Discurso durante a 64ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REGISTRO DO OFICIO ENCAMINHADO AO GOVERNADOR MARIO COVAS E AO MINISTRO DA SAUDE, REPROVANDO A AGRESSÃO DOS MANIFESTANTES EM SÃO PAULO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • REGISTRO DO OFICIO ENCAMINHADO AO GOVERNADOR MARIO COVAS E AO MINISTRO DA SAUDE, REPROVANDO A AGRESSÃO DOS MANIFESTANTES EM SÃO PAULO.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2000 - Página 10638
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • ENCAMINHAMENTO, OFICIO, ENDEREÇAMENTO, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), JOSE SERRA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), REPUDIO, AGRESSÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, VITIMA, DESTINATARIO.
  • REPUDIO, VIOLENCIA, AUTORIDADE, SEGURANÇA PUBLICA, REPRESSÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MUNICIPIO, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Carlos Patrocínio, Srªs e Srs. Senadores, encaminhei ontem o seguinte ofício aos Sr. Governador Mário Covas e ao Sr. Ministro José Serra a respeito dos episódios ocorridos no último final de semana:

Expresso a V. Exªs a minha desaprovação pela maneira segundo a qual dois manifestantes, o primeiro em São Bernardo do Campo e o segundo, em Sorocaba, resolveram protestar atingindo-os com um cabo de bandeira e um ovo.

É importante procurarmos compreender as razões da insatisfação de ambos os protagonistas dos protestos, mas quero registrar que os atos de violência e de desrespeito físico aos que representam governos eleitos pelo povo não constituem diretriz, muito menos recomendação, do Partido dos Trabalhadores, que represento no Senado Federal. Não se sabe até o momento quem teria sido o autor do ferimento no Governador. Ede Paraíso, de 27 anos, da União Sorocabana de Estudantes, vestibulando que está desempregado, assumiu a responsabilidade pela ofensa ao Ministro da Saúde. Ele se deu conta da impropriedade de seu ato, dizendo que não o repetiria. Afirmou, entretanto, que se tratava de um protesto contra a política governamental. Filiado ao PT, esclareceu que não recebeu qualquer orientação do partido para aquela ação.

Por outro lado, gostaria de transmitir ao Governador Mário Covas o sentimento de tantas entidades que me procuraram nos últimos dias, como a Central Única dos Trabalhadores, a Central de Movimentos Populares, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a Coordenação Nacional de Associações de Moradia, a União Nacional dos Estudantes, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas, as Pastorais Sociais da CNBB, o Movimento Evangélico Progressista, a Coordenação Nacional de Entidades Negras, a União Brasileira de Mulheres, aquelas que representam os servidores públicos estaduais e os aposentados, a respeito da forma com que as autoridades responsáveis pela Segurança Pública reprimiram as manifestações na última quinta-feira, na Avenida Paulista, em São Paulo, com uma violência injustificável.

Visitei, ontem, no Hospital das Clínicas, o fotógrafo Alessandro Wagner Oliveira Silveira, do jornal Agora São Paulo , que hoje está sendo submetido a uma operação bastante séria em seu olho [a carta é datada de ontem; portanto, a operação se deu ontem]. Descreveu-me como um soldado da PM apontou uma arma para o seu rosto, atingindo-o com uma bala de borracha justamente junto à sua vista, com a qual ainda tinha capacidade de enxergar [infelizmente, Alessandro já havia sofrido um outro acidente há anos; por isso, tinha uma vista prejudicada, e essa bala de borracha atingiu a outra vista]. Alessandro diz ter ficado impressionado com a rapidez com que o comando policial passou da fase de "diálogo" com os manifestantes, para que liberassem uma pista da avenida, para o lançamento de bombas e tiros: um intervalo de apenas três minutos. O procedimento contrasta com o tratamento que tem sido dado pelas mesmas autoridades aos manifestantes por ocasião das comemorações de torcidas de futebol ou das memoráveis manifestações cívicas pelas "Diretas Já" ou "Por Ética na Política".

Na última sexta-feira, juntamente com os presidentes das entidades representativas do funcionalismo estadual, conversamos com o Secretário do Governo, Professor Antonio Inácio Angarita da Silva, a respeito da importância de haver um entendimento com os servidores estaduais. O Professor Angarita, que reportaria ao Governador o que foi expresso por todos, ficou de responder à Presidente da Apeoesp, Maria Isabel Noronha, a respeito dos estudos que o Governo Estadual está realizando com vistas à política de remuneração dos servidores, face as limitações orçamentárias e da legislação de responsabilidade fiscal. Fiz o apelo ao Secretário para que uma resposta possa ser dada nesta semana.

Gostaria de transmitir a solicitação das entidades acima nominadas que desejam uma audiência com o Governador o mais breve possível!

Assino a carta.

Assim, Sr. Presidente, aqui está expresso que não estou de acordo com manifestações de violência física contra autoridades governamentais eleitas diretamente. Entretanto, é importante que o Governador Mário Covas e o Ministro José Serra compreendam que há razões profundas que levam à insatisfação de muitos segmentos da sociedade brasileira.

No Estado de São Paulo, a recomendação é de que as manifestações de protesto se façam sempre de maneira pacífica. Mas não é justificável a violência que acabou ferindo 38 pessoas; entre eles, havia alguns manifestantes, jornalistas e até mesmo policiais militares.

Tenho conhecimento, Sr. Presidente, de que os membros da Polícia Militar que receberam ordem para reprimir os manifestantes sentiram-se muito constrangidos com aquela ação. Quando se trata de comemoração de torcidas, de alegre confraternização na Avenida Paulista pela vitória de times como o Palmeiras, o São Paulo ou o Corínthians, a atitude do Governo não é a de reprimir as manifestações, como aconteceu na última quinta-feira.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2000 - Página 10638