Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

PERSPECTIVA DE FIM DO DRAMA SOBRE A CUSTODIA DO MENINO ELYAN, COM SUA VOLTA AO CONVIVIO PATERNO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • PERSPECTIVA DE FIM DO DRAMA SOBRE A CUSTODIA DO MENINO ELYAN, COM SUA VOLTA AO CONVIVIO PATERNO.
Publicação
Publicação no DSF de 13/04/2000 - Página 7075
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DISPUTA, GUARDA, CRIANÇA, CARACTERISTICA, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CUBA.
  • DEFESA, MANIFESTAÇÃO, POLITICA EXTERNA, BRASIL, APOIO, PATRIO PODER, RETORNO, CRIANÇA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.
  • EXPECTATIVA, SOLUÇÃO, CONFLITO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • COMENTARIO, TROCA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há quatro meses e meio, o mundo acompanha o drama do menino Elián González, que parece estar chegando a fim e que poderá produzir resultados surpreendentes.  

A disputa pela custódia do pequeno náufrago, que o acaso levou para terras norte-americanas, já deu sinais visíveis de que não está muito longe de um desfecho feliz, qual seja, a reaproximação dos Estados Unidos com Cuba. Acredito que, ao longo da batalha pela posse de Elián, tanto a comunidade cubano-americana instalada em Miami, como os cubanos, estão aprendendo uma lição que nem mesmo os esforços das organizações internacionais que sonham com a reaproximação dos dois países foram capazes de produzir.  

Aos seis anos, Elián González transformou-se numa vítima de disputa de interesses políticos, ao mesmo tempo, poderá se tornar uma pessoa símbolo da reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba.  

O mundo vem assistindo, com inquietação, a essa batalha jurídica e "cruel", conforme definição do próprio pai de Elián, Juan Miguel González, que desembarcou nos Estados Unidos, no último dia 6, disposto a só deixar o país com o filho nos braços. Até hoje, o governo brasileiro silenciou diante do esforço da família cubana para recuperar o pátrio poder sobre o menino, retido indevidamente, apesar do destaque dado ao episódio pela imprensa internacional.  

Creio que constitui nosso dever, como Senadores, reconhecer o direito de o pai de Elián ter a guarda do filho; direito esse reconhecido inclusive pelas autoridades judiciais norte-americanas e pelo Presidente Bill Clinton.  

A demora para resolver o impasse, além de acirrar ainda mais os ânimos, pode trazer conseqüências graves para Elián, resgatado na costa da Flórida, em 25 de novembro passado, vítima de um naufrágio no qual morreram sua mãe e o padrasto. O que pode ter passado na cabeça de um menino de seis anos, depois de ficar mais de 50 horas flutuando, agarrado a uma câmara de pneu, para, em seguida, ser entregue a parentes distantes, que nunca vira, perdendo todas as suas referências familiares? A quem interessa a demora do fim do drama de um menino que ainda tem dificuldade de entender o que ocorreu com a mãe, conforme ficou evidente em recente entrevista de Elián, transmitida pela rede de televisão americana, ABC? 

O retorno de Elián González a Cuba encerrará um capítulo dessa batalha emocional e política, que ainda poderá ter relevantes desdobramentos no futuro. O desembarque de Juan Miguel González nos Estados Unidos, acompanhado de sua mulher e do filho de seis meses, meio irmão de Elián, nos dá a convicção de que o tão esperado encontro entre pai e filho mudará o rumo das negociações que envolvem familiares anticastristas do menino e o povo cubano – aliás, é possível que na tarde de hoje esteja ocorrendo o encontro entre o pai, Juan, e o seu filho, Elián.  

Os sinais mais evidentes da mudança de rumo nas relações entre os dois países podem ser percebidos tanto nas declarações da Secretária de Estado Americano, Madeleine Albright, que tem reconhecido o direito de o pai de Elián tê-lo junto a ele, quando afirma: "É muito triste, ele é um garotinho que viu a mãe afogar-se", como no fato de que o próprio advogado que auxiliou o Presidente Bill Clinton no caso Monica Lewinsky, Gregory Cray, estar ajudando Juan Gonzáles. Do outro lado, está o Presidente Fidel Castro, que, pessoalmente, comandou as grandes manifestações públicas em seu país pelo retorno de Elián e acordou às 4 horas da manhã para embarcar a família do menino para os Estados Unidos.  

O episódio, visto inicialmente como negativo para o governo de Cuba, que amargou mais uma tentativa frustrada de fuga de cubanos descontentes com o regime de governo, pode acabar resultando, dependendo de como ambos os governos vierem a tratar de seu desfecho, num fator inesperado de reaproximação dos dois países.  

É interessante notar que, apesar da grande movimentação dos cubanos exilados em favor da permanência do menino Elián nos Estados Unidos, pesquisas de opinião pública entre os norte-americanos indicaram que a grande maioria da população reconhece o direito de o pai de Elián ficar com seu filho e, assim, levá-lo de volta a Cuba.  

Quem sabe, no futuro, Elián possa se transformar num catalisador da compreensão de ambos os lados. Quem sabe os cubanos exilados em Miami possam entender melhor o sentido da revolução cubana, que deu oportunidades a todos de acesso à educação, à saúde e a outras conquistas sociais. Quem sabe possam os cubanos compreender, por intermédio do ocorrido com Elián, a importância que os cubano-americanos dão à democracia e à liberdade. Quem sabe o caso Elián possa demonstrar à comunidade internacional que é possível conciliar os inegáveis benefícios do socialismo com a liberdade e a democracia.  

Sr. Presidente, dada a saída do Ministro da Justiça, José Carlos Dias, e de ter o ex-Secretário de Direitos Humanos, José Gregori, assumido a Pasta, eu gostaria de ressaltar que concordo com a opinião do Jornalista Jânio de Freitas, manifestada hoje, com tanta dignidade. Primeiramente ele se calou durante os nove meses de gestão do Ministro José Carlos Dias, mas hoje ele escreveu em seu artigo que S. Exª "se mostrou, no governo, operoso e atento, inteligente e capaz, límpido e digno. Um Ministro da Justiça verdadeiramente à altura desse cargo de importância extraordinária, mas tão aviltado."  

O novo Ministro, José Gregori, disse que tem uma afinidade de vida com José Carlos Dias e que dará continuidade à gestão do ex-Ministro.  

O Jornalista Fernando Rodrigues faz hoje faz uma sugestão e expressa um desafio para o novo Ministro José Gregori: que ele possa desvendar inteiramente e tornar público o mistério das contas do Caribe e das Ilhas Cayman. Espero que ele possa fazê-lo o quanto antes e desejo-lhe boa sorte para a difícil missão que acaba de assumir.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/04/2000 - Página 7075