Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEPOIMENTO DO NARCOTRAFICANTE HISSAM HUSSEM DEHAMI NA CPI DO NARCOTRAFICO E SUA PARTICIPAÇÃO NA CAMPANHA ELEITORAL DO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA, JAIME LERNER. CRITICAS A EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISORIA QUE PERMITE A COBRANÇA DE JUROS SOBRE JUROS.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL. MEDIDA PROVISORIA (MPV).:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEPOIMENTO DO NARCOTRAFICANTE HISSAM HUSSEM DEHAMI NA CPI DO NARCOTRAFICO E SUA PARTICIPAÇÃO NA CAMPANHA ELEITORAL DO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA, JAIME LERNER. CRITICAS A EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISORIA QUE PERMITE A COBRANÇA DE JUROS SOBRE JUROS.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/2000 - Página 7267
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL. MEDIDA PROVISORIA (MPV).
Indexação
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, HISSAM HUSSEM DEHAMI, TRAFICANTE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, TRAFICO, DROGA, COMPROVAÇÃO, UTILIZAÇÃO, AERONAVE, CAMPANHA ELEITORAL, JAIME LERNER, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR).
  • REITERAÇÃO, CONDENAÇÃO, AUSENCIA, RESPONSABILIDADE, MINISTERIO PUBLICO, ESTADO DO PARANA (PR), PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO, INICIATIVA, GOVERNO ESTADUAL, INVESTIGAÇÃO, TRAFICO, DROGA.
  • ACUSAÇÃO, FRANCISCO CUNHA PEREIRA, DIRETOR, JORNALISMO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RECEBIMENTO, PROPINA, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÕES.
  • CRITICA, SITUAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR).
  • PROTESTO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), GOVERNO, AUTORIZAÇÃO, COBRANÇA, JUROS COMPOSTOS, BENEFICIO, BANQUEIRO, PREJUIZO, PRODUTOR, POPULAÇÃO.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srª s e Srs. Senadores, o Senador Carlos Wilson há instantes me perguntava: Senador Requião, V. Exª vai falar sobre o Greca? Não, Senador Carlos Wilson. Hoje falarei sobre o Governador Jaime Lerner. Contesta-me o Senador Carlos Wilson, dizendo que é a mesma coisa. É quase a mesma coisa. Eu diria que os dois não têm as mesmas preferências em alguns setores da atividade.  

O Sr. Osmar Dias (PSDB – PR) – Senador Roberto Requião, antes que mude de assunto, V. Exª me permite um aparte rápido?  

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB – PR) – Como não? É um aparte inusitado, antes do discurso, mas ouço V. Exª com prazer, Senador Osmar Dias.  

O Sr. Osmar Dias (PSDB – PR) – V. Exª não falará a respeito do Sr. Rafael Greca, mas ontem foi publicada, num jornal de circulação nacional, uma notícia interessante: o Ministro Rafael Greca estaria gastando R$1milhão para construir o altar da missa dos 500 anos que será rezada na Bahia, ou seja, ele gastará muito mais do que o próprio Cabral gastou para descobrir o Brasil.  

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB – PR) – Mas seria dinheiro da União ou da máfia do bingo?  

O Sr. Osmar Dias (PSDB – PR) – Não tenho a resposta, Senador.  

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB – PR) – Senador Osmar Dias, tenho em mãos o depoimento na CPI do Narcotráfico do narcotraficante descoberto no Paraná, Sr. Hissam Hussein Dehaini, que conta como utilizou seus helicópteros durante a campanha eleitoral. E passo a relatar parte do diálogo travado entre o Deputado Padre Roque, membro da CPI, e o Sr. Dehaini:  

 

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - O senhor já trabalhou para algum político, já fez viagens para algum político?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Já. O meu helicóptero, o Long, na campanha de Jaime Lerner trabalhou exclusivamente para ele.  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - Ah, trabalhou exclusivamente para o Jaime Lerner?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Pro Jaime Lerner.  

Nesse instante, a Srª Presidenta intervém, dizendo que ele já dissera isso. E continua o Deputado Padre Roque:  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - O senhor é...  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Pro Pizzatto também.  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - Tinha contrato...  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Pro Pizzato também.  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - Ah, o Pizzatto também?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Também, também. Pro Pizzatto também.  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE – Quando o senhor tinha avião – o senhor teve avião, teve?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Não.  

Mais adiante, o Padre Roque pergunta:  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - Durante a campanha do Luciano Pizzatto?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Foi também, foi, porque na época tinha o ... eu tinha o Long, o Long ficava pro Jaime Lerner, né, e o Jet ficava, às vezes, o Dull fazia o vôo pro Pizzatto, tinha mais alguns políticos, eu não lembro o nome deles, eles iam sempre pra Prudentópolis, pra Rio Branco do Sul, é ...nesses lugares. O que voou mais foi o outro helicóptero, o grande.  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - De quantos lugares?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Sete. 

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE – Sete lugares.  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Hum.  

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O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - ...os contratos que o senhor tinha com os políticos. Com o Jaime Lerner o senhor tinha contrato?  

Este é um trecho muito importante do depoimento:  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Deixa eu explicar uma coisa pro Senhor: eu fiz uma sociedade com o Paulo Nascimento, que era, que é o piloto até hoje do Estado, da Casa Militar, que voa com aqueles helicópteros do Estado. O Estado tem dois helicópteros, um tá acidentado e o outro tá voando. Esse Paulo Nascimento ele voou pro Jaime Lerner. Quando o Paulo, eu conheci o Paulo, que a gente viu que o helicóptero era um bom negócio nós resolvemos comprar um helicóptero e quem fazia os vôos pro Jaime Lerner ...  

O SR. DEPUTADO PADRE ROQUE - Mas pera aí. Agora, quem... o helicóptero era seu ou era sociedade com Paulo Nascimento?  

O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Mais dois sócios. Nós éramos em três.  

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O SR. HISSAM HUSSEIN DEHAINI - Três sócios: o Marco Nascimento, o Paulo Nascimento e eu. Então, nós compramos o helicóptero junto, abrimos um táxi aéreo e ele começou a prestar serviço, prestou serviço na campanha do Jaime Lerner porque ele já tinha contato direto com o Jaime Lerner. Contato porque ele já era piloto do Estado. Ele pediu licença e foi trabalhar ...  

 

Vejam que coisa terrível. É o narcotráfico oferecendo aeronaves para a campanha do Jaime Lerner no Paraná.  

Outro dia, o Jaime Lerner declarou na imprensa que tinha alugado os helicópteros. Tomei o cuidado de solicitar ontem ao advogado do Partido que fosse ao Tribunal Regional Eleitoral dar uma olhada na prestação de contas da campanha, pois poderia haver o caso de a campanha do Governador ter alugado o helicóptero de alguma empresa, e esta tivesse utilizado o helicóptero do narcotraficante.  

Mas não foi assim que ocorreu. Não há nenhuma declaração, nenhuma nota fiscal de compra. Então, fica oficializada de forma definitiva a minha acusação. Só espero que o Senador Hugo Napoleão me venha contestar no plenário.  

O narcotráfico ofereceu aeronaves para a campanha do Governador Jaime Lerner na última eleição, o que mostra um vínculo profundo entre o Governo do Estado e os narcotraficantes, principalmente quando o avião do narcotraficante, evidentemente utilizado na distribuição de droga no Estado do Paraná, era pilotado por três pilotos da Casa Militar do Governo do Estado.  

Temos, então, uma conexão definitiva. É evidente que, a partir desse raciocínio, o Governo do Estado não tem qualquer interesse em aprofundar a investigação sobre o narcotráfico no Estado do Paraná.  

A CPI foi ao Estado, fez uma intervenção, praticamente demitiu o Secretário de Segurança, decretou a prisão e, conseqüentemente, impôs a demissão do Delegado-Geral. Mas a CPI saiu, e a situação permaneceu a mesma.  

Fiz uma crítica ao Ministério Público do Paraná, porque o Ministério Público prestou-se a participar de uma comissão de alto nível para investigar o narcotráfico e a sua influência na política do Paraná – uma comissão formada por secretários de Estado nomeados e demissíveis ad nutum pelo Governador. Fiz uma pergunta pública: o que fazia o Ministério Público numa comissão na qual ele é minoritário? Se a obrigação do Ministério Público é fiscalizar o Estado, defender os interesses públicos, como o Ministério Público pode participar de uma comissão na qual é minoritário? Ele vai simplesmente coonestar decisões, quando, na verdade, deveria estar investigando por conta própria.  

Recebi ontem uma carta do Procurador indignado com a minha dúvida acerca da participação do Ministério Público na comissão. Provavelmente, o Procurador gostaria de ter uma retratação minha. Não terá. É absolutamente irresponsável a participação de um membro do Ministério Público numa comissão montada pelo Governo do Estado, composta pelos seus secretários, para investigar o próprio Governo – uma comissão em que o Ministério Público é minoritário. É extremamente condenável a atitude do Ministério Público do Estado do Paraná.  

Mas, por falar em Paraná, as coisas lá estão quentes. Agora, o chefe de reportagem da TV Globo foi denunciado por estar recebendo dinheiro do caixa do escândalo de Londrina, um caixa que financiou a campanha do Governador, de dois Deputados Federais e do filho do Prefeito, que era Deputado Estadual – um desvio de US$16 milhões.  

Talvez a Globo nacional possa entender agora para aonde vão os recursos com que os políticos financiam o telejornal da TV Paranaense , Canal 12. Aconselho aos meninos do Roberto Marinho uma investigação, porque não é primeira vez que o fato ocorre. Houve época em que era o Sindicato das Empresas de Transportes Coletivos que tinha essa conversa direta e pessoal com o telejornal da Globo. Inclusive, um ex-Presidente da Câmara de Vereadores, Horácio Rodrigues, mandou filmar, na porta do sindicato, o dia em que Vereadores e jornalistas receberiam o que na linguagem policial chama-se "jabaculê".  

É interessantíssima a linguagem policial ao definir as gradações dessas gorjetas da corrupção: "alpiste", "jabá", "jabaculê", "boró", "capilé" e, no caso do pessoal da reportagem da Rede Globo , os policiais corruptos chamam de "capilé grossinho".  

Por ali, então, vazavam os recursos que deviam ir para a televisão, para o financiamento dos jornais. A opinião era comprada paralelamente. Esta é uma conversa para o Dr. Francisco Cunha Pereira ter com os herdeiros do Roberto Marinho. Por que o diretor de jornalismo da Rede Globo está implicado em recebimento de "capilé grossinho" por parte do esquema de apoio ao Governo do Estado?  

Não vão bem as coisas no Paraná! Lamentavelmente, Sr. Presidente, hoje o Governador é do PFL. Em mal momento o PFL trouxe para suas fileiras o Governador Jaime Lerner, que hoje está no olho de um furacão.  

As denúncias se sucedem. O Paraná associou-se à empresa Renault, com uma participação de 40% do capital. A ida da Renault para o Paraná foi um grande sucesso. O Governador retirou a Renault de outros Estados, venceu. É a glória da administração pública.  

A Renault apresentou, no balanço deste ano, um prejuízo de R$580 milhões. O Paraná é sócio de 40% da Renault e, conseqüentemente, de 40% do prejuízo da empresa.  

O governo argentino multou a Renault em US$586 milhões porque a Renault estava contrabandeando peças superfaturadas para o Uruguai, para diminuir o lucro da Renault argentina. O termo exato não seria contrabando. Quando exportava as peças para o Uruguai, a empresa beneficiava-se dos incentivos à exportação e recebia do governo uma certa quantia em dinheiro, como estímulo às empresas que exportavam. As peças eram montadas no Uruguai e transformavam-se em automóveis, que eram exportados para a Argentina. Assim a Renault também agia com peças. A empresa beneficiava-se do estímulo dado pelo Uruguai à exportação. Por isso, a Renault foi multada em US$586 milhões.

 

Vemos que o Governo do Paraná desaba. O Banco do Estado foi furtado, está quebrado e será privatizado. Já estamos devendo ao Banco Central cerca de R$7 bilhões. O Banco do Estado será vendido por R$300 milhões ou R$500 milhões. O Estado assumirá esse prejuízo astronômico.  

Outro dia, Sr. Presidente, proferi um palestra para oitocentos estudantes da Faculdade de Direito de Curitiba. Ao fim da palestra, fiz um teste; perguntei à rapaziada se eles sabiam qual era a condição presente da Companhia de Saneamento do Paraná – a Sanepar, se ela era pública, privada, nacional ou internacional? Todos eles disseram que a Sanepar era uma empresa pública. Por quê? Porque não existe imprensa no Paraná.  

Enquanto esse diretor de jornalismo recebe dinheiro em esquemas paralelos e a sua mulher é assessora da Vice-Governadora - aliás, acusada de ter feito uma lipoaspiração escultural com o dinheiro público, conforme o Ministério Público demonstrou em Londrina - enquanto tudo isso acontece, não há informação.  

A empresa Sanepar foi vendida para um grupo francês – Vivendi, um grupo processado inúmeras vezes na própria França, sem que nenhum paranaense tenha tido notícia disso, porque a imprensa é absolutamente omissa, silenciosa e arrolhada. E não é para menos, em quatro anos o Governo do Estado gastou R$500 milhões em propaganda. Quanto gasta normalmente um governo do Paraná?  

Quando fui Governador, lembro-me que cheguei a perder o sono pelo exagero das minhas contas de comunicação social. Gastei R$28 milhões em quatro anos, o que significa R$7 milhões por ano, e eu achava muito. O atual Governador gastou R$500 milhões em quatro anos, para comprar o silêncio da imprensa do Paraná.  

Para que os Srs. Senadores tenham uma idéia, desde que eu saí do Governo do Estado, quando o meu candidato, à época, o Álvaro Dias, perdeu a eleição, nunca mais fui entrevistado por uma televisão paranaense ao vivo. Tentaram algumas entrevistas pré-gravadas, que saíam cortadas, e eu passei a me negar a dar entrevistas que não fossem ao vivo e nunca mais tive mídia no Estado, porque a opinião no Paraná é controlada.  

Mas agora fico eu pensando aqui: será que o pessoal do Roberto Marinho, sabendo que os recursos da TV Paranaense , Canal 12, entram em um caixa dois, vai continuar em silêncio? Ou acaba o reinado, termina essa sociedade entre o Dr. Francisco Cunha Pereira e a Rede Globo ? Porque a sociedade, pelo menos formalmente, é de 50% para cada um. É o dado que disponho no computador do Senado e é o que consta da Comissão de Educação Comunicação, Ciência e Tecnologia Senado Federal.  

Este é o quadro do Estado do Paraná hoje: a corrupção grassando solta.  

Construi, quando Governador, Senador Paulo Hartung, em parceria com o Exército brasileiro, uma ferrovia. Foi o quilômetro de ferrovia mais barato da história do País e a única construída nos últimos 20 anos no Brasil.  

Pois muito bem, entre o valor da desapropriação e custo da construção, essa ferrovia consumiu cerca de R$340 milhões. Essa ferrovia foi alugada por um grupo privado, com três anos de carência e um pagamento de R$75 mil por mês, o que é ¼ do preço do pagamento do aluguel do avião que o Governador do Estado utiliza para seu uso pessoal.  

E esse pessoal todo continua solto!  

Faço aqui essas acusações, esperando a resposta do meu amigo, Líder do PFL – amigo ou ex-amigo, não sei mais – Senador Hugo Napoleão. Provavelmente, S. Exª usará da palavra para me fulminar com o seu verbo e a sua dialética. Só espero, Sr. Presidente, que S. Exª o faço no momento em que eu estiver no plenário, porque fica muito feio esperar que um Senador se retire para, à sorrelfa, rasteiramente fazer acusações duras como as que S. Exª me fez. Aliás, duras e infundadas e que me obrigaram a sair da minha casa, advertido por um telefonema dos Senadores Álvaro Dias e Eduardo Suplicy, para voltar ao plenário do Senado para respondê-las.  

Estive aqui até 12h30, e o Senador não disse nada. Quando me retirei, S. Exª leu uma carta do Governador Jaime Lerner me agredindo. Então, tive de voltar para responder as agressões feitas à sorrelfa, às escondidas.  

Isso, sim, Sr. Presidente, é falta de decoro parlamentar. Uma palavra dura dita em um momento de emoção não quebra decoro de coisa alguma. Para mim, falta de decoro parlamentar é um salário mínimo de R$151; quebra de decoro parlamentar é a nomeação da Srª Tereza Grossi, com o voto do Senador Jader Barbalho, autor do relatório que a incriminou em quatro tipos penais. Isso é quebra do decoro parlamentar.  

A violência utilizada em um momento de emoção na tribuna do Senado não quebra decoro nem aqui, nem na Inglaterra, nem na França ou em parlamento algum do mundo! A quebra do decoro parlamentar tem outra essência. O Parlamento deve ser transparente.  

É evidente que preferimos que a linguagem seja amena, mas há momentos em que ela não pode ser amena, porque a indignação se sobrepõe à contenção a que nos subordinamos normalmente.  

A Senadora Heloísa Helena foi advertida outro dia, porque chegou ao plenário com uma camiseta que tinha o símbolo do PT. Alguém a advertiu que isso seria quebra do decoro parlamentar.  

Essa é uma leitura errada desse processo. Não vejo de que maneira isso possa ser quebra do decoro parlamentar.  

Quebra de decoro parlamentar é o Senado e o Congresso aceitarem medida provisória; quebra do decoro parlamentar é a demissão, admitida em silêncio pelo Senado da República e pela Câmara Federal, do Ministro da Justiça José Carlos Dias, no meu entender, apenas para que a Polícia Federal não investigue aquele Sr. Oscar, procurador do Sérgio Motta e que, como tal, segundo informações que chegam ao meu gabinete, assinou o contrato do BID naquele projeto de canaletas para a recuperação do rio Tietê, em São Paulo. Mas hoje esse caso não está mais em nossas mãos, mas nas mãos do FBI. Lá nos Estados Unidos, vez por outra, até o Presidente vai às barras dos tribunais.  

Eu pretendia fazer uma intervenção de 5 minutos para uma breve comunicação. O Senador Osmar Dias me cedeu o tempo, por isso pude adentrar um pouco mais nas questões do Paraná.  

Concluo deixando aqui meu protesto em relação a esta Medida Provisória que propiciou aos bancos cobrar juros sobre juros. Para o povo, Senador, salário mínimo de R$151; para os bancos, o juro cumulativo, juros sobre juros, massacrando produtores, pauperizando ainda mais a população, incidindo sobre os cheques especiais de maneira violenta. Para os banqueiros, tudo; para o povo, rigorosamente nada. Vivemos num País onde projetos estratégicos, como o Avança Brasil, no seu capítulo de estruturação rodoviária, é delegado pelo Governo a empresas estrangeiras, como a Booz-Allen & Hamilton , como se não houvesse, no Brasil, técnicos capazes, no Ministério dos Transportes, de elaborar um projeto rodoviário.  

O FMI comanda a política econômica. Empresas estrangeiras fazem projetos, e a imprensa silencia. É extraordinário o silêncio da imprensa brasileira.  

O Senhor Fernando Henrique Cardoso está vendendo a Petrobras aos pedaços; vendendo ações; negocia a venda da Refinaria Raul Pilla, no Rio Grande do Sul, com a Repsol espanhola. A venda, eu disse? Enganei-me. Estão trocando a Repsol por postos de serviços na Argentina, e a Petrobras passará, em território argentino, a lavar, a polir e a lubrificar automóveis.  

O pretexto é a quebra do monopólio do petróleo no Brasil. Que coisa horrível a Petrobras ter monopólio! Mas esquecem-se de dizer que a Petrobrás refina 2% do petróleo refinado no mundo e que 98 % do petróleo é refinado pelas Sete Irmãs.  

Vamos quebrar os 2% do nosso monopólio, para que os detentores dos 98% possam ocupar o espaço de refino no País!  

E as coisas vão acontecendo diante do silêncio da Imprensa.  

Imprensa, eu disse? Que imprensa!? Tínhamos uma certa liberdade de imprensa nos conflitos empresariais entre os grandes conglomerados, mas esses conflitos estão desaparecendo. Os grandes grupos de comunicação se associam em aquisição de empresas estatais de telecomunicação, de telefonia, em projetos de portais na Internet, e a possibilidade da verdade surgir nas divergências existentes, cada dia, fica menor. Sobra para nós, no Senado da República e na Câmara Federal, a bendita TV Senado , que funciona num sistema fechado, pago, a cabo e que, mesmo assim, consegue levar uma informação clara e não filtrada pelas agências noticiosas às redações dos pequenos jornais e às redações dos noticiários das milhares de pequenas rádios que são semeadas no território brasileiro.  

Obrigado, Sr. Presidente.  

 

Ù¨


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/2000 - Página 7267