Discurso durante a 30ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO EX-PARLAMENTAR CLIDENOR DE FREITAS SANTOS, FALECIDO NO ULTIMO DIA 2 DO CORRENTE.

Autor
Freitas Neto (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Antonio de Almendra Freitas Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO EX-PARLAMENTAR CLIDENOR DE FREITAS SANTOS, FALECIDO NO ULTIMO DIA 2 DO CORRENTE.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2000 - Página 6614
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CLIDENOR DE FREITAS SANTOS, MEDICO, EX-DEPUTADO, ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. FREITAS NETO (PFL – PI) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faleceu no dia 2 de abril, em Teresina, o médico psiquiatra Clidenor de Freitas Santos, antigo parlamentar e um dos últimos representantes de uma geração de homens públicos que prestou inestimável contribuição para o Brasil e para o Piauí. Tornou-se nacionalmente conhecido em função de sua ação política, mas deixou realizações de grande importância em nosso Estado. Tinha 87 anos.  

Formado em Medicina, dedicou-se desde cedo à Psiquiatria, especializando-se na atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1940 nomeado diretor do Hospital Areolino de Abreu, instituição pública destinada ao tratamento de doenças mentais. Ao chegar, impressionou-se com a precariedade das condições e com o mau atendimento dispensado aos internos, em grande parte imobilizados em camisa de força ou mesmo sob correntes, mal recebendo acompanhamento médico. Determinou imediatamente uma reforma completa no hospital, implantando tratamento psiquiátrico racional e moderno.  

Essa experiência e o entusiasmo que sentia pela ciência levaram-no, após 14 anos no Areolino de Abreu, a fundar sua própria clínica, o Hospital Psiquiátrico Meduna. Com o correr dos anos, tornou-o um marco, não apenas para o Piauí, mas para todo o Nordeste. Fundado em 1954, o Hospital Meduna acolheu até hoje mais de cem mil pacientes.  

Sempre teve, como se pode perceber pelo papel que desempenhou na Medicina piauiense, aprofundado espírito público. Foi o que o levou à vida pública. Após uma tentativa de se eleger prefeito de Teresina, conquistou, em 1958, uma cadeira de deputado federal. Pertencia aos quadros do PTB e destacou-se muito no decorrer desse mandato. Datam dessa época a amizade, de que sempre se orgulhou, com eminentes vultos do nosso Congresso, entre os quais citaria José Sarney, Almino Afonso e Neiva Moreira.  

À essa época, a efervescência política levara à formação de blocos parlamentares que freqüentemente ultrapassavam os limites partidários. Era o caso da Frente Parlamentar Nacionalista, com a qual Clidenor de Freitas Santos se identificou. Uma de suas principais bandeiras era o desenvolvimento da saúde pública, com a universalização de um atendimento médico de qualidade. Como os demais integrantes da Frente, Clidenor de Freitas Santos se opunha às concessões ao capital estrangeiro, que considerava excessivas, e defendia a ampliação do papel do Estado na economia, não só como regulador, mas também como partícipe. Como se pode perceber, há uma extrema semelhança entre essa agenda política e a que ocupa os debates de hoje, passados mais de quarenta anos.  

Nas eleições seguintes, em 1962, houve uma ampla recomposição de forças políticas no Piauí, com a coligação que, articulada por Petrônio Portella, levou a uma inédita união de PSD e UDN, os dois maiores partidos do Estado. Clidenor ficou apenas na segunda suplência de sua coligação, mas o respeito que conquistara na Capital levou o então Presidente João Goulart a convidá-lo para dirigir o IPASE.  

As cassações e suspensões de direitos políticos feitas logo após a vitória do movimento visavam especialmente os integrantes da Frente Parlamentar Nacionalista. Mesmo sem exercer mandato no momento, Clidenor de Freitas Santos foi destituído da presidência do IPASE, perdeu os direitos políticos e foi forçado a se exilar no Uruguai, onde permaneceu por quatro anos. De volta ao Brasil, sofreu ainda novas perseguições.  

Seria preciso mais do que isso, porém, para tirar-lhe a alegria de viver. Não se afastou inteiramente da política, mas dedicou-se prioritariamente à Medicina e à sua biblioteca, além de atividades culturais. Um dos maiores especialistas em Cervantes no Brasil, tinha na biblioteca centenas de exemplares de D. Quixote da La Mancha, muitos deles edições raras. Era ainda membro da Academia de Letras do Piauí.  

Certamente, será possível fazer a Clidenor de Freitas Santos o maior de todos os elogios: ele trabalhou de forma ardorosa e dedicada pela sua terra, deixando marca que não se apagará.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2000 - Página 6614