Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DEFESA DO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTE, COM MAIOR PARTICIPAÇÃO DE FERROVIAS E HIDROVIAS.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • DEFESA DO SISTEMA MULTIMODAL DE TRANSPORTE, COM MAIOR PARTICIPAÇÃO DE FERROVIAS E HIDROVIAS.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2000 - Página 12036
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DE BRASILIA, DISTRITO FEDERAL (DF), ASSUNTO, DEPENDENCIA, BRASIL, TRANSPORTE RODOVIARIO, RISCOS, MANIPULAÇÃO, SINDICATO, MOTORISTA, CAMINHÃO, ABASTECIMENTO, ALIMENTOS, COMBUSTIVEL, EPOCA, GREVE.
  • DESEQUILIBRIO, MODELO, TRANSPORTE, BRASIL, NECESSIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, TRANSPORTE INTERMODAL, REGISTRO, DADOS, DESENVOLVIMENTO, HIDROVIA, INCLUSÃO, PLANO PLURIANUAL (PPA).

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB – RR) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com o sugestivo título de "Brasil à Mercê dos Caminhões", li, no dia 15 de maio p.p., reportagem publicada pelo Jornal de Brasília , que, entre outros pontos, aborda o quanto o País se tornou refém dos sindicatos de caminhoneiros. 1 Em duas greves nacionais em intervalo de apenas um ano, – uma em julho do ano passado e outra há pouco mais de três semanas, – os caminhoneiros lograram prejudicar o abastecimento em várias cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, chegou a faltar alimentos e combustíveis.  

Sem considerar a questão de se os caminhoneiros têm razão ou não em paralisar suas atividades e prejudicar o abastecimento do País, ou se os métodos empregados na greve foram adequados ou não, o que salta aos olhos é mesmo a excessiva dependência que temos do transporte rodoviário. A preocupação com esse assunto tem sido uma constante em minha passagem pelo Senado Federal e objeto de vários de meus discursos realizados nesta tribuna.  

Apresento, mais uma vez, os números que atestam nossa dependência excessiva do transporte rodoviário, uma situação preocupante, principalmente no que diz respeito ao transporte de cargas.  

Pois bem, quanto ao transporte de cargas, no Brasil, nada menos do que 58% da produção são escoados ou distribuídos via rodovias! Muito atrás vem o transporte ferroviário, com 21%. Depois, o transporte hidroviário, 17%; o transporte dutoviário, 3,7%; e, finalmente, o transporte aeroviário, com parco 0,3%. 2 

Não resta dúvida, Sr. Presidente, de que esse modelo obsoleto, desequilibrado, de uma perna só, há de ser substituído por outro mais moderno, um modelo multimodal de transporte, em que haja maior proporção entre transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário. O ideal é que o Brasil pudesse chegar a uma distribuição aproximadamente equânime entre os três.  

Medidas têm sido tomadas pelo atual Governo nesse sentido. Realço a privatização da Rede Ferroviária Federal, o que vem permitindo, — ainda muito lentamente, é verdade, — a recuperação da malha ferroviária brasileira, com a volta dos investimentos. A dificuldade para a recuperação da malha é grande, porém. Pois foram décadas de negligência e má gestão do Estado, o que nos legou um sistema ferroviário obsoleto e sucateado, sistema cujas partes amiúde não são compatíveis, em que a carga transportada tem de ser mudada de vagão em diferente trechos, ocasionando aumento de custos.  

Entretanto está aí, por exemplo, a Ferronorte, já concluída em seu trecho inicial, que atravessa o Mato Grosso do Sul: ferrovia que trará enorme impacto positivo para a viabilidade da agropecuária do Centro-Oeste brasileiro, nossa mais pujante fronteira agrícola. A partir de agora, em razão da redução do custo de transporte permitida pela Ferronorte, a soja do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso e de Goiás, cuja produtividade agrícola é espantosa, poderá chegar aos mercados internacionais a preços competitivos. Não mais as conquistas alcançadas na produtividade da lavoura serão anuladas por um sistema de transporte obsoleto. Está aí também a retomada dos investimentos na Ferrovia Norte–Sul.  

Tanto o transporte ferroviário quanto o transporte hidroviário, bem mais baratos do que o rodoviário para o transporte de cargas, estão em situação privilegiada no atual Plano Plurianual de Investimentos (PPA), alcunhado de Avança Brasil. Isso, porque, como já disse, é uma política deliberada deste Governo modernizar o sistema de transportes no Brasil, transformando-o pa ulatinamente num sistema multimodal de transporte. Há o entendimento de que se deve empreender todos os esforços possíveis para baixar o custo de produção no Brasil e, dessa forma, preparar nossa economia para a competição internacional, que cada vez mais se torna acirrada.  

Quanto ao transporte hidroviário, foram eleitas, pelo PPA, a Hidrovia Tietê—Paraná, no eixo Sudeste; a Hidrovia Araguaia—Tocantins, no eixo Araguaia—Tocantins; e a Hidrovia Paraná—Paraguai, no eixo Oeste. 3 Tais iniciativas em favor do transporte hidroviário é o mínimo que se pode esperar num País que possui 27 mil quilômetros de águas naturalmente navegáveis e ainda outros 15 mil, dependentes de investimentos para serem usados. 4 Qual o país, no mundo, pode apresentar números como esses?  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, voltarei a bater na tecla do sistema de transporte no Brasil, quantas vezes for necessário. De fato, incomoda-me demais a irracionalidade de nosso atual sistema, totalmente na contramão do que permitem as características físicas desse imenso País continental, que é o Brasil. Temos errado, nas últimas décadas, ao dar ênfase excessiva ao transporte rodoviário. Isso, apesar de todos os benefícios que o desenvolvimento da indústria automobilística tem trazido ao Brasil desde os anos 50.  

Cumpre, agora, mudar em favor de um sistema multimodal de transporte, com maior participação de ferrovias e hidrovias. Isso barateará a produção no Brasil, tornando-nos mais competitivos, aqui dentro e lá fora. Em termos de transporte, é certo que a racionalidade e o bom senso atendem pelo nome de sistema multimodal de transportes . 

Era o que tinha a dizer.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2000 - Página 12036