Discurso durante a 93ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADA FEDERAL E EX-GOVERNADORA DO DISTRITO FEDERAL.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADA FEDERAL E EX-GOVERNADORA DO DISTRITO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2000 - Página 16275
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADO, EX VICE GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, EMPENHO, TRABALHO, POLITICA, PAIS.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, também apresentei requerimento semelhante ao do ilustre Senador Hugo Napoleão, para manifestar o pesar e a mágoa pela morte de personagem tão importante, tão representativa e tão querida da classe política de Brasília e do Brasil inteiro como o era Márcia Kubitschek.

Fiquei profundamente magoado, porque cheguei em Brasília às 15h, li todos os jornais, mas a notícia ainda não tinha sido publicada. Fui tomar conhecimento do fato hoje pela manhã, pela capa do Correio Braziliense.

Eu gostaria de ter ido aos funerais de Márcia. Aliás, lembro-me da presença da família e, de modo especial, da presença dela nas várias missas que mandavam rezar em homenagem a Juscelino e à sua esposa. Conversamos várias vezes, e realmente é interessante analisar a pergunta que fez o Senador Hugo Napoleão: “Márcia era política? Herdou do pai a disposição de fazer política ou dele herdou aquele sentimento, aquela brasilidade, aquele espírito que fazia de Juscelino um ser tão especial?”

Márcia, suas filhas, sua irmã, enfim, toda sua família era muito admirada por mim, porque não é fácil ser filho de grandes homens, principalmente não é fácil ser filho de um homem notável, não é fácil viver seu apogeu, a glória, a vitória, o êxito de toda uma Nação e depois viver - como eles viveram - a dor, a mágoa, o ressentimento de JK desde a sua cassação até a sua morte.

            Lembro-me de que chorei no monumento - e à minha volta muitas pessoas choraram - quando assistíamos àquele filme em cujo final ele aparece vindo num avião em direção a Brasília, e o piloto se comunicando com a torre do aeroporto, pedindo licença para pousar - embora isso não fosse permitido ao Juscelino -, porque o céu estava se fechando e ele não sabia se teria condições de aterrissar num aeroporto mais próximo. Foi muito triste a seqüência dos acontecimentos: aquela discussão entre a torre e o piloto, o pedido de licença indeferido, o avião obrigado a seguir seu rumo, apesar de o piloto ter dito: “Isso é um absurdo. Peço a Deus que faça a justiça que vocês não querem fazer”.

Viver as humilhações, as tristezas que aquela família viveu deve ter sido um impacto muito grande para ela, como o foi para todos nós, brasileiros. E aquela morte repentina até hoje está sob suspeita. Eu acompanhei a morte de Juscelino, de Carlos Lacerda e de João Goulart. E não me ocorreu, na época, que tivesse havido algo que significasse um esquema latino-americano militar para matar as lideranças. Hoje, com relação a João Goulart, cada vez mais está provado que realmente houve assassinato, que trocaram o remédio dele. Ele estava do outro lado do rio Uruguai, do lado da nossa terra, o Rio Grande do Sul. Dormiu em sua fazenda e preparava-se para o seu trabalho, mas, na verdade, em vez de darem o remédio de que precisava para a sua doença do coração deram o contrário. O quadro clínico inverteu-se, rompendo-se o seu coração.

A família de Juscelino também deve ter sofrido. Eu vim a Brasília e creio que o dia de seu enterro foi aquele em que Brasília teve mais gente na rua. E o povo, muito comovido, chorava a sua morte. Tudo isso fez parte do drama da sua família, que teve de continuar vivendo. E Márcia teve coragem! E foi Deputada, foi Vice-Governadora, criou com carinho e com afeto as suas filhas. E a conversa com Márcia era profundamente agradável, pois ela era otimismo, alegria, esperança. A conversa com Márcia não era a de alguém cuja vida já tinha acabado; era com alguém que ainda tinha muito por viver. A conversa com Márcia não era a de quem tinha guardado essas coisas tristes que aconteceram. Creio até que a conversa com ela não era a de quem tinha ficado empolgada com as lembranças de criança sobre a grandeza e a epopéia vividas ao lado de seu pai. A conversa com Márcia era firme e de carinho, de alguém que vinha cumprindo sua destinação histórica, de alguém que amava sua família e o seu País. Era a palavra de alguém que, de certa forma, pensava que olhar Brasília, cuidar de Brasília, falar sobre Brasília eram obrigações que ela tinha recebido como herança de seu pai.

A última missa a que assisti ali foi em homenagem a sua mãe, em que ela manifestou também o carinho e o afeto pela mãe. Vi a meiguice com que ela se referia à mãe e ao sofrimento da mãe, e pude observar o orgulho que ela tinha da mãe, da continuidade do trabalho da mãe após a morte do pai.

         Gostei de ver a presença do Presidente Fernando Henrique, e gostei de ver a presença e, pelo que diz o jornal, o afeto e a consideração do Vice-Presidente Marco Maciel. Tenho certeza de que se ontem não houve um desfile apoteótico foi porque a maioria não soube do falecimento, como eu. Muitos são aqueles que devem estar esperando a missa de sétimo dia, para levar o carinho e o afeto. Não o fizeram ontem porque não sabiam.

A morte é assim. Márcia vinha tendo muito sofrimento, com as dores e com a morte lenta e dolorosa dos órgãos, e sentiu o alívio e a paz de quem terminou uma caminhada. Deve estar agora ao lado do pai, Juscelino, e da mãe, olhando para nós com a paz que felizmente encontrou. Para nós, ficam o carinho, o afeto e o profundo sentimento de que há pessoas que nascem para fazer o bem e para flutuar acima do normal.

A família Kubitschek - Juscelino, Dona Sarah e Márcia - representa essas pessoas que vieram para que a Terra tivesse um pouco mais de perfume e de beleza, para que os corações dos homens não fossem tão ressentidos e para que, olhando, sorrindo e apertando as mãos de seus semelhantes, lembrassem a eles que somos irmãos e que, como tal, devemos caminhar juntos.

À Márcia, minha querida amiga, o meu afeto e a minha saudade. Fica a certeza de que os teus descendentes continuarão sendo a família Kubitschek, com a grandeza e a pureza singela do seu pai, da sua mãe e também sua.

Obrigado por tudo que tu fizestes, pelo carinho e pelo afeto que deixastes em roda de ti e de todos que tiveram a felicidade de conhecer-te.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2000 - Página 16275