Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DENUNCIA DE ESQUEMA DE PROPAGANDA ENVOLVENDO A TV PARANAENSE COM A PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • DENUNCIA DE ESQUEMA DE PROPAGANDA ENVOLVENDO A TV PARANAENSE COM A PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2000 - Página 7418
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • DENUNCIA, TENTATIVA, SUBORNO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR), EPOCA, GESTÃO, ORADOR, AUTORIA, EMISSORA, TELEVISÃO.
  • LEITURA, TRECHO, DOCUMENTO, POLICIA TECNICA E CIENTIFICA, MUNICIPIO, LONDRINA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), DIALOGO, CORRUPÇÃO, SUBORNO, IMPRENSA, PREFEITURA, PARCERIA, GOVERNADOR.
  • ANUNCIO, CONVOCAÇÃO, FRANCISCO CUNHA PEREIRA, SOCIO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO PARANA (PR), DEPOIMENTO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, SENADO, ESCLARECIMENTOS, IRREGULARIDADE.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez ocupo a tribuna do Senado para falar das mazelas da desmoralização da imprensa no Brasil.  

Inicio com o episódio que ocorreu quando eu era Governador do Estado do Paraná. Meu Secretário de Comunicação foi procurado por um funcionário de um importante órgão de comunicação do Paraná, que lhe propôs que, além do patrocínio do jornal estadual da afiliada da Rede Globo - no Paraná feito pelo Banco do Estado do Paraná - viabilizasse-se um PF, que não significa "Prato Feito", e sim "Por Fora", de R$100 mil por mês. Por meio desse PF, a TV Paranaense, Canal 12, daria a direção política do noticiário do jornal estadual para o Governo do Estado.  

Eu imediatamente disse ao meu Secretário quando por ele procurado que, além de não aceitar a patifaria, eu o denunciaria. Logo depois meu Secretário foi chamado pelo diretor da retransmissora da Rede Globo no Paraná, Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, que lhe perguntou: "O senhor conversou com Fulano? Escutou a sua proposta?"  

E o meu Secretário de Comunicação disse: "Sim, conversei com ele." "E o que o senhor achou da proposta?"  

O meu Secretário de Comunicação disse ao diretor da TV Paranaense Canal 12, afiliada da TV Globo : "Eu achei a proposta muito interessante, mas o Governador não gostou e disse que vai convocar uma coletiva na Imprensa e denunciar imediatamente a proposta feita." Meia hora depois, o diretor da afiliada à TV Globo estava em meu Gabinete, dizendo que tudo não passava de um equívoco.  

Não fiz a coletiva. Deixei as coisas passarem. Evidentemente não subvencionei "por fora", o que é rigorosamente impossível em um governo austero, a TV paranaense retransmissora da Rede Globo . 

Saí do Governo do Estado e nunca mais concedi uma entrevista à TV Globo do Estado do Paraná nem no jornal Gazeta do Povo , jornal de maior circulação, do mesmo grupo. Bloqueio e silêncio total!  

Por que trago agora essa denúncia ao Senado da República? Porque a mesma coisa explodiu nas investigações que estão sendo feitas na Prefeitura de Londrina. Tenho em mão uma degravação feita pelo Sr. Darci Dória de Faria, Chefe da sessão de Polícia Técnica de Londrina, a pedido do Promotor Público Cláudio Rubino Zuan Esteves, de uma conversa entre dois personagens da corrupção e compra do silêncio da Imprensa no Estado do Paraná, por conta do Governo do Estado e da Prefeitura de Londrina.  

Os dois personagens são os Srs. Eduardo Alonso * e Carlos Arruda.  

Passarei à leitura de apenas um trecho de uma farta documentação composta ainda por quatro depoimentos em juízo feitos pelo Sr. Walrídes Brevirelhi Júnior, dono de uma empresa de publicidade. O trecho da degravação da fita de VT é o seguinte:  

 

Um diz ao outro: "Aqui eu sei de coisa que eu nem ligo, viu?"  

O outro responde: "Lógico, e nem quero..."  

Primeiro interlocutor: "É duzentos paus prô Seu Francisco, é cento e vinte prá Folha, é mais setenta lá prô seu rapaz da Paiquerê, rapaz da Brasil-Sul é mais trinta e cinco pronto, acabou, num quero nem saber, mas eu tiro esse rolo de cima de mim, entendeu? Tira esse rolo de cima de mim. Num quero mais agüentar esse povo de Edvaldo da Globo, eu num quero mais agüentar esse povo de Carmem Macarini, porque se a coisa vier prá cima de mim, ó, acabou. ‘Cê sabe disso. Por isso, vou combinar uma coisa com você. Cê tá olhando no meu olho. Quero combinar com você. Você está com a ajuda do Mandeli. Não quero saber. Se quer saber, ó, dei um esporro no Mandeli agora lá, que ele já saiu pulando..."  

 

São várias páginas de degravação de um VT que esclarece a forma com que o Sr. Belinati e seus assessores compravam o silêncio da imprensa do Paraná em parceria com o Governador Jaime Lerner. Dinheiro público em caixa dois.  

Ora, a TV Paranaense Canal 12 é uma concessão pública, autorizada pelo Senado da República com a participação do Executivo.  

Estou reunindo essa documentação. Além disso, o Ministério Público está agindo, no Paraná, em relação a essas coisas. Estou preparando esse material, Sr. Presidente, para convidar o Sr. Francisco Cunha Pereira, sócio da Globo em 50% na retransmissora do Paraná, para vir explicar à Comissão de Educação do Senado, como é que vende a opinião de uma rede de comunicação, de uma concessão pública. E quero fazer uma ressalva: provavelmente a Globo nacional terá tido, pela primeira vez, na quinta-feira, quando fiz uma denúncia e, pela segunda vez, hoje, notícias da patifaria que se faz com a sua retransmissão no Estado do Paraná.  

Isso tem que ser definitivamente esclarecido. E pretendo conversar com os Srs. Senadores componentes da Comissão de Educação, depois de reunido o material completo, em mãos, da Procuradoria Pública do Estado do Paraná, em Londrina, e trazer essa gente aqui para explicar como funciona uma concessão de serviço público de comunicação no Estado do Paraná.  

É absolutamente intolerável que essa gente mantenha concessões tão poderosas em mãos para vender o silêncio e a agressão aos adversários dos donos do poder.  

Se não aceitei, Sr. Presidente, a patifaria que me foi proposta, o Governo que me sucedeu aceitou e pagou largamente o silêncio e a agressão.  

O Senado tem de tomar conhecimento disso e o convite será certamente feito pela Comissão de Educação para que o episódio seja explicado com muita clareza.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

Era essa a comunicação que tinha a fazer.  

 

² F


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2000 - Página 7418