Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

TRANSCRIÇÃO DO DISCURSO "EDUCAR PARA VENCER DESIGUALDADES", DA PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIENCIA.

Autor
Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Arlindo Porto Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • TRANSCRIÇÃO DO DISCURSO "EDUCAR PARA VENCER DESIGUALDADES", DA PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIENCIA.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2000 - Página 16588
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, AUTORIA, GLACI ZANCAN, PRESIDENTE, SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIENCIA (SBPC), PROPOSTA, EDUCAÇÃO, CIENCIAS, OBJETIVO, TRANSFORMAÇÃO, MUNDO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIENCIA (SBPC), BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, solicito o registro nos Anais do Senado Federal do discurso " Educar para vencer desigualdades ", que deveria ter sido pronunciado no último dia 14 de julho, pela presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Glaci Zancan, no encerramento da 52ª Reunião Anual da SBPC. O discurso não foi pronunciado, pois a solenidade de encerramento foi interrompida pela impensada, inconseqüente e antidemocrática agressão ao Ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardemberg.  

A síntese política da 52ª Reunião Anual da SBPC está expressa no discurso de encerramento, publicado no Jornal da Ciência, de 28 de julho último. O não pronunciado discurso de Glaci Zancan, Educar para vencer desigualdades, merece entrar para os anais do Senado Federal pelo seu conteúdo e por representar o pensamento da comunidade acadêmica brasileira.  

O recesso parlamentar de julho, os compromissos com as bases e o ano eleitoral contribuíram para frustrar a oportunidade para que esta Casa acompanhasse mais de perto a 52ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, transcorrida em meados de julho, aqui próximo, na Universidade de Brasília.  

A magnitude do evento pode ser percebida pelos 7 mil inscritos em sua programação sênior e 3 mil na SBPC Jovem. O evento ainda esteve aberto à comunidade e dele participaram muitos representantes da terceira idade. Estima-se que, diariamente, circularam pela UnB cerca de 15 mil pessoas, todos atraídos por temas que parecem tão distantes, no entanto tão profundamente importantes para o desenvolvimento do país: ciência, educação, tecnologia.  

Os trabalhos apresentados, enriquecidos pelos debates, mereceram destaque na mídia e vieram reafirmar que, sem pesquisadores e professores, será impossível ao Brasil vencer seus grandes desafios; que sem a universalização e melhoria do ensino, os brasileiros estarão inapelavelmente de fora dos benefícios eventuais da globalização.  

A SBPC do ano 2000 também trouxe à tona, mais uma vez, o desinteresse do empresariado - salvo as exceções de praxe - em investir em pesquisa e tecnologia, desinteresse que, infelizmente, não é e talvez não possa ser suprido exclusivamente pelo Estado.  

No discurso de abertura do evento que teve como tema O Brasil na sociedade do conhecimento, desafios para o século 21 , a presidente da SBPC, Glaci Zancan, havia listado alguns dos principais desafios dos cientistas e da sociedade brasileira, entre eles o de "convencer o governo a honrar e dar continuidade às suas próprias iniciativas". Além do "desafio dos desafios: utilizar a Ciência e a Tecnologia para romper o ciclo de miséria e da injustiça social, incorporando à cidadania 70 milhões de brasileiros hoje marginalizados (caldo de cultura para enfermidades, mortes e violência descontrolada". Glaci Zancan, também cita o "desafio de vencer a desesperança".  

No encerramento, Glaci Zancan propõe "Uma educação científica voltada para transformar o mundo que nos rodeia. Uma educação que estimule a criatividade dando a todos a perspectiva de sucesso como forma mais eficiente de superar as desigualdades". É o que também queremos.  

Muito obrigado.  

Íntegra do discurso da presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Glaci Zancan, por ocasião do encerramento da 52ª Reunião Anual da SBPC, em 14/07/2000, na Universidade de Brasília.  

"Durante uma semana estivemos discutindo os mais variados aspectos da realidade nacional, buscando caminhos que conduzam com segurança ao desabrochar de um novo milênio.  

Ao nos voltarmos sobre nós mesmos, nossas raízes, nossas potencialidades, constatamos uma diversidade de expressões culturais surpreendentes que comprovam o imenso potencial criativo de nosso povo.  

Arte e Ciência são faces de uma mesma moeda, ambas manifestações de criatividade. Por isso, devemos acreditar que podemos crescer em ambas.  

É nosso dever enquanto sociedade dedicada à promoção da ciência destacar que, sem um planejamento de longo prazo, bem definido, na área da educação de matemática, línguas e de ciência, seremos cada vez mais marginalizados, pois no mundo global de hoje, a cada dia o conhecimento é mais poder, e o domínio adequado de tecnologias é a forma de prosperidade econômica e social dos povos.  

Precisamos de escolas públicas que se constituam em ambiente s estimulant4es, em que o ensino de matemática, de línguas e de ciência signifique a capacidade de transformação.  

Precisamos de uma educação que habilite o jovem a trabalhar em equipe, a aprender por si mesmo, a ser capaz de resolver problemas, que confie em suas potencialidades, que tenha a integridade pessoal, iniciativa e capacidade de inovar.  

A tarefa de mudar o ensino de informativo para transformador e criativo é gigantesca e envolve todos os níveis sem privilegiar uns em detrimento de outros.  

Sem dúvida, cabe à Universidade a liderança do sistema e para isso ela deve ser crítica, competente e eficiente.  

É urgente avançar na reforma acadêmica das Universidades com engajamento de todos.  

Precisamos ampliar a base científica nelas existente para poder inserir adequadamente toda a pirâmide educacional em novo parâmetro próprio do novo século que se inicia.  

Devemos deixar de lado as reformas educacionais feitas em gabinetes, pois elas não resolvem. Elas significam, na maioria das vezes, apenas alteração das estatísticas, sem repercussão na vida da população.  

As reformas devem nascer na comunidade, envolver e valorizar os professores.  

Precisamos estimular as experiências, aprender com a alegria e a simplicidade de nosso povo, multiplicar os incontáveis exemplos de dedicação e amor de homens e mulheres, educadores desse imenso país. O nosso desafio na entrada do novo século é: promover o homem pela educação. Educação compreendida como uma educação para o bem viver, para o trabalho e para a convivência harmoniosa com a natureza. Uma educação para o bem comum, para o ser mais humano, mais participativo, para ser mais brasileiro. Uma educação científica voltada para transformar o mundo que nos rodeia.  

Uma educação que estimule a criatividade dando a todos a perspectiva de sucesso como forma mais eficiente de superar as desigualdades. Essa é a tarefa a que nos propomos no início do novo século, e precisamos contar com a colaboração de cada um na promoção humana da maioria"  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2000 - Página 16588