Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXONERAÇÃO DO MINISTRO RAFAEL GRECCA E A FESTA DOS 500 ANOS DE DESCOBRIMENTO DO BRASIL.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXONERAÇÃO DO MINISTRO RAFAEL GRECCA E A FESTA DOS 500 ANOS DE DESCOBRIMENTO DO BRASIL.
Aparteantes
Francelino Pereira.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2000 - Página 8335
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, EXONERAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO ESPORTE E TURISMO (MET), MOTIVO, CORRUPÇÃO, ASSESSOR, CARGO DE CONFIANÇA, CRITICA, DEMORA, DEMISSÃO, EXPECTATIVA, REALIZAÇÃO, FESTA, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, DESCOBERTA, BRASIL.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DECISÃO, GOVERNO FEDERAL, DEMISSÃO, TITULAR, CARGO DE CONFIANÇA, INDICAÇÃO, CONGRESSISTA, MOTIVO, FALTA, APOIO, VOTAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), SALARIO MINIMO.
  • REPUDIO, MODELO, POLITICA, TROCA, FAVORECIMENTO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero apenas fazer um registro, que, como sempre, refere-se a coisas lamentáveis que acontecem na política deste País.  

Afinal, aconteceu o que todos sabiam há dois meses: caiu o Ministro Rafael Greca. O Ministro estava em posição insustentável há dois meses, quando os seus principais assessores e homens de confiança se envolveram em ilícitos penais e o Ministro, em vez de acompanhar seus auxiliares, pedindo demissão, apegou-se ao cargo de uma forma talvez sem precedentes na história deste País, de cinismo e falta de dignidade.  

Todos sabiam que o Ministro não merecia mais a confiança do Presidente da República ou sequer do seu Partido, mas ele insistia em dizer que ficaria. Esse drama, essa comédia ou essa ópera bufa durou dois meses, Sr. Presidente. E o Ministro se apegava ao cargo na esperança de que a monumental festa de celebração dos 500 anos do Descobrimento o mantivesse no cargo. A festa foi um tremendo fiasco. E a saída do Ministro tornou-se, então, inevitável.  

Isso prova que os costumes políticos deste País não mudaram, Sr. Presidente. Além desse episódio triste, os jornais noticiam amplamente, hoje, que o Governo afinal vai retaliar os aliados que não votaram com ele na sessão em que deveriam votar a MP do salário mínimo, na última quarta-feira. E relaciona os nomes dos Deputados e daqueles que a imprensa chama de apadrinhados, de afilhados: um em uma Delegacia do Ministério da Agricultura, órgão que existe para fomentar o desenvolvimento agrícola do País; outro, apadrinhado de não sei quem, lá numa delegacia do Incra, órgão criado para promover a reforma agrária no País e que é entregue a um afilhado político a fim de usá-lo para eleger ou reeleger esse Deputado.  

É assim que se faz política neste triste País? Isso não é política, é "politiquice" da mais rasteira.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Senador Jefferson Péres, permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – Concedo o aparte a V. Exª, Senador Francelino Pereira.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Senador Jefferson Péres, V. Exª sabe da admiração, do respeito e da amizade que nos identifica.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – É recíproco, Senador Francelino Pereira, esteja certo.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – A reciprocidade é completa. Com relação ao Ministro Rafael Greca, quero apenas manifestar a V. Exª que tenho um grande respeito por aqueles que perdem os cargos de dimensão que ocupam sem que antes sejam devidamente comprovadas as acusações que lhe foram feitas. No caso do Deputado Rafael Greca, ex-Ministro do Esporte e Turismo, por tudo que sei, as acusações feitas não foram comprovadas até agora. São apenas denúncias apresentadas na imprensa e em comentários maliciosos e até mesmo desrespeitosos. O Ministro Rafael Greca esteve aqui, no plenário do Senado, onde fez uma exposição que efetivamente despertou a atenção dos Parlamentares, revelando ser um homem inteligente, competente e de extrema lucidez. No Paraná, ele é um homem extremamente apoiado pela opinião pública e pelo voto popular. Obteve quase 300 mil votos na sua eleição para a Câmara Federal. Somente em Curitiba, obteve mais ou menos 170 mil votos, se não estou enganado. S. Exª deixa o Ministério dos Esportes e o faz de maneira educada. Inclusive continua colaborando com o Presidente da República, que o nomeou - o cargo pertence à Presidência da República. Deixa o Ministério e será candidato a Prefeito de Curitiba. Os homens públicos, atualmente, só se redimem das acusações que lhes são feitas quando são eleitos ou expressivamente votados pelo povo. Portanto, vou aguardar o pronunciamento nas urnas desse grande povo paranaense; um povo inteligente, competente e com um nível de renda razoável. Vou aguardar para, então, emitir o meu conceito e a minha análise sobre a figura do Parlamentar, do homem público e do grande paranaense que é Rafael Greca. Agradeço a V. Exª pelo aparte. Faço-o ocasionalmente, porque imaginei que pudesse falar apenas mais tarde. Contudo, fui surpreendido ao ser um dos primeiros oradores desta manhã. Muito obrigado pela gentileza, meu caro Parlamentar.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT - AM) – Senador Francelino Pereira, compreendo a sua posição. V. Exª age como amigo e correligionário do Deputado Rafael Greca.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Não, não. Absolutamente. V. Exª não há de cometer essa injustiça comigo.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – Seria natural defender um correligionário.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Todos pertencemos a uma organização política. Ninguém pode ficar neutro ou indiferente diante da atividade partidária e da vida política. Mas V. Exª me conhece. Sou um homem livre, sou um homem independente. Não devo favor a ninguém. Tenho uma vida que merece o olhar dos mineiros e o respeito de Minas até os limites da sua história. Portanto, sou um homem, talvez, de dimensão semelhante à sua. Por isso mesmo, sempre aguardo o momento apropriado para julgar uma pessoa que está caindo de posição e que, embora exerça a sua função com esforço, deixa de merecer a confiança do Presidente da República. Quero apenas que V. Exª reconheça também a conceitualidade, o único bem que adquiri na minha vida. Esse é o horizonte, o limite, o começo e o fim da vida do Parlamentar que é seu amigo muito carinhoso.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – Senador Francelino Pereira, retifico o que eu disse. V. Exª não saiu em defesa do ex-Ministro Rafael Greca por ser seu correligionário, mas, sim, por entender que ele agiu corretamente. Mas há uma divergência muito grande entre mim e V. Exª. Não estou prejulgando o Deputado Rafael Greca; eu não o estou acusando de desonestidade. Eu disse, repito e reitero - porque julgo os outros por mim, talvez erradamente: creio que lhe faltou dignidade, porque apegou-se ao cargo mesmo durante o processo da famosa "fritura", que levou dois meses. Todo o Brasil sabia que S. Exª estava sendo "fritado", Senador Francelino Pereira; todos sabiam que a sua presença incomodava o Presidente da República e que o Presidente, até pela sua maneira de ser, que todos conhecemos, não queria pedir ao Ministro que solicitasse a exoneração. Todo o Brasil sabia disso! Ainda assim o Ministro se apegou ao cargo. Para mim, Senador Francelino Pereira – desculpe-me a nossa divergência –, isso é falta de dignidade. Sabe por quê? Porque, no momento em que eu ocupar um cargo de dimensão, se suspeitar que não mereço mais a confiança do meu chefe, peço demissão imediatamente.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) – Num ponto, estamos de pleno acordo; ou em quase tudo. Meu caro Senador Jefferson Péres, este talvez seja o momento não para uma reflexão, mas para uma afirmação. Quando um homem público nomeado para um cargo de grande expressão por merecer a confiança do Presidente da República - evidentemente o Presidente analisou a sua trajetória de vida e o seu comportamento na vida política - começa a ser atingido por acusações reveladas pela imprensa, e o Presidente que o nomeou não se manifesta a respeito, ocorre o que chamamos de "fritura". Efetivamente só caberia, no caso, ao Ministro Rafael Greca, entregar o cargo, ainda que fosse por intermédio de uma carta entregue pessoalmente ao Presidente ou pelo correio. Deveria deixar o seu gabinete e voltar a sua Curitiba, onde o povo o estima e o admira.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – Nesse ponto, estamos de acordo. S. Exª devia ter saído há dois meses - aliás, eu o disse aqui, quando o interpelei.  

Portanto, o Ministro manchou a sua carreira. Sai do Governo melancolicamente, da mesma forma melancólica como emperrou, empacou a Nau Capitânia, que seria o triunfo da sua celebração dos 500 anos.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Vamos aguardar o pronunciamento das urnas.  

O SR. JEFFERSON PÉRES (Bloco/PDT – AM) – O pronunciamento das urnas, para mim, não diz nada. Senador Francelino Pereira, se eu tiver provas de que um cidadão é ladrão – não é o caso do Greca. Ele pode ser eleito prefeito, governador, senador, Presidente da República, que, para mim, até o fim da vida, vai continuar a ser ladrão!  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Estamos satisfeitos. V. Exª acabou de dizer que Rafael Greca não é ladrão.  

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) – Senador Francelino, V. Exª pede a palavra?  

O Sr. Francelino Pereira (PFL – MG) – Terminei, Sr. Presidente.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2000 - Página 8335