Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO JORNALISTA ALEXANDRE JOSE BARBOSA LIMA SOBRINHO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO JORNALISTA ALEXANDRE JOSE BARBOSA LIMA SOBRINHO.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2000 - Página 15477
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, BARBOSA LIMA SOBRINHO, JORNALISTA, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, DEFESA, DEMOCRACIA, BRASIL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Creio, Sr. Presidente, que o Brasil inteiro sentiu a perda de Barbosa Lima Sobrinho. Ele viveu 103 anos e teve uma biografia de trabalho, de lutas e de esforços. Devíamos agradecer a Deus por ele ter vivido tanto tempo, com tanta força e tanto espírito público. Estávamos tão acostumados a conviver com Barbosa Lima Sobrinho, com suas crises, com a fórmula com que as superava, que, de certa forma, o imaginávamos meio imortal. Infelizmente, chegou o seu dia. Acho muito difícil encontrar-se, na história do Brasil, alguém que se assemelhe à sua biografia. Temos grandes nomes, grandes lideranças, grandes jornalistas, grandes políticos, grandes homens públicos, mas Barbosa Lima Sobrinho era diferente. Ele era especial. Difícil será encontrarmos alguém como ele, com seu estilo, sua linha, a retidão do seu caráter, a retidão da sua vida.

Ele começou por cima, como parlamentar constituinte; foi governador de Pernambuco - aliás, um grande governador. Não se apaixonou pela política de todo e se dedicou ao jornalismo. Tendo dedicado toda a sua vida ao jornalismo, ele não apenas foi um grande e brilhante jornalista: foi também o exemplo vivo da ética no jornalismo. Barbosa Lima Sobrinho era o código de ética vivo do jornalismo, era o exemplo de como fazer jornalismo. Além disso, foi também exemplo de cidadão, mostrou-nos como cumprir a cidadania.

Ao lado de sua esposa, sempre manteve a sua fé, a sua linha. O mundo mudou, foi para lá e para cá - viu aparecer o nazismo, o Estado Novo, o regime militar, o comunismo, o liberalismo etc. - e ele sempre foi o mesmo, sempre sustentou uma linha nacionalista de defesa de seu país, da economia de seu país - país que ele sabia ser grande, mas que ele queria que fosse grande para todos os seus filhos. Barbosa Lima Sobrinho fazia dos seus artigos um tratado de defesa dos princípios que ele defendia para a vida brasileira.

Vendo Barbosa Lima Sobrinho e lendo a sua obra, duas coisas chamam a atenção. A primeira delas é que ele sempre foi o mesmo; apesar das mudanças do mundo, das mudanças de interesses, ele sempre foi o mesmo. A segunda delas era a sua lucidez. Agora no final, há um ou dois meses, ficávamos boquiabertos ao ver seus artigos no JB: eles eram uma paulada nos leitores em razão do tamanho e da força dos fatos que ele narrava. Descrevia a trajetória desses fatos desde o início do século, etapa por etapa: como vinham acontecendo, como eram e como são; o que deveríamos enfrentar, os desafios que viriam pela frente. E as análises que ele fazia da Petrobras? Parecia que ele estava vivendo a época “o petróleo é nosso”; parecia que ele estava vivendo o crescimento do petróleo e a crise que a Petrobras está enfrentando hoje.

Nunca me esqueço, Sr. Presidente, de alguns fatos relacionados ao impeachment - o Senador Eduardo Suplicy deve se lembrar deles também. Quando concluída a CPI que apurou as denúncias de Pedro Collor contra PC Farias e ficaram provados os fatos que atingiam o governo de Fernando Collor, reunimo-nos todos - várias lideranças, praticamente todos os grandes líderes de oposição - numa sala para estudarmos a metodologia, a fórmula para apresentar aquele pedido impeachment do Presidente. O trabalho foi desenvolvido com extrema seriedade e rigidez, esforçamo-nos ao máximo para evitar a coloração política de perseguição, como aconteceu com relação a Vargas e João Goulart. Na nossa comissão o ambiente era de busca da verdade e nesse clima surgiu a dúvida em torno de quem deveria assinar o documento. Diante da sugestão de que deveriam assinar todos os parlamentares, todas as grandes entidades, fiz uma proposta e tive a honra de vê-la aceita imediatamente por unanimidade. Sugeri que o impeachment tivesse duas assinaturas: a primeira seria a do cidadão Barbosa Lima Sobrinho - ele também era presidente da ABI, mas assinaria como o cidadão Barbosa Lima Sobrinho - e a segunda seria do presidente da OAB. E foram essas as duas assinaturas com as quais nós encaminhamos ao Dr. Ibsen Pinheiro, Presidente da Câmara dos Deputados, o pedido de impeachment.

Barbosa Lima Sobrinho aqui esteve para prestar a sua solidariedade naquele momento - lembro-me de passagens e gostaria de passar o tempo falando sobre ele, Sr. Presidente. Houve um momento, quando a oposição começou a reagir ao regime militar, em que decidimos lançar a figura do anticandidato. Não podíamos aceitar que um general nomeasse outro general e perante o mundo tudo se passasse como se vivêssemos a mais absoluta democracia, como se fora uma eleição indireta. Não podíamos permitir que a imprensa internacional publicasse algo como: “Reuniu-se o Congresso Nacional e por via indireta elegeu-se o senhor general fulano de tal etc.” A farsa tinha que ser denunciada e a fórmula de fazê-lo foi lançar a candidatura do anticandidato.

Àquela altura, o MDB vivia uma divisão: os autênticos e os moderados. Os autênticos saíram na frente, lançando uma candidatura que não podia ser mais previsível: a do Dr. Ulysses Guimarães. Os autênticos foram ao Rio e convidaram - todas as entidades que existiam no Brasil - Barbosa Lima Sobrinho para ser candidato à Presidência da República pela sociedade brasileira. Barbosa Lima Sobrinho não aceitou, disse que o nome correto era o de Ulysses Guimarães.

Quando Ulysses Guimarães foi agradecer, meio encabulado - eu estava junto -, convidou Barbosa Lima Sobrinho para ser seu vice. Barbosa disse que aceitava o convite com muita honra e percorreu o Brasil inteiro com Ulysses Guimarães. Esse era Barbosa Lima Sobrinho.

Lembro-me de quando nas várias reuniões que realizamos, nas horas mais difíceis, fomos bater às portas de Barbosa Lima Sobrinho e a palavra dele era sempre de estímulo. Ele dizia sempre que devíamos continuar: “Meus filhos, isso vai terminar, a violência sempre desaparece, essa ditadura vai desaparecer. Não devemos apelar à violência para enfrentar a violência, porque aí eles são mais fortes do que nós. Devemos usar a razão, usar a razão e a coragem, atucanar, bater, sacudir o Governo, mas devemos caminhar sempre até o fim”.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) (Faz soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª me adverte e faz bem, porque estou me avançando no tempo. Fico tão vazio ao ver a pequenez do meu pronunciamento diante da grandeza do homem que acabo me alongando. Mas o importante é que o Brasil entenda que estamos prestando homenagem ao homem que nos últimos dez anos, na minha opinião - minha, Pedro Simon -, era a única grande referência que havia no Brasil. Quando Barbosa Lima Sobrinho fazia uma afirmação, eu não tinha dúvida alguma sobre ela. Numa época em que estamos tão falhos de referências de homens públicos, de homens religiosos, de jornalistas, de intelectuais, de políticos, o homem que tinha a minha confiança total era Barbosa Lima Sobrinho. Ele falava e nós confiávamos. Sei que milhões de pessoas pensavam como eu. Por qualquer canto do Rio Grande em que eu passava, perguntavam-me: “O senhor já viu o que o Barbosa disse ontem?” Ele era uma referência. Hoje há um vazio nesse lugar.

Sr. Presidente, se V. Exª me perguntasse: “Senador Pedro Simon, o homem referência para V. Exª, que V. Exª aplaudia permanentemente era o Barbosa. Hoje, quem é?” Eu não saberia responder, mas juro que o lugar de Barbosa Lima Sobrinho está vazio neste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2000 - Página 15477