Discurso durante a 75ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

CARATER DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE PROMOVIDA PELAS IGREJAS CRISTÃS SOB O TEMA DIGNIDADE HUMANA E PAZ 2000: NOVO MILENIO SEM EXCLUSÃO.

Autor
Djalma Bessa (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Djalma Alves Bessa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • CARATER DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE PROMOVIDA PELAS IGREJAS CRISTÃS SOB O TEMA DIGNIDADE HUMANA E PAZ 2000: NOVO MILENIO SEM EXCLUSÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2000 - Página 12351
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, ASSUNTO, DESIGUALDADE SOCIAL, COMBATE, EXCLUSÃO, CLASSE SOCIAL, ELOGIO, INTEGRAÇÃO, IGREJA, CRISTÃO.
  • IMPORTANCIA, RECOMENDAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, MOBILIZAÇÃO, NATUREZA SOCIAL, APOIO, MENOR ABANDONADO, REFORMA AGRARIA, COOPERATIVA, COLABORAÇÃO, SINDICATO, DEFESA, DEMOCRACIA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO.

O SR. DJALMA BESSA (PFL – BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo à tribuna, hoje, com propósitos bem menos seculares que os de costume. Vou explicar-me.  

Embora – pelo menos em tese – há muito o Estado tenha deixado de ser questão da Igreja, o inverso nem sempre tem sido verdadeiro. E nem o poderia. Especialmente quando o tom do enunciado se remete ao elogio, ao reconhecimento da contribuição religiosa para o esclarecimento das coisas no mundo.  

Sem mais rodeios, trata-se de exaltar, aqui, a recente publicação Dignidade Humana e Paz 2000: Novo Milênio sem Exclusões .  

Mais que o tema, a novidade dessa campanha prende-se à forma coletivizada, ecumênica, com que a Igreja Católica Apostólica Romana resolveu organizar sua realização. Ao descentralizar os trabalhos, inovou sua prática evangélica, compartilhando a celebração da Quaresma e da Semana Santa com a Igreja Católica Ortodoxa Sírian do Brasil, a Igreja Cristã Reformada do Brasil, a Igreja Episcopal Anglicana, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Presbiteriana Unida e a Igreja Metodista. Minimizando históricas diferenças, todas se reuniram para, solidariamente, vivenciar a preparação e a renovação da Páscoa.  

Juntas pela primeira vez, elaboraram os trabalhos que orientaram as atividades da Campanha da Fraternidade. Não será exagero dizer que o desempenho dessa empreitada religiosa, ineditamente ecumênica, foi coberto de enorme sucesso e de adesão em todo o País. Integrantes do Conic – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs –, as setes entidades se comprometeram a discutir e a, coletivamente, redigir o texto-base da Campanha da Fraternidade 2000, inspiradas pela luz divina que, a todo momento, irradia sua luminosidade sobre espíritos e propostas que, verdadeiramente, visam à superação dos conflitos temporais.  

Nessa linha, o objetivo geral da campanha consistiu em unir as igrejas cristãs no testemunho comum da promoção de uma vida digna para todos, na denúncia das ameaças à dignidade humana e no anúncio do evangelho da paz. Se, no âmbito do objetivo geral, predominou um sentido mais abstrato e filosófico, no campo dos objetivos específicos, ao contrário, prevaleceram os pontos mais concretos para pronta intervenção no mundo. Dentre tais pontos, sobressaíram-se a defesa dos direitos das minorias frágeis e marginalizadas, a luta por conquistas sociais e democráticas, bem como o repúdio ao apartheid social e econômico vigente.  

Apesar da distância que separa a vontade de intervir e sua concreta efetivação na realidade – ainda que nos estejamos referindo ao plano divino –, já é de muito avanço a concretização da aliança das sete igrejas. Isso correspondeu, na prática, a um gesto assaz significativo, um sinal de esforço para superar as exclusões no meio dos discípulos de Jesus. A própria iniciativa de conduzir em conjunto as atividades da Campanha da Fraternidade deve ser lida como um exercício de valorização do direito de participação, de diálogo, de acolhimento fraterno dos excluídos.  

Por outro lado, cumpre registrar que a história das campanhas da fraternidade data já de 36 anos, o que lhe rende um estatuto de muito engajamento e seriedade na realidade espiritual, mediante reflexões muito profundas na vida secular. Convicta da associação inextricável entre o sagrado e o profano, entre as coisas do céu e da terra, a Igreja Católica fundava, em 1964, o ciclo fecundo das campanhas da fraternidade, cujo desenvolvimento deveria, durante o ano litúrgico da Igreja, coincidir com o período extremamente contrito da Quaresma.  

Como é sabido, o texto-base da Campanha se alterna anualmente e serve para alimentar e animar o espírito cristão do povo brasileiro, que se envolve religiosamente num processo de meditação de vultosa implicação renovadora. Enfatizando, em 2000, a relevância da temática que cerca o culto à dignidade humana e à paz, a comissão ecumênica da Campanha da Fraternidade enfeixou seu interesse na construção de um mundo mais justo e menos cruel para a parcela desfavorecida e miserável do País, que hoje corresponde a quase 50% da população brasileira.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste ano, como dizia, o tema não poderia ser outro senão "Dignidade Humana e Paz: Novo Milênio sem Exclusões", que se debruça essencialmente sobre os efeitos perversos da globalização, esgarçando cruelmente o tecido social dos países do Terceiro Mundo. Observando de perto tal preocupação, o texto-base expressa: "A Campanha é um convite a olhar a realidade da vida das pessoas e a organização da sociedade com a ajuda da luz que provém da Palavra de Deus". Em outras palavras, pretende-se mobilizar um mutirão de ações libertadoras pelas quais os cristãos possam, concretamente, contribuir para o surgimento de mudanças substanciais nas condições de vida no Brasil.  

É nesse sentido que compreendo as palavras enunciadas pelo Frei Beto quando solicitado a comentar a Campanha da Fraternidade 2000. Para ele, o texto-base procura fotografar "os porões da vida", eivado de sérias denúncias, que desembocam nos focos de trabalho escravo e infantil em variados pontos do território brasileiro. Além disso, não deixa de chamar a atenção de todos para o grave problema da discriminação do negro, da mulher e do índio no Brasil.  

Para dar conta de tão complexo conteúdo, a Campanha da Fraternidade 2000 não reduziu seu discurso a mero diagnóstico da dramática realidade nacional. Pelo contrário, propõe ações bem pontuadas, para não dizer arrojadas. Entre elas, convida todos à criação de grupos e movimentos dispostos a assumir a causa do menor abandonado e explorado; à colaboração com os sindicatos; à participação nos Conselhos Paritários; ao favorecimento de cooperativas; ao apoio à luta pela terra, à reforma agrária; à organização de trabalhos comunitários; à luta por políticas democráticas de comunicação; à instrumentalização dos meios de comunicação das Igrejas a serviço das causas populares; enfim, ao apoio e participação em movimentos sociais.  

Diante do exposto, por mais que discordemos e divirjamos de uma visão carregadamente catastrófica do Brasil, não podemos deixar de admitir que a preocupação das Igrejas cristãs procede e deve ser levada em especial consideração. Podemos discordar – e o fazemos – do caráter, digamos assim, extremista de suas propostas corretivas. Mas isso, em hipótese alguma, invalida o convite ecumênico que a Campanha da Fraternidade 2000 tão carinhosamente nos endereça, na expectativa de que as diferenças entre os brasileiros sejam radicalmente superadas, mediante a abertura para o diálogo, para a comunhão de uma realidade melhor.  

Em resumo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cabe ao Congresso Nacional e ao Senado, em particular, prestar justa homenagem à Congregação das Igrejas Cristãs, da qual surge proposta reflexiva tão densamente formulada, como foi o caso do texto-base da Campanha da Fraternidade 2000 Ecumênica. Que de iniciativas extremamente valiosas como esta se recubram as Igrejas e o Estado brasileiro, para que o destino do País retome com rapidez seu curso de paz, progresso e desenvolvimento.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2000 - Página 12351