Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DEFESA DE UMA SOCIEDADE MAIS HUMANITARIA EM CONTRAPOSIÇÃO AS PREMISSAS DO SISTEMA CAPITALISTA.

Autor
Lauro Campos (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • DEFESA DE UMA SOCIEDADE MAIS HUMANITARIA EM CONTRAPOSIÇÃO AS PREMISSAS DO SISTEMA CAPITALISTA.
Aparteantes
Alvaro Dias, Bernardo Cabral, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2000 - Página 15735
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • ANALISE, CARACTERISTICA, CAPITALISMO, IMPEDIMENTO, DESENVOLVIMENTO, HOMEM, ESPECIFICAÇÃO, AMBITO, IDEOLOGIA, LIBERALISMO, ECONOMIA, DESEMPREGO, DIVIDA PUBLICA, INDUSTRIA, DESTRUIÇÃO.
  • SUGESTÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, DECISÃO, NEGAÇÃO, OBSTACULO, DESENVOLVIMENTO, BRASIL.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Eu estava aqui pensando o que vou falar. Realmente, o que eu gostaria de falar não tem interesse nenhum, não interessa a ninguém. E talvez não interesse porque seja o essencial, e o essencial não interessa. O que interessa é o ti-ti-ti, é o blá-blá-blá. O que interessa é apenas o nível da aparência de uma comunicação sem conteúdo, de uma esperteza que domina o palco político neste País e que jamais pôde penetrar a essência real e oculta dos fenômenos.

Assim como o organismo humano não pode viver apenas com glóbulos vermelhos, tem que ter também glóbulos brancos, o capitalismo não pode viver apenas do positivo, dos seus feitos, das suas descobertas, dos seus avanços fantásticos, do seu desenvolvimento. Necessariamente ele possui o conteúdo, que não entra na discussão, que não chega, senão raramente, ao nível do discurso. Esse conteúdo é o "não", a negatividade, que é essencial à "entificação", à estruturação, à organização, ao funcionamento e à reprodução do capitalismo. Então, o principal fica de fora, do meu ponto de vista.

Infelizmente, aquelas culturas que não conseguiram entender a importância do "não" obviamente não levaram até ao discurso dos governantes a capacidade de dizer "não". E sem dizer "não" uma nação não se constitui. O povo que não sabe dizer "não" jamais se organizará como uma sociedade humana, digna desse nome. E o Brasil, infelizmente, em sua História, principalmente em sua História recente, não soube e não sabe dizer "não".

Se eu tivesse o poder de influenciar, por exemplo, na elaboração de um programa de Governo - coisa que, ao longo dos meus 70 anos, nunca tive -, gostaria de encontrar um companheiro meio louco. E não estou fazendo referência ao grupo dos loucos que se reuniu em São Paulo no tempo da ditadura, alguns deles hoje nas mais elevadas funções e cargos nesta nossa organização política. Também não estou me referindo à loucura mencionada por Erasmo de Rotterdam, no seu Elogio à Loucura . Naquela ocasião, Erasmo de Rotterdam escreveu a seu amigo, a seu irmão, Thomas Morus, e disse que tinha dado o nome Elogio à Loucura a seu livro, a sua obra magna, em homenagem a Thomas Morus, o mais sensato dos homens que conheceu. Moria, em grego, quer dizer loucura. Então, ao fazer o Elogio à Loucura e colocar esse nome em seu livro principal, Erasmo de Rotterdam também estava prestando uma homenagem ao Thomas moria, Thomas Morus, Thomas loucura, em grego.

De modo que não venho fazer um programa de positividades, prometendo mentiras que a realidade põe por terra num período de seis meses, um, dois ou três anos, que obriga a rearticulações e a novas invenções do cérebro que a realidade não absorverá, mas desmentirá novamente. De novo, teremos "Prá frente, Brasil!", "Avança, Brasil!". Mentira e mais mentira que a realidade desmente a cada passo.

O meu guru, a quem passei a vida quase toda dedicado a criticar - mas aprendi com ele ao criticá-lo, e aprendi muito -, Lord John Maynard Keynes, disse que era preciso esperarmos cem anos para poder falar a verdade. Até lá, dizia ele, é preciso continuar fingindo para todos e para nós mesmos que aquilo que é útil é verdadeiro. Estamos na era da utilidade, assim como a Idade Média esteve na era das verdades teocêntricas, numa sociedade comandada pela Igreja Católica. Agora, o capital virou Deus e estamos vivendo nesta sociedade ajoelhada diante do capital. O dinheiro é tudo, dizia Cristóvão Colombo em Carta das Antilhas. Está em todos os lugares, abre todas as portas. Dinheiro é Deus. Nós estamos aqui "modernosos", adorando bezerros de ouro. Talvez ainda demore algum tempo para que se cumpram esses cem anos da profecia de Keynes. Até lá, dizia ele, é preciso continuar mentindo - pretending - para todos e para nós mesmos.

Infelizmente, tive de ser professor, tentando seguir, entre outras coisas, o roteiro de meu pai. Ser professor mentiroso seria a coisa mais louca, mais desastrosa e mais enganosa de todas. Mentir para os alunos, ensinar mentiras. De modo que preferi ser moria - louco - a ser mentiroso, a divulgar mentiras e ainda receber no final do mês o meu vencimento, graças às mentiras que andei espalhando. Tentei ser moria, tentei ser louco, para não ser mentiroso.

A nossa sociedade está dominada pela tecnologia, pelas inovações tecnológicas, pela transformação das descobertas em inovações, e essa sociedade canaliza o seu excedente, extraído do trabalho humano, conseguido pela força e pelo despotismo do poder. O poder tem que ser despótico, como afirma e reconhece o Presidente Fernando Henrique Cardoso no seu livro intitulado Democracia e Acumulação .

O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Pois não, com prazer.

O Sr. Álvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Lauro Campos, quero apenas fazer um registro que considero da maior justiça. Aprendi desde cedo, na atividade pública, que quem não tem a capacidade da indignação não tem o direito de representar ninguém. V. Exª é uma lição permanente da necessidade de indignação. V. Exª tem sido, nesta Casa, uma das vozes mais autorizadas da indignação nacional. E uma Nação como a nossa - desorganizada, cenário de tantos escândalos - exige a presença da voz da indignação. Não pretendo comentar o seu pronunciamento de hoje. Eventualmente, podemos até discordar de determinados conceitos que V. Exª constantemente apresenta dessa tribuna, mas, indiscutivelmente, não podemos deixar de reconhecer a importância que tem a sua voz de indignação num momento de tanta angústia do povo brasileiro. O meu aparte tem apenas este objetivo, de fazer esse registro. Não pretendo comentar os seus conceitos inteligentes e sábios, frutos de muitas horas de reflexão, de estudo e da larga experiência acumulada durante a sua trajetória na vida pública. Não. Quero apenas continuar aprendendo com V. Exª.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Nobre Senador Álvaro Dias, recebo o aparte de V. Exª como um acréscimo um tanto preciso de uma energia revitalizadora, de um estímulo que me é essencial, já quando os meus 70 anos consumiram grande parte da minha energia. Agradeço do fundo do coração a manifestação de V. Exª. É através de palavras como as de V. Exª que eu ainda me mantenho vivo e crítico, porque, para mim, a vida sem a crítica já acabou, já se esvaiu.

Continuo meu pronunciamento, mesmo sabendo que não terei tempo nem para começar a falar. Os economistas neoliberais definem um bem econômico como sendo algo útil, escasso e disponível. Alguns chamam de mercadoria, e eles chamam de bem econômico. E ao total de bens e serviços produzidos numa economia nacional durante um ano chamam de PIB, o Produto Interno Bruto do País. Pois bem, útil a produção bélica não é; útil não é a produção espacial, que tira fotografias bonitas, ou fotografias do Planeta Azul ou de Marte ou de uma outra perspectiva sideral qualquer, que custam à coletividade mundial às vezes duzentos milhões de dólares. Foi isso que essa humanidade gastou, essa humanidade que sofre, que paralisou o emprego de quase 1 bilhão de seres humanos, que matou, só nas duas Guerras Mundiais - houve 344 guerras entre 1740 e 1974 - 85 milhões de seres humanos. Foram bens que se somaram ao PIB dos países produtores desses produtos bélicos, desses produtos destrutivos.

No Brasil, não podemos produzir essas coisas destruidoras, desumanas, que só servem para destruir a vida humana. Não são meios de produção que ajudam os braços dos homens a aumentar a sua eficiência, a sua interação com a natureza; não são meios de consumo nem meios de produção, sustentados por uma moeda não conversível em trabalho humano. Ela se transformou em moeda não conversível para produzir esses não-meios de consumo, esses não-meios de produção, esses meios de destruição que engrandecem os PIBs desses países.

"Embora a maior parte dos bens e serviços se destinassem à imediata e infrutífera destruição, assim mesmo constituíam riqueza", dizia Lord Keynes, ao defender a volta de uma economia semelhante àquela que prevaleceu durante a Primeira Guerra Mundial e que, ao empregar as pessoas, os seres humanos desempregados, tal como aconteceu na Segunda Guerra Mundial - havia 40% de desemprego na Alemanha e Hitler empregou grande parte dessa mão-de-obra na produção bélica, na produção destruidora - conseguiu o pleno-emprego em 1938.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, será que a humanidade não consegue uma organização social, econômica e política que permita aos homens empregar o seu trabalho, a sua inquietude, transformar a sua energia e a sua inteligência em algo que sirva, que não seja uma bomba, que não seja uma arma, que não seja um instrumento de destruição e de paralisação do próximo? Não podemos pensar nisso porque isso parece uma moria. No entanto, 54 trilhões de dólares foram gastos de 1940 para cá, apenas nos setores nucleares desse sistema!

O capitalismo, depois de desenvolver bastante os meios de produção, as máquinas e os meios de consumo, passou a desenvolver os não-meios de consumo, os não-meios de produção e, sim, os meios de destruição. A mentira faz com que se considere no mesmo pé de igualdade e essencialmente com as mesmas características os meios de destruição da humanidade e os meios de fornecimento de alegria, de vida, de superação dessa situação atual.

Enquanto isso, como se não tívessemos mais nada a fazer, como se tivéssemos chegado ao fim da linha do desenvolvimento tecnológico, da linha do desenvolvimento humano, nós criamos um sistema que deixa no desemprego cerca de um bilhão de seres humanos, quando há tudo para ser feito, na habitação, na saúde, na educação, tudo para ser feito. E nós estamos como se fôssemos perus num círculo de giz paralisados, como se tivéssemos chegado ao fim da História, quando nós estamos ainda, felizmente, no princípio da História humana.

Vamos sair da pré-história dentro de pouco tempo, penso eu, dessa pré-história muito mais destrutiva, muito mais agressiva, muito mais selvagem do que aquela Pré-História em que nós limitamos os nossos antepassados.

Gostaria de ter tempo hoje para falar sobre essa negatividade destrutiva, desumana, que o sistema capitalista foi criando e desenvolvendo e colocando debaixo do tapete. Não se trata apenas de um entulho autoritário. O entulho autoritário do mundo é milhares de vezes maior do que o entulho que a nossa ditadura militar conseguiu colocar debaixo do tapete, para que ela crescesse um pouco com o lixo que amontoava debaixo dos seus pés. Assim, ela pensou estar adquirindo altura, alcançado altitudes maiores.

A dívida pública é a dívida externa. Nos Estados Unidos, a dívida pública surgiu por volta de 1830 e nunca desapareceu. A dívida é o negativo. Isso é óbvio. A dívida é o que falta para se realizarem obras, gastos, algo de positivo. A dívida é o não-pagamento de alguma coisa, é o passivo. E essa dívida cresce. Num certo momento, a dívida serve para financiar obras, como a construção do TRT, que é uma dessas obras destruidoras, negativas, e serve para financiar estradas, o avanço e, principalmente, as guerras.

No final da Segunda Guerra Mundial, a dívida pública dos Estados Unidos equivalia a 120% do PIB norte-americano. A dívida pública dos Estados Unidos, que se desenvolveu com a guerra, superou o total de bens e serviços produzidos naquele país durante um ano. E, na Alemanha, no dia 21 de julho de 1948, foi dado o calote na dívida pública, o que permitiu ao Estado de Hitler fazer o pleno emprego, as grandes obras, os grandes estádios e a produção bélica principalmente.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - (Faz soar a campainha)

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Sr. Presidente, não deu nem para começar!

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - E nem para aparteá-lo, Senador Lauro Campos. Eu estava à espera!

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Se a Presidência permitir que eu lhe conceda um aparte...

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Evidentemente, a Presidência o permitirá. Estou apenas lhe advertindo que o tempo de V. Exª está esgotado há quase sete minutos.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Obrigado, Sr. Presidente.

Concedo o aparte ao Senador Bernardo Cabral.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Lauro Campos, essa é uma advertência. Não chega a ser uma reprimenda. É apenas um aviso. Como se trata de um aviso, quero interrompê-lo para dizer que, ao longo de todos esses anos, tenho ouvido V. Exª com o carinho de sempre e, como sabe V. Exª, com a atenção que não lhe posso recusar.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Eu sei disso.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Os seus discursos, se contêm alta voltagem política, contêm muito mais ensinamentos, pela seriedade com que são proferidos. V. Exª não aborda na tribuna nenhum problema que não seja para indicar caminhos e apontar soluções. V. Exª não ocupa a tribuna para registrar um discurso a mais, mas o faz sempre com seriedade. E a sua seriedade é tamanha, que eu dizia ao eminente Senador Romeu Tuma - que comigo concordou - sobre a capacidade de V. Exª de revelar números. É grande a sua capacidade não só jurídica como política. Nos seus pronunciamentos, não existe o "achômetro". V. Exª não diz "eu acho"; V. Exª confirma as suas palavras. Portanto, eu queria cumprimentá-lo. É sempre um prazer ouvi-lo, Senador Lauro Campos. Muito obrigado.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - E é sempre um prazer receber os apartes de V. Exª, que não me têm faltado. O Senador Bernardo Cabral, desde o meu primeiro pronunciamento, tem sido pródigo em me pedir apartes e em me conceder a honra de ser aparteado por uma pessoa por quem tenho a maior admiração. S. Exª, em certo sentido, retribui essa remuneração ao falar tão bem, como sempre o faz. S. Exª é um mestre em fazer apartes para se referir aos pontos cruciais dos pronunciamentos feitos da tribuna. Com isso, S. Exª interage com o orador e o leva a tentar se superar. Agradeço-lhe profundamente por mais esse aparte, que se somará a muitos outros com que me agraciou o nobre Senador até hoje.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Serei breve. Quero apenas cumprimentar V. Exª, que sempre que assoma a essa tribuna tem a minha atenção permanente. Isso ocorre não apenas pela sua inteligência e pela cultura expressa em seus pronunciamentos. V. Exª fala como um mestre que atravessou esses longos anos enfrentando as dificuldades vividas pela própria sociedade. Acredito, Senador, que, quanto mais velhos ficamos, mais sofrimento sentimos. Eu dizia ao Senador Mozarildo Cavalcanti, que é médico, que só vivemos pela nossa capacidade de indignação, como disse o Senador Álvaro Dias. É o que alimenta a nossa alma, a nossa inteligência e a nossa vida. Não me associo, mas sim me firmo com V. Exª na busca de algo que o mundo capitalista ainda não conseguiu oferecer à sociedade mais sofrida, àqueles que carregam a angústia e o sofrimento permanentes pela falta de meios até mesmo de sobreviver. V. Exª menciona os números que são investidos na fabricação de material bélico. Eu tinha 12 ou 13 anos quando a guerra acabou e, até hoje, não vi um sinal de que pelo menos o medo tenha tomado conta das famílias desses fabricantes de armamentos. E aí estão investindo bilhões e bilhões de dólares. E, quando se pede para diminuir ou perdoar a dívida dos países mais pobres, como a da África e a de outros, eles viram as costas e impõem condições de mercado para sacrificar os países que tentam, com um pequeno desenvolvimento, entrar no mercado internacional. Portanto, é o capitalismo selvagem que atualmente destrói, que amargura. Quero cumprimentá-lo e pedir a Deus que o conserve com essa lucidez permanentemente. Muito obrigado.

O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PT - DF) - Respondendo ao lisonjeiro aparte do Senador Romeu Tuma e, ao mesmo tempo, terminando o meu pronunciamento e agradecendo à Presidência a sua paciência, eu gostaria de resumir minhas palavras, para não ficar muito desconexo o que eu disse.

O meu programa ideal, utópico, seria o de algum candidato louco à Presidência da República que fosse dominado pela moria e que prometesse dizer um "não" ao FMI, à divida externa, à dívida pública, da qual vivem e sobrevivem os morcegos do sistema bancário; que prometesse dizer um "não" à dominação tecnológica, que se traduziu e se constitucionalizou neste País há pouco tempo, e à dívida social.

Tancredo Neves disse que não pagaria a dívida externa à custa da dívida social. No entanto, o seu neto, Aécio Neves, há pouco tempo, esquecido do seu avô e de seus ensinamentos, lutou a favor de miseráveis R$151 para impor com eles o salário mínimo.

Portanto, toda essa negatividade que se acumula na sociedade brasileira deveria ser o objeto único de um programa de governo: o governo do "não"; o governo da coragem de dizer "não"; todos os "não" que a nossa História não disse desde a Independência deste País, quando, para adquirirmos a independência, tivemos de assumir a dívida de Portugal para com a Inglaterra. Ali deveria ter sido dado o nosso primeiro "não". No entanto, foi dito um humilhante "sim", que veio se somando a todos os "sim" que não deveriam ter sido ditos. É preciso um programa do "não", da coragem de dizer "não". Sem esse ingrediente não se constitui uma nação, e o Estado acaba se decompondo, como é o caso do Brasil. E o Governo só pode chegar a 13% de aceitação, porque esse Governo nunca soube dizer "não".

Se um dia pudesse chegar a influir em algum programa de Governo, para qualquer candidato de qualquer partido, eu apenas sugeriria o programa da coragem, o programa do "não", do dizer "não", esse "não" que falta em cada cidadão brasileiro que anseia para restabelecer uma sociedade de pé, corajosa. Aconteça o que acontecer, ameacem o que quiserem ameaçar, começaremos a dizer "não" e diremos "não" a tudo que ofende, aniquila, atrasa e arruína a vida do povo brasileiro!

O meu programa seria o do "não", e, portanto, ele vai ficar no reino da utopia, que é o meu reino.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2000 - Página 15735