Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO QUARTO ENCONTRO DOS PASSOS DE ANCHIETA, PROMOVIDA PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AMIGOS DOS PASSOS DE ANCHIETA - ABAPA, NO LITORAL CAPIXABA.

Autor
Luzia Toledo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Luzia Alves Toledo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TURISMO.:
  • COMEMORAÇÃO DO QUARTO ENCONTRO DOS PASSOS DE ANCHIETA, PROMOVIDA PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AMIGOS DOS PASSOS DE ANCHIETA - ABAPA, NO LITORAL CAPIXABA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2000 - Página 9779
Assunto
Outros > TURISMO.
Indexação
  • REGISTRO, ENCONTRO, MARCHA, LITORAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), REPETIÇÃO, ITINERARIO, HOMENAGEM, INICIATIVA, INTERESSE, TURISMO, RELIGIÃO, ESPORTE, ECOLOGIA.

A SRª LUZIA TOLEDO (PSDB – ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna para falar sobre o mesmo assunto que abordei há cerca de onze meses e que levou ao Espírito Santo o nosso Colega Senador Gilvam Borges a percorrer os mesmos passos de Anchieta, nosso Beato.  

Desse modo, comemorando o 4° Encontro dos Passos de Anchieta, venho à tribuna do Senado para falar ao Brasil, e em especial aos Senadores, sobre o nosso Beato José de Anchieta.  

A Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta – Abapa promove este ano, pela terceira vez, uma caminhada que reconstitui o trajeto que era feito habitualmente pelo Padre Anchieta, em sua peregrinação evangelizadora no litoral capixaba. Trata-se de evento de forte atrativo para turistas, religiosos, esotéricos, esportistas e amantes da natureza, que reuniu cerca de 400 pessoas em 1998 e mais de mil participantes no ano passado.  

A iniciativa, louvável sob todos os aspectos, de homenagear o padre jesuíta, com toda justiça denominado O apóstolo do Brasil , tem inegável importância para o turismo capixaba, contribuindo significativamente para divulgar a vida e obra de Anchieta, bem como as atrações de uma região de rara beleza natural.  

O projeto "Os Passos de Anchieta" visa a institucionalizar a rota percorrida pelo missionário como via permanente de caminha e peregrinação, a exemplo do que ocorre em Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela, onde acorrem milhões de turistas todos os anos. É de se observar que a caminhada, seguindo o roteiro de José de Anchieta, não satisfaz apenas o fervor religioso das pessoas ou a vontade de se praticar um exercício físico, oferece também a possibilidade de se viver experiências transcendentais de expansão da consciência, já relatadas por numerosos participantes e explicadas, inclusive, pelos psicólogos, como resultado da ação de serotoninas e beta-endorfinas no organismo.  

O percurso, de aproximadamente 100 quilômetros, é vencido em três dias, com jornadas médias de seis a oito horas diárias de caminhada e toda uma estrutura para dar atendimento aos participantes. A demarcação do roteiro foi definida com base em fontes históricas. Os andarilhos partem da Catedral Metropolitana de Vitória, dada sua proximidade do Palácio Anchieta, sede do Governo. É bom lembrar que nesse local funcionou o antigo Colégio de São Tiago, do qual Anchieta foi nomeado Superior, em 1593, e onde se encontra o seu túmulo. Após atravessar a Baía de Vitória, em direção a Vila Velha, e subir ao Convento da Penha, os andarilhos seguem até Ponta da Fruta, onde completam a primeira etapa da caminhada. O segundo dia de caminhada leva o grupo até Guarapari, com passagem por paisagens famosas, como as Praias de Setiba, Santa Mônica e Praia do Morro. No terceiro dia, após percorrerem praias igualmente belas e conhecidas, como Meaípe e Castelhanos, os andarilhos chegam a Rerigtiba, como era conhecida a localidade que tomou o nome do seu fundador. O encerramento do percurso se dá na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída pelos beatos e pelos índios no século XVI.  

Com pequenas adaptações, esse era o roteiro habitualmente feito pelo Padre José de Anchieta. Mesmo doente, o beato fazia esse roteiro a cada quinze dias em suas missões; e andava com tal rapidez que os indígenas o apelidaram Abarabebe, que significa Padre Voador . As pequenas adaptações inseridas no roteiro visam a complementá-lo com programas de interesse cultural e visitas de caráter histórico, como os escombros da casa do donatário da Capitania, onde ele pernoitava; o local na Praia de Ubu, onde seu cadáver caiu quando era transportado pelos índios para Vitória; e os poços abertos pelo beato em diversas localidades.  

A Abapa instituiu a peregrinação que vem sendo realizada anualmente, sempre na semana anterior ao dia da morte do beato Anchieta – 9 de junho –, como justa homenagem ao Padre que fundou diversas cidades brasileiras, que produziu belíssimas obras literárias, que desempenhou papel primoroso como catequizador.  

Nascido em La Laguna de Tenerife, nas Ilhas Canárias, em 19 de marços de 1534, filho de pai basco, de família pobre e de jovem nativa, José de Anchieta, aos 14 anos, foi enviado pelo pai para estudar em Coimbra, onde revelaria prodigiosos dotes intelectuais. Tendo ingressado na Companhia de Jesus, foi enviado ao Brasil em missão colonizadora, em 1553. Contava 19 anos quando desembarcou em Salvador, rumando posteriormente para a Capitania de São Vicente. Ali, fundaria o Colégio de Piratininga, embrião da cidade de São Paulo.  

A Abapa destaca o papel de Anchieta como catequizador dos índios brasileiros, ressaltando que a utilização de recursos teatrais nessa tarefa lhe rendeu o pioneirismo nas artes cênicas no Brasil. Quanto ao seu papel colonizador, reconhece haver controvérsias, mas alinhava: "...mas é certo que, por ser filho de uma união informal entre um nobre e uma nativa, Anchieta influenciou para que a relação entre conquistadores e nativos fosse mais humana e menos ideológica...".  

Além da cidade de São Paulo, Anchieta é também considerado o fundador de Guarapari, São Mateus e de Rerigtiba, que mais tarde se tornaria Anchieta, em homenagem ao beato. Sua obra literária, reunindo principalmente cartas, poemas e autos, é classificada como a mais importante do século XVI. Autor do primeiro Dicionário Tupi-Guarani do Brasil, é considerado o pai da nossa literatura. "Pode ser considerado também o primeiro cientista brasileiro, tendo descrito a função da bolsa dos marsupiais, os canais e as glândulas de veneno das serpentes (...). Realizou notável obra nas áreas de ciências naturais, lingüística, diplomacia, antropologia, arquitetura e artes", anotam os dirigentes da Abapa, cabendo lembrar, no tocante à arquitetura, que construiu as Santas Casas de Misericórdia do Rio de Janeiro e de Vila Velha, bem como as Igrejas Matrizes de Guarapari e Rerigtiba (hoje, Anchieta).  

Junto com os Goitacazes, marchou contra os tamoios, expulsando-os para Ubatuba (então Iperoig), onde permaneceu refém, para negociar a paz. Nessa época, escreveu o famoso Poema da Virgem , com 5.737 versos latinos. Juntamente com Araribóia, combateu os franceses no Rio de Janeiro, expulsando-os em 1567. Escolheu a cidade que tomaria o seu nome, no litoral capixaba, para viver os dez últimos anos de vida. Com problemas de coluna, que o impediam de andar a cavalo, ainda assim fazia freqüentemente o trajeto agora institucionalizado como "os passos de Anchieta".  

Morreria em 9 de junho de 1597, aos 63 anos, quando seu corpo foi carregado em cortejo por cerca de três mil índios. Beatificado pelo Papa João Paulo II, em 22 de junho de 1980, José de Anchieta pode vir a tornar-se santo, estando o Vaticano estudando o processo de canonização.  

Termino, Sr. Presidente, dizendo que o Projeto Os Passos de Anchieta é uma iniciativa louvável que presta relevantes serviços ao turismo capixaba e aos turistas de todo o Brasil. Ao aproximar-se a realização de mais uma caminhada, quero, aqui, desta tribuna, parabenizar a Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta e toda a população capixaba que, posso garantir, estará de braços abertos para receber amigos de todo o território nacional nessa peregrinação que não é mais do Espírito Santo. É uma peregrinação do Brasil com o apoio, principalmente, de toda a imprensa nacional, que lá vai para constatar essa peregrinação que, hoje, já está no nosso calendário turístico e no nosso calendário religioso. Enfim, convido todos para participar da caminhada, porque além de passar pelos lugares mais bonitos do nosso Estado do Espírito Santo, ela tem também um cunho muito forte, que é o cunho religioso.  

Que todos possamos homenagear o Apóstolo do Brasil nesse III Encontro do Projeto Passos de Anchieta, que se realizará no nosso Estado, o Estado do Espírito Santo.  

Muito obrigada, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2000 - Página 9779