Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO, HOJE, DO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE. (COMO LIDER)

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • COMEMORAÇÃO, HOJE, DO DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2000 - Página 11712
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE, DEFESA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, REPRESENTANTE, SOCIEDADE, IMPORTANCIA, PRESERVAÇÃO, MATA ATLANTICA, FLORESTA AMAZONICA, CONSERVAÇÃO, BIODIVERSIDADE, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC) – Sr. Presidente, de acordo com o art. 14 do nosso Regimento, peço a palavra pela Liderança do Bloco, por cinco minutos.  

O SR. PRESIDENTE (Gilberto Mestrinho) – Concedo a palavra a V. Exª, por cinco minutos, na forma regimental, tratando-se de comunicação urgente e de interesse partidário.  

A SR.ª MARINA SILVA (Bloco/PT – AC. Como Líder. Para uma comunicação. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, agradeço a oportunidade. Eu não poderia deixar de falar. Gostaria de fazê-lo com um pouco mais de tempo, mas, lamentavelmente, não foi possível chegar mais cedo em função da solenidade de comemoração do Dia do Meio Ambiente na Câmara Legislativa do Distrito Federal, da qual participei, e também porque ocorreu um pequeno problema de saúde com uma das minhas filhas. Graças a Deus, já está tudo bem.  

Eu não poderia de deixar de registrar que hoje, dia 05 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Temos que fazer uma breve reflexão, muito embora eu pretenda retomar o tema amanhã, com um pouco mais de tempo.  

Há muitos problemas a serem evidenciados neste dia, mas também há algumas conquistas, porque, nos últimos 20 anos, a questão ambiental tomou conta da consciência social de forma muito significativa. Se até há bem pouco tempo, há 20 anos, o homem tinha a visão de que tudo podia em sua relação com a natureza, hoje está mais que provado que ele nada pode, se destruir sua casa comum: a natureza, que o acolhe e lhe dá e às demais espécies condições de sobreviver.  

Como o homem faz parte da cadeia de espécies que se complementam e que têm relação de interação, como parte consciente dessa natureza, tem, necessariamente, de cuidar dela. Aliás, até o presente momento, o homem é o único ser que tem consciência de si mesmo e da natureza. Portanto, com certeza, se existe alguém a ser cobrado por Deus pelo que é feito à natureza e à sua própria espécie, esse alguém se chama ser humano.  

É por isso que, nesta data, muito embora seja apenas um dia, mas que estamos ampliando, pois já comemoramos a semana do meio ambiente, quero dizer que muitas foram as derrotas sobre o ponto de vista, sobre a visão antropocêntrica do mundo, que pensava ser o homem o mais importante do universo - e tanto não é verdade, que nós dependemos dessa relação com a natureza de um modo geral. Afinal de contas, se somos aquele que pensamos a natureza, não prescindimos dela para nossa sobrevivência. Então, temos que nos comportar como parte dela, uma parte muito importante, com maior responsabilidade. Agora, não podemos pensar que dela podemos prescindir e não podemos pensar que com relação à ela tudo podemos, porque a escassez de água já é um fato, os problemas de poluição do ar já são um fato, as chuvas ácidas já são um fato, o aquecimento global é um fato, etc. E se não tivermos o devido cuidado, poderemos perecer juntos. Aliás, por termos consciência, talvez sejamos os únicos que realmente iremos perecer, porque as demais espécies, até que se prove o contrário, continuarão fazendo parte do ciclo, seja de que forma for. No entanto, nós, que temos consciência, estaremos perecendo com a consciência de que a nossa espécie não foi capaz de cuidar adequadamente da sua casa comum.  

De sorte, Sr. Presidente, que amanhã eu gostaria de retornar a este tema, não apenas do ponto de vista da sua simbologia, mas do que realmente ele significa para todos nós e, principalmente, para nós brasileiros, detentores de 18% da água doce do planeta; de 22% das espécies vivas; da maior floresta tropical do mundo, com 5,5 milhões de quilômetros quadrados; detentores de uma das maiores diversidades culturais que existem e, portanto, com maiores possibilidades de estar dando um exemplo concreto para o mundo de como promover um desenvolvimento que seja, de fato, sustentável, pensando nas gerações futuras, pensando no nosso "agora" como constituição de um processo civilizatório capaz de entender que os recursos de um milênio não podem ser sacrificados pelos lucros de um ano; que aqueles bens, que nos foram dados de presente pelo Criador, não podem ser apropriados por mãos que deles não sabem cuidar.  

Então, amanhã, estarei retornando a este tema.  

O Senador Bernardo Cabral está a me dizer que temos o maior banco genético do mundo. Temos aqui uma explosão de vida em abundância. Não sejamos nós, brasileiros, que iremos promover a morte em abundância de nossos recursos naturais por falta de cuidados, em que pese a exuberância desses recursos.  

Concretamente, já temos exemplos de que somos capazes, sim, de destruí-los como um todo, como quase aconteceu com a Mata Atlântica, floresta tão bonita e importante em termos de biodiversidade, e que hoje restam apenas 8%.  

Voltarei ao tema. Mas não poderia deixar de, nesta data, fazer este registro porque esta Casa acabou de vivenciar um momento muito rico e que nos dá novas esperanças: o protesto da sociedade civil contra uma possível modificação em nossas leis florestais, o que nos levaria a uma perda de recursos naturais, ampliando o corte raso na Amazônia em mais 30% sem critérios, sem estarmos devidamente calçados pelo zoneamento ecológico e econômico. A sociedade nos disse que não queria essa mudança, e o Congresso Nacional respondeu que só fará a mudança quando houver consenso.  

Como as cabeças de muitos pensantes dão sempre melhores respostas do que poucas cabeças pensantes, acredito que será possível um consenso que não nos leve a um prejuízo para o meio ambiente e para os avanços que já tivemos das leis ambientais em nosso País.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2000 - Página 11712