Pronunciamento de Ronaldo Cunha Lima em 28/03/2000
Discurso durante a 23ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO GILBERTO FREYRE.
- Autor
- Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO SOCIOLOGO GILBERTO FREYRE.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/03/2000 - Página 5455
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, GILBERTO FREYRE, SOCIOLOGO, ESCRITOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, ANALISE, HISTORIA, FORMAÇÃO, IDENTIDADE, SOCIEDADE, BRASIL.
O SR. RONALDO CUNHA LIMA
(PMDB - PB) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este Parlamento celebra, hoje, em sessão especial, os 100 anos de nascimento de Gilberto de Mello Freyre. Sociólogo, antropólogo, escritor, poeta, historiador e pintor, o pernambucano Freyre era – e fazia questão de ser – controvertido, polêmico. Por isso, é pertinente colocá-lo na margem correta ao se repassar o histórico das idéias no Brasil.
A trilogia Casa Grande & Senzala , Sobrados e Mocambos e Ordem e Progresso compõe um conjunto em que a interpretação da nossa história é feita com o condimento raro de notáveis qualidades literárias. Por sinal, Casa Grande & Senzala associa-se a outras duas grandes obras que ajudaram a revelar o Brasil: Formação do Brasil Contemporâneo , de Caio Prado Júnior, e Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Holanda.
Gilberto Freyre, contudo, ofereceu um ângulo não-convencional da realidade ao partir de pontos de observação jamais examinados: cotidiano, modas, influência inglesa, papel do escravo, etc. Claro que o tratamento paternalista dado ao escravo, ajustando-o aos costumes brancos, é controvertível; chegou a sustentar, com argumentos polêmicos, que os escravos no Brasil tiveram melhor vida que os operários ingleses na Revolução Industrial. Seja como for, ao remexer no cadinho cultural da Nação, celebrou a orgia de trocas na qual se misturavam negros e mulatos, sexo e comida, padres e chefes de candomblés, arquitetura e trópicos. Era o Brasil senhorial mirando-se ao espelho e ostentando a chave dos enigmas de sua formação.
Está certo que Casa Grande & Senzala constituiu portentoso monumento ideológico à "democracia racial" no País: contrapondo-se à teoria racista de Oliveira Viana, que considerava a miscigenação um dos fatores de nossa penúria, Freyre revolucionou toda uma ótica simplória a respeito do Brasil. Desde então, deixou de ser novidade asseverar que o processo de mestiçagem na cultura brasileira nunca foi apenas étnico. Entrementes, cumpre salientar que pontifica na obra de Gilberto Freyre um modernismo a distingui-lo daquele modernismo neo-iluminista deflagrado pelos paulistas: ele se estribou no modernismo decadentista valorizando o irracional (a exemplo da religião sem o dogmatismo da Igreja católica) para forjar os contornos de uma religiosidade cativa da sensualidade. De qualquer sorte, embora discutíveis alguns aspectos do seu conservadorismo, merece ele reconhecimento como autor fundamental, um dos fundadores da compreensão do Brasil no século XX .
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