Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

SATISFAÇÃO COM A ATUAÇÃO DA EMBRAPA ALGODÃO NO SETOR AGRICOLA DO NORDESTE NO TRANSCURSO DOS 25 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • SATISFAÇÃO COM A ATUAÇÃO DA EMBRAPA ALGODÃO NO SETOR AGRICOLA DO NORDESTE NO TRANSCURSO DOS 25 ANOS DE SUA FUNDAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2000 - Página 11421
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, AGROPECUARIA, PAIS.
  • ELOGIO, COMPETENCIA, EMPENHO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), VIABILIDADE, SOLUÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, AGROINDUSTRIA, GARANTIA, PRODUÇÃO, ADAPTAÇÃO, TRANSFERENCIA, CONHECIMENTO, TECNOLOGIA, BENEFICIO, SOCIEDADE.
  • IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ALGODÃO, SETOR, AGRICULTURA, REGIÃO NORDESTE.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB - CE) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre as instituições que comprovam o quanto pode ser imprescindível a atividade do Estado para o desenvolvimento da produção econômica, devemos destacar a Empresa Brasileira de Agropecuária – Embrapa. Não se trata, decerto, de uma empresa propriamente produtiva, mas de apoio técnico a um setor produtivo de fundamental importância para o País. A agropecuária brasileira, em seu conjunto, não se encontraria no atual patamar de desenvolvimento, não fosse a decisiva contribuição da Embrapa para o seu aperfeiçoamento permanente.  

A missão institucional da Embrapa é definida, atualmente, como a de "viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício da sociedade". Tal missão, a Embrapa tem cumprido com tenacidade e competência, resultando em consideráveis conquistas, não só para os produtores beneficiados diretamente, mas para o conjunto da sociedade brasileira, que passa a consumir alimentos melhores e mais baratos, além de receber os efeitos positivos do crescimento da atividade econômica no campo. A preocupação com a sustentabilidade do desenvolvimento agrícola, por sua vez, afastando-se de uma abordagem imediatista, é fundamental para que os nossos recursos naturais, especialmente os do solo e de nossos cursos de água, continuem a ser utilizados pelas gerações futuras.  

Particularmente importante para o setor agrícola do Nordeste brasileiro é a atuação da Embrapa Algodão , cujos 25 anos de criação transcorreram no último dia 16 de abril. A sua instalação, então como Centro Nacional de Pesquisa de Algodão, ocorreu em 25 de setembro de 1975, na cidade de Campina Grande, na Paraíba, onde permanece funcionando a sede dessa unidade descentralizada. Além da sede, conta a Embrapa Algodão com 4 estações experimentais e 6 campos experimentais, localizados nos Estados da Paraíba, do Ceará, da Bahia, de Mato Grosso, de Goiás e de Minas Gerais.  

Quando de sua fundação, a unidade já tinha por objetivo atuar em uma área que se estendia para além das fronteiras nordestinas; e veremos que tal objetivo foi efetivamente alcançado ao longo dos seus 25 anos de funcionamento. De qualquer modo, enfatizamos que a Embrapa Algodão, desde sua concepção inicial, esteve sempre relacionada a uma atividade econômica de alta significação para o Semi-árido nordestino. A cultura do algodão é importante na região desde o século XVIII, tendo alternado, até os dias de hoje, vários períodos de prosperidade e de crise.  

A criação pela Embrapa de variedades aperfeiçoadas do algodão arbóreo, tradicional no Nordeste, bem como do herbáceo, cultivado no Centro-Sul, e que se introduziu também no Semi-árido, foi de decisiva importância para a elevação da produtividade da cotonicultura brasileira. Foram desenvolvidas 6 novas cultivares de algodão arbóreo ou mocó, das quais 3 estão em uso, incluindo um híbrido das espécies arbórea e herbácea, de ciclo semi-perene. Do algodão herbáceo ou anual, foram criadas 17 cultivares, das quais 4 estão sendo presentemente utilizadas. As cultivares em distribuição são altamente produtivas e precoces, com ciclos de 110 a 140 dias.  

Embora a Embrapa Algodão tenha iniciado pesquisas com outro produto agrícola tradicional no Semi-árido, o sisal, já em 1981, é a partir da segunda metade dessa década que ela vai diversificar significativamente o rol dos produtos agrícolas pesquisados. O alastramento da praga do bicudo, inseto que ataca os botões do algodoeiro, em meados da década de 80, levou a uma redefinição dos objetivos e estratégias da unidade. Já se previa que a produção do algodão no Nordeste mostraria menor capacidade de resistência diante da praga, tendo em vista estar constituída por culturas de parceria e por pequenas propriedades de estrutura mais frágil. A unidade de Campina Grande passou a desenvolver estratégias e tecnologias de convivência com a praga, como o manejo integrado de pragas e a destruição dos restos culturais, além da criação e distribuição de cultivares precoces, menos suscetíveis ao ataque do inseto.  

Como os pequenos produtores do Semi-árido freqüentemente não dispunham de condições de implementar as novas tecnologias, a Embrapa Algodão passou a concentrar igualmente os seus esforços na geração e transferência de tecnologias para a cultura do amendoim, do gergelim e da mamona, os quais, juntamente com o algodão e o sisal, passaram a integrar o conjunto dos produtos pesquisados pela unidade até o presente momento. Dessa atuação, resultou uma significativa geração de cultivares: além das 23 variedades de algodão mencionadas, foram desenvolvidas 2 de amendoim, 3 de gergelim e 2 de mamona. Existem ainda quatro novas variedades em processo de lançamento no ano 2000, sendo uma de algodão colorido, duas de algodão herbáceo e uma de gergelim.  

Se a atuação em outras regiões tem sido destacada, ainda assim o perfil da Embrapa Algodão se define pela eleição de produtos agrícolas que se compatibilizam com o clima semi-árido – clima que sabemos oferecer imensas dificuldades para os agricultores dele dependentes. Poderíamos dizer que a prática da Embrapa Algodão renova os preceitos do agrônomo e pesquisador Guimarães Duque, que nos anos 50 propôs o cultivo de xerófilas como a solução para a problemática da agricultura no interior do Nordeste, influenciando as bases doutrinárias sobre as quais se erigiu a Sudene. Embora implemente tanto culturas a seco como culturas irrigadas, a Embrapa Algodão parte, necessariamente, do princípio da adequação do produto agrícola às condições ecológicas das áreas visadas.  

Sua preocupação central com as condições do Semi-árido dividia-se, inicialmente, com aquelas encontráveis em Estados das regiões Sul e Sudeste, com destaque para São Paulo e Paraná, de grande produção algodoeira. Posteriormente, a Embrapa Algodão , bem como os produtores rurais, deram-se conta da grande vocação das regiões de cerrado para a cotonicultura. Um projeto pioneiro no Mato Grosso desenvolveu uma tecnologia de produção de algodão totalmente mecanizada, que passou a ser implantada em áreas de cerrado de outros Estados, inclusive os do Nordeste, como Bahia, Maranhão e Piauí.  

Com todos esses esforços, e com a participação cada vez mais expressiva das áreas de cerrado, constatamos que a produção brasileira de algodão encontra-se bastante aquém das necessidades do mercado interno. Nosso País passou de grande exportador para um dos maiores importadores de algodão nos últimos anos. Se isso é, em parte, explicado pelo alastramento da praga do bicudo, outras condições conjunturais, relativas à abertura tarifária, ao crédito e ao câmbio, dificultaram a competição dos produtores nacionais com os estrangeiros. No Nordeste, por exemplo, um pólo têxtil expressivo como o do Ceará apresenta uma demanda de algodão superior em mais de 4 vezes à produção regional. Se a assistência técnica da Embrapa Algodão tem sido de grande valor, fazendo elevar a produtividade e obtendo bons resultados no combate à praga, somos levados a concluir que é possível e necessário fazer bem mais. Devemos propugnar por uma melhor concatenação de esforços dos Governos, seja em nível estadual ou federal, para que uma atividade de tanta relevância econômica e social possa desenvolver plenamente sua potencialidade. Assim é que documento recente da Embrapa Algodão relaciona as perspectivas de expansão da cotonicultura no Nordeste, ressaltando o incremento da produção irrigada e da capacidade tecnológica da agricultura familiar, a instalação do cultivo irrigado por grandes grupos empresariais e o estabelecimento de novas plantações na região dos cerrados do Piauí, Maranhão e Bahia.  

Deve ser ressaltada que a assistência técnica aos produtores rurais do Nordeste e de outras regiões pela Embrapa Algodão não se restringe ao importantíssimo desenvolvimento de cultivares mais produtivas e resistentes. Essa atividade não seria tão relevante quanto de fato é, não fosse complementada por um sistema de produção e distribuição de sementes aos produtores. O volume anual, no que se refere às sementes de algodão produzidas e distribuídas pela Embrapa e seus cooperados, corresponde a 1.500 toneladas de sementes de algodão arbóreo e herbáceo para o Nordeste e 4.600 toneladas de sementes de algodão herbáceo para o Centro-Oeste. É devido à eficiência desse sistema que em 80% da área plantada com algodão no Nordeste são utilizadas as cultivares desenvolvidas pela Embrapa Algodão . 

Outras tecnologias relevantes desenvolvidas pela unidade consistem, em lista não exaustiva, na definição de zoneamento e épocas de plantio; em técnicas de adubação, poda e controle de plantas daninhas; no desenvolvimento de equipamentos para a proteção das culturas e para beneficiamento dos produtos. Todas as tecnologias desenvolvidas e aprovadas são transferidas sistematicamente para os produtores, por meio de cursos, de treinamento de estagiários e da atividade de "dia de campo", além da distribuição de publicações.  

Quero registrar ainda, Senhoras e Senhores Senadores, que a Embrapa Algodão conta com um novo Chefe Geral desde dezembro do ano passado. Por meio de concurso público previsto pelo Sistema de Sucessão Gerencial, Eleusio Curvelo Freire, pesquisador da Embrapa Algodão há 24 anos, foi escolhido para substituir Napoleão Esberard Beltrão, a cujas boas realizações certamente dará continuidade, injetando-lhes novo ímpeto. Parabenizamos, deste plenário, a Embrapa Algodão pela passagem dos 25 anos de sua criação, desejando que o triênio iniciado no presente ano seja marcado pela plena consecução das metas previstas, tão necessárias para o desenvolvimento da cotonicultura brasileira e das demais culturas incentivadas no Semi-Árido do Nordeste.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2000 - Página 11421