Discurso durante a 125ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação com a perspectiva de vitória do Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. REFORMA AGRARIA.:
  • Satisfação com a perspectiva de vitória do Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições.
Publicação
Publicação no DSF de 27/09/2000 - Página 18976
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, EXPECTATIVA, CRESCIMENTO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PREFEITURA, MUNICIPIOS, PAIS, POSTERIORIDADE, RESULTADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESPECIFICAÇÃO, POSSIBILIDADE, POSSE, MARTA SUPLICY, CANDIDATO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • CONGRATULAÇÕES, LAURO CAMPOS, SENADOR, INICIATIVA, DOAÇÃO, TERRENO, DESTINAÇÃO, TRABALHADOR, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, OBJETIVO, APOIO, REFORMA AGRARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Lauro Campos, quero transmitir a minha felicidade pelo fato de estarmos realizando no Brasil uma coisa que nem sempre ocorreu: eleições. Não faz muito tempo, entre 1964 e 1985, houve a interrupção desse processo tão bonito que são as eleições nas capitais e naqueles municípios que eram considerados de segurança nacional, inclusive a capital de São Paulo.

O que me deixa feliz é o fato de que aqueles para os quais a ética é muito importante, a participação popular aos projetos que visam assegurar maior direito à cidadania, passos na direção da justiça, estão por dar um salto de qualidade. O povo está prestes a dar à Oposição, ao Partido dos Trabalhadores e aos Partidos coligados ao Partido dos Trabalhadores uma vitória consagradora.

O Partido dos Trabalhadores, hoje, comanda 107 prefeituras e tem 2.000 Vereadores. É possível que o PT dobre o número de Vereadores e dê um salto substancial no números de Vereadores eleitos. Por que razão? Pela consistência das proposições e pela forma como o Partido tem se conduzido, inclusive aqui no Congresso. Há muitas denúncias contra Vereadores e Vereadoras pelo País afora, por terem se imiscuído em assuntos que não deveriam, por terem confundido os interesses privados de grupos econômicos com os interesses públicos e terem se enriquecido no exercício do mandato, com base em decisões, fazendo aquilo que fere nitidamente o decoro parlamentar.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, houve casos, como lá no Embu, em que o único Vereador não cassado pela Justiça era do PT; refiro-me a Geraldo Cruz, candidato à prefeitura de Embu, a cidade das Artes, que está à frente das pesquisas de opinião. Temos Tarso Genro, em Porto Alegre; Benedita da Silva, no Rio de Janeiro; Edmilson Rodrigues, em Belém do Pará; Célio de Castro, do PSB, com quem estamos coligados em Belo Horizonte; Antonio Palocci Filho, em Ribeirão Preto; Gilmar Domenitti, em Franca; Vicentinho, em São Bernardo do Campo; Toninho, em Campinas; José de Felipe, em Diadema; Jair Meneguelli, em São Caetano, José Machado em Piracicaba; Marcelo Deda, em Aracaju, onde estive; Nelson Peregrini, em Salvador, e tantos outros. As coisas estão florescendo de forma excepcional!

Mas, Sr. Presidente, preciso falar daquilo que acontece em São Paulo. A candidata escolhida, em outubro do ano passado, consensualmente pelo PT ao governo do Estado - e quase chegou lá! - torna-se entusiasta defensora das nossas bandeiras e porta-voz de um movimento lindo; dez mil pessoas estavam, domingo à tarde, no Pacaembu, cantando, dançando e vibrando com as mensagens de Marta Suplicy, que está por se consagrar prefeita da maior cidade do Brasil. Isso será fantástico; será ainda melhor que em 1988, quando foi eleita Luiza Erundina, sobretudo porque o Partido dos Trabalhadores, desse tempo para cá, pôde aprender e amadurecer com os erros e acertos. Espero, inclusive, que Luiza Erundina venha, nesta reta final, se juntar a nós novamente.

            Tenho convicção de que Marta fará um governo fantástico, pois como psicóloga, psicanalista, é uma pessoa que, ao longo da sua vida, soube compreender, ouvir, falar e transmitir o seu pensamento. Ela tem todos os talentos, as qualificações para o cargo. Não sou apenas eu quem diz isso, mas também o engenheiro Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista, hoje com 72 anos, que foi Secretário do Planejamento do Meio Ambiente; Presidente da Emplasa; Secretário Adjunto da Conferência Habitar 2 da ONU; autor do Parque Anhembi e do projeto de urbanização do Anhangabaú; idealizador do Plano Básico de Curitiba; responsável pela implantação do Procon e do Seade; não é membro do PT e foi colaborador do Governo Franco Montoro e de outros, inclusive Jânio Quadros, quando da urbanização do Parque Anhangabaú. Diz ele:

“Já em 1998, quando modestamente procurara contribuir para a vitória de Mário Covas sobre Maluf, através de alguns artigos publicados na Folha, em uma eleição que acabara por se caracterizar por seu conteúdo ético, identificara na campanha de Marta Suplicy as características que poderiam torná-la a prefeita de que São Paulo necessita: sua integridade e vinculação ao interesse público, criatividade e inteligência, a sua vontade política, a decisão de fazer acontecer. Por isso disse-lhe, em novembro daquele ano, que se chegasse a ser candidata a esse cargo, esforçar-me-ia em contribuir, com a experiência que adquirira, entre outros trabalhos, ao dirigir a elaboração do Plano Diretor (Sempla/1985), no Governo Jânio Quadros - e do Plano Metropolitano (Emplasa/1994).

“Estou seguro de não me haver enganado pois, embora tanto Marta, como Luiza Erundina e Alckmin possuam biografias moralmente íntegras, o que não pode ser dito de todos candidatos, a cidade com recente agravamento de sua incivilidade, precisa de uma visão de mundo moderno, da coragem para inovar, da capacidade de integrar, cinergicamente, pessoas e pontos de vistas, qualidades essas que tive o prazer de ir descobrindo em Marta.

Essa “descoberta” deu-se durante este ano em que procurei colaborar no Instituto Florestan Fernandes, por ela presidido. Convivendo e debatendo com inúmeros profissionais, todos dotados de enorme entusiasmo e amor por São Paulo, cujos conceitos eram sempre fundamentados e por vezes conflitantes, como sói acontecer quando pessoas pensam, gerando férteis polêmicas, acabaram sedimentando-se, sempre com a arbitragem e presença ativa da candidata, algumas “idéias fortes” que me parecem importantes para que São Paulo “dê a volta por cima”. Pude observar então a habilidade de Marta em conviver com o contraditório, em liderar e decidir, não perdendo o rumo nem o bom humor.

A criação da primeira experiência de implantação de uma rede de comunicação pública (Sampa org.), em Capão Redondo; a decisão de iniciar a descentralização por subprefeituras na periferia em que o governo está ausente; a elaboração de diretrizes para a recuperação da paisagem; a decisão de participar da extensão do metrô; a abertura metropolitana, firmada em compromissos; a prioridade à criança e ao adolescente; o conjunto de políticas e programas concretos para dar presença e perspectiva ao jovem da periferia, hoje tão vulnerável à violência; a concepção integrada da segurança; as soluções já encontradas para a qualificação do Centro; a vitalização da zona leste vinculada à ampliação do emprego; as alternativas de captação de recurso; e a proposta de alocar parte da dívida com o Governo Federal no programa de renda mínima, são todas propostas que frutificaram graças à sensibilidade e capacidade de Marta de ouvir, aprender e decidir, integrando contribuições diversas com consistência.

Agrada-me também sua visão moderna de parceria, pois além do discurso hoje politicamente correto, escapa do demagógico ao manifestar que a cidade só recuperará sua auto-estima e condição de civilidade se transformações forem produzidas dentro de planejamento e critérios que evidenciem seu interesse público e com projetos que permitam sua avaliação, condições necessárias para a captação de recursos. Tendo afirmado que, se eleita, será prefeita de todos os cidadãos, creio que Marta será uma governante capaz de conduzir negociações e firmar pactos interpartidários, intersetoriais, intergovernamentais, internacionais, sem perder nem a objetividade nem o rumo.

Finalmente, não há como não pensar no segundo colocado na intenção de votos. Com 17%, segundo o Datafolha e o Ibope, do grupo de indecisos, votos em branco e nulos. Convencê-los a votar em Marta significaria uma decisão adequada para São Paulo já no primeiro turno. E por que não? Marta está com 35% e tentaremos, até domingo, conquistar os 15% de indecisos ou mesmo aqueles desiludidos - e são muitos que tanto têm se decepcionado com os que chegam ao poder. Para isso é preciso fazê-los ver que Marta e os candidatos do PT a prefeitos vão aplicar os projetos que levam em conta valores importantes para nós, como a participação popular, a busca da ética, da eqüidade, da justiça, da fraternidade, a prática da solidariedade, da qual V. Exª é hoje um exemplo.

Congratulo-me com V. Exª, Senador Lauro Campos, pela decisão tomada na semana passada e que contou com a colaboração e aprovação de seus irmãos e filhos, abrindo mão da fazenda que tinham em Minas Gerais e repassá-la ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Que exemplo de dignidade V. Exª forneceu ao Brasil, a todos nós, brasileiros! Como seria importante se outras pessoas seguissem o seu exemplo! V. Exª, na fase amadurecida de sua vida, como professor de economia engajado na luta por justiça, que nunca a abandonou, um minuto sequer, na sua carreira acadêmica e no plenário do Senado, nos honra a todos do Partido dos Trabalhadores com essa maravilhosa decisão.

Marta, os prefeitos e as prefeitas do PT pelo Brasil afora estarão aplicando o orçamento participativo, a fim de que todos partilhem melhor das decisões e o destino do dinheiro do povo; o banco do povo, para que as pessoas obtenham modestos empréstimos a taxas de juros módicas a fim de que possam adquirir equipamentos para realizar atividades que lhes proporcionem a sobrevivência com dignidade; o apoio às formas cooperativas de produção, porque quanto mais solidárias forem essas formas, melhor será a riqueza gerada, distribuída de forma mais eqüitativa; o apoio às micro, pequenas e médias empresas na cidade e no campo; a realização da reforma agrária mais rápida do que a que o Governo vem fazendo. E os prefeitos e prefeitas por toda parte, sobretudo nos municípios de grande e extensa área rural, estarão auxiliando o entendimento para que haja procedimentos como o de V. Exª. É possível que, por muitos lugares do Brasil, haja proprietários de terra que, diante da existência de um movimento catalisador como o que V. Exª inicia, possam até destinar uma parte de sua propriedade para ser cultivada por pessoas interessadas. Assim, esse modo catalisador poderá acelerar a reforma agrária. Haverá também a instituição de projetos como o Bolsa-Escola e o Programa de Garantia de Renda Mínima.

Marta em São Paulo realizará exemplarmente a implementação da lei, já promulgada mas que o prefeito atual preferiu não implementar e regulamentar, segundo a qual todas as famílias que não receberem pelo menos três salários mínimos - R$453,00 - por mês, terão o direito de receber um complemento, um terço da diferença de R$453,00 e sua renda, podendo o Executivo aumentar um pouco essa alíquota para 66%, desde que as crianças estejam freqüentando a escola.

Haverá também o Começar de Novo, que propiciará oportunidades àqueles que já perderam a esperança por terem perdido o emprego há mais de um ano, estão com idade superior a 45 anos e que, se fizessem um curso de requalificação, através de convênios com as centrais sindicais, poderão novamente ter uma oportunidade de trabalho, um lugar ao sol. Teremos ainda o Primeiro Emprego para que os jovens possam realizar uma espécie de estágio, às vezes, um serviço à comunidade, ou até mesmo, por exemplo, cuidando de pessoas mais velhas que, muitas vezes, vivem em suas residências sem conseguir sair porque não têm um parente. Um jovem, com certo treinamento, poderia chegar à casa de uma pessoa idosa, de 75 ou 80 anos, dispondo-se a, todos os dias, andar com ela, ajudá-la a tomar banho, acompanhá-la ao supermercado para comprar algumas coisas a mais - porque, de outra forma, a pessoa idosa fica comendo só banana, ou outra coisa que lhe chega às mãos -, comprar uma coisa mais gostosa e diversificar a sua alimentação, ou levá-la ao parque. Quem sabe, por uma modesta remuneração, alguns jovens fariam isso e, após trabalharem por seis meses ou um ano nessa atividade, sairiam com uma possibilidade muito mais concreta de referência para conseguirem um trabalho?

Estão aí, Senador Lauro Campos, alguns exemplos de projetos que a Marta, os prefeitos e as prefeitas do PT vão colocar em prática. Não é à toa que, na hora de conceder o prêmio “Prefeito Amigo da Criança”, a Abrinq, de 20 prefeituras, premiou oito prefeituras do Partido dos Trabalhadores. Não é à toa que a Fundação Ford, a Fundação Getúlio Vargas e a Unesco premiaram, ao longo dos últimos cinco anos, prefeituras que se destacaram por projetos de grande relevância social para a criança e o adolescente, e muitas prefeituras do PT participaram.

Feliz estou de pertencer ao Partido criado em 1980 por Lula e por tantos companheiros. Lula está hoje visitando Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul. Até domingo, ele terá visitado mais de 500 municípios. Trata-se da mais importante liderança nacional popular deste século, uma pessoa com o porte de Zumbi dos Palmares e de Tiradentes na nossa história, reconhecido até pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso como a grande liderança da Oposição.

            Eu disse a Lula, no comício, quão contente eu estava de ver a minha família inteira engajada nesse Partido e no propósito de eleger a Marta. Estavam lá os meus três filhos, o Supla, o André e o João. O Supla e o João cantaram: São Paulo, Supla e o musiqueiro João, e vibraram com o povo.

Acredito que a Marta vai ser eleita no primeiro turno.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Senador Lauro Campos, por ter me ouvido com atenção e carinho.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/09/2000 - Página 18976