Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

OBSERVAÇÕES DE S.EXA., DURANTE AS COMEMORAÇÕES DA SEMANA DA MULHER, DAS ATIVIDADES REALIZADAS NA CIDADE DE ITABIRA, EM MINAS GERAIS.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), GOVERNO MUNICIPAL.:
  • OBSERVAÇÕES DE S.EXA., DURANTE AS COMEMORAÇÕES DA SEMANA DA MULHER, DAS ATIVIDADES REALIZADAS NA CIDADE DE ITABIRA, EM MINAS GERAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2000 - Página 5011
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), GOVERNO MUNICIPAL.
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA, ORADOR, MUNICIPIO, ITABIRA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), PARTICIPAÇÃO, ATIVIDADE, COMEMORAÇÃO, SEMANA, HOMENAGEM, MULHER.
  • ELOGIO, ADMINISTRAÇÃO, JACKSON ALBERTO PINHO TAVARES, PREFEITO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MUNICIPIO, ITABIRA (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EFICACIA, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SAUDE, FRENTE DE TRABALHO, DESTINAÇÃO, MULHER, RECUPERAÇÃO, PATRIMONIO CULTURAL.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, nesse final de semana, tive oportunidade de estar na cidade de Itabira, administrada por um Prefeito do Partido dos Trabalhadores, numa coligação, onde participei das atividades de comemoração, nos dias 16 e 17, da Semana da Mulher. O Prefeito Jackson Alberto de Pinho Tavares, juntamente com sua esposa, Maria Lúcia, realizam um trabalho bem dinâmico, como é da tradição petista, na área social.  

A Saúde da Família, um programa que vem sendo implementado pela Secretaria Municipal de Saúde, constitui-se em uma inovação, a partir de uma iniciativa da Primeira Dama, que, coordenando as discussões do orçamento participativo, está implementando esse mesmo orçamento por áreas. Daí termos tido, inclusive, uma inovação, qual seja, a de que fizeram o orçamento participativo da saúde.  

Há uma versão para as crianças, o que é, por si, educativo: ensinar as crianças a decidirem sobre as suas prioridades para o Município e, com isso, talvez, fazer com que ensinem a lição para o Estado e para o País.  

Impressionaram-me também as frentes de trabalho e, no caso, frentes de trabalho específicas, em determinada modalidade, para as mulheres, uma vez que boa parte delas vive em situação de pobreza – e os dados que temos nos dão conta de que o maior índice de analfabetismo recai sobre as mulheres.  

Fiquei feliz em observar que a Primeira Dama e coordenadora do orçamento participativo teve a preocupação de, nas frentes de trabalho, instituir atividades compatíveis com as mulheres no que se refere a estar lhes oferecendo uma oportunidade de renda. Quando digo "específica" não quero aqui afirmar que não possamos desempenhar algumas tarefas feitas pelos homens. Refiro-me a que, na maioria das vezes, as frentes de trabalho são destinadas apenas ao grupo masculino. Portanto, estar alistando mulheres para esse benefício é uma demonstração de preocupação com a situação feminina.  

Não havia tempo para conhecer todo o trabalho da Prefeitura Municipal. Contudo, foi bastante interessante a palestra, na cidade de Itabira, com a presença de mais de 300 mulheres e homens, sobre as questões relativas à Semana da Mulher. Impressionou-me toda a recuperação que vem sendo feita na parte cultural da cidade Itabira, principalmente por ser a terra natal do poeta maior Carlos Drummond de Andrade.  

Visitei o Memorial - um presente de Oscar Niemeyer para a cidade de Itabira -, onde está uma parte do acervo literário do poeta que orgulha aquela cidade. Seu neto, Pedro Drummond de Andrade, estava presente a essas atividades.  

Lá foi feito o que eles chamam de Museu de Território, cuja idéia se constitui na apresentação de 42 poesias nas quais o poeta faz referências a determinados lugares e pessoas da cidade. Algumas famílias dessas pessoas ainda moram naquelas casas. Assim, foi feito um roteiro com esses 42 poemas. Em cada localidade há uma placa em que a poesia está estampada. Faz-se, assim, o que eles chamam de "Caminhos Drummondianos". Foi muito interessante poder entrar nesse túnel do tempo, andando nas páginas da poesia de Drummond.  

Uma das que me chamou mais a atenção diz respeito a uma espécie de beco, ainda existente na cidade de Itabira, que ele chama de Beco do Terror, por onde passavam as criancinhas para serem enterradas - os anjinhos, como ele denominava - e algumas pessoas, que eram presas e torturadas à época.  

Uma outra poesia tem muito a ver com o que fizemos aqui na Comissão de Combate à Pobreza, durante três meses, cujos resultados, infelizmente, ainda não são tão animadores, porque as propostas não estão sendo devidamente analisadas. Refiro-me a uma poesia dedicada aos pobres, estampada em uma das igrejas de Itabira, onde participou de uma reunião com os vicentinos. Ao final da poesia, diz o poeta que "estende a mão, dá a sua contribuição. O dinheiro não era dele, mas o gesto era dele". E conclui, dizendo: "Não salvo o mundo, mas salvo a minha alma". Trata-se de um gesto de caridade que, na sua visão crítica, não resolvia os problemas dos pobres. Mas aquelas pessoas pensavam que, fazendo caridade, poderiam estar salvando a sua alma.  

Senti muito atual a poesia de Drummond porque hoje, além do gesto de solidariedade que, claro, pode estar nos salvando a alma, precisamos de gestos que também salvem o mundo. Afinal de contas, as almas habitam corpos que são tidos por Deus como templos do espírito, e se o templo está profanado, certamente também o espírito. De certa forma, a pobreza não pode ser encarada apenas como um gesto de caridade para salvarmos a nossa alma, mas um gesto de compromisso para que possamos estar efetivamente fazendo algo que venha edificar uma nova forma de se relacionar com os bens produzidos pela humanidade e que não poderiam estar gerando, ao lado de tanta riqueza, tanta pobreza.  

Sr. Presidente, nessa visita que fiz à cidade de Itabira, fiquei também impressionada com uma senhora, muito simpática, que nos acompanhou, não guardei o seu nome, mas seu apelido é Dadá. Foi ela que me introduziu no Museu de Território e lia as poesias de Drumond com beleza e paixão típicas daquelas pessoas que são capazes de fazer da arte o seu meio de mudar o mundo e, depois, mudar o mundo mudado, como já disse um filósofo. A Dadá me impressionou muito pela vitalidade e pela beleza que tem, no tratamento da obra de Drummond. Ela conseguiu me emocionar em muitos momentos, vendo ali muitas coisas que têm a ver com o nosso cotidiano, e de forma tão bela; enfim, muito tocante a todos nós.  

Quero concluir fazendo uma homenagem a Dadá. Fiquei muito impressionada com a sua dedicação à recuperação de todo o patrimônio histórico da cidade de Itabira e, particularmente, com o trabalho que vem fazendo para o avivamento da memória do grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.  

O que Dadá não sabe, sabe.  

Dadá não sabe dar ponto sem nó  

Mover sozinha a mó  

Negar as cordas do som  

Mas sabe como ninguém  

Ler a alma de Drummond.  

Senti-me, juntamente com ela, lendo a alma de Carlos Drumond de Andrade, ainda que por alguns momentos, no Museu de Território da Prefeitura petista, que muito bem soube e está sabendo recuperar o patrimônio histórico daquela cidade.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2000 - Página 5011