Discurso durante a 117ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória da ex-Deputada Federal e ex-Vice-Governadora do Distrito Federal, Márcia Kubitschek.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória da ex-Deputada Federal e ex-Vice-Governadora do Distrito Federal, Márcia Kubitschek.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2000 - Página 18365
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARCIA KUBITSCHEK, EX-DEPUTADO, EX VICE GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), FILHA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, DATA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ATUAÇÃO, POLITICA, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

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SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Exmº Sr. Presidente do Senado Federal, Senador Antonio Carlos Magalhães, Digníssimos representantes da Família Kubitschek que compõem a Mesa e presentes neste Plenário, Exmºs Srs. Ministros de Estado, Srs. Embaixadores, Srªs e Srs. Deputados, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, o Senado da República, por iniciativa do nobre Senador Maguito Vilela e outros Srs. Senadores, com muita justiça, homenageia, nesta tarde, uma mulher guerreira, símbolo da simplicidade da vida, que soube como ninguém expressar o seu amor pelo Brasil e pelo seu povo.

Márcia Kubitschek se foi precocemente mas deixou para cada um de nós uma lição viva de perseverança, de dedicação suprema às causas democráticas, de devoção à essência da cidadania.

Os valores que cultivou foram herdados do berço. A filha do ex-Presidente Juscelino Kubitschek e de Dona Sarah soube como ninguém exercitar a nobreza da vida pública, guiando-se a partir de preceitos realmente elevados, construindo, como os pais, uma trajetória marcada pelo respeito ao próximo e pela coerência política.

Como Deputada Federal, como Vice-Governadora do Distrito Federal - momento em que saúdo o Governador do Distrito Federal na pessoa do Vice-Governador, aqui presente -, Márcia Kubitschek se dispôs para a vida pública com paixão e denodo, despertando a admiração e o carinho de todos que aprenderam a apreciar sua doçura, sua amabilidade natural, sua disposição para servir.

Cidadã do mundo, o exílio que sua família foi obrigada a cumprir com o advento do Golpe de 1964 fez com que tivesse contato com diferentes culturas. Foi um período de vasto aprendizado, que lhe permitiu uma ampla formação humanitária e intelectual, ao mesmo tempo em que fazia crescer a saudade do Brasil e de seu povo.

A redemocratização, no início dos anos 80, trouxe-a de volta ao País, tendo escolhido para morar justamente a Brasília erguida por seu pai, símbolo das grandes transformações que permitiram tirar o País do atraso e devolver-lhe a confiança em novos dias de prosperidade.

O ingresso na vida pública foi marcado pelos mesmos dons herdados dos pais. A retidão de caráter, a integridade e a pureza de ideais projetaram a filha de Juscelino como uma autoridade respeitada por todos, independentemente de questões partidárias. Márcia foi uma verdadeira unanimidade, uma mulher que soube cultivar a admiração de todos com sua sólida personalidade, com sua transparência, com seus atos singelos que sempre se faziam grandiosos.

Como o pai, Márcia foi uma pessoa muito especial, muito marcante, plena em seu amor pelo Brasil. A paixão pela política era algo natural, estava no sangue, traduziu-se em gestos e ações que modificaram comportamentos, que edificaram vidas. Mulher corajosa, de princípios autênticos, não carregou, em nenhum momento, a mágoa em face da violência a que sua família foi submetida nos tempos negros do autoritarismo. Procurou viver a sua época sem ressentimentos. Mais do que isso, foi uma pregadora incessante da esperança. Com seu afeto contagiante, deu-nos uma lição de vida e nos faz, agora, saudosos e quebrantados com sua ausência.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil precisa de personalidades com os valores e as características de Márcia Kubitschek. O Brasil precisa despertar para os sentimentos que tão nobremente soube cultivar. O Brasil necessita redescobrir-se como força construtiva, como força positiva, como soma de esforços, para superar seus intrincados problemas e marchar na direção da felicidade.

Enquanto a Nação permanecer privilegiando o confronto desmedido entre seus agentes políticos, não chegaremos àqueles ideais requeridos pelo povo, que anseia por um país que tenha, realmente, vontade política de empreender as transformações que eliminem do nosso meio a miséria, a fome, o desemprego, o desamparo, a violência, a marginalidade e a desesperança.

Márcia Kubitschek poderia ter todos os motivos para empreender uma revanche contra aqueles que golpearam sua família. Preferiu entoar a trombeta da paz, preferiu dar exemplo de conversão e de amor, para que este País pudesse redimir-se de suas atrocidades e adotar os autênticos caminhos do bem.

Talvez seja Juscelino Kubitschek o maior homem público que este País já conheceu. A sua obra encontra-se absolutamente insuperável até os dias atuais. A sua bravura é igualmente incomparável. O seu governo traduziu-se como uma revolução com conseqüências até os dias atuais. Ele mudou o eixo do desenvolvimento, abriu uma perspectiva avançada de progresso, agitou o Brasil, ditando o ritmo do crescimento, aqueceu a economia a partir do próprio Estado, puxou os agentes produtivos para a tarefa da expansão, gerando oportunidades de trabalho num momento de inquietações e radicalização política.

Homenagear Márcia Kubitschek, Sr. Presidente, impõe a homenagem a Juscelino Kubitschek, pois, a partir de sua influência, Márcia conquistou também a todos nós. Entendo que a sociedade precisa sempre homenagear seus antepassados, aqueles que, já mortos, deixaram exemplos dignos de vida. A sociedade precisa homenagear seus heróis, seus benfeitores, aqueles que realmente contribuíram para o nosso desenvolvimento, para o bem-estar da população.

Juscelino Kubitscheck se destaca com muita veemência entre os benfeitores deste Brasil e - por que não dizer - entre os heróis brasileiros. Hoje, por coincidência, comemoramos os 98 anos de seu nascimento. E Juscelino Kubitscheck nos impõe muitos motivos para comemorarmos sua passagem à frente dos destinos do Brasil.

Mas sou também, Sr. Presidente, daqueles que entendem que a sociedade precisa preocupar-se em homenagear os heróis vivos, para que se sintam mais motivados a dar ainda mais em benefício de seus semelhantes. Em relação a Juscelino Kubitscheck - estou muito à vontade para dizer isso -, Goiás o homenageou em vida. Na verdade, desde que na Constituição de 1891 já se impunham estudos e providências para a transferência da Capital para o Planalto Central, Goiás, ainda pequeno, isolado do desenvolvimento nacional, já participava ativamente daquela idéia.

Juscelino Kubitscheck foi, verdadeiramente, aquele Presidente ousado, corajoso, competente, patriota, que não temeu as possíveis reações ao seu ato. Atendendo ao clamor dos goianos, na pessoa de um goiano ilustre, já tantas vezes citado - Toniquinho JK -, naquela hora, prometeu que cumpriria o texto constitucional que determinava a mudança da Capital federal.

Goiás lutou, esforçou-se muito e participou ativamente. Cuidou da desapropriação das terras, assumindo as indenizações com os seus parcos recursos. Vibrou ao lado de Juscelino, emprestando-lhe aquela força contagiante, para que enfrentasse todas as dificuldades. Mas não ficou apenas nisso: construída e inaugurada a Capital, ofereceu a Juscelino Kubitscheck uma homenagem, repito. Mas uma homenagem simplesmente porque construiu a Capital? Se Juscelino se limitasse a construir Brasília e abrisse apenas uma estrada que a ligasse à capital de seu Estado, Belo Horizonte, talvez para Goiás fosse um desastre. Mas Juscelino não se limitou a construir a Capital e a ficar na história como autor desse grande feito. Ele rasgou o ventre do Centro-Oeste, com a rodovia que ligou Brasília e Goiás a Rondonópolis, Cuiabá, Rondônia e Acre. Rasgou a Belém-Brasilia, enfrentado críticas às vezes veementes, injustas. Ele ligou Goiás à Bahia, ao Nordeste inteiro, abrindo a Brasília/Nordeste, trecho praticamente inviável. Ele construiu a estrada que ligava Goiás a Belo Horizonte e, com isso, Goiás despertou para momento importante da sua história.

Apenas a construção da Capital, repito, seria talvez um desastre. Com a infra-estrutura também construída por Juscelino na área da energia - quantas hidrelétricas ofereceram oportunidade para que as indústrias chegassem ao Centro-Oeste também! -, Goiás saltou do 16º para o 9º lugar no contexto sócio-econômico do nosso País, e as condições de vida dos goianos melhoraram muito.

Mas Goiás não ficou, Sr. Presidente, simplesmente nos aplausos. Um Senador da República, Taciano Gomes de Mello, por apelos e apelos de goianos de todos os partidos, renunciou o seu mandato de Senador para que o Estado tivesse oportunidade de prestar, perante o Brasil e o mundo, uma homenagem singular elegendo-o Senador da República tão logo terminou seu mandato de Presidente.

Mas Juscelino, praticamente candidato único, porque como seu opositor surgiu apenas um jornalista, ilustre mas politicamente obscuro - e mais como sinal de protesto; aliás, protestos existem em quase toda parte -, antecipadamente eleito por unanimidade, não se limitou a esperar, de Belo Horizonte, sua cidade natal, a eleição pelo povo goiano. Ele veio para Goiás, percorreu dezenas de municípios. Tive oportunidade, pessoalmente, de percorrer com ele muitos municípios: pequenos, médios; cidades maiores. E ele já demonstrava ali - o que confirma as palavras dos Senadores Maguito Vilela e Pedro Simon -, com aquele gesto, pois não precisava de campanha para ganhar a eleição, uma vez que era apoiado por todos os partidos já consolidados no Estado, que fazia questão de se juntar ao povo, de manifestar a sua gratidão, de sentir o povo, a fim de que no Senado pudesse traduzir os sentimentos da nossa gente.

De modo que nesta hora em que homenageamos Márcia Kubitschek, que indiscutivelmente recebeu tanto de seu pai e de sua mãe, Goiás reconhece no Presidente essas e muitas outras qualidades que nos levam a, nesta data, nesta hora em que se homenageia a sua filha, prestar também a ele homenagem, reservando-nos, é claro, para nos 100 anos promover outras, e muitas, e maiores homenagens àquele que realmente foi um grande benfeitor deste País, Juscelino Kubitschek, pai de Márcia Kubitschek.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2000 - Página 18365