Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 80 ANOS DO PAPA JOÃO PAULO II, COMPLETADOS NO ULTIMO DIA 18.

Autor
Djalma Bessa (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Djalma Alves Bessa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 80 ANOS DO PAPA JOÃO PAULO II, COMPLETADOS NO ULTIMO DIA 18.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2000 - Página 11431
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JOÃO PAULO, PAPA, ELOGIO, DETERMINAÇÃO, LIDERANÇA, ATUAÇÃO, IGREJA CATOLICA.

O SR. DJALMA BESSA (PFL - BA) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, aos 80 anos de idade, completados no último dia 18, o Papa João Paulo II cumpre um dos mais longos e profícuos pontificados de toda a história da Igreja Católica. E embora debilitado fisicamente, em conseqüência de traumas e moléstias diversos, Sua Santidade mantém a fé inabalável, além de uma coragem e de uma determinação inexcedíveis.  

Não admira, assim, que na comemoração da idade octogenária tenha sido reverenciado por Chefes de Estado de ideologias as mais diversas, autoridades de religiões distintas e personalidades de todos os quadrantes, sem falar, por óbvio, dos milhões de fiéis por ele liderados.  

No âmbito da Igreja, o aniversário de João Paulo II foi marcado principalmente pela missa em ação de graças, celebrada na Praça de São Pedro, com a participação de 80 cardeais, 300 bispos e cerca de sete mil padres, além da multidão leiga.  

João Paulo II, efetivamente, está marcando de forma indelével a presença da Igreja no mundo contemporâneo, tão descrente na ação solidária, tão voltado para o consumismo e para o sucesso individual e, paradoxalmente, tão excludente em meio de tanta riqueza.  

Sua firmeza de atitudes e seu carisma, Sras. e Srs. Senadores, têm sido imprescindíveis no contexto em que vivemos, de explosão da violência, de culto ao egoísmo, de propagação de falsos valores, justamente quando os meios de comunicação logram uma eficácia jamais imaginada.  

Atento às transformações que se operam no planeta, consciente do seu papel de líder religioso, de guardião da fé e dos valores éticos, João Paulo II jamais esmoreceu no comando da Igreja, em que pesem os revezes que vem enfrentando.  

De fato, em 1981, no terceiro ano do seu pontificado, quando foi baleado no estômago e no braço pelo terrorista Mehmet Ali Agca, na mesma Praça de São Pedro onde agora festejou seus 80 anos, numerosas pessoas especularam sobre o seu futuro no comando da Igreja Católica.  

O tempo passou e revelou em João Paulo II uma confiança e uma obstinação inquebrantáveis. Não era aquele o primeiro revés que sofria, e nem seria o último. Desde cedo, acostumara-se à vida dura, forjara seu espírito nas adversidades. "Homem de fé, desde a juventude enfrentou enormes dificuldades e, depois, a guerra, encontrando na oração a força para superar os desafios, oferecer a Deus os sofrimentos, entregando-se totalmente e com entusiasmo ao serviço da Igreja" – assim se referiu ao Papa, em recente artigo na Folha de S. Paulo, Dom Luciano Mendes de Almeida.  

Tendo perdido o pai aos 20 anos, durante a Segunda Guerra Mundial – quando a Polônia estava sob ocupação alemã – Karol Wojtyla interrompeu seus estudos para trabalhar. Nessa época, acidentou-se e sofreu fratura no crânio. Também teve o ombro deslocado quando empurrava um carrinho carregado de pedras, no seu trabalho de operário braçal.  

Outros graves problemas viriam a afetar-lhe a saúde nas décadas seguintes, tendo corrido sérios riscos de vida em maio de 1981, quando sofreu o atentado a bala. Um mês após o atentado, contraiu um citomegalovírus, numa transfusão, por meio de sangue infectado. Em 1992, extraiu um tumor benigno do intestino; em 94, tendo sofrido uma queda, fraturou a perna direita, o que o obrigou a implantar uma prótese; nos últimos anos, foi acometido do Mal de Parkinson, doença que se percebe mais facilmente pelo tremor das mãos em suas aparições, mas que não lhe tirou o entusiasmo nem a determinação.  

"Deus não nos pede nunca nada além das nossas forças. Ele mesmo nos dá a força para cumprir o que espera de nós" – disse João Paulo II, recentemente, referindo-se à sua intensa atividade, a despeito dos problemas de saúde.  

A trajetória e a obstinação de Sua Santidade, de fato, impressionam. Nasceu em Wadowice, na Polônia, em 18 de maio de 1920; ordenou-se padre em 1946 e foi nomeado bispo auxiliar de Cracóvia, nas proximidades de sua terra natal, em 1958; em 1978, foi eleito Papa – o primeiro não italiano a comandar a Igreja Católica em 456 anos.  

Os jornais brasileiros, a exemplo da mídia internacional, destacaram os números do seu pontificado: nesses 22 anos, até agora o nono mais longo pontificado da história da Igreja Católica, publicou nada menos que 13 encíclicas e 37 cartas apostólicas; promoveu 989 beatificações e 297 canonizações – processos, como sabemos, longos, complexos, que exigem cuidadosa análise das provas e acurada interpretação dos fatos; nomeou 157 cardeais; e reuniu-se 846 vezes (até o seu natalício) com Chefes de Estado. Acometido nos anos mais recentes, como já me referi, pelo Mal de Parkinson, e tendo enfrentado seis cirurgias, ainda assim fez 91 viagens apostólicas pelo mundo afora. Essas viagens, compreendendo visitas a 123 países e territórios, somam 1 milhão e 178 mil quilômetros, ou, conforme o jornal O Globo , 29 voltas ao redor da Terra.  

João Paulo II sem qualquer dúvida, tornou-se a figura mais carismática e emblemática de toda a história recente da Igreja Católica. Suas viagens apostólicas, tanto quanto sua produção doutrinária, tornaram-no um mensageiro da reconciliação e da aproximação entre os povos e as igrejas.  

Há quem o considere conservador, nas questões doutrinárias e morais. Nesse sentido, talvez represente um contraponto a uma tendência, que reúne vários segmentos da sociedade moderna, de buscar o bem-estar individual, a riqueza e o prazer a qualquer custo.  

De fato, Sras. e Srs. Senadores, João Paulo II tem sido ortodoxo na obediência aos dogmas da Igreja, demonstrando convicção e firmeza na manutenção do celibato dos padres; na condenação da contracepção e do aborto; na reprovação do adultério; e na proibição da ordenação de mulheres.  

Se pensarmos apenas em aceitação numérica, seria muito mais fácil, ao Santo Padre, flexibilizar a prática de alguns desses dogmas, visto que a sociedade contemporânea vem adotando padrões mais liberais de comportamento. No entanto, o Papa, que tem dado numerosas manifestações de coragem e até de audácia política, não se permite violentar a própria consciência para se tornar mais popular. Para Sua Santidade, cai como uma luva a observação de Chesterton, de que é fácil acompanhar os modismos, mas difícil manter a integridade de nossas convicções.  

No campo político, João Paulo II, igualmente, não se omite. Em seu longo pontificado, contribuiu decisivamente para a queda do comunismo, da mesma forma que vem buscando reaproximar os povos. A respeito da atividade política, Dom Paulo Evaristo Arns, em recente entrevista, destacou que o Papa, tendo lutado contra o comunismo, na sua terra, "agora luta pela paz na Palestina, o que é uma coisa extraordinária".  

Sem abandonar a questão ideológica, a ação de Sua Santidade no plano internacional busca igualmente estabelecer o diálogo fraternal entre as religiões, estreitando os laços entre católicos, protestantes, judeus, ortodoxos e muçulmanos. Além disso, fazendo mea-culpa, demonstrou extraordinária coragem ao pedir perdão pelos erros históricos da Igreja Católica.  

Sras. e Srs. Senadores, um líder religioso com personalidade tão forte e atuação tão destacada, naturalmente, acaba por granjear o respeito e a admiração de todos. Assim, não admira que, por ocasião do aniversário, tenha recebido cumprimentos de estadistas e religiosos de ideologias e crenças as mais diversas, como o líder palestino, Yasser Arafat; o Primeiro-Ministro israelense, Ehud Barak; o ex-presidente soviético, Mikhail Gorbatchev; o Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton; o presidente cubano, Fidel Castro; o patriarca ortodoxo russo, Alexei II, entre outros.  

O Presidente Fernando Henrique Cardoso desejou a Sua Santidade felicidades e contínuo êxito no pontificado. Por sua vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em sua mensagem, felicitou: "A Igreja do Brasil rende graças ao Senhor pelo precioso dom da vida que lhe concedeu e renovou por ocasião dos acidentes que ameaçaram interrompê-la".  

Essas palavras, Sras. e Srs. Senadores, atestam certamente uma dádiva divina merecida por João Paulo II, por sua fé e pelo incessante trabalho que vem desenvolvendo como líder religioso, agora enfatizado pela convocação de todos os fiéis para o jubileu comemorativo dos dois mil anos da Igreja Católica – evento que, ao mesmo tempo, prepara a comunidade para o ingresso no Terceiro Milênio.  

Ao registrar esse acontecimento tão importante, renovo as esperanças de que a alegria e a determinação do Papa João Paulo II nos inspirem tanto quanto o inspiraram na profissão de fé que fez por ocasião do octogésimo aniversário: "Cantarei eternamente o amor do Senhor. Esta é a minha confissão de fé, meu hino de gratidão ao Pai da Vida".  

Muito obrigado!  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2000 - Página 11431