Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

JUSTIFICATIVAS A APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTO DE CONDOLENCIAS A FAMILIA DO DR. CLIDENOR DE FREITAS SANTOS.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • JUSTIFICATIVAS A APRESENTAÇÃO DE REQUERIMENTO DE CONDOLENCIAS A FAMILIA DO DR. CLIDENOR DE FREITAS SANTOS.
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2000 - Página 6335
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CLIDENOR DE FREITAS SANTOS, MEDICO, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL – AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu havia providenciado minha inscrição, a fim de abordar assunto que diz respeito à Agência Nacional de Águas. No entanto, hoje, pela manhã, fui surpreendido por uma das notícias mais tristes que poderiam ter chegado ao meu conhecimento: colegas advogados do Piauí informaram-me que um dos maiores homens daquele Estado havia falecido no dia de ontem.  

Esse homem, médico, de nome Clidenor de Freitas Santos, mais conhecido como Dr. Clidenor de Freitas, foi um amigo com quem convivi ao longo de quase quarenta anos. Posso afirmar que, durante todo esse tempo, em nenhum instante vi em seus lábios o sorriso fácil e rasteiro da bajulação. Era um homem íntegro, por inteiro. Quando completou oitenta anos de idade, fez questão de reunir os amigos, muitos dos quais no passado foram cassados pelo Governo militar e perderam dez anos de direitos políticos e alguns o lugar de professor, como eu, que perdi meu cargo na Faculdade de Direito do CEUB. Naquela altura, Clidenor mostrava a pujança de sua vida, não só intelectual, mas afetiva. Todos acorreram à sua casa: o Governador, os membros da Academia Piauiense de Letras, Deputados Estaduais e Federais. Lembro-me de que Fernando Santana, Deputado Federal pela Bahia, e Almino Afonso, ex-Vice-Governador do Estado de São Paulo e primeiro Deputado Federal pelo Estado do Amazonas, e eu conversávamos com Clidenor na biblioteca. Ele dava a impressão de que o tempo para ele não correria, haveria de ser perpétuo, se não o foi fisicamente há de ser com certeza na mente, no pensamento, na lembrança dos seus amigos.  

Traço um ligeiro perfil dele: nasceu em Miguel Alves, no Piauí, no dia 16 de fevereiro de 1913 e faleceu no seu Estado natal, como disse ainda há pouco, no dia de ontem, 02 de abril do ano 2000. Era médico, professor, escritor, político e conferencista. Dirigiu primeiro o Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu, depois idealizou, fundou e dirigiu, até seus últimos dias, o famoso Sanatório Meduna, em Teresina, que inaugurou em 21 de abril de 1954. Nesse dia Clidenor fez uma página de oratória destinada toda ela aos filhos e para quando fechasse os olhos definitivamente.  

Foi membro fundador da Associação Piauiense de Medicina, e nos idos do Governo João Goulart presidiu o Ipase o que lhe custou, quando veio a Revolução, uma perseguição sem fim. Era Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí, foi Deputado Federal, Presidente da Academia Piauiense de Letras e deixou alguns livros famosos: Ideologia e Circunstância , A Glória de Saraiva , Shakespeare, Criador de Símbolos e As Bases Psicológicas do Nacionalismo, que fez verdadeira escola quando veio a público.  

Wilson Carvalho Gonçalves, em seu Dicionário Histórico-Biográfico Piauiense , de 1993, escreveu estas linhas sobre Clidenor: "Médico psiquiatra de renome, portador de grande cultura científica e humanística." Posso confirmar isso, Sr. Presidente, ainda que não seja um homem de grande cultura, sei onde ela reside.  

Clidenor e eu tínhamos uma amizade tão forte que conseguiu vencer o tempo, a distância e o silêncio. Quando vinha a Brasília ou eu ia acidentalmente a Teresina, dava gosto ouvi-lo falar de Dom Quixote. Ele conhecia a obra de Cervantes de ponta a ponta; talvez tivesse uma das maiores bibliotecas, que situo entre as cinco do mundo, em torno de Cervantes, tanto que colocou à frente de seu Sanatório Meduna uma estátua de Dom Quixote, que mereceu do então Presidente da República, hoje Senador, José Sarney, um discurso em torno da personalidade de Clidenor, com quem também conviveu muito.  

Outro traço característico da sua personalidade era sua coragem física, sua bravura. Quando nossos colegas cassados estavam em Buenos Aires, era Clidenor quem os sustentava, de forma financeira, médica e afetiva, indo lá de vez em quando. Todos os que ali estiveram sempre deram uma palavra de carinho a Clidenor.  

Tenho certeza, Sr. Presidente, de que a Câmara, hoje, pelas suas maiores figuras, sobretudo as que estão na Oposição, hão de render homenagens a Clidenor.  

Quero fazê-lo como amigo, um amigo que considera irreparável a perda, para o País, de um homem da sua categoria, e, por essa razão, Sr. Presidente, deixo esta tribuna profundamente emocionado, pedindo a V. Exª que faça chegar ao conhecimento da viúva e dos filhos essa manifestação de condolências. Como não a desejo somente minha, Sr. Presidente, encaminho requerimento à Mesa, solicitando a V. Exª que determine a sua leitura e, se aprovado, a Casa faça dar conhecimento aos filhos e à viúva de que o gesto do Legislativo não passou despercebido por quem foi um homem por inteiro; homem na acepção exata do termo.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2000 - Página 6335