Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Balanço das eleições de 2000.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Balanço das eleições de 2000.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2000 - Página 19910
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, RESULTADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, DEMONSTRAÇÃO, VITORIA, OPOSIÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, INEFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA SOCIAL, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • MANIFESTAÇÃO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), VOTAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SEGUNDO TURNO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, MUNICIPIO, GOIANIA (GO), ESTADO DE GOIAS (GO).
  • DENUNCIA, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS, CAMPANHA ELEITORAL, CAPITAL DE ESTADO, MUNICIPIOS, ESTADO DE GOIAS (GO), ABUSO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, ELEITOR, VOTAÇÃO, CANDIDATO, GOVERNO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, no exercício da vida pública, as verdadeiras lições e os mais sábios ensinamentos vem sempre do povo. Na democracia é assim. É no gesto espontâneo do ir às urnas que as pessoas se expressam com a mais completa sinceridade.

Acostumado a ouvir duros e consistentes pronunciamentos e alertas da oposição, sem esboçar a menor reação, o governo federal teve agora que escutar, calado, um duro e claro clamor por mudanças na gestão do país. Um discurso definitivo, de uma nota só, despido das imponentes frases de efeito, mas recheado pelo pragmatismo real de quem não quer outra coisa senão condições para viver dignamente.

As urnas disseram não à política econômica e às tímidas ações sociais e de desenvolvimento geradas pelo governo. Foi o não agonizante do doente que caminha para a morte porque não consegue comprar o remédio cada dia mais caro. O não irritado do trabalhador, que tem de deixar seu automóvel em casa porque o preço do combustível chegou a um patamar insuportável. O não de revolta do cidadão que viu sua vida ruir com o desemprego que bateu à sua porta. O não que quase não se escuta, dos milhões de miseráveis que não tem forças para gritar, pois falta-lhe até o de comer.

O povo simplesmente disse não. Candidatos colocados dentro de um espectro de oposição, com um discurso fortemente contrário ao governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, venceram já no primeiro turno ou chegaram na frente para o segundo turno em 15 capitais e num número expressivo de grandes e médios municípios. Inclui-se nesse grupo a influência determinante de cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia, Curitiba, Recife.

Mesmo em algumas cidades onde o PSDB venceu, foi com o discurso da oposição. Em Teresina, no Piauí, por exemplo, o tucano Firmino Soares, no dia da homologação de seu nome como candidato, discursou em alto e bom som que não queria o presidente em seu palanque. Declaração que ganhou repercussão nacional dada a sua gravidade política.

O recado das urnas foi muito claro. Mas parece que a empáfia tapou de forma irreversível os ouvidos daqueles que conduzem os nossos destinos. O governo tenta minimizar a derrota que sofreu nas eleições, com a alegação infantil de que este foi um pleito onde predominaram as discussões locais. Não é verdade.

Durante todo o processo, pudemos ler em pesquisas de todos os institutos sérios deste país, a constatação de que o povo queria os temas nacionais no centro do debate eleitoral. Participei da campanha em cinco estados e pude perceber isso com muita clareza. Não foi uma eleição plebiscitária, é verdade. Mas o povo julgou e condenou a equivocada política do governo. Uma política de mão única, que age com o freio de mão engatado quando o assunto é desenvolvimento e políticas sociais.

            Sinto-me à vontade ao fazer esta análise. Desde o primeiro dia que entrei neste plenário tenho sido coerente em minhas posições em relação ao governo. Estou a cada dia mais convencido de que o caminho correto não é este que eles defendem para o Brasil. Há uma inversão de prioridades monumental nas ações. É por isso tenho defendido que o meu partido, o PMDB, assuma uma postura diferente no Congresso. Uma postura clara de independência, dispensando participação em cargos e ministérios. O recado das urnas reforça essa minha convicção.

Não foi por outro motivo que defendi, numa reunião do meu partido em Goiás na última segunda-feira, que o PMDB recomendasse aos seus filiados e seguidores o voto no deputado federal Pedro Wilson, do PT, no segundo turno das eleições em Goiânia. Posição homologada por todo o partido. Foi uma decisão responsável, tomada justamente porque é o deputado Pedro Wilson, entre os dois candidatos restantes, aquele que representa esse sentimento de oposição e repúdio da população ao Governo Federal. Que no caso de Goiás se amplia, pois é um sentimento extensivo ao governador e ao prefeito da capital, ambos do PSDB. Os dois, como FHC, amargam baixíssimos índices de popularidade em função do equívoco de suas administrações.

Por falar em Goiás, quero também tecer rápidas considerações sobre as eleições em meu estado. Lá, o uso da máquina por parte do governo foi algo vergonhoso. Nunca se viu tamanhas e tão descaradas formas de pressão por parte do governador e seus auxiliares. Um desespero na tentativa de forçar o voto, que geraram situações que seriam hilárias, se não fossem extremamente graves.

A tônica dos pronunciamentos do governador Marconi Perillo nos palanques foi de ameaças. Claramente dirigia-se ao povo dizendo que ou votavam no seu candidato ou ele simplesmente iria virar as costas para a cidade, como se vivêssemos num território de currais eleitorais. Digo isso com muita responsabilidade. Tenho vários de seus discursos gravados em fita, que servirão de base para uma ação que o PMDB irá mover contra ele na Justiça Eleitoral.

Ação essa que irá se somar a outra, movida pelo próprio Ministério Público, que ganhou destaque nacional em matérias da revista IstoÉ e do jornal O Estado de S.Paulo, duas semanas atrás. Trata-se de uma denúncia da mais alta gravidade. Em setembro, o governo foi flagrado pagando, através da empresa de energia elétrica do estado, quatro milhões e meio de reais a uma fundação do Rio de Janeiro por um trabalho de consultoria que nunca foi realizado e cuja contratação se deu sem licitação. O Ministério Público tem fortes indícios de que esse dinheiro foi desviado para a campanha eleitoral em Goiânia e no interior.

Para confirmar a suspeita, foi pedida a quebra de sigilo bancário da deputada federal Lúcia Vânia, que era a candidata do PSDB em Goiânia, do presidente da Centrais Elétricas e de dois coordenadores da campanha do partido, que estranhamente são auxiliares de primeiro escalão do governo do Estado. O Banco Central também foi acionado pela Justiça Eleitoral para fazer o rastreamento do dinheiro.

Mas o povo é sábio. Apesar dos abusos cometidos, apesar da irresponsabilidade com que se usou e abusou do poder da máquina administrativa, a decisão popular foi emblemática . As forças ligadas ao governador tiveram uma derrota retumbante, a começar pelas duas cidades que garantiram a ele a vitória em 98: Goiânia e Anápolis.

O PMDB, apesar do processo de perseguição violento que sofreu nesses dois anos, emergiu forte das urnas, mantendo a condição de maior partido de Goiás. Individualmente, o PMDB continua no comando da maioria das prefeituras, quase setenta no total. Entre elas, cidades importantes e influentes como Luziânia, Catalão, Jataí, Morrinhos, Santa Helena, Planaltina, Uruaçu, Minaçu, entre tantas outras. Vencemos na metade das cidades de grande porte e na maioria absoluta dos municípios de médio e pequeno porte do estado.

Uma vitória que expressa o descontentamento das pessoas com a paralisia do governo. E que nos reforça na luta para retomarmos, com o apoio dos goianos, o comando do estado. Nosso objetivo é fazer com que Goiás volte a viver dias de solidariedade e justiça social e a ostentar índices expressivos de desenvolvimento, como acontecia no período em que era governado pelo PMDB.

Sempre respeitei a decisão e as orientações que vem do povo. E, nessa eleição, os ensinamentos foram muito claros. Continuarei, portanto, com a responsabilidade e o vigor que a situação exige, no combate às diretrizes traçadas para o país, defendendo uma urgente e necessária mudança de rumos.

No âmbito regional, irei lutar com todas as forças para que o atual governo não acabe com as conquistas alcançadas por Goiás ao longo dos últimos 16 anos. Estarei, juntamente com os demais companheiros de partido, me posicionando de forma clara e firme para que o governo não leve adiante o projeto de dilapidar os dois maiores patrimônios de Goiás, que são a Centrais Elétricas (Celg) e a Companhia de Saneamento (Saneago), ameaçadas de privatização.

Nossa luta é pela construção de um estado e um país justo, onde todos tenham igualdade de oportunidades e onde a política seja exercida com extremo zelo, seriedade e honestidade. Uma política que coloque sempre, não apenas nos discursos, o povo em primeiro lugar.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2000 - Página 19910