Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CRITICAS A POLITICA MONETARISTA DO GOVERNO FEDERAL.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • CRITICAS A POLITICA MONETARISTA DO GOVERNO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2000 - Página 5010
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL, MANUTENÇÃO, SUPERIORIDADE, JUROS, FORMA, CONTENÇÃO, INFLAÇÃO, PROVOCAÇÃO, RECESSÃO, ECONOMIA NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, ADESÃO, ALCIDES TAPIAS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE), DEFESA, NECESSIDADE, URGENCIA, REDUÇÃO, JUROS, VIABILIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, PAIS.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amanhã, quarta-feira, haverá reunião do Copom. O País inteiro está assistindo à repetição de uma ladainha que já se tornou um som monótono. Trata-se do apelo dramático do setor produtivo nacional, na defesa pela redução dos juros, principal empecilho para a démarrage da economia brasileira e do conseqüente estancamento do cruel desemprego, que atinge índices recordes no Brasil.  

Lamentavelmente, tese inútil, graças à insensibilidade dos mentores da economia brasileira, apegados à sua implacável visão monetarista de teimar em manter na economia brasileira um dos juros mais altos do mundo, como receita exclusiva para conter a inflação. Aliás, encaram até com desprezo aqueles que propugnam por teses tão óbvias, aceitas unanimemente em todas as economias desenvolvidas, acusando-os de serem – imaginem V. Exªs – desenvolvimentistas, como se pelo fato de defenderem o crescimento da economia os transformassem em démodé. Na realidade, o que esses gentlemen defendem, na sua arrogância, é que desenvolvimentista é sinônimo daqueles que defendem teses inflacionárias.  

Ora, nada mais longe da realidade, já que a prática amplamente comprovada por experiências bem sucedidas em variados países e em diferentes circunstâncias, pelas ainda plenamente válidas teorias keynesianas, têm demonstrado sem margem de erros, que é plenamente possível conciliar crescimento econômico e geração crescente de emprego, com total controle inflacionário. E um bom exemplo disso é o que está acontecendo na Espanha que, graças à geração de 1,9 milhão de empregos, nos últimos quatro anos, resultou na recente vitória esmagadora de José María Aznar.  

Mas nossos impávidos monetaristas, encastelados no poder e afastados dos sofrimentos dos que militam no Brasil real, sofrem de uma virose grave: a "crescimentofobia", isto é, sofrem da fixação obsessiva que não há remédio mais eficaz que a recessão, para o controle da inflação e, por via de conseqüência, a necessidade de manter juros estratosféricos, como medida indispensável para conter o crescimento econômico.  

Dessa vez, estamos assistindo a uma adesão importante, Sr. Presidente; é a adesão do Ministro Alcides Tápias à defesa da necessidade urgente de diminuir os juros a fim de se alcançar a alavancagem da economia. A bem da verdade, o Ministro já deveria estar nessa trincheira há muito tempo, já que seu Ministério trata do desenvolvimento e da produção, cujo maior inimigo é a prática de juros abusivos, como os existentes no País. E agora, será que irão acusar o Ministro Alcides Tápias de ser desenvolvimentista, apegado às teses inflacionárias? Ora, ninguém mais do que o Ministro teve uma formação tão arraigada ao sistema financeiro, na austera e conservadora escola do Bradesco.  

O que S. Exª está fazendo é nada mais do que reverberar as vozes da rua, sobretudo do empresariado: "não é mais possível suportar juros tão extorsivos!" O Ministro deve estar percebendo que se corre o risco de matar a galinha dos ovos de ouro do setor produtivo, vergado por juros absolutamente insuportáveis.  

É verdade que alguns céticos poderão contestar: mas os juros estão a 19% ao ano, e já não estiveram a mais de 40%? Já não estão num patamar suportável? Não. No Brasil ainda se pratica um dos mais elevados juros do mundo. E antes? Antes os juros eram simplesmente criminosos.  

Para não irmos longe, buscando comparação com os países desenvolvidos, basta ficarmos com o exemplo do Chile, país tão reverenciado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, que, há poucos dias, esteve na posse do seu novo Presidente. Trata-se de um país que está sendo muito cortejado para aderir ao Mercosul, com quem, portanto, estaremos brevemente competindo em pé de igualdade. Os juros cobrados pelo sistema financeiro giram em torno de 5% ao ano. Pergunta-se: como poderão nossos empresários competir com os chilenos, com fronteiras alfandegárias abertas, pagando juros quatro vezes maiores?  

Isso no âmbito do empresariado, para não falar nos reflexos criminosos, que os juros altos promovem na dívida interna. Basta lembrar que, graças ao exercício de teses obsessivamente monetaristas dos nossos eminentes economistas do Ministério da Fazenda, no curto período do Plano Real nossa dívida interna explodiu de R$60 bilhões para R$500 bilhões, isto é, multiplicou-se mais de oito vezes, para gáudio de nossos premiados banqueiros, que nunca desfrutaram de lucros tão absurdos como nesse período. Mais ainda, por disporem da União como clientes cativos, não correndo riscos, não se dão ao trabalho de investir no setor privado, muito menos praticar financiamentos de longo prazo, como ocorre em economias racionalmente concebidas.  

Basta lembrar que esses felizes cavalheiros estarão recebendo, apenas a título de juros este ano, algo em torno de R$100 bilhões, quase o dobro do total da dívida interna no inicio dessa gestão presidencial. Para que se tenha uma idéia do reflexo dos juros na nossa dívida interna, segundo cálculos confiáveis do respeitado economista Octavio de Barros, bastaria que os juros diminuíssem em 1%, passando de 19% ao ano para 18%, para ser economizada a fantástica quantia de R$5,650 bilhões.  

Por tudo isso que comentamos, e por muito mais que poderíamos ter aqui aduzido, espera-se que haja um clima de mínimo bom-senso na reunião do Copom e seja determinada uma substancial redução dos juros. O próprio Diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, em entrevista dada domingo último ao jornal O Estado de S.Paulo , afirmou que a economia brasileira vive um momento histórico: há décadas que não há uma convergência tão positiva de fatores econômicos. Deduz-se obviamente que não se pode acusar tal afirmação, como proveniente de um desenvolvimentista radical, supostamente, comprometido com teses inflacionárias.  

Que reine enfim o bom-senso na cúpula econômica brasileira e que a reunião do Copom da próxima quarta-feira, amanhã, traga boas notícias para o povo brasileiro, já exausto por ser cobaia de experimentos de frios tecnocratas, que nos têm causado tantos danos.  

Muito obrigada.  

 

Ü


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2000 - Página 5010