Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A REALIZAÇÃO DO ENCONTRO SEMESTRAL DO FMI EM WASHINGTON.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A REALIZAÇÃO DO ENCONTRO SEMESTRAL DO FMI EM WASHINGTON.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2000 - Página 7458
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • REGISTRO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, REUNIÃO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), OPOSIÇÃO, POLITICA, GLOBALIZAÇÃO, PREJUIZO, COMUNIDADE, COMENTARIO, AMPLIAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, MUNDO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • DEFESA, LIDERANÇA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REVISÃO, POLITICA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), GLOBALIZAÇÃO, AUMENTO, PRIORIDADE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, MICHEL CAMDESSUS, EX PRESIDENTE, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), DEFESA, REVISÃO, LIBERALISMO, ECONOMIA.
  • DEFESA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, CONGRESSO NACIONAL, SOCIEDADE CIVIL, BUSCA, SOLUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, JUSTIÇA SOCIAL.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL – MG. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Senadores, depois de passar pelo Brasil, nos últimos dois anos, devastadoramente, a crise econômica chega ao centro do mundo. Esta é uma notícia que está em toda a mídia desta semana, principalmente hoje, e preocupa, porque do centro, com certeza, a crise refluirá mais uma vez sobre nós, sobre o Brasil. Podemos dizer, portanto, parafraseando o mineiro João Guimarães Rosa, que estamos de novo com o diabo na rua, no meio do redemoinho.  

O Ministro Malan está em Washington e foi barrado, ontem, indo ao encontro semestral do FMI por manifestantes contrários à política dessa organização.  

Han Shan, um dos líderes dos manifestantes, declarou: "Esse é um movimento global. Há muito tempo, em muitos países, as pessoas protestam contra a destruição de suas comunidades, de seu modo de vida, pela globalização. Agora esse movimento chegou aos Estados Unidos e os jovens estão entendendo a mensagem. Aqui nas ruas há garotos de 13 anos que sabem mais sobre os males da globalização que muitos professores de economia". (Está em O Globo de hoje).  

Armínio Fraga, Presidente do Banco Central, retornou ontem mesmo ao Brasil, dizendo que não concorda com a orientação do FMI para a América Latina. Ele voltou, como disse, para "ficar de olho no mercado, que vem desabando nos últimos dias".  

Logo à noite, estaremos todos juntos em frente à televisão para ouvir Malan falar de Nova Iorque, porque não há dúvida de que estamos diante de um importante episódio da grande crise que vem abalando a economia nacional".  

Na passagem dessa crise por aqui, há pouco mais de um ano, tivemos o socorro do FMI, até porque o Brasil foi visto por este organismo multilateral como bastião de resistência na progressão dela rumo ao centro. Combatia-se a crise aqui para que ela não chegasse lá. Ora, nosso sacrifício parece ter sido em vão, pois a crise já chegou lá, e agora vemos claramente que o FMI, como está, é pequeno demais para enfrentá-la.  

Sr. Presidente, esta manhã e nos três últimos dias repetiram-se, desta vez em Washington, manifestações populares à luz da reunião que o FMI promove naquela capital. É a segunda vez, no curto espaço de meio ano, que ocorrem episódios como esse, que tentam impedir os encontros que versem sobre economia globalizada. Antes, no final de 1999, foi em Seatle, na reunião da Organização Mundial do Comércio, a OMC.  

Esses acontecimentos mostram, no mínimo, que se amplia o grau de descontentamento, agora já não apenas nos países em desenvolvimento, mas nos próprios centros de comando das linhas em vigor.  

O que está ocorrendo? Será que não devemos parar e refletir sobre tudo isso? Alguma coisa precisa ser mudada, não há dúvida, e o Brasil, como sócio-fundador do FMI, tem a responsabilidade de liderar um movimento construtivo que possa adequar as linhas mestras da economia mundial à realidade dos países em desenvolvimento.  

O Presidente Fernando Henrique Cardoso é hoje, no cenário internacional, um nome respeitado, com largo prestígio junto aos governos das nações mais evoluídas do mundo, reunindo, portanto, as condições para assumir essa postura em direção ao reexame da chamada globalização.  

Sr. Presidente, já não é apenas a voz fraca e desprotegida das nações em processo de desenvolvimento que opõe restrições ao modelo que devemos seguir. Não descartamos, em hipótese alguma, que hoje, mais do que nunca, o mercado é fator importante na vida dos países, mas não é tudo. As sociedades livres são quem realmente constróem as nações. É o caso do Brasil - livre, democrático e aberto.  

A mídia está cheia de propostas e de sugestões em todos os sentidos. Propostas e sugestões que nos vêm não só de pessoas comuns e da juventude, mas também de grandes homens. A revista República desta semana divulga importante entrevista em que o ex-Presidente do FMI, Michel Camdessus, recomenda ao nosso Ministro Pedro Malan, de quem é amigo, "um pouco mais de sensibilidade social".  

Destaco aqui dois outros trechos de sua entrevista:  

 

Malan deve concordar que uma política econômica só se sustenta se for para reduzir a pobreza; e  

Há muito a ser feito contra as desigualdades no Brasil, e isso o FMI não poderá fazer. É tarefa da sociedade brasileira.  

 

Na condução da entrevista, a revista República lembra que "o desembarque repentino de Michel Camdessus, em alguma parte do mundo, geralmente indicava graves turbulências econômicas no ar. Na maioria dos casos, prenunciava o sinal de apertar os cintos."  

Hoje, longe da Direção do FMI, Michel Camdessus condena muitas das receitas da Instituição. É isso o que está ocorrendo em Washington, num cenário policial, com repressão a manifestantes, mas que mostra ao mundo o inconformismo que se generaliza contra a globalização.  

Sr. Presidente, a despeito das cenas que se vão amiudando contra um modelo que vem dando demonstrações de seus efeitos desastrosos, especialmente nos países em desenvolvimento, os dirigentes do FMI insistem, sob a proteção que emprega 3 mil policiais nas esquinas de Washington: "O relógio da globalização não pode ser parado!"  

Ao contrário, Michel Camdessus, que deixou o FMI, defende hoje, como deixou claro em sua entrevista, que o papel da instituição precisa mudar. "E enormemente!".  

O economista francês explicou ainda ter tentado, no FMI, implantar uma política social-liberal, por acreditar na economia de mercado. Contudo, acrescenta que só se justifica caminhar para um crescimento de alta qualidade: "o crescimento não pode ser julgado apenas em termos quantitativos, mas também em termos qualitativos, em termos de justiça social, eqüidade, capacidade de preservar os ativos culturais, o meio ambiente".  

Sr. Presidente, a crise está posta. A mídia do mundo inteiro revela todas as suas circunstâncias e dramaticidade. Delongar-se, ela não pode, exatamente porque atinge não apenas as instituições, mas também o povo, em todas as suas latitudes.  

Não há desenvolvimento sem inconformismo. A Nação está hoje perplexa, direi mesmo inconformada, diante dos acontecimentos em Washington.  

Sr. Presidente, chegou a hora, o instante, para o Senado, o Congresso Nacional, conclamar a sociedade brasileira, os poderes institucionais, as organizações públicas e privadas, as associações de classe e sindicatos, as esquerdas e as direitas políticas, os ricos e os pobres, para debater o Brasil, seu modelo econômico, sua política social, seu destino como país e como nação; para discutir, com urgência, o perfil da política de privatização, se veio para o bem ou para o mal, ou se está numa posição intermediária; para discutir a globalização, que atinge o coração, o corpo e a alma do País, suas atividades econômicas, da grande à microempresa, das famílias às pessoas, das fábricas às escolas; para discutir também, com urgência, se o nacionalismo, que, no passado recente, conduziu ao estatismo e ainda está na cabeça de muita gente, fornece ou não uma saída para a Nação perante a crise que aí está.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta não é a hora da dispersão; é a hora do debate, da controvérsia, da divergência, da ampla discussão em torno dos problemas que preocupam a Nação. Não estou sugerindo nenhuma união nacional em sentido político, até porque toda união nacional esconde uma esperteza, mas um concerto dos nossos múltiplos interesses, com a busca de uma destinação clara e objetiva para o Brasil. O caminho está sendo trilhado e é, neste pelejar permanente, que devemos buscar as grandes soluções convergentes, para alcançar um Brasil menos injusto e mais integrado socialmente.  

Como está, Sr. Presidente, não é possível continuar, na indefinição e na perspectiva de uma campanha de cujas tribunas vamos falar para o povo, e falar com realidade, a favor ou contra, divergindo ou não do Governo e de suas posições.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2000 - Página 7458