A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – As pessoas que são geniais nos dão a possibilidade de interpretação e de fala sob quase todos os ângulos. E, se não conseguimos fazê-lo, não é por falta de plantio em seu jardim de criatividade, é por nossas próprias limitações.  

É sempre difícil falar depois do terceiro orador, porque se vão escasseando aquelas palavras que gostaríamos de dizer sobre o homenageado.  

Como mulher, descendente de raça negra, com certeza quero registrar aqui a minha gratidão, da forma como aprendi com o meu pai. Tive de recorrer a esse ensinamento, de um nordestino quase analfabeto, quando vi que o discurso que havia preparado esgotara-se na fala do Senador Eduardo Suplicy e na fala do Senador Francelino Pereira, e disse: por favor, me acuda!  

Escrevi o seguinte e peço licença para dizê-lo.  

Gilberto Freyre, talvez, se pudesse conversar conosco nesta tarde, dissesse o seguinte:  

Do que falei?  

Falei da casa que era grande,  

Grande, mas pequena em amor.  

Falei da que não era casa,  

Senzala cheia de dor.  

Falei de mitos, de raças, de escravos e de senhores.  

Falei para além de meu tempo,  

Vendo o Brasil por dentro  

Do espinho até a flor.  

Falei para além de minha classe de fidalgos e de doutores.  

Fundei e fiz minha história,  

Com lógica e contradição,  

Erro no qual só incorrem aqueles que pisam o chão.  

Muito obrigada. (Palmas)