Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

REFLEXÕES SOBRE O DESAFIO DA INTEGRAÇÃO SOCIAL E ECONOMICA DO BRASIL, A PROPOSITO DO TRANSCURSO, EM 31 DE MARÇO, DO DIA DA INTEGRAÇÃO NACIONAL.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • REFLEXÕES SOBRE O DESAFIO DA INTEGRAÇÃO SOCIAL E ECONOMICA DO BRASIL, A PROPOSITO DO TRANSCURSO, EM 31 DE MARÇO, DO DIA DA INTEGRAÇÃO NACIONAL.
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2000 - Página 6359
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, COMEMORAÇÃO, DIA, INTEGRAÇÃO, AMBITO NACIONAL, OPORTUNIDADE, ANALISE, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, EXCLUSÃO, POPULAÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, DESIGUALDADE REGIONAL, FORMAÇÃO, SOCIEDADE, PREVALENCIA, IGUALDADE, BRASILEIROS.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Transcorreu na última sexta-feira, dia 31, o “Dia da Integração Nacional”. Por inúmeras razões, é uma data a ser lembrada e registrada, especialmente neste ano que assinala o transcurso dos 500 anos da chegada dos portugueses ao nosso País.

            É interessante notar que tanto os colonizadores quanto os brasileiros que nos antecederam souberam manter, com exemplar competência, o País fisicamente integrado.

            Os estudiosos costumam apontar, como o cimento utilizado pelos nossos antepassados, o idioma, a mais bela herança ibérica, e o catolicismo, que em terras brasileiras perdeu o caráter de religião oficial e viu florescer as inúmeras vertentes do pensamento e da prática religiosa, que nos proporcionam um dos mais formidáveis exercícios de sincretismo registrados pela experiência humana.

A despeito da fabulosa conquista de todos nós, esta continuada integridade territorial, devo assinalar que a integração social e econômica nacional, vetores essenciais da paz social e do bem-estar coletivo, não segue o mesmo curso.

Há um terrível descompasso, um verdadeiro fosso a separar os brasileiros. Estamos submetidos a uma perversa lógica de exclusão que nasce e prospera a partir das profundas desigualdades regionais e, mais recentemente, é realimentada pelos crescentes desequilíbrios verificados dentro das próprias regiões isoladamente consideradas.

Assim, quero propor uma breve reflexão sobre o desafio que se mantém para todos nós: integrar social e economicamente o Brasil, de maneira efetiva. Só assim poderemos tecer, ao longo do século que se inaugura, uma sociedade na qual prevaleça de fato a igualdade de oportunidade para todos os brasileiros.

Somos nós, mulheres e homens políticos, os responsáveis pela garantia dos insumos mínimos, das pré-condições essenciais, para que todos e cada um dos nossos concidadãos vivam a plenitude da cidadania e realizem o seu potencial de talento e competência.

O mundo está ingressando na chamada Era da Informação, com as facilidades e simplificações trazidas pelas novas tecnologias, que conectam o planeta em tempo real. No Brasil, como em inúmeros outros países, meros consumidores e não produtores de ciência e geradores de novas tecnologias, continuamos consagrando um modelo que faz a sociedade operar em distintas velocidades.

Há, no País, uma diminuta parcela que, considerada a partir de quaisquer indicadores sócio-econômicos, integra a elite do planeta; dispomos ainda de uma classe média relativamente estável, pelo menos nos últimos anos, que se educa e procura prosperar; e, por fim, mas evidentemente não menos importante, ao contrário, temos um enorme contingente de homens, mulheres, crianças, jovens e velhos, que não conseguem ter acesso sequer aos recursos mínimos de subsistência digna.

Eles encontram-se, muitas vezes, fora até mesmo do alcance da malha protetora do Estado. É para eles, sobretudo, que se devem voltar nossas atenções e nossas ações.

Vejam, Sras. e Srs. Senadores, já sob a égide da nova economia, remanescemos com os velhos problemas brasileiros, tristemente irresolutos. A cada ano, na estação da seca, e quero aqui falar rapidamente da minha região - o Nordeste, renova-se o sofrimento, o sentimento de perda e de impotência em vastos contingentes de nordestinos brasileiros. Como se isso não bastasse, detemos ainda alguns dos piores índices em educação, habitação, saneamento e, obviamente, distribuição de renda. São problemas recorrentes, seculares, que ainda não conseguimos equacionar.

Lembro, igualmente, o rio da integração, o rio São Francisco, crucial para toda a região, pois responde por 70% dos recursos hídricos do Nordeste brasileiro. O rio é vida, e não apenas na inspiração do poeta, mas a miséria tem-se instalado em diversas porções ao longo do rio da integração.

Em meu Estado, Sergipe, as populações ribeirinhas, economicamente dependentes da pesca, sentem cotidianamente a necessidade de revitalização do “velho Chico”; nas proximidades de sua foz crescem as manifestações físicas de assoreamento. Daí a necessidade de empreendermos os nossos melhores esforços para a plena revitalização do rio da unidade nacional.

Hoje somos quase 165 milhões, e quase um quarto de nossa população, perto de 40 milhões de brasileiros, vive abaixo da linha de pobreza. É um recorde vergonhoso, que devemos reverter de qualquer forma. A integração social e econômica é um dos meios mais eficazes para a alteração radical da situação atual.

Embora o Dia da Integração Nacional seja uma data apenas convencionada, gostaria de imaginar que a cada ano, neste dia, já a partir de 2001, nas escolas e universidades, nos parlamentos, cultos religiosos, sindicatos e nos meios de comunicação de massa, brasileiros de todos os quadrantes possam refletir sobre as melhores formas de viabilizarmos a verdadeira integração do Brasil.

            Assim, juntos, com imaginação e inventividade, mas sobretudo agindo, fazendo, vamos construir uma Nação da qual tenhamos orgulho!

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2000 - Página 6359