Pronunciamento de Romeu Tuma em 14/06/2000
Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO PRESIDENTE DA SIRIA, HAFEZ EL-ASSAD.
- Autor
- Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO PRESIDENTE DA SIRIA, HAFEZ EL-ASSAD.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/06/2000 - Página 13128
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, HAFEZ EL-ASSAD, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, SIRIA, ELOGIO, ESTABILIDADE, GOVERNO, ATUAÇÃO, BENEFICIO, PAZ, ORIENTE MEDIO.
O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Para encaminhar.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, Hafez El-Assad, estadista que governou a Síria por 30 anos, faleceu sábado último, dia 10, em Damasco. Um ataque cardíaco, ao vitimá-lo, abriu imensa lacuna no processo de paz no Oriente Médio, privando-o de um dos mais preeminentes líderes. O Presidente sírio teve o corpo sepultado ontem na cidade de Kardaha, onde nasceu em 1930, numa família alauíta, doutrina islâmica que professou por toda a vida.
Mas, quem era esse homem cujo desaparecimento fez chorar a gente simples e os poderosos nas cidades e nos campos do país de meus ancestrais? Quem era esse homem que levou milhares e milhares de pessoas de todas as condições sociais às ruas para prantear a passagem do cortejo fúnebre? Quem era esse homem de origem humilde que, ao falecer, motivou lamentações até de antigos opositores e reuniu, ao redor de seu féretro, representantes das maiores potências?
Hafez El-Assad agigantou-se no exercício do poder e conseguiu fazer-se admirado como guia de um povo milenar. Transformou-se em símbolo de estabilidade numa região em que, sem ela, nunca se alcançará a paz - conforme se depreende da nota emitida pelo Governo de Israel, por intermédio de seu Conselho de Ministros, para declarar “compreender a dor do povo sírio” e afirmar sua intenção de “seguir trabalhando para obter a paz com Damasco, qualquer que seja a sua liderança.” Por sua vez, o Líder palestino Yasser Arafat, cujas relações com Hafez sempre foram tensas, decretou luto oficial de três dias em territórios autônomos e emitiu nota oficial, dizendo: “Em nome do povo palestino, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e da Autoridade Palestina, o Presidente Yasser Arafat compartilha com o povo sírio e as nações árabes a dor pela perda do Presidente Hafez el-Assad.” E, em Beirute, o Governo do Primeiro Ministro Selim El-Hoss qualificou o falecimento de grande catástrofe e decretou uma semana de luto oficial.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como filho de imigrantes sírios, vindo da histórica cidade de Homs, localizada na região que é berço da civilização ocidental, não poderia me cala e deixar sem registro o passamento desse Líder que soube unificar e dirigir um país antes marcado por contínuas crises político-institucionais, responsáveis pela infelicidade de um povo sem rumo e sem perspectivas.
Filho de Ali Slimane El-Assad e Naissa El-Assad, Hafez desenvolveu os primeiros estudos entre a cidade natal, no Norte do País, a Latakia, maior porto sírio, situado a 30 quilômetros de onde nascera. Jovem ainda, ingressou no Partido Baath - Partido Socialista do Renascimento Árabe -, na época em que a Síria se tornava independente da França. Depois, entrou na Academia Militar de Homs e logo conseguiu aprovação para cursar a Escola de Aviação de Alepo, onde granjeou o respeito e a admiração de seus companheiros, característica pessoal que iria acompanhá-lo por toda a carreira. Em 1966, quando Ministro da Defesa, cercou-se de homens de confiança e, quatro anos depois, afastou o Presidente Nureddin Atassi para conquistar o poder e governar com as Forças Armadas, no sentido de recompor a ordem e a disciplina no país, já com o intuito de transformá-lo na potência regional que é hoje. Quatro meses depois, foi eleito Presidente da República por sufrágio universal.
Amado por seu povo, sempre se mostrou amigo dos emigrantes e de seus descendentes. Promoveu inúmeros encontros e congressos entre esses, em solo sírio, para lhes mostrar a importância de conhecer a terra dos ancestrais, de maneira a poder admirá-la e respeitá-la conscientemente.
Certa vez, numa reunião com líderes comunitários de origem árabe, representantes de diversas nações latino-americanas na FEARAB América - Federação das Entidades Americano-Árabes - perguntaram-lhe o que poderiam fazer para ajudar a Síria. Com simplicidade, Hafez respondeu-lhes: “Sejam bons cidadãos em seus países, honrando-os e respeitando-os para que eles respeitem as pátrias de origem de seus pais.”
Homem de ferro, tinha, porém, alma poética e veia romântica que o prendiam a conversas amenas, repletas de referências históricas, e o revelavam como o sonhador que almejava ver o dia no qual todos reconhecessem o valor da contribuição árabe para a humanidade. Amigo declarado do Brasil e da América Latina, costumava manifestar o desejo de visitá-la, mas os afazeres de Estado o impediram.
Meu irmão Rezkalla, Vice-Presidente da FEARAB América incumbiu-se de apresentar à família do Presidente falecido e ao povo sírio as condolências de minha família - e peço que seja por este Senado também - desejando-lhes que, mesmo com o desaparecimento do incontestável líder e comandante na caminhada rumo à paz, continuem na busca de um mundo melhor para as futuras gerações do povo árabe e de toda a humanidade.
Espero que o espírito de Hafez El-Assad continue a nortear essa caminhada, para que chegue a bom termo.
Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância e pela oportunidade que me deu!