Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

IMPORTANCIA DA ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, NO ESTADO DO CEARA.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • IMPORTANCIA DA ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, NO ESTADO DO CEARA.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2000 - Página 10903
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, UNIVERSIDADE, AMBITO REGIONAL, ESTADO DO CEARA (CE), EMPENHO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, INCENTIVO, PESQUISA, OBJETIVO, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • CONGRATULAÇÕES, VIOLETA ARRAES DE ALENCAR GERVASEAU, REITOR, UNIVERSIDADE, AMBITO REGIONAL, ESTADO DO CEARA (CE), INCENTIVO, VALORIZAÇÃO, CULTURA, REGIÃO NORDESTE.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB - CE) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebi, recentemente, um exemplar da Revista do CRUC, o Conselho de Reitores das Universidades Cearenses. Esse número da revista traz extensa matéria sobre a Universidade Regional do Cariri , a nossa URCA. Para os que já a conhecem, palavras são dispensáveis para falar de sua vocação regional, do idealismo de seus fundadores, de sua ação continuada em prol do desenvolvimento sustentado da região. Aos que não a conhecem, endereço meu pronunciamento de hoje, para que tenham uma idéia, ainda que imperfeita e incompleta, acerca do ideário que rege as orientações e fundamenta as atividades da Universidade Regional do Cariri.  

Instalada formalmente em 1987, a URCA conta hoje com 212 professores, que atendem, nos seus 12 cursos de graduação, 5.131 alunos, nos períodos diurno e noturno. Sua biblioteca central possui mais de 41 mil títulos catalogados, com exemplares em número superior a 58 mil. Desde 1991, a Universidade vem oferecendo cursos de pós-graduação, em nível de especialização, em várias áreas do conhecimento. Voltados para o aprimoramento do seu quadro de docentes, já funcionam na Instituição três programas de Mestrado. O mais recente é o curso de mestrado em Desenvolvimento Regional, o primeiro aberto à comunidade da região do Cariri.  

A criação da URCA resultou dos esforços convergentes de grandes homens, políticos e educadores, liderados pelo professor Antônio Martins Filho, conhecedor profundo dos graves problemas e das necessidades urgentes da região compreendida no nosso Nordeste central. Aliando ensino, pesquisa e extensão, pilares fundamentais da ação universitária, a URCA veio se situar no epicentro do processo de desenvolvimento humano e de valorização das economias regionais.  

Os objetivos que propõe alcançar podem ser agrupados em três vertentes:  

Ampliação do leque de oportunidades oferecidas para a formação de nível superior no campo das ciências exatas e das humanidades. De um lado, a Instituição visa promover a formação superior de um número maior de pessoas oriundas da região, capacitando-as para contribuir efetivamente com o progresso e a transformação dessa região. De outro, busca-se a elevação do nível de ensino, pela melhor qualificação do corpo docente, aprimoramento dos laboratórios, ampliação da biblioteca e melhoramento geral das instalações.

Desenvolvimento da reflexão multidisciplinar, que alia o avanço científico à cultura das humanidades, visando a promoção de uma visão construtiva da própria sociedade. A URCA quer formar homens e mulheres capazes de compreender e de se defrontar com os problemas de seu meio e de seu tempo, cidadãos que incorporam valores a suas ações, por estarem preocupados com as conseqüências éticas e cívicas das soluções técnicas propostas.

Afirmação do compromisso da Universidade com a região, para efetivar seu papel de agente ativo do desenvolvimento regional. Esse estreito vínculo leva a uma melhor identificação das particularidades e de potencialidades da região, a um envolvimento institucional com a valorização do patrimônio humano e natural, a uma atuação que vise ao fortalecimento das organizações da sociedade civil e ao desenvolvimento da cooperação interestadual nos municípios dessa biorregião.

É verdade, Sr. Presidente, que universidade nenhuma pode ficar alheia ao que se passa nos principais centros universitários internacionais. Fosse assim, o avanço do conhecimento ficaria deveras ilhado e isolado, de forma a comprometer o próprio progresso científico e tecnológico. Mas o contrário não se concebe mais hoje em dia. Não pode uma universidade ignorar as peculiaridades e os problemas da região em que está inserida. Imagine-se o absurdo de estar uma universidade localizada em zona de cerrado e ignorar o cerrado. É algo inconcebível e inaceitável!  

É por isso que deve ser ressaltada a vocação da Universidade Regional do Cariri em voltar-se para seu entorno. Seu compromisso com o desenvolvimento regional é, a meu ver, um dos pontos fortes de sua presença e atuação no Nordeste central. A região do Cariri possui particularidades que a diferenciam de outros pontos do Estado e do próprio Nordeste.  

Não posso deixar de aproveitar a oportunidade da deixa para falar um pouco dessa região, no intuito de torná-la mais próxima daqueles que não tiveram ainda o privilégio de conhecê-la.  

Situado ao sopé da Chapada do Araripe, o Cariri está a uma distância aproximada de 600 quilômetros dos principais centros do Nordeste. Em termos geoclimáticos, é um verdadeiro oásis. Somente do lado cearense, jorram mais de duzentas fontes perenes na Bacia do Araripe. Habitada primitivamente pelos índios cariris, a região foi ocupada posteriormente por colonos oriundos de Sergipe, Pernambuco e Bahia, para expansão da pecuária. Durante muito tempo, a produção de alimentos foi o carro-chefe da economia regional. No setor industrial, existe bom desempenho na produção de calçados, laticínios, vestuários, móveis, etc. No setor de comércio, o município de Juazeiro do Norte destaca-se como pólo atacadista e varejista bastante desenvolvido.  

É grande o potencial turístico da região, com as romarias a Juazeiro do Norte, a exposição agropecuária do Crato, a festa de Santo Antônio de Barbalha, as vaquejadas, além das excursões ao Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, ao Memorial Patativa em Assaré e aos vários balneários e clubes serranos da região. Mais recentemente, houve um significativo crescimento do ecoturismo, que se beneficiou da imensa riqueza natural oficialmente protegida, como a Floresta Nacional do Araripe.  

Como podemos inferir, a região do Araripe representa um verdadeiro caldeirão cultural, num rico sincretismo, que vai da literatura de cordel a bandas cabaçais, de penitentes a romarias, de vaquejadas a festas religiosas. Esse aspecto, por certo, não escapou aos dirigentes da Universidade Regional do Cariri . Aliás, é preciso que se diga que sua atual reitora, a professora Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau, tem na mente um projeto que nem de longe deixa a cultura regional de lado. Muito pelo contrário: seu sonho é dinamizar a cultura do sertão. Em seu discurso de posse, a reitora defendeu a contribuição da cultura popular, com as seguintes palavras:  

 

"O estudo das manifestações da Cultura Popular, filão de ouro das Ciências Sociais, irá contribuir para melhor compreender e ajudar o povo a escrever uma nova página da sua História, caracterizada pela superação de carências, das desigualdades e da marginalização."  

 

A literatura de cordel, mídia de larga difusão popular no Cariri cearense, é grandemente utilizada na Universidade. Serve como material didático nos cursos de extensão de educação ambiental. O Ministério do Meio Ambiente está inclusive patrocinando a produção de 10 títulos sobre a Chapada do Araripe. Os cordéis são produzidos pela Academia de Cordelistas do Crato, em convênio com a Fundação do Desenvolvimento Tecnológico do Cariri, com edição de 5 mil cópias por título, num total de 50 mil exemplares. A URCA está estudando, no momento, uma forma de administrar a gráfica de cordel, em convênio com alguns órgãos oficiais.  

Vejamos outro exemplo de integração da Universidade com a região que a circunvizinha. Consciente do imenso patrimônio natural que constitui a Chapada do Araripe - designada inclusive de Santuário Paleontológico do Nordeste - a Universidade Regional do Cariri sediou o XVI Congresso Brasileiro de Paleontologia, que reuniu perto de 130 paleontólogos, e contou com a presença de pesquisadores brasileiros, argentinos e italianos. Nesse encontro, foi aprovada moção a favor da indicação da jazida fossilífera da bacia do Araripe como "patrimônio da humanidade".  

Ainda dentro da programação do Congresso, foi dedicado um dia inteiro a Santana do Cariri, cidade que abriga o Museu de Paleontologia da URCA e o Parque Temático Terra dos Pterossauros. É inegável que a visita dos pesquisadores à região é uma forma de torná-la mais visível e integrá-la à comunidade de cientistas brasileiros e estrangeiros. A cidade de Santana do Cariri tem condições de projetar-se como a maior reserva fossilífera do mundo. Na oportunidade, vale ressaltar, alguns pesquisadores mostraram-se preocupados com a exploração predatória de calcário laminado para a construção civil, observada por eles em visita à chapada do Araripe.  

Sr. Presidente, poderia ficar eu discorrendo sobre a nossa Universidade do Cariri por muitas horas mais. Recomenda o bom senso, todavia, que eu não me alongue por demais, para não monopolizar a palavra e para não tornar enfadonho meu pronunciamento.  

Por isso, encerro minha fala por aqui. Mas não posso fazê-lo sem antes manifestar meu contentamento pessoal por ter podido, nesta tribuna, exaltar o feito de nossa brava gente cearense, essa gente que se desdobra e dá seu sangue e suor para manter cada vez mais elevada a chama da educação em nosso País.  

À competente Reitora Violeta Arraes dirijo meus cumprimentos sinceros, parabenizando, em sua pessoa, a comunidade acadêmica que tão bem administra e dirige. Faço votos para que os diretores, professores e estudantes da URCA continuem a sonhar com o sonho possível de trazer o desenvolvimento sustentado à região de sua Universidade e façam de tudo para torná-lo cada dia mais concreto.  

Era o que eu tinha a dizer.  

Muito obrigado a todos.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2000 - Página 10903