Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

ENCAMINHAMENTO A MESA DE PROJETO QUE VISA ALTERAR A LEI 9.745/98, QUE CRIOU O PROGRAMA EMERGENCIAL DE FRENTES PRODUTIVAS, COM OBJETIVO DE INSTITUIR NAS AREAS NORDESTINAS ATINGIDAS PELA SECA, O PROGRAMA ESPECIAL DE GARANTIA DE RENDA MINIMA.

Autor
Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • ENCAMINHAMENTO A MESA DE PROJETO QUE VISA ALTERAR A LEI 9.745/98, QUE CRIOU O PROGRAMA EMERGENCIAL DE FRENTES PRODUTIVAS, COM OBJETIVO DE INSTITUIR NAS AREAS NORDESTINAS ATINGIDAS PELA SECA, O PROGRAMA ESPECIAL DE GARANTIA DE RENDA MINIMA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2000 - Página 7614
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, FRENTE DE TRABALHO, EPOCA, SECA, PROGRAMA, GARANTIA, RENDA MINIMA, CONTINUAÇÃO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT).

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB - PB) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna desta Casa para encaminhar proposição legislativa visando a alteração da Lei nº 9.745, de 15 de dezembro de 1998, com o objetivo de instituir, nas áreas nordestinas atingidas pela seca, o Programa Especial de Garantia de Renda Mínima.  

A Lei nº 9.745, que pretendo alterar, criou o Programa Emergencial de Frentes Produtivas, cuja fonte de recursos para o seu funcionamento é o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que foi instituído pela Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990.  

Apesar de reconhecer que a criação do Programa Emergencial merece todos os elogios, porque os seus fins são mais do que justos, constatei que as suas linhas mestras poderiam ser melhoradas e a sua importância redimensionada. Dessa maneira, após aprofundar uma análise sobre o assunto, surgiu finalmente a idéia de transformá-lo em Programa Especial de Garantia de Renda Mínima, com particularidades diferentes da proposta original ora em vigor.  

Portanto, no projeto de lei que estou tendo a oportunidade de comentar neste plenário, estão contidas algumas inovações que passo a explicitar e que considero das mais importantes.  

Em primeiro lugar, proponho que a iniciativa, caso seja aprovada, tenha funcionamento permanente, o que aliás não acontece com o Programa Emergencial. Além disso, sua administração deverá ficar a cargo de uma Comissão Gestora que se encarregaria de garantir seu bom desempenho, facilitaria uma fiscalização mais rigorosa da aplicação dos seus recursos, e seria exigente na aferição dos resultados de suas iniciativas.  

Em segundo lugar, para evitar que aconteçam distorções no processo de funcionamento do Programa, proponho que a concessão do benefício da renda mínima obedeça a alguns requisitos básicos, que são, a meu ver, de grande abrangência social. Assim, para que o benefício seja concretizado, será exigida a freqüência escolar, até a idade de 14 anos, de todos os membros das famílias inscritas. Serão exigidas igualmente, inscrição e presença nos programas de treinamento profissional promovidos e recomendados pela Comissão Gestora, bem como, atestado de todas as vacinas consideradas obrigatórias pelo Ministério da Saúde em todo o território nacional, para todos os membros das famílias participantes.  

Em síntese, observando-se todos os pontos que foram considerados, minha proposta tem como objetivo, modificar substancialmente todo o artigo 1 o da Lei nº 9.745, de 15 de dezembro de 1998. Todavia, é importante ressaltar que a mudança é mais de ordem técnica do que propriamente teórica. Assim, no que se refere aos princípios, os ideais da lei permanecerão os mesmos.  

A circunstância de propor um programa de forma específica para a região Nordeste não conduz ao entendimento de que se trata de algo novo. Na verdade, a ação parlamentar do Senador Eduardo Suplicy, traduz, primordialmente, a sua luta pela renda mínima. Esta Casa já teve a oportunidade de discutir medidas de combate a pobreza, ao constituir uma Comissão Especial para discutir o assunto, da qual fizeram parte Senadores e Deputados.  

O que autoriza essa proposição é a existência de um programa emergencial na região Nordeste, especialmente para combater a miséria gerada pela estiagem. Como disse anteriormente, o Programa Emergencial de Frentes Produtivas, em termos de princípios, merece todos os elogios. Por isso mesmo, fiz questão de mantê-los quando resolvi redefinir o seu caráter como entidade de socorro social.  

Para reforçar a minha certeza de que o Programa Especial de Garantia de Renda Mínima será um instrumento fundamental na luta pela diminuição das desigualdades sociais no Nordeste brasileiro, é necessário situá-lo no contexto regional, sobretudo nas áreas que são duramente atingidas pela seca, onde milhares de trabalhadores passam fome e vegetam em abandono secular.  

A luta para tirar quase todo o Nordeste do subdesenvolvimento estrutural, necessita hoje de determinação, de seriedade e de vontade política. A região inteira está cansada das ações paternalistas, dos programas assistencialistas e das práticas populistas, que só proporcionaram o paraíso para uns poucos e o inferno para milhões.  

Exige-se agora um verdadeiro projeto de saneamento social, político e econômico. Os programas que serviram até hoje de trampolim para muita gente desonesta se dar bem na política e na acumulação de fortunas pessoais com o dinheiro público, estão com os dias contados. Garanto que a maioria da sociedade brasileira está indignada e envergonhada com as elites dominantes, e não aceita mais o diagnóstico de desvio normal de nossa sociedade, a afirmação do jeitinho, da impunidade e da corrupção, que só têm degradado a nossa imagem como País e como povo junto à comunidade internacional.  

O Nordeste brasileiro da seca, da fome, da exploração e da exclusão, clama por seriedade, por medidas simples, eficientes e criativas, que defendam investimentos permanentes, seguros e bem fiscalizados em projetos prioritários. Esse Nordeste de que estou falando, não aceita mais que os recursos públicos inscritos a cada ano no Orçamento da União, para fins sociais ou econômicos, continuem sendo desviados para finalidades desonestas porque os poderosos assim o querem.  

A gente simples desse pedaço do Brasil sonha com escolas decentes, com assistência de saúde, com criação de empregos, com irrigação, com respeito à natureza, com crédito a juros honestos, com salários dignos, e acredita que, se essas providências forem tomadas imediatamente, em um período de no máximo duas décadas, mais da metade da miséria regional hoje existente seria erradicada.  

Mesmo diante dessas evidências, "muitos graúdos" neste País, ao invés de pensarem em uma causa nobre, preferem continuar acreditando que os seus poderes; as suas influências; os cargos que ocupam na sociedade e as fortunas que ostentam de maneira chocante, vantagens conquistadas quase sempre às custas de favores espúrios e do saque ao Erário, são um passaporte eterno para uma vida tranqüila e respeitável no reino da impunidade, mesmo cercados de miséria e de violência por todos os lados.  

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, o Nordeste brasileiro concentra 53% da pobreza absoluta do Brasil. São 24 milhões de pessoas vivendo com uma renda familiar inferior à metade de um salário mínimo.  

No final do ano passado, cortou o nosso coração, constatar que, nas chamadas frentes de trabalho do Governo, os flagelados estavam ganhando R$ 2,00 por dia, não mais do que R$ 60,00 por mês.  

Ainda hoje, no Nordeste da seca e das injustiças, a expectativa de vida é seis anos menor do que a média brasileira, cujos índices, comparados com o resto do mundo, deixam o Brasil em posição de humilhação. Portanto, a expectativa média de vida no Nordeste é de apenas 58,8 anos, contra 64,9 para o Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para complementar esse quadro vergonhoso, cerca de 43% das crianças de zero a cinco anos sofrem de desnutrição.  

Termino este pronunciamento dizendo que, com idéias simples, com boas intenções, de maneira profissional, com investimentos garantidos e bem fiscalizados, sem desvios de recursos, com punição severa para os atos de corrupção, e com respeito à nossa Pátria, seremos perfeitamente capazes de mudar não só a situação miserável do Nordeste, como a inconcebível condição do Brasil como um país ainda pertencente ao bloco do Terceiro Mundo. Este é o caminho que precisamos seguir desde agora.  

Espero que o projeto de lei que trago hoje a esta Casa, e que tenho a honra de encaminhar formalmente neste momento, sirva para pavimentar rapidamente uma parte desse caminho que tantos brasileiros dignos almejam trilhar logo nos primeiros anos do século XXI.  

Muito obrigado!  

Era o que tinha a dizer.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2000 - Página 7614