Discurso durante a 96ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

APOIO A CAMPANHA INTERNACIONAL "POR UMA CULTURA DE PAZ E NÃO-VIOLENCIA, DESENVOLVIDA PELA UNESCO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • APOIO A CAMPANHA INTERNACIONAL "POR UMA CULTURA DE PAZ E NÃO-VIOLENCIA, DESENVOLVIDA PELA UNESCO.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2000 - Página 16600
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • REGISTRO, INICIATIVA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), DESENVOLVIMENTO, CAMPANHA, AMBITO INTERNACIONAL, VALORIZAÇÃO, PAZ, SOLIDARIEDADE, COMBATE, VIOLENCIA.
  • DEFESA, CONSCIENTIZAÇÃO, COMUNIDADE, AMBITO INTERNACIONAL, ESFORÇO, COMBATE, VIOLENCIA, BUSCA, PAZ, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) está desenvolvendo ao longo deste ano uma importante campanha internacional intitulada "Por uma cultura de paz e não-violência".  

Esta iniciativa de primeira grandeza tem como objetivo básico assegurar a transição de uma cultura de guerra, violência e discriminação para um novo tempo em que os valores mais destacados sejam a paz, o diálogo, a tolerância e a solidariedade.  

O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-violência foi esboçado por um grupo de ganhadores do Prêmio Nobel da Paz – entre os quais os timorenses Ramos-Horta e Ximenes Belo, Perez Esquivel e Rigoberta Menchu, Mikhail Gorbatchov e Nelson Mandela, o Dalai Lama e Bispo Desmond Tutu – em Paris, durante as festividades pelo transcurso do cinqüentenário da Declaração dos Direitos Humanos.  

Trata-se, sem dúvida, de um documento de alta importância, que passo a ler na íntegra, para conhecimento e reflexão dos Senhores Senadores:  

Manifesto 2000  

Por uma Cultura de Paz e Não-violência  

O ano 2000 deve ser um novo começo para todos nós. Juntos, poderemos transformar a cultura de guerra e violência em uma cultura de paz e não-violência.  

Essa evolução exige a participação de cada um de nós para dar aos jovens e às gerações futuras valores que os ajudem a forjar um mundo mais digno e harmonioso, um mundo de justiça, solidariedade, liberdade e prosperidade.  

A cultura de paz torna possível o desenvolvimento duradouro, a proteção do ambiente natural e a satisfação pessoal de cada ser humano.  

Reconhecendo a parte de responsabilidade ante o futuro da humanidade, especialmente com as crianças de hoje e de amanhã, me comprometo, em minha vida diária, minha família, meu trabalho, minha comunidade, minha região e meu país a:  

1 – respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminar nem prejudicar;  

2 – praticar a não-violência ativa, repelindo a violência em todas as suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular ante os mais fracos e vulneráveis, como as crianças e os adolescentes;  

3 – compartilhar o meu tempo e meus recursos materiais, cultivando a generosidade a fim de terminar com a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica;  

4 – defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, privilegiando sempre a escuta, o diálogo, sem ceder ao fanatismo, nem à maledicência e o rechaço ao próximo;  

5 – promover um consumo responsável e um modelo de desenvolvimento que tenha em conta a importância de todas as formas de vida e o equilíbrio dos recursos naturais do planeta;  

6 – contribuir para o desenvolvimento de minha comunidade, propiciando a plena participação das mulheres e o respeito dos princípios democráticos, com o fim de criar novas formas de solidariedade;  

Sr. Presidente, freqüentemente, tenho vindo a este Tribunal falar de paz e solidariedade, de ética e de responsabilidade social, de justiça e de respeito aos direitos humanos. Já num dos últimos pronunciamentos do ano passado, eu dizia que não é possível que o homem, neste novo milênio, continue a ser o mesmo de sempre: violento, egoísta e ambicioso.  

Mas a verdade é que, em nível planetário, a cultura da violência – calcada no conceito de "inimigo" - nos conduziu ao atual estágio, em que os cidadãos de umas poucas nações gozam de elevados padrões de vida enquanto uma grande maioria vive mergulhada na miséria e na violência.  

Embora hoje seja muito menor o número de guerras e revoluções, o certo é que os orçamentos militares da maioria dos países permanecem elevados, especialmente pelos gastos para a produção de armas de alta tecnologia, ditas inteligentes, que matam à distância.  

Se no plano internacional os conflitos diminuíram, também é verdade que aumentaram as guerras internas, especialmente em função de diferenças étnicas e religiosas. A intolerância que nasce do exagerado nacionalismo, além de reviver ódios religiosos ou étnicos, força milhões de pessoas ao êxodo.  

Também se constata, neste início de milênio, o crescimento constante dos índices de criminalidade, seja em nações ricas ou pobres, mas este crescimento é ainda maior nos países em desenvolvimento ou nos que ostentam perversos sistemas de distribuição da renda, como é o caso do Brasil.  

Por tudo isso, Sr. Presidente, a campanha da Unesco é mais do que oportuna. Ao registrar aqui, na íntegra, o seu manifesto, creio estar contribuindo para sua maior divulgação. O esforço em favor da paz e da não-violência deve ser permanente. Milhares de anos sob a égide da violência não serão banidos facilmente.  

Encerro este breve pronunciamento com palavras do diretor-geral da Unesco, Federico Mayor. Para ele, "não pode haver paz sem desenvolvimento sustentável. Não pode haver desenvolvimento sem educação ao longo da vida. Não pode haver desenvolvimento sem democracia, sem uma distribuição mais eqüitativa dos recursos, sem a eliminação das disparidades que separam os países mais avançados daqueles menos desenvolvidos".  

Era o que eu tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2000 - Página 16600