Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Boas vindas ao Senador Júlio Eduardo. Elogios ao livro "Saraminda", de autoria do Senador José Sarney.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Boas vindas ao Senador Júlio Eduardo. Elogios ao livro "Saraminda", de autoria do Senador José Sarney.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2000 - Página 20310
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, JULIO EDUARDO, SENADOR, POSSE, SENADO.
  • ELOGIO, LIVRO, AUTORIA, JOSE SARNEY, SENADOR, IMPORTANCIA, HISTORIA, FLORESTA AMAZONICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, Srªs e Srs. Senadores, hoje feliz fiquei por estar aqui o primeiro Senador do Partido Verde, Senador Julio Eduardo. E é muito significativo que S. Exª venha justamente do Acre.

S. Exª assumiu o seu mandato numa situação que nos preocupa um pouco, já que a nossa querida Senadora Marina Silva está, por motivo de saúde, licenciando-se por algum tempo. Mas, por vezes, certos fatos acontecem para que seja dada oportunidade a um Senador do Acre, da Região Amazônica, exatamente a mais verde do Brasil. Assim, está aqui o suplente de Marina Silva, um Senador do Partido Verde, que agora participa do Bloco de Oposição, juntamente com o PT e os demais Partidos.

Portanto, quero dar as boas-vindas ao Senador Julio Eduardo justamente neste dia em que me preparei para falar do verde e da floresta que S. Exª conhece muito bem.

Algo muito bonito aconteceu comigo e, certamente, está acontecendo com todos os Senadores. Fiquei muito contente ao saber que, entre nós, há um notável escritor. Eu não conhecia tão bem quanto agora os extraordinários dotes de um dos nossos Colegas. Tive a honra de receber o seu livro há poucos dias e aproveitei o trajeto de ida e volta de minha viagem à Alemanha para completar a leitura desse livro, que recomendo a todos os 81 Srs. Senadores. Alguns já o leram; outros estão começando a lê-lo.

O livro é tão notável, que vale a pena ler um trecho para mostrar quão bela é a forma com que o Senador José Sarney descreve o que acontece na Floresta Amazônica, quando, por exemplo, vem uma grande tempestade.

Era nas tardes que sempre chovia. Tudo começava quando eles vinham, aqueles carneiros pretos crescendo, enchendo de lã escura o horizonte do céu. Fugia o sol, começava uma luz triste, depois um cinzento de nuvens, logo depois aqueles rebanhos de montanhas pretas gigantes passando para lá e para cá e o vento acompanhando forte, de rajada, de lapada, espanando as árvores, os galhos balançando como se fossem quebrar e as folhas correndo loucamente, carregadas pelo vento, atrás dos coriscos. A mataria era só agitação, os pássaros fugiam, voavam na frente das nuvens pretas, ao sabor dos redemoinhos. E lá vinha a chuva, a gente via a bicha chegando, aqueles riscos que ligavam o céu e a terra, olhados caindo em pingos e não pareciam água, era uma cortina de véus cinzentos, um leito de gotas em fumaça, como saias, vestidos feitos de água. E então o chuvaréu descia, em pencas, borbotões grossos, zoando nas folhas, um chiado firme, como se fosse carícia mas de mãos violentas, e alisava, invadia a floresta, escondia as árvores, tapava tudo, não se enxergava mais nada, tudo escuro, tudo triste, e surgia o pé de trovão, os estalos dos raios fedendo a enxofre. “Seu Bonfim, me guarde, eu tenho medo de trovão, me cubra com meu vestido de seda, que espanta raios”. E eu a cobria enrolando os pés, protegendo-lhe o corpo, com o carinho todo, e pedia que não tremesse, segurava suas mãos, eu, Bonfim, besta que nem tamanduá, preso pelas amarras daquela fêmea que tinha o cheiro da chuva. E era tudo cinzento, e chovia chuva de tarde inteira entrando na noite, e a caravana de nuvens troteando no alto do nosso barraco.

            Está aqui descrito o sentimento de Cleto Bonfim, o chefe do garimpo que ficou perdidamente apaixonado pela maravilhosa Saraminda. Há trechos, Sr. Presidente, de extraordinária sensualidade. A forma como essa índia mestiça, Saraminda, é descrita por José Sarney, em todos os trechos, é muito bonita.

Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, temos a oportunidade de aprender sobre uma região do Brasil, sobre o Amapá, sobre a Guiana, sobre a vida dos garimpeiros e sobre a tristeza de certos lugares, como a representada pelo garimpo no meio da selva amazônica ou pelo garimpo de Serra Pelada, onde resta a situação de pobreza, de miséria, de desencanto, depois dos anos em que milhares de pessoas ali estiveram.

Agradeço ao Senador José Sarney porque pude aprender muito sobre a Guiana - país em que ainda não estive - e sobre o Amapá, que conheço, mas não com a profundidade que aqui nos é proporcionada. Parabéns, Senador José Sarney! Gostaria que S. Exª estivesse presente aqui.

Não é à toa que um dos maiores escritores da língua portuguesa ainda vivo, Carlos Heitor Cony, faz um belo elogio às palavras contidas nesse romance. O elogio é merecido. A leitura desse livro me fez ficar com muita vontade de ler toda a obra literária do Senador José Sarney. Quero cumprimentá-lo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2000 - Página 20310