Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

COMENTARIOS SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE, PROMOVIDA PELA IGREJA CATOLICA.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • COMENTARIOS SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE, PROMOVIDA PELA IGREJA CATOLICA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2000 - Página 5349
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), OBJETIVO, SOLIDARIEDADE, SOCIEDADE, PAIS, BUSCA, PROGRESSO, COMBATE, POBREZA, MISERIA, INJUSTIÇA, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, COLABORAÇÃO, DIVERSIDADE, IGREJA.
  • CRITICA, REAJUSTE, SALARIO MINIMO, MOTIVO, INSUFICIENCIA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO, PAIS.
  • DEFESA, PARTICIPAÇÃO, INTEGRAÇÃO, SOCIEDADE, PAIS, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB).

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB – MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho ouvido, nos últimos dias, importantes pronunciamentos de eminentes Colegas do Senado da República sobre a Campanha da Fraternidade, que foi desencadeada pela Igreja Católica há mais de 30 ou 40 anos e que, sem dúvida, objetiva congregar, unir, levar sua solidariedade e aproximar os seres humanos.  

Todos nós temos de louvar o enfoque verdadeiramente ecumênico da Campanha da Fraternidade deste ano, em que mais de seis igrejas cristãs se associam à Igreja Católica, para, irmanadas, lutar, cada vez mais, por um mundo melhor.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é importante que nos integremos, de corpo e alma, nessa Campanha, principalmente porque estamos vivendo um novo milênio, que desejamos seja melhor. Desejamos que a humanidade seja mais próspera, mais feliz, que não haja tanta miséria, tanta pobreza e tanta injustiça social e que não exista mais a escuridão de uma favela ao lado das luminárias de palácios pomposos e luxuosos.  

Custamos a acreditar que até a assistência social vem sendo invertida no mundo em que hoje estamos vivendo. Dói no coração de um ser humano ver o que acontece, por exemplo, nas favelas das grandes metrópoles deste País. Essas favelas abrigam cidadãos brasileiros humildes, verdadeiramente trabalhadores, mas abrigam também marginais, que são, às vezes, os verdadeiros administradores dessas comunidades. E isso acontece porque a miséria campeia; porque quem lhes leva o remédio é o narcotraficante, o bandido; porque quem, às vezes, leva-lhes o livro escolar não é o Poder Público, mas sim aquele que, desgarrado, explora o sofrimento do irmão, engana-o e o ludibria quando lhe acena com esses pequenos favores, que são importantes para aquelas famílias, porque dizem respeito à sua própria sobrevivência.  

Isso é triste, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores! Estamos vendo que o mundo está a necessitar, cada vez mais, de união, de fraternidade. Vivemos num clima de profunda violência no Brasil e no mundo inteiro.  

Nesta Casa, ainda nesta semana, ouvi, por exemplo, o relato do Senador Ney Suassuna, que só não perdeu seus familiares porque tem a graça de possuir, como ele próprio afirmou, um carro blindado. Quem não tem em sua família um caso para contar de violência, de arbitrariedade ou de assalto?  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que sonho bonito viver o novo milênio sem exclusão! Este é um sonho que todos nós gostaríamos que se tornasse realidade: viver o ano 2000 – ano tão decantado e tão comemorado – sem exclusões, sem subemprego, sem desempregados, sem mendigos, sem crianças nas ruas, sem crianças fora da escola, sem crianças órfãs, sem crianças atiradas ao relento.  

Devemos, sim, aderir a essa Campanha, que representa, no mínimo, uma esperança de dias melhores. Esse é um chamamento da sociedade brasileira e do mundo inteiro, para que haja uma verdadeira comunhão entre os povos, uma verdadeira solidariedade entre a nossa gente. Dignidade e paz, sim! Quanta gente vive, hoje, Sr. Presidente, num mundo de indignidade, num submundo, em favelas, excluídos, sem ter o que comer, sem ter o que vestir! Então, no mínimo, a campanha comandada por essas Igrejas cristãs objetiva aquilo que é indispensável para que possamos obter dias melhores no mundo: a conscientização da sociedade e dos países ricos, que precisam ter compreensão com os países pobres. Estamos vivendo num mundo cujo processo de globalização, eu sei, é irreversível. Mas sei também – todos sabem – que se trata de uma globalização tremendamente cruel, que está subjugando cada vez mais os países que querem crescer e se desenvolver.  

Ainda ontem, estive na tribuna do Senado da República falando sobre o salário mínimo, pedindo aos Líderes e ao Presidente da República que não o regionalizassem - e felizmente não o fizeram -, pois, do contrário, haveria um êxodo das cidades e Estados pequenos para locais mais ricos. E o Brasil é imenso! O Brasil possui um território enorme, que precisa ser ocupado. Precisamos crescer, precisamos nos desenvolver.  

Sei que o salário mínimo anunciado, de R$151, vem demonstrar que essa campanha da fraternidade se torna, neste momento, cada vez mais imperiosa, chamando todos para que nela se integrem de corpo e alma, a fim de que possamos dar as mãos aos nossos irmãos mais sofridos. Positivamente, R$151 pode ser até o salário mínimo possível, mas é um salário mínimo ridículo. Houve aumento de R$0,50 por dia no salário do trabalhador brasileiro. Como vamos, agindo dessa maneira, eliminar as injustiças sociais existentes no País?  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não poderia deixar, nesta manhã de sexta-feira, de registrar a minha solidariedade e o meu empenho. Quero – e vou – me integrar nessa campanha, como todos devemos fazer. Somos políticos, somos responsáveis pelo destino dos nossos concidadãos. Quem decide o valor do salário mínimo é a classe política e, por isso, na maioria das vezes ela não é compreendida, e a sociedade descarrega sobre ela suas angústias e sua dor.  

A política é uma atividade que tem o poder de decidir. Política, como dizia o saudoso Ulysses Guimarães citando um filósofo alemão, é questão de vida ou de morte. É importante, sim, valorizar-se a classe política, mas quando se vive um quadro de extrema penúria, miséria e desigualdade, como o do Brasil e de outros países do mundo, onde uns poucos têm muito e a maioria nada tem, é muito natural que haja, praticamente, uma revolta contra a classe política, apesar do idealismo dos nossos esforços, do nosso trabalho e da nossa luta.  

Quem não quer um mundo melhor? Mas, Sr. Presidente, é preciso trabalhar muito para que isso aconteça; digo, até, que é preciso renúncia de parte da sociedade, renúncia de poucos para que muitos possam ter uma melhor qualidade de vida. Assim, está duro sobreviver!  

Sr. Presidente, temos dois Brasis, o pobre e o rico, mas também os temos no sentido legal. Quem analisar nossa Constituição constatará que vivemos uma democracia perfeita, com as instituições e os poderes funcionando livremente. Constitucionalmente, o salário mínimo deve atender às necessidades básicas e prementes de uma família brasileira, e deve atender o indispensável à sobrevivência humana: alimentação, saúde, educação, moradia e lazer. Porém, na prática, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, positivamente isso não acontece: R$151 é uma injustiça profunda contra a sociedade brasileira.  

Teço essas considerações no instante em que vejo quanto é oportuna a Campanha da Fraternidade - que existe há cerca de quarenta anos, por iniciativa da Igreja Católica –, à qual se juntam mais seis Igrejas cristãs, com o objetivo de ajudar o nosso próximo, de alertar todos, de chamar a atenção da Humanidade: "Um milênio sem exclusão". Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem nos dera! Que Deus ajude que isso aconteça.  

De minha parte, digo a V. Exª e às Srªs e aos Srs. Senadores que me ouvem que vai ser muito difícil que este milênio comece sem exclusão; vai ser muito difícil levantarmos as mãos para o céu e dizermos que, felizmente, todos nós conseguimos viver em uma Pátria mais justa, mais humana, mais feliz e mais cristã.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2000 - Página 5349