Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

REFLEXÃO SOBRE A EVASÃO DE TALENTOS ESPORTIVOS DO ESTADO DO PARANA, CONSIDERANDO AS TESES DE DOUTORADO APRESENTADAS PELOS PROFESSORES JOSE LUIS LOPES VIEIRA E LENAMAR FIORESE VIEIRA, NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGA.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • REFLEXÃO SOBRE A EVASÃO DE TALENTOS ESPORTIVOS DO ESTADO DO PARANA, CONSIDERANDO AS TESES DE DOUTORADO APRESENTADAS PELOS PROFESSORES JOSE LUIS LOPES VIEIRA E LENAMAR FIORESE VIEIRA, NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGA.
Aparteantes
Ernandes Amorim.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2000 - Página 11694
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • COMENTARIO, TESE, CURSO DE DOUTORADO, AUTORIA, JOSE LUIZ LOPES VIEIRA, LENAMAR FIORENSE VIEIRA, PROFESSOR, UNIVERSIDADE ESTADUAL, MUNICIPIO, MARINGA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), ASSUNTO, ATLETAS, CONCLUSÃO, IMPORTANCIA, PROGRAMA, INCENTIVO, ESPORTE, PERIODO, MANDATO, ORADOR, GOVERNO ESTADUAL.
  • REGISTRO, MAIORIA, PERCENTAGEM, VITORIA, ATLETA AMADOR, JOGOS PANAMERICANOS, ORIGEM, ESTADO DO PARANA (PR).
  • SUGESTÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO ESPORTE E TURISMO (MET), LEVANTAMENTO, PROGRAMA, INCENTIVO, ESPORTE, ESTADOS, MUNICIPIOS, AMPLIAÇÃO, MENOR, BAIXA RENDA, VINCULAÇÃO, EDUCAÇÃO.

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR. Profere o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna para destacar dois importantes trabalhos acadêmicos para a área da Educação Física e dos Esportes.  

Trata-se de duas teses de doutorado de Professores da Universidade Estadual de Maringá apresentadas ao Curso de Pós-graduação em Ciência do Movimento Humano da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul.  

A primeira é do Professor José Luiz Lopes Vieira e versa sobre O Processo de Abandono do Atletismo no Estado do Paraná: um estudo orientado pela teoria dos sistemas ecológicos . A outra é da Professora Lenamar Fiorese Vieira sobre O Processo de Desenvolvimento de Talentos Paranaenses do Atletismo: um estudo orientado pela teoria dos sistemas ecológicos .  

São duas teses que, incidindo sobre um mesmo objeto de estudo – os atletas paranaenses – permitiram chegar a conclusões de caráter científico e que, para nossa agradável surpresa, demonstram a vitalidade e a efetividade de medidas adotadas em nosso período de Governo, de 1987 a 1991, com a finalidade justamente de incentivar e desenvolver o gosto pelo desporto.  

Os dois professores, em suas pesquisas, entrevistaram professores, atletas, pais de atletas e dirigentes, no Estado do Paraná, tendo iniciado sua abordagem sem nenhuma predisposição de tratar das políticas desportivas de nosso Governo, chegando a elas após o estudo exaustivo de cada caso.  

A menção não é feita com o intuito de auto-elogio, mas fundamentalmente para demonstrar a viabilidade de se implementar medidas simples, econômicas e efetivas para o desenvolvimento do esporte e, ainda, com profunda repercussão na melhoria da qualidade de vida das famílias.  

Uma das constatações feitas foi a de que mais de 50% dos convocados para as últimas seleções de atletismo do Brasil provieram do Paraná e, em sua maioria, oriundos de projetos desenvolvidos em nosso Governo, como o Frutos da Terra e Paraná Olímpico, coordenados pelo Secretário de Esporte, Dr. Edson Gradia.  

O que temos a lamentar, de acordo com a pesquisa, é que, da mesma forma, a quase totalidade desses atletas disputam por federações de outros Estados, de vez que tais projetos não tiveram continuidade no atual Governo, que os extinguiu pura e simplesmente, preferindo direcionar recursos para iniciativas de duvidosa efetividade como os caríssimos Jogos da Natureza.  

E o que eram tais projetos? O Frutos da Terra, por exemplo, levantava, por intermédio dos professores das escolas públicas, talentos desportivos que, após seleção, recebiam um salário mínimo mensal e um kit para a prática desportiva. Dessa forma, chegamos a atender, naquele período, 720 estudantes esportistas em mais de 100 Municípios. Esses estudantes, Srs. Senadores, tornavam-se referência no Município onde viviam.  

O interessante é que, nas entrevistas, ficou patente que vários atletas juvenis puderam, com esse pequeno auxílio, treinar, contribuir para o orçamento familiar e evitar o trabalho que pudesse tirá-los da escola. Cabe ressaltar que os recursos que financiaram esse projeto provinham da loteria estadual, pois havíamos determinado que, dos recursos obtidos pela Lotopar, 70% fossem dedicados ao desenvolvimento do esporte.  

Já o Paraná Olímpico, financiado com verbas oriundas do Banco do Estado do Paraná, patrocinava atletas convocados para seleções nacionais. Ou seja, ao ser convocado, o atleta passava a ter o direito de ser patrocinado pelo Banestado, sem necessidade de nenhum outro tipo de apadrinhamento político. E aqui há de se ressaltar que, em momento algum, o Governo do Estado, à nossa época, utilizou-se da imagem dos atletas objeto de patrocínio para promoção política.  

São, portanto, Srªs e Srs. Senadores, projetos simples e baratos, que demonstraram, ao longo do tempo, sua efetividade. Gostaria de mencionar que os professores que realizaram essas pesquisas não participaram, em momento algum, do Governo. Vimos a conhecê-los agora, quando apresentam o seu trabalho com os resultados já citados.  

Faço esse registro não somente para homenagear os professores da Universidade Estadual de Maringá, não somente também para mostrar a possibilidade de uma Política Nacional de Desporto efetiva e com recursos adequados, mas também para manifestar o agradecimento pelo trabalho dos dois professores. Em primeiro lugar, porque suas teses vieram dar endosso científico e acadêmico a políticas realizadas no Governo do Paraná, o que, é natural, nos deixa satisfeitos.  

Transcrevo, nesse sentido, o dizer dos autores: "Através dessas colocações, infere-se que nesse período o esporte passou a ter uma valorização e ascensão no Estado, o que ocorreu por uma iniciativa do Governador do Estado, o qual, desde o primeiro momento, demonstrou a vontade de estabelecer uma Secretaria Especial do Esporte, no sentido de valorizar o esporte enquanto dimensão social."  

A pesquisa realizada indicou que os atletas que foram objeto dessas políticas ocupam lugar de destaque não apenas no atletismo, mas em outras modalidades desportivas como handebol, ginástica rítmica, tiro, etc.  

É claro que é significativo ver 50% dos atletas medalhados nos Jogos Pan-americanos oriundos de um mesmo Estado em razão de programas de governo coordenados pela autoridade pública, com o objetivo não apenas de estimular a prática do esporte, mas também de oferecer possibilidades de melhoria do orçamento familiar de pessoas carentes e, especialmente, de estimular a permanência nas escolas desses jovens.  

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – Senador Álvaro Dias, V. Exª me concede um aparte?  

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR) – Concedo-o com satisfação, Senador Ernandes Amorim.  

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – Senador Álvaro Dias, está aí o resultado de um trabalho plantado no seu Governo. O esporte deveria ser estimulado por todos os governantes, do Município, do Estado e do País. Está aí o caminho para tirar muitas crianças da rua e integrá-las à sociedade. E são poucos os recursos necessários para buscar um resultado positivo. Falo isso porque sou professor de Educação Física e conheço de perto o descaso das autoridades com o esporte. V. Exª nos apresenta um resultado de um trabalho, que, se outros governantes estivessem seguindo, hoje estaria apresentando ao País um celeiro de atletas, de homens preparados e de menores assistidos. Talvez, nas Olimpíadas, teríamos nos sobressaído muito mais, a exemplo de Cuba e de outros países menores do que o Brasil, que surpreendem o mundo com seus resultados nas Olimpíadas. Parabéns pelo seu trabalho e aos valiosos professores autores dessa tese. Muito obrigado.  

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB – PR) – Muito obrigado, Senador Ernandes Amorim. Os professores José Luiz Lopes Vieira e Lenamar Fiorese Vieira oferecem realmente uma notável contribuição sob o ponto de vista de uma análise crítica, de uma pesquisa da maior importância para oferecer exemplos às autoridades governamentais.  

Quanto ao descaso a que V. Exª se refere da parte das autoridades, escreveu com brilhantismo o articulista político Villas Boas Corrêa, já há algum tempo, afirmando ter sido o esporte expulso do Governo no Brasil. Realmente, sentimos que, embora exista um Ministério dos Esportes, as ações governamentais que dizem respeito a estimular a prática desportiva do nosso País ficam muito aquém do que aspira a sociedade brasileira.  

O Sr. Ernandes Amorim (PPB – RO) – Não esquecendo, Senador Álvaro Dias, o caso do professor Manoel José Gomes Tubino, uma excelente autoridade na área de esportes, demitido injustamente. Com isso, os desportos transformaram-se no que se transformaram, com o Ministro que lá colocaram. Na realidade, o esporte é isso no Brasil.  

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB - PR) – É lamentável, Senador Ernandes Amorim. Homens como o Professor Tubino deveriam sempre merecer o respeito da autoridade governamental, porque são especialistas em matéria que, sem dúvida, aqueles que hoje assumem responsabilidades no Governo pouco ou quase nada conhecem.  

Temos agora a esperança de um novo Ministro na área de esportes no Brasil e gostaríamos de, neste instante, quem sabe, poder fazer a sugestão de que o Ministério deva listar todas as experiências já realizadas nos Governos municipais e estaduais neste País.  

Certamente o Ministério elencaria uma série de programas bem-sucedidos na área de esportes em vários Municípios e Estados da Federação.  

Essa listagem poderia contribuir para que o Ministério dos Esportes no Brasil, sem grandes investimentos – já que recursos ainda existem com esse objetivo –, desenvolva uma ação política governadora capaz de estimular projetos de grande importância para o futuro do nosso País.  

Esta é a nossa realidade: o Brasil entrou no ano 2000 com 21.100 milhões de menores de 18 anos vivendo em famílias com rendimento per capita mensal de até meio salário mínimo, 35% do total nessa faixa etária. Mais da metade, 53% deles vivem na região Nordeste. O País conta ainda com 2.900 milhões de crianças de 5 a 14 anos que trabalham para complementar a renda familiar, o que a Unicef considera uma violência. O grande número de crianças vivendo abaixo da linha de pobreza e a alta concentração de renda do País foram exatamente as maiores críticas feitas ao Brasil pelo Unicef em seu relatório anual Situação Mundial da Infância.  

Portanto, Sr. Presidente, nesse cenário de abandono do menor no País, é importante estimular as ações governamentais na área do esporte capazes de contribuir para a formação de seres humanos hoje submetidos a uma subvida. É evidente que esse estímulo à formação de seres humanos se dá pelo acesso à escola. Obviamente, programas como este aqui destacado incentivam a permanência dos jovens na escola desde a mais tenra idade.  

Portanto, Sr. Presidente, o objetivo deste modesto pronunciamento neste início de sessão de segunda-feira é exatamente sugerir ao Ministério do Esporte e Turismo uma ação mais rigorosa, no sentido de buscar a experiência que se encontra em cada canto deste País e oferecer uma política desportiva que vá ao encontro das aspirações da correta formação da juventude brasileira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2000 - Página 11694