Pronunciamento de Sebastião Bala Rocha em 13/06/2000
Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
REGOZIJO COM A VITORIA DO TENISTA GUGA, NO TORNEIO DE ROLAND GARROS. REGISTRO DO LAMENTAVEL ESPISODIO QUE CULMINOU COM A MORTE DA PROFESSORA, GEISA, EM SEQUESTRO DE ONIBUS ONTEM NO RIO DE JANEIRO. CARTA ABERTA AS ESQUERDAS BRASILEIRAS, COM ESCLARECIMENTOS SOBRE OS ULTIMOS ACONTECIMENTOS ENVOLVENDO O GOVERNADOR JOÃO ALBERTO CAPIBERIBE E INSTITUIÇÕES PUBLICAS DO AMAPA.
- Autor
- Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
- Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
SEGURANÇA PUBLICA.
ESTADO DO AMAPA (AP), GOVERNO ESTADUAL.:
- REGOZIJO COM A VITORIA DO TENISTA GUGA, NO TORNEIO DE ROLAND GARROS. REGISTRO DO LAMENTAVEL ESPISODIO QUE CULMINOU COM A MORTE DA PROFESSORA, GEISA, EM SEQUESTRO DE ONIBUS ONTEM NO RIO DE JANEIRO. CARTA ABERTA AS ESQUERDAS BRASILEIRAS, COM ESCLARECIMENTOS SOBRE OS ULTIMOS ACONTECIMENTOS ENVOLVENDO O GOVERNADOR JOÃO ALBERTO CAPIBERIBE E INSTITUIÇÕES PUBLICAS DO AMAPA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/06/2000 - Página 12945
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. SEGURANÇA PUBLICA. ESTADO DO AMAPA (AP), GOVERNO ESTADUAL.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, GUSTAVO KURTEN, ATLETA PROFISSIONAL, PREMIO, CAMPEONATO MUNDIAL, TENIS, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
- COMENTARIO, CARTA ABERTA, AUTORIA, ORADOR, DESTINATARIO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), CONGRESSISTA, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, SUSPEIÇÃO, GOVERNADOR, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, TRIBUNAL DE CONTAS, ESTADO DO AMAPA (AP), AMBITO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), TRAFICO, DROGA, CORRUPÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, NEPOTISMO.
- SOLICITAÇÃO, CRIAÇÃO, COMISSÃO DE ETICA, AMBITO NACIONAL, VISITA, ESTADO DO AMAPA (AP), OPOSIÇÃO, IMPUNIDADE.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA
(Bloco/PDT - AP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, antes de entrar na parte central do meu pronunciamento, a respeito de uma Carta Aberta
às Esquerdas Brasileiras sobre a realidade política no Estado do Amapá, gostaria de fazer um pequeno registro de duas cenas de grande emoção que hipnotizaram o povo brasileiro.
No domingo, a vitória espetacular de Guga, em Roland Garros, que o colocou como número um do tênis e trouxe de volta a alegria, a determinação e a brasilidade aos corações brasileiros.
Já ontem, infelizmente, assistimos, com tristeza, a cenas chocantes e morte, pela televisão, resultado da violência urbana que grassa em nosso País e que deixa o povo brasileiro em desvantagem em relação ao crime organizado, situação que deve merecer a máxima e a mais profunda atenção do Parlamento e das autoridades brasileiros.
Amanhã, como estou inscrito, se houver oportunidade, farei um pronunciamento, da Tribuna do Senado, sobre a questão da violência no Brasil.
Mas o tema central do meu pronunciamento de hoje é uma Carta Aberta às Esquerdas Brasileiras, no cumprimento do meu papel de esclarecer e alertar sobre os episódios que envolvem o Governador do Amapá, João Alberto Capiberibe, a Assembléia Legislativa e o Tribunal de Contas do Amapá. Não quero fazer disso um cavalo de batalha, como já disse, pois não é a razão principal do meu mandato como Senador, mas não posso também ser omisso e deixar de oficializar minha posição a respeito do assunto.
Esta carta está sendo enviada aos presidentes de todos os partidos de oposição, aos líderes dos partidos no Congresso Nacional e a todos os parlamentares do PT, do PDT, do PSB e do PCdoB:
"Os últimos acontecimentos envolvendo o Governo do Amapá e os demais poderes estaduais, trouxeram a Brasília o Governador João Alberto Capiberibe, em busca da solidariedade dos partidos democráticos de Esquerda e de suas principais lideranças nacionais.
No dia 8 de junho de 2000, ocorreu um ato público nesta capital, onde Governadores, Presidentes de Partidos, Líderes Congressistas, Senadores e Deputados Federais prestaram solidariedade ao governador amapaense.
Considero legítima a tentativa das forças democráticas de Esquerda de lutarem para resgatar e manter nos seus quadros o filiado do PSB, Governador do meu Estado, com quem tenho pontuais, porém profundas divergências.
Temos um consenso: a apuração de denúncias e a punição exemplar daqueles que estiverem envolvidos com o narcotráfico. Nesse aspecto, solicito gestões junto ao Ministério da Justiça, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal para reforçar as investigações e varrer de nossa terra esta repugnante prática delituosa.
No campo da corrupção, afirmo que o Governador Capiberibe estabeleceu, a partir do final do ano de 1995, uma relação de transigência, conivência e parcimônia com o Poder Legislativo e o Tribunal de Contas do Estado, que envolve repasses irregulares e injustificáveis de recursos, além do previsto no orçamento, à Assembléia Legislativa, para obter maioria, desmobilizar CPIs e aprovar seus projetos. Começava ali um espúrio relacionamento: de um lado, a Assembléia, segundo Capiberibe, chantageando, barganhando e extorquindo o Governador, e, de outro, S. Exª, ao submeter-se a tais procedimentos ilícitos tornava-se suspeito de cumplicidade e co-patrocínio dos desmandos praticados, além de manietado pelo Legislativo Estadual. Observe-se que, somente no ano passado, o Governador repassou R$8 milhões, além do duodécimo, à Assembléia Legislativa. A apuração da corrupção, portanto, para que se faça justiça, deve ser direcionada à Assembléia Legislativa, ao Tribunal de Contas do Estado e ao Executivo Estadual.
Ressalte-se que o Governador Capiberibe foi apoiado na sua reeleição pelo ex-Presidente da Assembléia Legislativa, hoje Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Júlio Miranda, e pela Presidente do Tribunal de Contas do Estado, Margarete Santana, ambos acusados pelo Governador de "ladrões e chefes do narcotráfico" no Amapá. Considere-se que Margarete Santana foi beneficiada por Capiberibe, que vetou, há algum tempo, um projeto aprovado na Assembléia proibindo a reeleição para a Presidência do TCE, o que assegurou a recondução de Margarete, numa articulação do Governador com a Assembléia, que manteve o veto de sua excelência.
Por outro lado, não é prática das esquerdas nomear parentes de chefe do poder executivo para membros dos Tribunais de Contas. No Amapá, o Governador Capiberibe, que deseja refletir em nível nacional uma imagem de paradigma das boas práticas políticas dos partidos de Esquerda, indicou e nomeou sua irmã, a ex-Deputada Federal Raquel Capiberibe, Conselheira do Tribunal de Contas do Estado, na vaga pertencente ao executivo estadual. Este ato também tem o apoio e a solidariedade dos nossos Partidos?
Ao contrário da Assembléia Legislativa e do TCE, a Justiça do Amapá goza de credibilidade junto à opinião pública amapaense. A corrupção existente é localizada e não disseminada. Quanto a eventual envolvimento de magistrados com o narcotráfico deve ser devidamente investigado, pois, se comprovado, certamente atinge um pequeno segmento do Judiciário, sem no entanto contagiar todo o Poder. Defendo a apuração e a devida punição dos envolvidos.
A Vice-Governadora Dalva Figueiredo, no meu entendimento, está isenta de qualquer comprometimento com as denúncias mencionadas.
Tendo o assunto em pauta assumido proporções nacionais, gostaria de alertar que apoio incondicional, neste caso, pode ser sinônimo de permissividade e não de solidariedade, esvaziando o discurso das oposições contra o Governo Federal e alguns Governos Estaduais aos quais PT, PSB, PDT e PCdoB fazem oposição.
A pergunta que faço é: por que somente depois que a CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados investigou o nosso Estado e descobriu tais irregularidades é que o Governador amapaense busca o apoio e a solidariedade das lideranças partidárias nacionais? Por que não o fez antes que se tornasse prisioneiro e refém da Assembléia Legislativa?
Trata-se de uma situação extremamente delicada, onde, se os referidos partidos democráticos não tiverem a devida cautela e a necessária precaução, poderão estar incorrendo num equívoco histórico, que tenha como desfecho a perda da respeitabilidade em nível nacional, conquistada com tanto esforço e que precisa ser preservada.
O que peço neste grave momento é que seja designada uma comissão de ética, integrada por membros das comissões de ética nacionais e parlamentares dos partidos citados, para visitar o Amapá e proceder a uma profunda análise dos fatos e não apenas para participar de atos públicos, sem conhecimento de causa sobre o mérito em questão.
Solicito, por outro lado, todo o empenho necessário no sentido de mobilizar a grande imprensa nacional para que faça, de forma isenta e responsável, a cobertura dessa situação de calamidade política no Estado do Amapá.
O Governador Capiberibe tenta desclassificar, na origem, as denúncias que pesam contra si e contra o seu governo, inclusive de desvio de R$12 milhões do Fundef, sob a alegação de que a Assembléia Legislativa e o TCE do Amapá não têm moral para investigá-lo e puni-lo. Não se pode esquecer que o Congresso Nacional, ao cassar Collor de Mello, era integrado pelos anões do orçamento, que foram cassados posteriormente, com base no depoimento de um assassino cruel, autor de um crime hediondo.
A Oposições poderiam pelo menos levar em conta a atitude do ex-Presidente Itamar Franco, que, ao receber denúncias contra um dos seus principais ministros, o afastou temporariamente até que os fatos fossem devidamente esclarecidos. Até mesmo os Senadores Antonio Carlos Magalhães, aqui presente, e Jader Barbalho foram recentemente censurados pelo Senado.
Não peço o rigor da lei, porém, pelo menos a lei. Resgate sim, impunidade não!
Essa é a carta aberta que estou encaminhando a todas as Lideranças dos partidos de esquerda em nosso País.
Muito obrigado, Sr. Presidente.