Pronunciamento de Roberto Requião em 11/08/2000
Discurso durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre o prejuízo na venda das ações da Petrobrás.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Considerações sobre o prejuízo na venda das ações da Petrobrás.
- Aparteantes
- Heloísa Helena, Pedro Simon.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/08/2000 - Página 16845
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- AVALIAÇÃO, PREJUIZO, VENDA, AÇÕES, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CRITICA, ADIAMENTO, SENADO, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ALVARO DIAS, SENADOR, PROIBIÇÃO, NEGOCIAÇÃO.
- DENUNCIA, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREJUIZO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, EDUARDO JORGE, EX-CHEFE, SECRETARIO GERAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO.
- DENUNCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, INEXATIDÃO, AVALIAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, há instantes o Senador José Alencar chamava-me a atenção para uma notícia publicada na Gazeta Mercantil. Ontem o Brasil perdeu - foi deliberadamente expropriado - a quantia significativa de R$1,5 bilhão na negociata com as ações da Petrobras.
Sua Excelência, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, colocou as ações na Bolsa de Nova Iorque, onde 60% delas foram negociadas. Portanto, do prejuízo que o País teve com a venda das ações da Petrobras, 60% de R$1,5 bilhão ficaram lá em Nova Iorque. E 60% desse valor são cerca R$900 milhões, em um dia. O Senador Álvaro Dias ontem já antecipava que esse prejuízo, ou essa “valorização”, ou essa “transferência para o mercado” nos próximos meses multiplicará esse valor por cinco, seis ou sete vezes.
Aqui no Senado, tentávamos, anteontem, votar um projeto encaminhado pelo Senador Álvaro Dias, proibindo a venda das ações da Petrobras, mas o projeto não andava. Alguns Senadores debatiam outros projetos que, nas primeiras votações, não tinham sido objeto do interesse de ninguém, e o Senador Antonio Carlos Magalhães, às 19h, encerra os trabalhos no plenário, porque teríamos uma sessão conjunta do Congresso Nacional, que só aconteceu três horas depois, às 22h.
Pois bem, o noticiário nos dá conta de que, enquanto se procrastinava a votação do projeto do Senador Álvaro Dias, as ações eram vendidas na Bolsa de Nova Iorque.
País roubado, e eu, pessoalmente, indignado, frustrado.
Enquanto isso acontece, dão um espaço enorme para as multas que juízes, espartanos juízes, duríssimos juízes, filhos de Plutarco, vestidos com a toga branca, impõem a um vereador que pichou o muro em Quixeramobim, no Ceará.
E os grandes jornais mostram a sua indignação com a absolvição que o Congresso ofereceu a políticos criminosos, como, por exemplo, o Senador José Alencar, punido porque um cabo eleitoral seu, em determinado momento, estendeu uma faixa na frente da sua casa, num mau português, sem o seu conhecimento, não é Senador? Mas o Senador foi multado, porque o juiz era inflexível, uma inflexibilidade das instituições, que não atinge a corrupção do Governo Federal e o Presidente Fernando Henrique Cardoso.
É preciso que os nomes sejam colocados com clareza. O responsável pelo Governo, pelo assalto à Petrobras chama-se Fernando Henrique Cardoso, pois foi o seu governo que comandou o processo de procrastinação no plenário do Senado e quem colocou as ações à venda.
Liga-se, de repente, a TV Globo, naquele interessante espaço humorístico do Jornal Nacional, onde aparece aquela espécie de divertido Chique-Chique do jornalismo brasileiro, que é o nosso valoroso Arnaldo Jabor, capacidade histriônica de primeira qualidade. Na minha casa, quando ele entra no ar, as crianças riem e dizem: “pai, como é engraçado esse Arnaldo Jabor”. E ele tenta ridicularizar Senadores, como o Senador Pedro Simon, que faz um interrogatório duro ao EJP, Eduardo Jorge Caldas Pereira, quando este veio prestar depoimento à Subcomissão da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
Mas, meu Deus, o que afinal disse o Senador Pedro Simon que irritou tanto o nosso cômico do Jornal Nacional? Se me lembro, na minha memória fixou-se uma afirmação muito clara do Senador Pedro Simon: “Eduardo Jorge, você era extremamente íntimo de Fernando Henrique Cardoso. Você era um homem da confiança do então Senador. Você sabia mais da vida do Presidente Fernando Henrique Cardoso do que a sua esposa a D. Ruth”. Fixei-me nessa revelação da intimidade do Secretário Geral da Presidência, Secretário do Presidente há 15 anos, com o próprio Presidente. Associei essa afirmação, que não foi uma denúncia, mas simplesmente uma constatação do Senador Simon, que conviveu com Fernando Henrique Cardoso no Senado por muitos anos, com uma declaração do Senador José Eduardo de Andrade Vieira. José Eduardo diz o seguinte: “no caixa legal da primeira campanha do Presidente da República entraram R$30 milhões” - na época, US$30 milhões, uma vez que o real estava equiparado ao dólar. “No Caixa 2, três vezes mais do que isso, cerca de R$100 milhões”. Um dos tesoureiros, Bresser Pereira disse tratar-se de um equívoco, que não tinha sobrado esse dinheiro, que tinha sobrado R$1,8 milhão. O José Eduardo Vieira nunca disse que tinham sobrado R$30 milhões no caixa oficial, mas que tinham entrado R$30 milhões. E, do caixa oficial, gastaram boa parte, sobrando uma pequena quantidade. E Bresser Pereira nega. Logo depois, numa entrevista com a jornalista Míriam Leitão, o Presidente da República nega que haja Caixa 2.
Senador Mozaraildo Cavalcanti, é possível um cinismo dessa ordem? Qual é o político brasileiro, com conhecimento dos esquemas de financiamento de campanhas majoritárias no Brasil e no mundo, que não sabe que esse processo continua sujo e corrompido e que o Caixa 2 equivale sempre a duas, três vezes o que entra no Caixa 1?
No entanto, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, do alto dos seus diplomas e da sua pose, diz que não houve um tostão de Caixa 2. Mas diz mais do que isso: que não sabia de nada; que perguntem aos tesoureiros. Ele não lê o que assina e não sabe rigorosamente de onde vem o financiamento da sua campanha.
Eu me pergunto: o que esse homem está fazendo na Presidência da República, além de vender o Brasil, acabar com a soberania, ferir de morte os conceitos de Nação e de Pátria e liquidar definitivamente a independência do País?
Não é possível que o País continue assistindo, passivamente, à dilapidação.
Em outro momento, anunciam a guerra contra os laboratórios, que aumentam indiscriminadamente o preço dos remédios. Será que existe algum idiota no Brasil que não saiba que o aumento ocorreu porque o Governo patrocinou a Lei de Patentes, proibindo os laboratórios nacionais de produzirem remédios de conhecimento público de vinte, ou trinta anos, inventando um tal de pipeline, que fazia com que retroagisse a patente, e dando monopólio absoluto do mercado aos laboratórios estrangeiros?
O Ministro José Serra patrocinou esse projeto de lei de patentes no Senado da República, e eu, pessoalmente, falei algumas vezes com o Presidente Fernando Henrique, que me dizia: “não sei; não tenho opinião formada”, enquanto mandava o Itamaraty e seus Líderes forçarem a aprovação no Senado da República.
Cínico e hipócrita o Presidente. E de cinismo a hipocrisia, de hipocrisia a cinismo, vai-se tentando reconstituir a imagem do Governo.
Nos últimos dois meses, todas as emissoras de televisão e de rádio, bem como os jornais, anunciavam a recuperação da economia: a exportação aumentou; a economia está respirando com facilidade; é a retomada do desenvolvimento no Brasil. E, atrás dessa campanha, entrega-se a Petrobras na Bolsa de Nova Iorque, com lucro de R$1,5 bilhão para o mercado.
Meu Deus do céu! Como fica pequenininho o PC Farias, e como ficam ridículas as desfaçatezes do Governo Collor. Como me parecem Collor, PC Farias e aquele grupo de alagoanos artesanais diante dos profissionais da corrupção que tomaram conta do governo brasileiro.
“O Brasil retomou o crescimento”, cantam na imprensa os Arnaldos Jabor, as Mírians Leitão, os Lámazières, os porta-vozes oficiais do governo. E o presidente vai dar uma entrevista exatamente para uma das porta-vozes oficiais, a jornalista chapa branca - inteligente, competente, mas chapa branca -, que é a Míriam Leitão. E cinicamente diz “não podemos tolerar essas denúncias pela metade”, quando o tapete do Senado da República, as bancadas, as cadeiras, o busto de Rui Barbosa, todos sabem que se as investigações não avançam é pela mão do Presidente constrangendo a bancada governista para que nada ande, para que nada prospere. O Senador Pedro Simon já experimentou a força do governo para evitar CPIs por ele propostas. Não anda, porque o governo tem mais medo de uma investigação do que o diabo tem medo da cruz.
A corrupção toma conta do Brasil. E em cada ponto, Senador José Alencar, onde V. Exª aperte o dedo verte pus. Eduardo Jorge Caldas Pereira, traficante de influência, promotor de advocacia administrativa em todas as circunstâncias, sócio de empresas às quais não aportou capital, sócio de uma empresa no Paraná, com 10%, com o único e exclusivo objetivo de vender debêntures autônomas, não vinculadas a ações, aos fundos de pensão por ele controlados.
Está podre a República! Ao lado do entreguismo, a ausência de um presidente forte e um processo de corrupção absolutamente dominante diante de um Congresso omisso e apático. Mas as forças vivas da Nação estão preocupadas em impor uma multa ao Senador José Alencar, porque um cabo eleitoral estendeu uma faixa de algodão na frente da sua casa!
Senador, vamos pagar essa multa de 20 mil reais. Eu poderia pagar algumas que me aplicaram, porque dei entrevistas a rádios do interior. Talvez, se pagarmos essas multas, estará salva a pátria, contente o Arnaldo Jabor, os editorialistas de O Estadão, de São Paulo, e redimida a moralidade no país! Cínicos e hipócritas, falsos arautos da moralidade que ocultam os crimes do Eduardo Jorge Caldas, que são claros e explícitos, e tentam desmoralizar o Ministério Público Federal.
No Rio Grande do Sul, lá na terra do Senador Pedro Simon, Celso Antônio Três, o procurador que abriu as CC-5 mostrando ao país a evasão de divisas, de dinheiro mal havido e de dinheiro roubado, é processado. Por quem? Por nada menos que o gângster do Banco Central, Armínio Fraga, o Armínio Fraga que comandou o ataque especulativo à Tailândia, deixando centenas de milhares de trabalhadores sem emprego e passando fome e que agora, na presidência do Banco Central, é um dos vendedores do Brasil - provavelmente para o George Soros também, que foi seu patrão no passado.
Celso Antônio Três, processado por Armínio Fraga por quebra de sigilo dos gângsteres que mandavam dinheiro para fora do país, dinheiro roubado nas falcatruas do governo, nas comissões e tudo mais! O país vai mal. O Presidente da República tem que ser responsabilizado. A minha indignação não encontra mais limites.
Encerrava, Senadora Heloisa Helena, anteontem, uma intervenção citando Henrique V, de Shakespeare, uma paráfrase: “Somos poucos hoje, mas conosco estão os brasileiros que deveriam estar e os que conosco não estiverem se arrependerão por todas as suas vidas por não terem estado.” Não é possível que a ilusão e a manipulação da mídia se eternize. Não é possível que o País seja enganado por tanto tempo, porque em determinado momento a realidade entra pelas nossas casas, pela porta e pela janela: o parente desempregado, o vizinho desesperado, as vítimas da violência se acercam da nossa própria vivência e do nosso cotidiano e a falsidade, a ilusão, o diáfano manto da fantasia de Eça de Queiroz se desfazem.
O Brasil está sendo assaltado por um presidente irresponsável que não acredita na nossa gente, que não é brasileiro, porque milita no sentido da valorização do capital internacional e de uma globalização ilusória, que anula a nacionalidade e estabelece a prevalência dos grandes grupos econômicos - esses que financiaram os cem milhões do caixa 2 de Fernando Henrique Cardoso, denunciado pelo ex-Ministro da Agricultura, ex-Senador, ex-tesoureiro da sua campanha José Eduardo de Andrade Vieira aqui, em Brasília, há três ou quatro anos e há duas ou três semanas, em Londrina, inclusive em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Grandes grupos financiando, a censura estabelecida, juízes absolutamente néscios tentando impedir o debate e as denúncias. Chamam as denúncias agora de propaganda negativa e dizem que, se a oposição, no ano que antecede as eleições, faz uma denúncia contra um governo estabelecido, está fazendo propaganda negativa. Vai lá a Polícia Federal apreender panfletos e o juiz a multar em 20 mil Ufirs aqueles que tiveram a coragem de dizer o que pensavam, denunciar um desmando ou um processo de corrupção qualquer.
Mas como vai a economia, Senadora Heloísa Helena? Será que a recuperação é tão evidente assim? Mentira! A imprensa mente tanto quanto mente Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Jorge.
A CNN, já anunciei desta tribuna dias atrás, fez uma análise do crescimento econômico dos países latino-americanos na última década. O Chile cresceu 230%, Senador José Alencar. A Argentina, 130%. O Paraguai cresceu 27% e a Bolívia, 47%. E qual foi o crescimento do nosso Brasil nas mãos do Fernando Henrique Cardoso em 70% do tempo transcorrido nesses últimos dez anos? O nosso crescimento econômico foi de 7,7%, contra um crescimento demográfico de 27%.
Se a população cresceu 27% e o crescimento econômico foi de 7,7%, temos um crescimento negativo de 19,3%, rigorosamente irrecuperável com um aumento mínimo e insignificante de exportações em qualquer momento da nossa economia. Estamos crescendo para baixo como rabo de burro. É mais uma década perdida - uma década cantada pelos histriões da mídia, pelos grandes grupos econômicos e por um Presidente da República que não tem amor ao Brasil, que não sabe o que é solidariedade e não tem a menor idéia do que é o sofrimento do nosso povo e de nossa gente.
A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Concedo com prazer um aparte a V. Exª.
A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Roberto Requião, eu não poderia deixar de fazer um aparte saudando o pronunciamento de V. Exª. Faço-o, primeiro, para dizer que as mulheres e homens de bem das Alagoas não minimizam - embora eu tenha entendido perfeitamente as colocações de V. Exª - a imagem negativa que um grupo de alagoanos disseminou pelo país. A quadrilha collorida que se instalou aqui, em Brasília, fez com que Alagoas fosse vista nacionalmente como o que eles representavam: a corrupção e o crime organizado. Quero dizer também que todas as colocações que V. Exª faz, e que todos nós temos feito durante tanto tempo em relação ao governo federal, são justas. Mas eu, como membro do Congresso Nacional, especialmente nesses últimos dias - embora não tenha sido apenas nesses últimos dias que tenham acontecido motivos relevantes -, penso que temos motivos para nos envergonhar desta Casa. A caracterização que faz V. Exª do governo federal é perfeita, própria, pois efetivamente trata-se de um governo corrupto, um governo que tem praticado crimes de lesa-pátria que não têm qualquer comparação na história do País. É um governo entreguista, que age sorrateiramente, como um rato. O Governo Federal agiu de uma forma covarde anteontem à noite, desrespeitando o Congresso Nacional, porque sabe que o Congresso Nacional não se respeita. Isso é o mais grave. Sabemos que não existe democracia sem justiça social, mas o pouco que existe dela é referendado pela presença de parlamentares que representam as mais diversas concepções ideológicas, as mais diversas formulações, que interpretam ou deveriam interpretar de alguma forma os sonhos, os desejos, as aspirações do povo brasileiro. Portanto, isto aqui é que é vergonhoso. O Congresso Nacional é uma vergonha. A este Congresso Nacional cabe o cumprimento de suas obrigações constitucionais, entre elas, a abertura de um processo de crime de responsabilidade em relação ao Senhor Fernando Henrique Cardoso. Todos conhecemos a caracterização entreguista, corrupta do Governo Federal. E este Congresso Nacional, em sendo omisso, é cúmplice de todas as bandalheiras que vêm sendo patrocinadas pelo Governo Federal. Sinceramente, sinto-me honrada de representar o meu Estado, porque sei que represento as mulheres e homens de bem e de paz da minha querida Alagoas. Alagoas proporcionou a uma mulher do povo estar aqui. Durante a história de Alagoas, só podia vir para o Senado os que estavam ou na varanda dos usineiros ou na cozinha dos pistoleiros. Mas Alagoas me deu esta oportunidade, qual seja, uma mulher do povo estar aqui. É evidente, portanto, que tenho de me sentir honrada de representar o meu Estado. Mas o Congresso Nacional envergonha a democracia. O Senado Federal é ainda pior, porque o Líder do Governo já disse, perante a opinião pública, que é impossível sair uma CPI Mista para investigar o Governo. O próprio Líder do Governo já disse que, no Senado, não se conseguem as assinaturas - como se o Senado fosse aquele meninozinho, aquele moleque de recados, aquele que, efetivamente, significa o anexo do Palácio -, que daqui não sai absolutamente nada. Imaginem que vergonha, diante da grandeza que um Congresso Nacional representa, como instância de decisão política e de poder, para uma democracia! O Congresso Nacional se ajoelha covardemente diante de um Governo que, por sua vez, se ajoelha covardemente perante o FMI, e promove fome, miséria, humilhação, desemprego, destruição de parques produtivos inteiros, desmantelamento de serviços essenciais, em uma política de entreguismo. E no Congresso Nacional não são apenas os suaves tapetes azuis; sabemos exatamente os balcões de negócios que são montados para seduzir e impedir que saia a Comissão Parlamentar de Inquérito. Então, eu não poderia deixar de saudar o pronunciamento de V. Exª na tentativa de acordar alguns, embora saibamos que não são as nossas falas aqui que acordam, mas é a pressão do povo brasileiro. Por isso, é de fundamental importância que o povo brasileiro derrote, nas próximas eleições, os partidos e as representações que dão sustentação a este Governo; que o povo brasileiro, lá no menor Município, selecione qual é a postura desse parlamentar, quando o Presidente da República está impondo fome, miséria, desemprego; qual é a postura desse parlamentar que apóia um determinado candidato, quando o Presidente da República está entregando o Brasil. Nesse sentido, portanto, não poderia deixar de fazer o aparte ao brilhante pronunciamento de V. Exª.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Senadora Heloísa Helena, V. Exª é uma representante do povo de Alagoas e não das elites apodrecidas, que mantiveram, por décadas, uma presença quase centenária no Congresso Nacional, algumas até com qualidade, mas como regra geral a submissão aos interesses dos grupos dominantes.
Mas, enquanto V. Exª falava, eu imaginava, daqui, uma produção para o Jornal Nacional. Eu gostaria de ver o Arnaldo Jabor, o Chique-Chique do Jornal Nacional, entrar fazendo caras e bocas, colocando rapidamente as minhas crianças em casa a rirem das suas graças. Logo mais adiante, ele tomaria uma postura mais séria e perguntaria ao Presidente: “Presidente Fernando Henrique Cardoso, onde você pôs os 100 milhões que sobraram da sua campanha? Cem milhões de dólares, Senador Pedro Simon, porque na época o real estava a par com o dólar. Onde você pôs os US$100 milhões que o Senador José Eduardo de Andrade Vieira disse que sobraram da sua campanha? Deixe de cinismo, Fernando Henrique Cardoso! As pedras de Brasília, o último dos brasileiros que faz política sabe que V. Exª trabalhou com o caixa 2”. Daí o Jabor daria uma gargalhada, novamente faria caras e bocas e num close se dirigiria ao Presidente: “Presidente, onde estão os 100 milhões? Costurados dentro do travesseiro de sua filha? No colchão de Dona Ruth? Ou, como disse o Senador José Eduardo de Andrade Viera, debaixo da cama?
O Presidente vetou a anistia das multas eleitorais. Eu, se estivesse no lugar dele, também vetaria, porque, se existem injustiças absolutas que gravam a maioria das penalidades desses novos Catões irresponsáveis da magistratura, também existiam penas de abuso do poder econômico que deveriam ser mantidas. Mas, no fim, o Congresso acabou sem alternativa, porque, para eliminar a injustiça, acabou eliminando também multas conseqüentes e sérias de juizes sérios.
Mas o Presidente, que vetou a anistia, devia-se abrir para a investigação do destino dos R$100 milhões. Senadora Heloisa Helena, perdemos, ontem, R$1,5 bilhão - não foi isso, Senador José Alencar? - segundo a Gazeta Mercantil, mas a Aeronáutica brasileira vai parar de voar porque não tem mais recursos, não tem mais combustível, e os aviões não têm manutenção. Mas a Previdência não tem dinheiro, e não podemos aumentar os salários dos trabalhadores, mas daremos ao mercado, nos próximos meses, alguns anos de aumento de salário dos trabalhadores, desviados por meio dessa manobra do mercado, com a cumplicidade do Senado da República. Onde está, Fernando Henrique, a sobra de campanha? Onde estão os R$100 milhões anunciados por José Eduardo de Andrade Vieira? No colchão da Dona Ruth ou embaixo da sua cama?
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador Roberto Requião, V. Exª me concede um aparte?
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Concedo o aparte ao Senador Pedro Simon. Ou talvez, Senador Pedro Simon, nas Ilhas Cayman, como já foi colocado por uma denúncia que circulou na imprensa brasileira.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O importante é que o Sr. Vieira é um ex-Senador da República, duas vezes Ministro de Estado, e foi escolhido para ser o tesoureiro de campanha. Ele diz, inclusive, que deu para a campanha verbas pessoais suas. Agora, vem um homem desse porte, da responsabilidade de um ex-Ministro, que, pode-se dizer, não se deu bem no Banco - mas não conheço atos de corrupção dele no Banco, talvez até tenha se dado mal por não tê-los praticado -, que exerceu os cargos mais importantes e que vem à Nação e diz que sobraram 100 milhões da campanha. Fomos à reunião da subcomissão, pedimos para convocá-lo, mas não concordaram. Eu não consigo entender que país...
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Senador, só para ficar mais claro: quem não concordou em convocá-lo?
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Os membros da subcomissão.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - A base de apoio do Governo Federal.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - A base da subcomissão. Está lá um dos requerimentos feitos para solicitar a sua vinda. Já que estamos tratando do Sr. Eduardo Jorge e o ex-Ministro José Eduardo de Andrade Vieira diz que esse dinheiro de campanha ficou com o Sr. Eduardo Jorge, pedimos para convocá-lo para vir explicar o que vem dizendo. Mas não concordaram. Quer dizer, na subcomissão que está reunida para tratar da matéria, não foi aprovada a vinda dele. Não sei, meu Deus do céu! O Presidente da República, que o teve como Ministro, conviveu longamente com ele, já que também foi seu colega quando ambos Ministros no Governo de Itamar Franco e foi Ministro em seu Governo, recebe uma afirmativa dessas e não acontece nada, não responde. A Procuradoria não faz nada, o Líder do Governo não faz nada, o porta-voz da Presidência da República não faz nada. Sobraram da campanha US$100 milhões; diz muito bem V. Exª, à época eram R$100 milhões que equivaliam a US$100 milhões, e a imprensa não diz nada. A imprensa hoje traz manchetes e mais manchetes sobre as decisões do Congresso Nacional, manchetes e mais manchetes de não sei mais o quê. Há uma coisa que eu considero fantástica. Pelé foi considerado o Atleta do Século, é uma das grandes honras que nós temos, mas - coitado do Pelé! - o Pelé aparece em uma propaganda batendo o martelo na mesa para a venda da Petrobras. Por que convidaram o coitado do Pelé para fazer isso?
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Por que o Pelé não vai jogar bola?
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Por que o coitado do Pelé, uma figura nacional de respeito, de credibilidade, foi convidado para representar o leiloeiro, batendo o martelo na mesa para dizer que foram vendidas as ações da Petrobras? Entretanto, com relação aos US$100 milhões não acontece nada. Em qual o país do mundo, respondam-me, não se investiga uma afirmação dessa gravidade? Nos Estados Unidos, o Presidente Bill Clinton quase perdeu o mandato, porque foi pedido o seu impeachment, e ele teve que pedir desculpas à nação, por ter-se envolvido com uma secretária. Aqui, um ex-Ministro de Estado diz que sobraram US$100 milhões de campanha e que esse dinheiro está por aí. E ninguém quer saber onde ele está! Não ouvi ninguém da Justiça Eleitoral dizer uma palavra; não ouvi o Procurador-Geral dizer uma palavra; não ouvi ninguém dizer nada. Ninguém! Estou aqui até este momento - já são quinze para o meio-dia desta sexta-feira - , não falei antes como inscrito, porque esperava, até agora, que o Governo fosse dizer alguma coisa, que alguém fosse falar ou cobrar, como, por exemplo, o Sr. Antonio Carlos Magalhães, nosso Presidente, tão rígido e tão firme nas cobranças - cobra aqui, cobra lá e não sei mais o quê. Como é que o Sr. Antonio Carlos não fez uma pergunta, não indagou sobre o assunto? Está ele defendendo o Presidente Fernando Henrique, que não tem nada a ver com o Sr. Eduardo Jorge? Não tem nada a ver! Mas, na verdade, sobre isso ninguém disse nada. Não vi um editorial de jornal; não vi uma notícia; não vi nada; não vi absolutamente nada! Mas que País é este, meu Deus do céu? O que mais falta dizer? Que acusação maior do que esta pode ser feita: sobraram, de campanha, US$100 milhões e o Sr. Eduardo Jorge sabe onde está? O Presidente sabe onde está. E não acontece nada! “Não sei. Não sobrou nada. Não sei o quê”. Mas, meu Deus do céu!
O SR. PRESIDENTE (José Alencar) - Eminente Senador Pedro Simon, o tempo do Senador Roberto Requião está ultrapassado em 13 minutos e meio. Então, faço um apelo a V. Exª que conclua o seu aparte. E peço também o Senador Roberto que conclua, porque há outros oradores inscritos.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Encerro agora, diante da honra de ter V. Exª como Presidente. Encerro imediatamente o aparte. Só que V. Exª falou de uma maneira tão firme que me causou uma expectativa muito grande. Achei que V. Exª iria dizer que sabia onde estavam os US$100 milhões. Encerro o aparte. Muito obrigado.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Senador Pedro Simon, poderíamos melhorar as manchetes dessa nossa imprensa semi-oficializada. Eles mancheteiam lá, Senador José Alencar: “Lalau”, que é o Nicolau, “Lulu”, que é o Luiz Estevão, “Dudu” que é o Eduardo Caldas; eu acrescentaria mais um personagem, Lalau, Lulu, Dudu e Nandão, o sucessor do Nandinho, que foi o Presidente anterior.
Onde está a nossa “grana”? Onde estão os US$100 milhões da campanha, que deram sustentação a essa política de espoliação impatriótica e entreguista que estamos vivendo hoje? Fernando Henrique, a nossa tolerância está chegando ao fim. É impossível que o País não tome consciência, de uma vez por todas, de que você está acabando com o Brasil, com os seus compromissos internacionais, com a sua absoluta falta de solidariedade, amor e patriotismo.