Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO GILBERTO FREYRE.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO GILBERTO FREYRE.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2000 - Página 5454
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, GILBERTO FREYRE, SOCIOLOGO, ESCRITOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, CONSTRUÇÃO, PENSAMENTO, POLITICA, PAIS, ANALISE, FORMAÇÃO, SOCIEDADE, BRASIL.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta data o Senado Federal, como legítimo representante do Estado e da sociedade brasileira, presta uma justa homenagem e reconhecimento ao grande sociólogo, político e intelectual brasileiro Gilberto Freyre.  

Gilberto Freyre é, na realidade, um nome que orgulha não apenas Pernambuco e o Nordeste, mas, especialmente o Brasil, e como representante de um Estado da Região aqui nesta Casa, gostaria de também louvar o mérito extraordinário de sua obra e do seu trabalho para a definição das origens, influências e contornos da sociedade morena e cabocla do Nordeste e do Brasil, em que procurou, e também conseguiu, .valorizar cientificamente, pela sociologia, o valor da miscigenação das raças na construção de uma nova etnia.  

A sua obra Casa Grande e Senzala se constitui numa das referências mais fiéis para explicação histórica das tradições, dos costumes e da cultura que herdamos da economia canavieira .  

O nosso Estado de Sergipe, conquistado para a colonização portuguesa, dos índios, aliados dos franceses, em 1590, teve sua atividade econômica inicial de povoamento relacionada com o pastoreio de gado nos campos do Rio Real, por descendentes de Caramuru e dos proprietários da Casa da Torre de Garcia D’ávila, mas foi no cultivo e beneficiamento da cana-de-açúcar, desde o início dos anos de 1600, que o nosso Estado teve o seu principal esteio econômico, e foi do pátio dos engenhos e depois das usinas, que se estendeu a nossa colonização e se consolidou a feição de nossa sociedade e de nossa cultura .  

No final do século passado, segundo alguns historiadores, ainda existiam quase mil engenhos, dos quais, a partir de então, alguns poucos conseguiram, inicialmente, substituir a força animal pela máquina a vapor e depois pela energia elétrica, transformando-se em modernas usinas, infelizmente, hoje, a maior parte delas lutando com sérias dificuldades para se manter no mercado.  

Ainda espalhados em vários municípios do Estado podem ser encontradas relíquias arquitetônicas dessa época áurea do açúcar no Estado de Sergipe, conforme podem ser conhecidas e estudadas a partir da importante obra intitulada Arquitetura Sergipana do Açúcar , de autoria de Kátia Afonso Silva Loureiro, publicada com apoio da Universidade Tiradentes e da Fundação Cultural da Cidade de Aracaju, trabalho esse que identifica construções de antigos engenhos e suas casas grandes, ainda hoje habitadas, e fundadas, por exemplo, em 1632, portanto há apenas quatro décadas da conquista da região .  

Nos vales, regiões de terras mais férteis, foram dominados pela lavoura da cana. Eram, assim, de pujante economia as regiões compreendidas pelos vales do Vaza-Barris, o vale do Cotinguiba, o vale do rios Sergipe e do Japaratuba, onde progrediu, por séculos, a aristocracia rural do Estado, que também representava o poder econômico, e quase sempre o poder político, com nomes importantes entre os titulares do Império.  

A economia canavieira, isto é, o extenso ciclo do açúcar em Sergipe, com suas fazendas, engenhos, usinas, comércio e toda a atividade social, econômica e política, cujos meandros de dinâmica sociológica são tão bem definidos e explicados com sabor histórico e literário por Gilberto Freire em seus escritos, deixou marcas indeléveis nos costumes, no vocabulário, no caráter do povo, na genealogia e, de um modo geral, na fisionomia e na cultura de Sergipe, do Nordeste e do Brasil .  

No esforço de delineamento dos traços marcantes do caráter e da feição do povo brasileiro, a partir da busca das influências de suas origens, o País muito deve a Gilberto Freyre, a Darcy Ribeiro e a tantos outros que, nas devidas proporções, contribuíram e vêm contribuindo para o estudo e a divulgação de nossas raízes e a valorização de nossa raça, de nossa gente e de nossa pátria.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, gostaria, nesta oportunidade, de me associar a todos aqueles que enaltecem o nome do grande brasileiro Gilberto Freyre pelo transcurso do seu centenário.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigada.  

 

s dº³


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2000 - Página 5454