Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INAUGURAÇÃO, HOJE, DA EXPOSIÇÃO PROMOVIDA PELO GOVERNO DO ESTADO DA PARAIBA, NO CORREDOR CULTURAL DO SENADO FEDERAL, INTITULADA "PEQUENINA E HEROICA". COBRANÇAS DE RECURSOS DO GOVERNO FEDERAL PARA SOLUCIONAR A ESCASSEZ DE AGUA NAQUELE ESTADO.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • INAUGURAÇÃO, HOJE, DA EXPOSIÇÃO PROMOVIDA PELO GOVERNO DO ESTADO DA PARAIBA, NO CORREDOR CULTURAL DO SENADO FEDERAL, INTITULADA "PEQUENINA E HEROICA". COBRANÇAS DE RECURSOS DO GOVERNO FEDERAL PARA SOLUCIONAR A ESCASSEZ DE AGUA NAQUELE ESTADO.
Aparteantes
Bernardo Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2000 - Página 16461
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, INAUGURAÇÃO, EXPOSIÇÃO, SENADO, PROMOÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DA PARAIBA (PB), OPORTUNIDADE, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, INDEPENDENCIA, APRESENTAÇÃO, HISTORIA, REGIÃO.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SECA, ESTADO DA PARAIBA (PB).
  • COBRANÇA, RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, GARANTIA, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, AGUA, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, a Paraíba inaugurou, no corredor cultural do Senado da República, uma mostra intitulada "Pequenina e Heróica".  

A Paraíba representa menos de 2% da população do País. Neste mês, ela está comemorando o aniversário da sua independência, e essa amostra representa para nós a oportunidade de apresentarmos aqui, no prédio do Senado, o que é a história da Paraíba nesses 500 anos de existência.  

Ser paraibano, Sr. Presidente, Srs. Senadores, é motivo de muito orgulho para qualquer um que nasce naquele Estado, porque realmente as primeiras regiões colonizadas neste País foram aquelas da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. Não apenas pela proximidade da Europa – um navio que sai do Rio de Janeiro leva três dias a mais para chegar à Europa do que o que sai de Pernambuco ou da Paraíba – como também porque era lá que os portugueses encontravam a melhor qualidade de pau-brasil. Um pau-brasil que, quando triturado e colocado na água, soltava muito mais tinta; a madeira era muito mais macia, se comparada com o resto do pau-brasil que existia no Território nacional. E foi lá que começamos, com toda a certeza, a nossa colonização.  

Ser paraibano, como digo, é motivo de orgulho; como é motivo de orgulho ser nordestino. Todos somos orgulhosos da nossa região; uma região que forja cada cidadão dali a ter que ser forte, porque só pode saber o que é ser nordestino quem nasceu ou viveu lá algum tempo.  

É muito difícil viver em uma região do semi-árido, onde estamos sempre em contato com a morte. A cada seca, vemos os rebanhos definharem e morrerem, assim como os seres humanos. Isso faz com que nos tornemos muito fatalistas, muito objetivos.  

Quando se compara a nossa cultura com a dos outros países – há uma frase famosa de Goethe que diz: Non ridere, non ludere, non detestare , sed intellegere -, percebemos que temos que tentar entender as diferenças. Não adianta escarnecer, não adianta ridicularizar. Temos que entender a cultura alheia. Quem convive com a cultura nordestina observa a diferença psicológica que existe entre nós, nordestinos, e os habitantes dos outros Estados do País. Somos fatalistas; aceitamos os fatos porque estamos acostumados. De vez em quando, vemos a natureza se revoltar contra nós e ficamos três ou quatro anos sem um pingo de água nem sequer para beber.  

Agora mesmo, no meu Estado – esse Estado de que tenho tanto orgulho –, vejo coisas de cortar o coração! Uma cidade como Serra Branca, por exemplo, de nove mil habitantes - há dois anos e meio sem um pingo de água -, era abastecida por 150 caminhões-pipa, para que o povo pudesse permanecer na cidade. Os recursos do Ministério da Integração Nacional foram definhando, e os caminhões-pipa foram reduzidos a 100, a 50, a 25. Atualmente, a prefeitura consegue abastecer a região com 10 caminhões-pipa, o suficiente apenas para as pessoas beberem. E beberem que tipo de água? Uma água de qualidade tão ruim que a sua cor parece caldo-de-cana. Mesmo assim, o prefeito não tem dinheiro para manter 10 caminhões-pipa. Cada um custa R$25.  

Não é apenas a cidade de Serra Branca que está passando por essa situação. Temos São Mamede e Santa Luzia, que ficam logo após o planalto da Borborema, uma região muito difícil do nosso Cariri.  

Fui ao Ministério da Integração e lá verifiquei que não há um centavo para se manter um carro-pipa. E vou levando não apenas essa preocupação, como representante do meu Estado, mas também uma outra, com as águas em demasia da região do litoral, da Zona da Mata, onde, com uma chuvarada, caíram 300 casas em uma dessas cidades que margeiam o Oceano Atlântico. É difícil.  

Sr. Presidente, nos Ministérios, as pessoas nos olham como se fôssemos arrancar-lhes alguns trocados. Espera aí!: está havendo inundação? Casas estão caindo ali e acolá? Há dois anos e meio não chove? Sim. Isso é fatalismo! Isso é a dureza de ser nordestino!  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) – Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ney Suassuna?  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) – Ouço, com muita alegria, o aparte do nobre Senador Bernardo Cabral.  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) – Senador Ney Suassuna, sabe V. Exª que quando entra o problema água sou um dos que com ele me preocupo em encontrar solução. V. Exª tem sido testemunha disso. Quando ouço V. Exª falar em carro-pipa, tenho a impressão de que, no Nordeste, temos o carro-pipa, o jumento-pipa e o homem-pipa. Esses tecnoburocratas aos quais V. Exª se referiu jamais viram, conheceram ou irão tomar conhecimento dessa realidade. O grande defeito do brasileiro, daquele que não conhece o Nordeste, é que ele é um pouco menos brasileiro, e não tem - sem nenhuma dúvida - a idéia do civismo do que é ser herói, sendo nordestino e nortista. Uma das questões que nenhum planejador consegue neste País resolver é aquilo que não está dentro dos índices: o clima, que V. Exª tão bem defende - e o faz com conhecimento de causa, afinal de contas V. Exª é da Paraíba. Recordo-me de que, recebendo um aparte do nosso querido Senador Ronaldo Cunha Lima sobre o problema água, S. Exª me dizia: "É incrível que V. Exª sendo da Amazônia, com aquele volume d’água, se preocupe com a seca do Nordeste". Quero registrar minha solidariedade a V. Exª e a todos os nordestinos que lutam para verem que aquele pedaço de País também é Brasil, e que, no Cartório da Cidadania, ter nascido no Nordeste e no Norte também é ser brasileiro. Meus cumprimentos, Senador Ney Suassuna.  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Obrigado, Senador Bernardo Cabral, principalmente por ser V. Exª de uma região abundante em água, portanto, não convive com a sua falta. Mas a solidariedade de V. Exª com o sofrimento humano é enorme, aliás, V. Exª, nesta Casa, a tem manifestado reiteradamente. Fico feliz com as palavras de V. Exª, e sinto-me honrado com esse aparte.  

Sr. Presidente, há uma dicotomia: chove demasiadamente em uma área, como ocorreu em Pitimbu, onde 300 casas foram abaixo, e falta água em outras cidades há dois anos e meio. Pensem os senhores!  

Sr. Presidente, cheguei ao ponto de, outro dia - depois até me arrependi - ter ligado para a chefe de gabinete de um ministério responsável pela área, e lhe perguntar:  

- A senhora vai tomar banho neste final de semana?  

- Claro.  

- O povo de Serra Branca não vai.  

- A senhora provavelmente vai usar uma roupa limpa!  

- Vou.  

- Há dois anos e meio eles não sabem o que é lavar roupa, porque não tem água!  

Imaginem uma situação dessas! Eles deixam suas casas, suas cidades porque nós não temos a capacidade de levar água até essas cidades! Isso acontece na Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. Não tenho certeza se no Ceará há casos de seca tão prolongada. Mas, na Paraíba, vivemos o mesmo caos vivido por Pernambuco e pelo Rio Grande do Norte.  

Por isso, Sr. Presidente, ocupo a tribuna para pedir ajuda. Talvez os que lá vivem já estejam acostumados com a miséria e com a fome. Mas nós que saímos de lá como seus representantes e vivemos em outras regiões, sabemos que é uma injustiça, uma falta de solidariedade para com aquele povo. Quando, nesses ministérios, nos dizem que a verba acabou, há, realmente, uma insensibilidade e uma enorme falta de solidariedade. Imaginem-se no lugar desses nossos irmãos que perderam suas casas, que não têm água sequer para beber, porque não chove há dois anos e meio!  

Vejam como é interessante: chove muito em toda Zona da Mata, criando problemas sérios em Pernambuco e Alagoas, mas, no interior, não há acúmulo de água nos reservatórios para enfrentarmos mais uma seca. Realmente é uma situação esdrúxula, incompreensível para quem não vive lá! Mas nós vivemos isso. Além desse problema da água, estamos vivendo também a incompreensão em alguns itens da nossa economia. Vejam bem: a Paraíba cresceu o dobro. Desde que José Maranhão assumiu o Governo, dobramos o PIB; crescemos mais do que qualquer outro Estado nordestino. No entanto, permanentemente, somos penalizados pela Legislação Federal. Para simplificar, arrecadamos 100 milhões por mês; pagamos 11 milhões de dívidas, que vai saltar para 13 milhões - dois milhões de diferença. Arrecadávamos 100 milhões, mas, com a questão relacionada à saúde - votaremos favoravelmente - encontraremos outra solução. Após a votação da verba para a saúde e da fixação de um percentual para a saúde, teremos que fazer cortes em outros áreas, tendo em vista que a despesa do Estado será de 104 milhões - arrecadaremos 100 milhões e gastaremos 104. Sabemos que não existem milagres em economia e em administração, mas teremos que fazer um, e estamos cansados de fazer milagres: milagre para sobreviver; milagre para protestar permanentemente aqui em Brasília contra as injustiças... Falava-se, aos quatro ventos, que o Nordeste recebia dinheiro demais por meio da Sudene. V. Exªs sabem, em 40 anos de Sudene, quanto recebemos? Uma verba inferior à construção da ponte Rio-Niterói. A aplicação em nove Estados, durante 40 anos, foi inferior ao que se gastou na construção da ponte Rio-Niterói. É duro, é muito duro! Nós, por mais orgulho que tenhamos em ser nordestino, temos um tratamento de segunda categoria.  

O Sr. Osmar Dias (PSDB - PR) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Pois não. Ouço o aparte de V. Exª, nobre Senador Osmar Dias.  

O Sr. Osmar Dias (PSDB - PR) - Nobre Senador Ney Suassuna, ouço, com muita atenção, o pronunciamento de V. Exª, e não é o primeiro que V. Exª faz sobre o assunto, o qual V. Exª conhece bem, porque, sendo da Paraíba, o enfrenta praticamente todos os anos. V. Exª tem razão. Fica até difícil acreditar que isso acontece no Brasil. V. Exª fala em dois anos e meio sem chuva sem que providências sejam tomadas para amenizar o sofrimento das pessoas - e não é nem para oferecer o conforto para as pessoas mas, realmente, para dar as condições mínimas de sobrevivência para aquelas pessoas que vivem esse drama. Lembrava-me de que, antes de ser Senador, que vivi em Israel por algum tempo, onde fiz cursos de irrigação, sou agrônomo. Lá convivi com as pessoas que viviam nos kibutz na zona rural de Israel, onde morei, e pude verificar que, naquele país onde o clima é muito adverso, a fertilidade do solo praticamente inexiste, conseguiu superar todos os desafios e ser um produtor de alimentos para a sua população e até exportá-los. Creio que já disse isso aqui algumas vezes, mas esse é um exemplo que tem que ser repetido, porque Israel, não tendo chuva suficiente e a distribuição ainda pior do que a do Nordeste, foi buscar água para oferecer aos que não a tinham. E óbvio que o insumo mais valioso em Israel é, sem dúvida nenhuma, a água, que é tratada como se fosse algo sagrado. Mas o Estado esteve presente e fez investimentos. Se Israel foi capaz, será que o Brasil não o é? Se as autoridades de Israel tiveram essa sensibilidade e investiram para oferecer esse insumo essencial não apenas para a agricultura, mas para a vida das pessoas, será que algum dia neste País esse discurso de V. Exª não será coisa do passado e alguém terá a coragem de fazer os investimentos necessários para levar água para as pessoas beberem, consumirem, plantarem? Ora, Senador Ney Suassuna, realmente, como V. Exª disse, estou até com dificuldade em acreditar no que ouço. Creio porque é V. Exª que o diz. Lá no Sul do País, onde temos, evidentemente, uma distribuição de chuva melhor, fica difícil acreditar que neste País ainda não teve um governo com a coragem para fazer os investimentos necessários para, pelo menos, amenizar esse drama que o seu Estado e a sua Região vivem. Parabéns pela sua insistência. Sei que um dia isso vai acontecer!

 

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Senador Osmar Dias, é muito gratificante ouvir isso de V. Exª, que sabe o que é a seca. Quando se passam quatro meses sem chuva no Estado de V. Exª, pelos jornais, vê-se a grita, a calamidade e o que acontece com o pasto, o gado, as culturas e tudo mais.  

Na Paraíba, acabou, no começo deste ano, um período de três anos de seca. O rebanho reduz-se a 10%; é preciso vender o gado por um preço insignificante, senão ele morre, e pior será. Compram a 10% do seu valor também; os caminhões passam recolhendo, e o pobre do fazendeiro é obrigado a vender, porque não tem o que fazer.  

Também conhecemos Israel e sabemos que o rio Jordão não é mais largo, na maioria de seu trecho. No entanto, conseguiu-se fazer essa água milagrosa, gotejada nas suas culturas, produzir banana, laranja, etc., exportadas até para os Estados Unidos e para a Europa. O rio São Francisco tem 60% da água do Nordeste, e não conseguimos a sua transposição até agora. Parece que ela vai sair, mas, quando começar, cinco anos se levarão para a água chegar. Vamos rezar para que em cinco anos não haja uma crise maior.  

Temos a possibilidade até de fazer a transposição do Tocantins para o São Francisco, para que este se fortaleça mais. Estou com 58 anos; desde criança, ouço falar nisso e não vejo acontecer nada. Tal como menciona o hino nacional, estamos deitados em "berço esplêndido", esperando sempre o futuro, que já deveria ter chegado. As gerações passadas não tiveram condição, nem possibilidade de fazer o futuro chegar para a nossa geração. Vamos ver se temos mais competência e o conseguimos para as gerações futuras.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB – GO) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Ouço V. Exª, com muito prazer.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB – GO) – V. Exª está abordando um tema que sensibiliza a todos nós, brasileiros: a vida dos nordestinos não é fácil. Agora, ouvindo o Senador Osmar Dias, fico a meditar sobre este nosso País. É, realmente, um país injusto, cheio de contradições; é difícil acreditar no que se vê. V. Exª está dizendo que os nordestinos não têm água para beber, quando sabemos que neste País há água de sobra para todos os lados. Sabemos que neste País há terra em abundância. No meu Estado de Goiás, viaja-se horas e horas, até mesmo de avião, sobre terras, matas, cerrados, e muitos brasileiros gostariam de ter um pedacinho de terra para tirar pelo menos o seu sustento e da sua família. Isso não ocorre só em Goiás. Sabemos que o Brasil inteiro tem terra em abundância, e há milhares de pessoas que se acotovelam nas cidades grandes e inchadas, prostituindo-se, cometendo todo tipo de crime, ao passo que poderiam estar em um pedaço de terra. É, realmente, um país onde há alguns ganhando tudo, e outros não ganhando nada, passando fome. Sabemos que, neste País, existem milhares de pessoas sem um teto para abrigar sua família; são 25 milhões de indigentes, número maior do que a população de muitos países da Europa, e 50 milhões de brasileiros abaixo da linha de pobreza. De forma que é um país que precisa mudar o seu norte. Nós, políticos, temos que enfrentar essa questão com competência, com sabedoria, para transformar o Brasil em um país mais justo, mais humano, que dê às futuras gerações uma vida melhor do que esta que estamos vivendo. Por isso, temos que lutar contra essas injustiças, essas desigualdades sociais que envergonham o nosso País perante o mundo. Muito obrigado.  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Obrigado, nobre Senador Maguito Vilela, o aparte de V. Exª também me deixa sensibilizado. É muito gratificante ver a sua solidariedade, pois V. Exª é de um Estado que não tem as dificuldades do meu.  

Talvez essa dificuldade faça com que busquemos outras soluções. Não é à-toa que saímos pelo Brasil afora e, hoje, formamos um grande contingente de paraibanos e de nordestinos, em geral, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais. Mas não é fácil largar a nossa terra, os amigos, os costumes. Isso é uma violência desnecessária.  

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Ouço o nobre Senador Gilvam Borges.  

O Sr. Gilvam Borges (PMDB – AP) – Senador Ney Suassuna, quando V. Exª assoma a essa tribuna, a atenção da Casa redobra não só pela inteligência, mas pela fala fácil de quem conhece a problemática da região nordestina. V. Exª aborda, sempre cioso, essa questão terrível da seca. Venho de um mundo das águas. Sou da Amazônia. E, como V. Exª afirma, o que está faltando, realmente, são políticas públicas, um planejamento sério para a viabilização econômica e o estancamento da sangria das grandes migrações da Região Nordeste. Há décadas, a população migra, deixando suas raízes, sua família, sua cultura. E a Amazônia, como São Paulo e os Estados de outras regiões do Brasil, deve muito aos nordestinos, por causa dessas secas terríveis. Quanto à tão sonhada transposição do Rio São Francisco, V. Exª, ainda muito jovem, já ouvia falar dela. Senador Suassuna, não vou alongar-me – a nossa Presidente está sorrindo –, porque penso que o tempo acabou e falarei em seguida. Mas quero dizer que sou um admirador de V. Exª, pela franqueza, pela palavra fácil, simples do catedrático, do professor, que faz com que todos nós entendamos o espírito dos seus pronunciamentos.  

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Muito obrigado, nobre Senador Gilvam Borges. É com muita alegria que também recebo o aparte de V. Exª.  

Concluo, Srª Presidente, dizendo que hoje inauguramos uma mostra da Paraíba nos 500 anos, cujo título é "Pequenina e heróica". A Paraíba mandou para o Brasil figuras muito importantes, como Vidal de Negreiros, que combateu a invasão holandesa, o grande pintor Pedro Américo, os grandes políticos José Américo e João Agripino, que esteve nesta Casa tantas vezes. Se fôssemos falar de economistas, poderíamos citar Celso Furtado. São tantos os nomes que a Paraíba mandou para o Brasil! E há também aqueles dos quais ninguém fala, aqueles que constroem, com a força de seu braço, São Paulo, Rio de Janeiro, sofrendo nas obras, largando a família por 11 meses e voltando apenas nas férias ou nas eleições para votar, para ver os filhos que já cresceram. Imaginem o sofrimento desse povo sem emprego!  

Precisamos, Srª Presidente, mudar essa face cruel do Brasil e só vamos fazê-lo, se tivermos a solidariedade. Não queremos esmolas de ninguém; o que queremos é trabalho, respeito e ajuda na forma de solidariedade.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2000 - Página 16461