Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO JORNALISTA CARLOS CASTELLO BRANCO.

Autor
Hugo Napoleão (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Hugo Napoleão do Rego Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO JORNALISTA CARLOS CASTELLO BRANCO.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2000 - Página 13044
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CARLOS CASTELLO BRANCO, JORNALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI), OPORTUNIDADE, ELOGIO, ATUAÇÃO, IMPRENSA, PAIS.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL – PI. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Senador Antonio Carlos Magalhães, Senador Lúdio Coelho, Ministra Élvia Castello Branco, Dr. Nascimento Brito, Ministro e Conselheiro Ronaldo Costa Couto, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, no dia 18 de junho de 1993, escrevi, redigi e foi publicado, no Jornal do Brasil , artigo de minha autoria, intitulado "Os que não morrem", dedicado a Carlos Castello Branco. Foi uma opinião modesta, mas sincera, daquele de um dos milhares de brasileiros que admiravam Carlos Castello Branco.  

Relatava nesse artigo a lembrança que tinha exatamente do momento em que voamos para Teresina, Castello ou Castellinho, como nós afetuosamente o chamávamos, a Ministra Élvia, o Presidente José Sarney, o Deputado Paes Landim, minha mulher e eu, e íamos ouvindo de Castello as coisas da atualidade.  

Mas era impressionante como ele – e ele como ninguém – interpretava e conhecia os fatos, quaisquer que fossem as óticas, sobretudo as do Governo, as da Oposição ou as da sociedade brasileira. Eu mesmo, que então era Ministro de Estado das Comunicações, recordo-me que, presidente licenciado que era do meu Partido da Frente Liberal, tomei conhecimento de assuntos e fatos que eu mesmo não sabia, na intimidade do meu Partido, espelhados por Carlos Castello Branco, naquela uma hora e cinqüenta minutos de Brasília a Teresina.  

Lá houve duas homenagens: uma da Academia Piauiense de Letras, à qual tenho a honra de pertencer, e outra na inauguração do busto do Desembargador Cristino Castello Branco, seu pai, exatamente diante do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí. As homenagens o comoveram. Aliás, um livro magnífico, Frases e Notas , de Cristino Castello Branco, revela por que, também, nos traços de ancestralidade, Castello tinha aquela postura de saber.  

Mas Castello, acima de tudo, amava sua terra. A característica básica o era piauiensidade, da qual ele jamais se afastara, para manter, na terra que admirava e que queria bem, os laços que jamais abandonou.  

Quando vejo, neste plenário, também seu sobrinho, Paulo Castello Branco, recordo as conversas que tivemos já nos últimos anos de sua vida. Evoco que realmente Castello era um sábio.  

O mais interessante é que no trânsito que teve nas escolas, no Grupo Escolar Teodoro Pacheco, no Liceu Piauiense, ele, desde cedo, revelou pendores para a imprensa, porque passou a fazer parte de um jornal chamado A Mocidade , jornal de estudantes, em Teresina, Piauí. Mas nunca perdeu as características de piauiense, sempre as manteve, até mesmo na culinária. Uma ocasião, quando recebeu a Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí, no grau de Grã-Cruz, das mãos do ex-Governador, o saudoso Dirceu Arcoverde, ele chegou a Brasília e, em sua coluna, fez uma verdadeira ode à Teresina. E concluía dizendo: "... afinal todos cantam a sua terra. Teresina é a minha terra e eu a canto também. Teresina é a terra do meu coração!"  

Em outra oportunidade, a também piauiense, a jornalista Teresa Cardoso escreveu no Jornal do Brasil um magnífico artigo a respeito de Castello. Dizia: "Castelo me levou algumas vezes ao Piauí. Em uma das vezes, tomei um táxi para rever lugares que eu deixara na minha mocidade. Eis que se não, quando vou a uma feira, encontro Castello comprando tudo aquilo que se compra em uma feira nordestina. Era coco, era caju, castanha e manga rosa, enfim, lá estava Castello", dizia Teresa Cardoso, "que era, na essência, o mais elementar dos piauienses."  

Esse é o Carlos Castello Branco que saiu de Teresina, combinado com seu pai, e foi para as Alterosas do Senador Francelino Pereira. Lá, então, dedicou-se inicialmente ao estudo do Direito. Formou-se em advocacia e chegou a advogar um pouco, mas não era essa realmente a sua grande vocação. A sua grande vocação era o jornalismo. Ingressou no Estado de Minas , como bem salientou o Senador Freitas Neto. Na verdade, no Estado de Minas deu os seus primeiros passos e fez amizade com Fernando Sabino, com Paulo Mendes Campos, com Autran Dourado, com Otto Lara Resende, com Hélio Pelegrino, enfim, com uma plêiade de homens ilustres de Minas Gerais, chegando a participar inclusive de amizade com os fundadores da antiga União Democrática Nacional – UDN, mas jamais se filiou ou ingressou em partido político.  

Realmente, convidado por Carlos Lacerda para trabalhar no Diário Carioca , não chegou a ir, nessa etapa, porque Lacerda saiu desse periódico, mas acabou indo depois para esse e tantos outros, para a Província do Pará , para A Noite, para o Diário da Noite, para O Cruzeiro , para O Jornal , para a Tribuna da Imprensa , para tantos e tantos jornais, quer como secretário, subsecretário, editor, relator, redator político, enfim, Castello realmente abraçou por inteiro a profissão. E chegou realmente a despertar a maior e a melhor atenção de todos os seus milhares de leitores, seguidores e admiradores.  

Teve uma existência bonita, teve uma existência impecável, teve uma existência que fazia com que todos nós, políticos, tivéssemos, obrigatoriamente, para saber das coisas, que ler a Coluna do Castello . Coluna essa escrita sempre com maestria. E como a pena lhe fluía bem da mão! No final, já era o computador, na sua sala, no Edifício Denasa, aqui no centro de Brasília, onde eu costuma visitá-lo – apenas eu não, havia uma verdadeira romaria de políticos – para saber das coisas. O mais interessante é que ele realmente a nós nos ensinava, com aquela simplicidade que lhe era inerente.  

Mas nem só de flores foi a sua vida. Houve momentos difíceis, houve momentos duros, houve, por exemplo – e eu que fui advogado de prisioneiro político sei disso –, momentos em que a sua coluna deixou de ser publicada. Houve o momento em que o sistema autoritário o prendeu. Houve momentos em que ele teve o dissabor de ver a sua coluna não publicada nos jornais.  

Em uma certa época era publicada na página 4, mas restaurou-se logo. O amor à independência do Jornal do Brasil restabeleceu a coluna na página 2, na "Coluna do Castello", leitura obrigatória para todos nós que efetivamente quiséssemos – como disse – saber das coisas.  

Mas Barbosa Lima Sobrinho definiu bem a coluna do Castello. Quando ele assim a intitulou, demonstrou, efetivamente, que a coluna era uma propriedade que só podia ser sua e não podia ser de mais ninguém, tinha o seu toque pessoal, personalista. E aí, convidado por Nascimento Brito, inicialmente na Tribuna da Imprensa e, finalmente, no Jornal do Brasil , a sua casa definitiva, ele então passou a ser realmente o mestre da Ciência Política e do conhecimento. Castello era, acima de tudo, um homem que sabia das coisas. Depois, continuou a sua vida: foi para a Academia Brasileira de Letras e para a Academia Piauiense de Letras. Nesse momento, até Josué Montello disse: "pôs um jornalista no lugar de outro. Sinal de que, na casa das Letras, os mestres de jornal têm o seu espaço ...". Assim foi a vida de Castello.  

Quando foi para a Academia Brasileira de Letras, eu era Governador do meu querido Estado do Piauí. O Estado lhe ofereceu o fardão. Aliás, tive a honra também de, quando Ministro de Estado das Comunicações, oferecer-lhe a Ordem das Comunicações e o selo comemorativo, com conhecimento e participação decisiva do Presidente Itamar Franco.  

Esses e outros pertences de Castello encontram-se hoje na Casa da Cultura, em Teresina, que pertence à Fundação Monsenhor Chaves. Lá, diria eu, com o desprendimento da Ministra Elvia Castello Branco, estão pertences sagrados que eram de Castello.  

No entanto, Ministra Elvia, não posso me esquecer de um fato que me tocou profundamente o coração. Bem sabe V. Exª que eu fui operado em circunstâncias difíceis em Houston, no Texas, quando nosso querido e saudoso Castellinho fazia uma de suas revisões médicas naquela cidade. A Ministra Elvia e Castello - digo isso profundamente emocionado – não arredaram pé da ante-sala do centro cirúrgico enquanto o médico, Dr. Clifton Mountain, não trouxe o resultado e disse, para minha felicidade: " It’s not cancer ", ou seja, "não é câncer." Eles não saíram de lá. E todos os dias, pela manhã, V. Exª e Castellinho me levavam os jornais da manhã, enquanto eu, no leito, recuperava-me de uma difícil e delicada cirurgia. Isso fica para o resto da minha vida, com aquele tom de saudade. Saudade também das conversas inúmeras, diria até imorredouras e exemplares.  

De tudo isso, do sofrimento que V. Exª teve e ele também, por ocasião do falecimento do Rodrigo – mas aí estão Luciana e Pedro para dar-lhe guarida e agasalho e honrar o saudoso pai –, de toda essa trajetória bonita que o casal teve, em tantas e tão belas oportunidades, o sentimento que me domina é o da emoção e da saudade.  

Senhoras e Senhores, Castello foi e continua a ser um grande.  

(Palmas.) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2000 - Página 13044