Discurso durante a 74ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

LEITURA DO PRONUNCIAMENTO DO VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, MARCO MACIEL, NO ITAMARATY DURANTE A ABERTURA DO SEMINARIO RELAÇÕES ENTRE O BRASIL E O MUNDO ARABE: CONSTRUÇÃO E PERSPECTIVAS.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • LEITURA DO PRONUNCIAMENTO DO VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, MARCO MACIEL, NO ITAMARATY DURANTE A ABERTURA DO SEMINARIO RELAÇÕES ENTRE O BRASIL E O MUNDO ARABE: CONSTRUÇÃO E PERSPECTIVAS.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2000 - Página 12100
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, DISCURSO, AUTORIA, MARCO MACIEL, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, ABERTURA, SEMINARIO, ITAMARATI (MRE), RELAÇÕES INTERNACIONAIS, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ORIENTE MEDIO.
  • IMPORTANCIA, INFLUENCIA, CULTURA, COMERCIO, EMIGRAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ORIENTE MEDIO, DEFESA, REFORÇO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde ontem se realiza, no Itamaraty, o seminário Relações entre o Brasil e o Mundo Árabe: Construção e Perspectivas. Hoje, às 15 horas – portanto, deve estar ocorrendo –, terá lugar o Painel nº VII, intitulado Cultura e Imigração Árabes: Influência na Sociedade Brasileira, cujo moderador é o nosso companheiro Senador Pedro Simon.  

Para melhor ilustrar do que se trata, pediria permissão para ler rapidamente o discurso de abertura com que o Vice-Presidente Marco Maciel nos deliciou durante a abertura do simpósio. Disse S. Exª:  

 

O momento é realmente propício para uma reavaliação desse assunto. Comemorando os seus 500 anos de descobrimento, o Brasil vive um ano 2000 de profundas reflexões sobre seu passado, de cuidadosa análise de seu presente e de renovada confiança em seu futuro. Examinar, nesse contexto, as relações com os países árabes, que tão significativas contribuições prestaram à formação brasileira e tantas outras, com certeza, ainda prestarão, transforma-se em exercício estimulante e oportuno.  

Os temas a serem abordados nos painéis, que dentro em pouco estarão abertos, denotam a riqueza do legado árabe à formação do Brasil e o potencial de cooperação prospectiva entre nossos países. Será analisada, de início, a herança que a cultura e a imigração árabes legaram à sociedade brasileira. Seguirá uma reflexão sobre os caminhos já trilhados e ainda a trilhar em nosso relacionamento bilateral.  

Serão explorados os instrumentos de cooperação econômica, dentre os quais ainda se destaca o petróleo. Serão exibidas as perspectivas árabes e brasileiras acerca de temas candentes da agenda internacional, como o processo de pacificação no Oriente Médio, a globalização e a regionalização, o desenvolvimento social e o respeito aos direitos humanos, o desarmamento e a paz e a segurança internacionais.  

Os resultados dos trabalhos serão posteriormente consolidados em volume a ser publicado pela Fundação Alexandre de Gusmão. Assim, serão conservadas e divulgadas as importante contribuições dos palestrantes e demais membros da platéia, durante os debates.  

Além de constituir valioso exercício de meditação, pesquisa e estímulo ao conhecimento mútuo, o seminário deverá cumprir outro destacado objetivo: o de aperfeiçoar o relacionamento político-diplomático entre os nossos países. Não poderia ser de outra forma. O diálogo entre nossos governos deve ser a tradução, em nível oficial, do entrelaçamento histórico entre nossas sociedades e culturas.  

A influência árabe na sociedade brasileira é imediatamente perceptível nos traços fisionômicos de tantos de nossos amigos, nos médicos que nos atendem, nos empresários e comerciantes que dinamizam a nossa economia, nos políticos que nos representam, nos professores e intelectuais que iluminam nossa cultura. Mas a cultura árabe já nos atingia antes mesmo do início das correntes de imigração. Os portugueses que aqui chegaram há 500 anos traziam em sua bagagem a excelente técnica naval árabe, aprendida na íntima convivência na península ibérica. E esse é apenas um exemplo da contribuição do engenho árabe para a formação da civilização portuguesa e na construção da Pátria brasileira. Gilberto Freyre, em sua magistral obra Casa Grande & Senzala, tece minucioso mosaico das contribuições mouras às culturas portuguesa e brasileira, desde "a arte do azulejo que tanto relevo tomou em nossas igrejas" até noções de medicina, higiene, matemática e comportamento.  

Os imigrantes vieram mais tarde e dedicaram-se preponderantemente ao comércio. O Professor Oswaldo Truzzi, que temos o prazer de receber como palestrante neste seminário, relata, no ensaio intitulado "Sírios e Libaneses e seus Descendentes na Sociedade Paulista", que os imigrantes levantinos "operaram, na qualidade de pioneiros, uma verdadeira revolução nas práticas comerciais". A venda a prazo, segundo as condições do comprador; a redução da margem de lucro, compensada pela maior quantidade de unidades vendidas, e a promoção de liquidações foram fatores de extraordinária dinamização do comércio no interior do Brasil. De fato, não seria demais afirmar que foram os sírios e libaneses que, no Brasil, "inventaram" o comércio popular.  

Os pioneiros não se limitaram, contudo, ao pequeno comércio. Cedo, tornaram-se proprietários de indústrias e redes de atacado, investiram na educação das novas gerações e passaram a exercer com brilhantismo as mais diversas profissões e atividades. O Embaixador Rubens Ricupero, em artigo recente, destacou "o êxito extraordinário de integração e mobilidade social" de libaneses, sírios e árabes em geral, que, em matéria de representação política, provavelmente não encontra paralelo em outras comunidades estabelecidas no Brasil, de que é exemplo a presença entre nós do ilustre Senador Romeu Tuma, que, nesta cerimônia, representa o Senado Federal.  

O profundo entrelaçamento das sociedades árabe e brasileira encontrou ressonância e atualização nas relações diplomáticas entre nossos países. Já afirmou o Chanceler Luiz Felipe Lampreia que "a diplomacia é uma tarefa de permanente recriação da tradição e do patrimônio que o passado nos deixou". O Brasil, em consonância, sempre manteve presença diplomática no mundo árabe, mesmo antes da constituição dos Estados modernos e independentes da região. Inicialmente pautada por acordos relativos aos fluxos migratórios, a agenda diversificou-se à medida que se intensificavam os contatos bilaterais e se ampliavam as trocas comerciais. Nos foros multilaterais, ampla coincidência de pontos de vista sobre os temas do desenvolvimento e da reparação das desigualdades econômicas entre os países facilitava o diálogo entre as nossas chancelarias.  

Nas décadas de 70 e 80, a trajetória dos preços do petróleo colocou os países árabes em posição de evidência no cenário mundial. A solidariedade entre as nações em desenvolvimento e a busca de ideais semelhantes nos foros internacionais foram reforçadas pela conjuntura econômica então prevalecente. Na época, as circunstâncias no Brasil e no mundo frustraram nossas tentativas de compensar os crescentes déficits comerciais decorrentes da importação do petróleo com investimentos árabes no setor produtivo brasileiro.  

Hoje, as condições brasileiras alteraram-se para melhor, e substancialmente. Estados assistindo à consolidação das bases do crescimento do nosso País. Aliados à estabilização da economia brasileira, crescentes investimentos têm sido realizados em projetos sociais de melhoria das condições de vida da nossa população. Os índices de inflação continuam caindo, a balança comercial registra superávit que poderá atingir a cifra de 4 bilhões de dólares neste ano. Os investimentos externos recebidos pelo País chegaram, em 1999, a 30 bilhões de dólares. Somente até o mês de abril do ano em curso, esses investimentos já se alçavam ao montante de 7 bilhões de dólares.  

Também a educação e a saúde têm-se beneficiado das conquistas econômicas do País. Hoje, o Brasil pode se orgulhar de possuir um parque científico e tecnológico significativo. Segundo informações da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a produção científica no País cresceu quase 30 vezes em um intervalo de 26anos. As verbas para o setor de pesquisa em saúde deverão aumentar sobremaneira com o novo fundo para investigação recentemente anunciado pelo Ministério da Saúde.  

As políticas em curso no Brasil não esquecem os desafios e oportunidades que a globalização está trazendo ao País. Lembrou recentemente o Presidente Fernando Henrique Cardoso que, "queiramos ou não, a globalização econômica é uma nova ordem internacional. Precisamos aceitar esse fato com sentido de realismo; do contrário, nossas ações estarão destituídas de qualquer impacto efetivo. Isso não significa inércia política, mas uma perspectiva inteiramente nova sobre as formas de agir na cena internacional".  

O contexto internacional, no limiar do terceiro milênio, exige fortalecimento das relações do Brasil com seus parceiros e amigos. No caso do relacionamento árabe-brasileiro, os novos desafios estão acompanhados por perspectivas promissoras, tanto aqui, quanto lá. Fatos positivos têm-se sucedido no processo de conciliação entre os povos do Oriente Médio. O Brasil acompanha com especial interesse e satisfação os avanços na construção da paz, segurança e estabilidade no Oriente Médio. A pacificação regional propiciará, certamente, a intensificação das relações brasileiras com todos os países da área, com benefícios às nossas respectivas sociedades.  

Estou seguro de que os trabalhos que aqui terão início oferecerão oportunidade ímpar para que se avalie o estado atual do relacionamento entre o Brasil e o mundo árabe para que se definam áreas de maior potencial para a intensificação dessa relações e, sobretudo, para que se revitalizem os laços da nossa tradicional amizade. É o que desejam o governo e o povo brasileiros.  

Senhores e Senhores, tenham todos um bom trabalho.  

Aos ilustres conferencistas e às destacadas personalidades árabes e brasileiras que muito honraram o governo brasileiro ao aceitar o convite para participar do seminário, minhas calorosas boas-vindas.  

Sua presença assegura qualidade e êxito a esta iniciativa. Quero agradecer, ainda, a presença dos convidados, cujo comparecimento nos prestigia e estimula.  

 

Muito obrigado.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2000 - Página 12100