Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

IMPORTANCIA DA MISSÃO DAS NOSSAS FORÇAS ARMADAS NO TIMOR LESTE.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • IMPORTANCIA DA MISSÃO DAS NOSSAS FORÇAS ARMADAS NO TIMOR LESTE.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2000 - Página 4984
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, APOIO, RESISTENCIA, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE, GRAVIDADE, INFORMAÇÃO, INJUSTIÇA, VIOLENCIA, VITIMA, POVO, COMUNIDADE, LINGUA PORTUGUESA.
  • ELOGIO, GOVERNO BRASILEIRO, RECONHECIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE, AUXILIO, RECONSTRUÇÃO, PAIS, CRITICA, TUTELA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar a importância da missão dos membros das Forças Armadas Brasileiras que foram ao Timor Leste.  

O povo timorense merece o nosso apoio, o melhor e mais rápido possível. Não só porque precisa de ajuda, mas também por algumas características do povo e de seus líderes.  

Estamos cada vez mais impressionados ao constatar a veracidade das informações que o Conselho Nacional da Resistência Timorense – CNRT – nos tem dado durante todos esses anos. Essas informações têm sido comprovadas por brasileiros de diferentes áreas, como os que compõem o Clamor por Timor, o Frei João Xerri, que, inclusive, prior do Carmo, esteve no Timor recentemente e nos enviou informações muito relevantes, a Srª Lília Azevedo, diplomatas, militares, religiosos. Enfim, todos que voltam do Timor têm dado declarações que comprovam tudo o que o Conselho Nacional de Resistência Timorense nos dizia; voltam estarrecidos com as dimensões da tragédia.  

O povo merece também toda a ajuda por ser o único inocente nessa tragédia de invasão, ocupação, violência, saque generalizado, destruição de toda a infra-estrutura: casas, escolas, prédios do governo, incêndio de todos os arquivos... e matança após o referendo do dia 30 de agosto de 1999.  

O povo timorense é vítima de erros que nunca cometeu. A guerrilha de resistência à ocupação indonésia jamais atentou contra a vida de civis, visando sempre e apenas alvos estritamente militares. Resistiram sozinhos durante vinte e cinco anos; não tiveram a ajuda de ninguém, nem da esquerda nem da direita. Cumpriram fielmente o acordo internacional para a realização do referendo, mesmo ameaçados de que, se fosse escolhida a independência, o país seria destruído.  

A atual posição do Governo brasileiro merece o nosso apoio, pois reconhece a representatividade do Conselho Nacional de Resistência Timorense e tem dialogado com seus Líderes. Isso é muito importante, pois significa que reconhece que o povo timorense é capaz de decidir seu futuro, como, aliás, já provou historicamente.  

Esse povo não pode permanecer sob a tutela da ONU, que mostrou sua incompetência ao não impedir a destruição amplamente anunciada, e sua incapacidade, pois já está no país há seis meses e até hoje pouco fez: não construiu casas, estradas, rede de eletricidade e água, escolas. Seu único e grande feito foi garantir a segurança, retirando as tropas indonésias, o que permite que as pessoas andem nas ruas, até a noite, com tranqüilidade. Assim, a ONU só é necessária para a segurança e não para governar!  

Para a reconstrução do país é importante que nosso Governo – como outros - busque projetos concretos, numa ajuda bilateral, Governo brasileiro e CNRT, atualmente o único representante legítimo do povo timorense. Os reais esforços do Governo merecem todo o nosso apoio e aprovação. Vamos, porém, lembrar que esse povo está sem casa, roupa, remédio, comida e escola, e não pode esperar.  

A liderança timorense fez uma escolha que poderá lhe custar caro se não tiver apoio de outros, sobretudo do Brasil. Decidiu, Sr. Presidente, que a língua oficial do país será o português, apesar de muitas pressões, inclusive do Banco Mundial, para que adotasse o inglês. Mas se assim tivessem feito, os timorenses seriam engolidos por aqueles que são de língua inglesa. Portanto, é importantíssimo que o Brasil perceba as razões pelas quais o Timor Leste preferiu o português.  

Como disse o Padre Filomeno Jacó, provável futuro Ministro da Educação: já que precisavam adotar a língua de um dos colonizadores, que fosse o português. O Brasil está longe, não tem interesses hegemônicos na região, não irá usar a língua para dominar. Um Timor que fale o português reforçará a Comunidade de Países de Língua Portuguesa – CPLP –, e interessa-nos uma relação fraterna com um país asiático.  

O Presidente Xanana Gusmão deve chegar ao Brasil em 30 de março. Essa será uma excelente oportunidade de o Governo concretizar seus projetos de ajuda e cooperação com Timor Leste. Xanana é, sem dúvida, um dos grandes líderes do mundo hoje. Sua visita será ocasião para que os brasileiros mostrem o seu carinho pelos timorenses, povo que sempre nos considerou como "irmão maior", tratando-nos com especial afeição.  

Também registro, Sr. Presidente, que muitos brasileiros foram ao aeroporto tanto na hora da despedida quanto da chegada dos 51 brasileiros que ajudaram a paz e a segurança no Timor Leste.  

É muito importante mencionar o competente trabalho que esses homens desempenharam, garantindo, inclusive, a segurança do Presidente Xanana Gusmão. Portanto, ressalto a importância da visita que o Ministro Luiz Felipe Lampreia está por fazer ao Timor Leste.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2000 - Página 4984