Pronunciamento de Roberto Requião em 16/03/2000
Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
INDIGNAÇÃO ANTE A INDICAÇÃO DA SRA. TEREZA GROSSI PARA A DIRETORIA DE FISCALIZAÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
IMPRENSA.
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.:
- INDIGNAÇÃO ANTE A INDICAÇÃO DA SRA. TEREZA GROSSI PARA A DIRETORIA DE FISCALIZAÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/03/2000 - Página 4632
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS. IMPRENSA. ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, POLEMICA, INDICAÇÃO, TEREZA GROSSI, DIRETORIA, FISCALIZAÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MOTIVO, INDICIAMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS, PROCESSO JUDICIAL, MINISTERIO PUBLICO.
- CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESRESPEITO, SENADO, INDICAÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), NOME, DENUNCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
- EXPECTATIVA, DECISÃO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, SENADO, AUSENCIA, APRECIAÇÃO, PLENARIO, INDICAÇÃO, DIRETOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ATENDIMENTO, QUESTÃO DE ORDEM, AUTORIA, JOSE EDUARDO DUTRA, SENADOR.
- CRITICA, PRESIDENTE, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, CONVOCAÇÃO, TEREZA GROSSI, SERVIDOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS.
- CRITICA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUSENCIA, DIVULGAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), DROGA, ESTADO DO PARANA (PR), EFEITO, DECRETAÇÃO, PRISÃO, DELEGADO, POLICIA FEDERAL, PUBLICAÇÃO, ANUNCIO, FAVORECIMENTO, GOVERNO ESTADUAL.
- CRITICA, SUPERIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, PUBLICIDADE, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR).
O SR. ROBERTO REQUIÃO
(PMDB – PR. Para uma comunicação inadiável.) – Sr. Presidente, tenho em mãos o painel da Folha de S. Paulo
, "Flanco aberto", que leio:
A indicação de Tereza Grossi para a diretoria de fiscalização do Banco Central é uma operação de risco. A votação é secreta, mas os governistas devem aprová-la para não constranger FHC. O problema pode ser o Ministério Público, que estuda processá-la."
E sob o título "Caminho das pedras":
"A CPI dos Bancos pediu o indiciamento de Tereza em quatro artigos do Código Penal. Correm outras duas ações no Rio. É por aí que os procuradores da República, os mesmos que não largam do pé de Rafael Greca (Turismo), pensam em atazanar a vida da economista.
O painel da Folha diz que é uma operação de risco. Será, Senador Pedro Simon, a análise do nome da Srª Tereza Grossi pelo Senado uma operação de risco? Eu acredito que não, porque eu parto do pressuposto de que o Senado da República tem vergonha na cara. Esses quatro enquadramentos no Código Penal foram votados no Plenário pela unanimidade dos Senadores. E os 81 Senadores remeteram o Relatório da CPI para o Ministério Público, enquadrando a Srª Tereza Grossi em quatro crimes. Como pode, agora, o Presidente da República humilhar o Senado Federal, mandando aos 81 Senadores que fizeram a denúncia o nome da Srª Tereza Grossi para ser diretora do Banco Central? É o fim do Senado Federal! É o fim da respeitabilidade da Casa! É à humilhação definitiva que o Presidente da República submete o Senado da República!
Espero que o Presidente do Senado, acolhendo questão de ordem levantada pelo Senador José Eduardo Dutra, não submeta o nome da Srª Tereza Grossi ao Plenário. E isto já deveria ter sido feito pelo Senador Ney Suassuna. Por que o Senador, Presidente da CAE, convoca a Srª Tereza Grossi para dar explicações? Explicações ela já deu na CPI. E o Relatório da CPI a enquadra em nada menos do que quatro crimes definidos no Código Penal.
O Presidente Fernando Henrique está brincando com o Brasil e brincando com o Senado!
Espero que esta Casa não se desmoralize.
E se comenta que a base do Governo dará a sustentação ao Presidente. Não, não dará sustentação ao Presidente! Cometerá o ato da desmoralização definitiva do Senado da República! Não é possível que este nome seja sequer analisado pelo Plenário! Não é possível que a CAE convoque a Srª Tereza Grossi para explicar o inexplicável, o que já não foi explicado na CPI! A CPI tem o Relatório conclusivo, definitivo. O Ministério Público está processando a Srª Tereza Grossi com base nas denúncias dos Senadores Lúdio Coelho, Roberto Requião, Mozarildo Cavalcanti, Gilvam Borges, Marina Silva e Antonio Carlos Magalhães. Não houve um único voto de discordância em relação ao relatório da CPI que incriminou a Srª Tereza Grossi. Trata-se de um escárnio. Se levarem à frente essa brincadeira, essa fraude, restará provado, definitivamente, que não há um Senado da República, mas uma instituição teúda e manteúda pelo Presidente da República, sem resquícios de vergonha e decência.
Vou falar um pouco, contanto com sua proverbial tolerância, sobre meu Estado, o Paraná.
Como V. Exªs tomaram conhecimento, a CPI do Narcotráfico instalou-se em meu Estado por alguns dias. Nada houve igual. Foi um trabalho maravilhoso do Deputado Federal Romeu Tuma Júnior, filho do Senador Romeu Tuma. Todas as investigações concentraram-se sobre a própria polícia. O delegado chefe, denunciado por envolvimento no crime organizado, acabou fugindo. Outros delegados, com função de chefia, foram envolvidos e também acabaram deixando seus cargos. Foram dezenove as prisões decretadas pela Polícia Federal.
Se V. Exªs leram os jornais, assistiram televisão ou ouviram rádio, nada do que estou aqui dizendo é novidade. A cobertura foi ampla. No entanto, caso V. Exªs tivessem lido apenas uma revista, aquela que se diz o maior semanário brasileiro, para informar-se sobre o caso, restariam agora completamente desinformados.
Curiosamente, ou nem tanto, a revista Veja, da semana em que o envolvimento da política paranaense com o narcotráfico foi destaque em todo o País, não deu sequer uma mísera linha sobre o assunto. Pelo contrário, uma das matérias de destaque da revista do Sr. Roberto Civita é um texto que tece os mais rasgados elogios à polícia paranaense, em reportagem intitulada "Swat Brasileira", cujo subtítulo é "Academia do Paraná ensina policiais de vários Estados a manter a frieza em situações de risco".
Nenhuma linha sobre a CPI do narcotráfico, ou sobre o delegado-geral da polícia fugido e que pode estar no Paraguai ou no interior do Paraná.
E nada sobre o envolvimento da política do Paraná com o narcotráfico. Curiosamente, ou nem tanto, a revista Veja, em compensação publica, na citada edição, dois anúncios, de página dupla, coloridos, do governo do Paraná. O primeiro anúncio vendia o Banestado. Aliás, o mesmo banco estatal que o atual governador paranaense quebrou e para o qual esta Casa aprovou um empréstimo de R$6 bilhões para saneá-lo.
O segundo anúncio, também colorido, lindíssimo, aquele padrão de estelionato visual da Veja, e também de página dupla, vende o Festival de Teatro de Curitiba. O título do anúncio é bem sugestivo: "Não é o que você vê. É o que você sente". De fato, folheando esse número da Veja, não vendo qualquer notícia sobre o envolvimento da polícia de Jaime Lerner com o narcotráfico, e vendo os anúncios, sinto que algo estranho, muito estranho está acontecendo. É um anúncio teatro no Paraná, o teatro do Governo.
O SR. PRESIDENTE (Lúdio Coelho) – Senador Roberto Requião, o tempo de V. Exª está esgotado.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – Com sua tolerância, encerrarei rapidamente.
Como entender ou como ver como simples coincidência a omissão da notícia e a publicação dos anúncios? Como deixar de sentir uma sensação estranha em relação a esses dois fatos?
Não é a primeira vez e, desgraçadamente, não será a última, que venho a esta tribuna lamentar a forma com que Veja faz seu jornalismo marrom.
Mas não é só o Grupo Abril que tem a boca adocicada pelo interessante anunciante que vem sendo, há 25 anos, esse grupo político que ora governa o Paraná. Nos últimos quatro anos do governo Jaime Lerner, R$500 milhões foram gastos em propaganda nos veículos de comunicação do Paraná, dinheiro suficiente para construir uma usina hidrelétrica. Somando-se os números de apenas quatro fontes que pagaram as contas e que foram obrigadas, por decisão da Justiça Eleitoral, de informar os montantes. Foi a Secretaria de Comunicação Social do Governo do Paraná, a Companhia de Energia Elétrica, a Companhia Estadual de Saneamento e o Banco do Estado do Paraná.
Permita-me, Sr. Presidente, neste momento, fazer uma projeção estatística: levando-se em conta a disposição que esse grupo político, comandado por Jaime Lerner, tem em gastar em propaganda e manipular a opinião pública, e considerando o tempo que ora administram a cidade de Curitiba e o Estado do Paraná e que se projeta há 25 anos, não é difícil supor que, ao longo desse tempo, esses políticos tenham torrado uma soma superior a R$2 bilhões e meio em publicidade.
O SR. PRESIDENTE (Lúdio Coelho) – Por favor, Excelência, o tempo de V. Exª está esgotado.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – Encerrarei, Sr. Presidente.
Estou levantando esses dados, Sr. Presidente, para mostrar apenas, no reduzido tempo que tenho, nesse período de prorrogação do Expediente desta sessão, que o Governo do Paraná está sendo coberto pela Imprensa comprada pela ignóbil revista Veja, que vende a sua opinião, como vende normalmente em todas as outras circunstâncias. Trata-se de um grupo estelionatário na Imprensa brasileira, o grupo Abril, dando cobertura ao esquema de narcotráfico que atinge a Polícia do Paraná.
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