. Exª e outras mulheres realizam no Congresso Nacional é extraordinário. E será mais rápido do que imaginamos. Acredito que este será o século das mulheres. As coisas já estão acontecendo. Hoje, no Rio Grande do Sul, cerca de 60% das vagas nas universidades são ocupadas por mulheres: na Medicina, na Advocacia, na Engenharia Civil. Por onde se olhar, estão as mulheres. Quando governador, admiti as primeiras mulheres na Brigada Militar. Se não tomar cuidado, existem mais mulheres do que homens na Brigada Militar. Na Magistratura, no Rio Grande do Sul, a imensa maioria das vagas é de mulheres. Assim, é uma tremenda injustiça, uma estupidez da humanidade não valorizar a mulher. Considero a mulher superior ao homem. Mas independentemente disso, numericamente, metade do mundo não pode participar. Na literatura, os grandes escritores, compositores, músicos, os grandes arquitetos da humanidade eram homens. Por quê? Porque a mulher não tinha chance de aparecer. Como disse certa vez, até Deus, que escolheu doze homens, cometeu um grande erro. Na hora de escolher o tesoureiro, escolheu um vigarista. Até Deus errou na hora de escolher o homem mais importante, que era o homem que mexia com dinheiro, escolheu o vigarista do Judas e não colocou nenhuma mulher. Na Bíblia, fala-se de todo mundo, mas quem menos aparece inclusive é a mãe Dele, Maria Santíssima. Então, esse é um erro que vem da origem. Mas, com toda a sinceridade, penso que esse vai ser o século da mudança; vai ser o século em que vamos ter uma sociedade organizada. E já é assim.  

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade. Fazendo soar a campainha.)  

O Sr. Pedro Simon (PMDB – RS) – Estão vendo? Já é machista, porque estou falando. Já está mudando. A sociedade já está mudando. Se fosse V. Exª que estivesse falando, falaria mais uma hora, que ele não soaria a campainha - no que eu acho que ele estaria certo. O que quero dizer a V. Exª é que estamos caminhando para essa realização. Penso até, minha querida Senadora, que vai ser a grande realização deste século estarmos nessa igualdade de valer pelo que vale, pelo que é, pelo que representa. Vejo o Rio Grande do Sul, hoje. Eu sou velho, mas, há 20 ou 30 anos, na minha cidade de Caxias do Sul, que é uma cidade industrial, na hora em que o gringo - que nasceu do nada, cresceu, ficou forte, grande – foi ver para quem deixaria os empreendimentos dele, deixou a fábrica para os homens. Para a mulher, ele se encarregava de dar um edifício, alguma coisa, para ela ter bens do que viver. Hoje, tem vários empreendimentos em que a filha mulher é que está no comando. Por quê? Porque ela mostrou competência, mostrou capacidade. Então, estamos caminhando para isso. Lembra-se V. Exª quando nós votamos a emenda da reserva de 30% das vagas para as mulheres, e que, para a surpresa geral, o Senador Cabral, na hora de votar, levantou-se e disse: "Todo mundo sabe da minha simpatia pelas mulheres" - e todo mundo sabe mesmo da simpatia do Senador Bernardo Cabral pelas mulheres -, "mas não posso votar porque é inconstitucional, porque está na Constituição que todos são iguais perante a lei. Como vamos votar uma emenda dizendo que 30% das vagas são garantidas para as mulheres?" Eu disse: – V. Exª tem razão. A Deputada Suplicy, que estava com as outras Deputadas e Senadoras fazendo uma movimentação para aprovar, gritou: "– Mas Simon, você prometeu que ia votar conosco". E eu mantive: – Mas quero dizer que o Senador Cabral tem razão, é inconstitucional. Então, vamos fazer uma emenda que diga que cada sexo tem direito a pelo menos 30%. E vamos dizer: Não, mas não estamos votando contra as mulheres; já estamos votando para nos garantir, para daqui a 40 anos, não termos que apresentar uma emenda nos garantindo os 30%. E essa vantagem já está garantida na Constituição. E reparem que, agora, a Deputada Camata está querendo 50%. Vamos votar favorável. Que seja 50%. Já nem penso que vamos aumentar as vagas para as mulheres. Penso nos meus filhos – e infelizmente só tenho filho homem, estou a espera das noras e as noras não chegam. Posso dizer que vai ter 50% reservado para os homens, porque acho que isso é o certo. Acho que V. Exª está fazendo um depoimento extraordinário. Fico emocionado ouvindo V. Exª falar, porque V. Exª tem a grandeza de espírito, a grandeza de alma. V. Exª tem a escola da vida e, muitas vezes, a escola da vida é a melhor das escolas. V. Exª tem a escola da vida e a escola que desenvolveu por meio da luta política, da luta intelectual, da luta em defesa do meio ambiente. Perdoe-me a sinceridade, mas fico emocionado em ouvi-la falar. Tenho um orgulho muito grande de ser seu Colega. Acho que V. Exª é um exemplo de vida. Muito obrigado.  

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) - Senadora Marina Silva, prorrogo a sessão por mais cinco minutos para ouvirmos o término do discurso de V. Exª e para, ainda, darmos oportunidade ao Líder do PPS de pronunciar-se por mais três minutos.  

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) – Agradeço o aparte do Senador Pedro Simon e o incorporo ao meu pronunciamento. Fico emocionada pela forma carinhosa como S. Exª se dirige à minha pessoa. S. Exª tem sido um grande companheiro, um grande parceiro, juntamente com os Colegas do Bloco e do meu grande amigo, Senador Eduardo Suplicy, em todo o meu trabalho na defesa do meio ambiente.  

O Senador Eduardo Suplicy também pediu-me um aparte, mas dada a admoestação de nosso Presidente, e pelo fato, inclusive, de o meu Colega, Paulo Hartung haver me perguntado se o meu pronunciamento seria breve - já me sinto em falta com S. Exª -, gostaria de concluir.  

Durante esse século entramos na luta e ocupamos um espaço na condição humana. Cito o aparte do Senador Pedro Simon e digo que temos todas as qualidades, o problema é que, de certa forma, a sociedade quis nos incutir que tínhamos apenas algumas. No entanto, temos outras. Temos a qualidade da conquista, da realização, de fazer acontecer. O que foi atribuído, na sociedade patriarcal, ao homem, ao macho, também faz parte da condição feminina. São qualidades plasmadas, ainda, de conteúdos sobre os quais acabei de falar: tranqüilidade, calma e altruísmo. Mas o altruísmo não deve ser utilizado para que renunciemos às nossas ambições sob a pena de estar cometendo um pecado. Então, nesses cem anos, conseguimos muito.  

A sociedade é manca, é coxa; é formada pelo masculino e pelo feminino; e, se ficar só com uma forma, ficará desequilibrada. Se a completarmos, vamos caminhar com mais certeza, com mais tranqüilidade e mais firmeza. E não tenham dúvidas os meus companheiros homens, em cem anos, tiramos um déficit de milhares e milhares de anos de opressão.  

Se os homens não incorporarem a forma feminina de operar, estarão caminhando para uma esfera onde talvez não tenham como competir. E também não quero me sentir responsável de conscientizar os homens, fazer a cabeça dos homens, não vou me atribuir essa missão, porque vou fracassar novamente; quero que os homens aprendam a pensar também com a lógica e a forma de pensar e agir do feminino. Acredito que os principais prejudicados foram os homens, porque as mulheres não tiveram nenhum preconceito em aceitar o que eles têm de ótimo. Isso é o que faz a troca entre as diferenças, não há troca entre iguais. E hoje 60% dos universitários são mulheres, foi uma conquista na relação de aprendizagem entre mulheres e homens, e estamos nos dispondo a dar muito do que temos para os homens, para que civilização fique completa.  

O outro que desejo tratar em meu pronunciamento, conforme já me referi no início, diz respeito ao Dia Internacional do Consumidor.  

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(SEGUE DISCURSO, NA ÍNTEGRA, DA SRª SENADORA MARINA SILVA.)  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2000 - Página 4581