Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

IMPORTANCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO POLITICA DA JUVENTUDE BRASILEIRA.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • IMPORTANCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO POLITICA DA JUVENTUDE BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2000 - Página 20362
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • RECONHECIMENTO, CRESCIMENTO, INDICE, ALISTAMENTO ELEITORAL, ADOLESCENTE, PAIS, OPORTUNIDADE, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO MUNICIPAL.
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, FUNDAÇÃO, DEMONSTRAÇÃO, CRESCIMENTO, ALIENAÇÃO, REJEIÇÃO, POLITICA, JUVENTUDE.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, STEPHEN KANITZ, JORNALISTA, ANALISE, BAIXA, POPULARIDADE, ATIVIDADE POLITICA, ESTUDANTE, OPÇÃO, ALTERNATIVA, PROFISSÃO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, URGENCIA, EMPENHO, DEMONSTRAÇÃO, RELEVANCIA, FUNÇÃO, EDUCAÇÃO, NATUREZA POLITICA, FORMAÇÃO, ESTUDANTE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB - CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não faz muito tempo, utilizei-me dessa tribuna para salientar a extrema relevância do Congresso Nacional no processo de conscientização política da juventude brasileira. Em nossa contemporaneidade, o problema da progressiva alienação da população jovem - seja no Brasil, seja no mundo - tem despertado a atenção da comunidade política e educacional, na firme convicção de que o resgate do valor político no seio da sociedade constitui, inexoravelmente, sua única garantia de vida. Seguindo o mesmo raciocínio, aproveito o recente transcurso do Dia Internacional da Juventude, que se comemorou no dia dois de outubro passado, para trazer à luz novas reflexões sobre o tema.

Na verdade, gostaria de demonstrar meu contentamento diante a informação de que, nas eleições que acabam de ocorrer no País, o alistamento eleitoral de adolescentes brasileiros na faixa de 16 e 17 anos voltou a subir. Isso pode ganhar uma significação bastante alentadora se observarmos que, desde 1990, tal alistamento vinha apresentando quedas sistemáticas. Segundo o cadastro oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o percentual nacional desses jovens cresceu de 1,76% em 98 para 2,86% em 2000. Mais significativo ainda, é saber que a expansão se deu sem que a Justiça eleitoral houvesse lançado qualquer campanha visando ao estímulo do alistamento de jovens.

Sr. Presidente, acontece que, apesar dessa euforia, como bem nos faz recordar o TSE, tal índice ainda não supera aquele verificado em 1989, quando, pela primeira vez, se proporcionou ao jovem de 16 e 17 anos a oportunidade do voto. Naquele específico ano, essa faixa de eleitores chegou a equivaler, por exemplo, a perto de 4% dos colégios eleitorais paulista e fluminense, respectivamente, quase se igualando à população de jovens nessa idade naqueles estados. Como o voto dos jovens é facultativo, o alistamento eleitoral pode dar alguma pista sobre a sua participação política.

Tudo leva a crer que, desde a queda do ex-Presidente Collor, a participação dos jovens na política tem atravessado um espantoso processo de recuo. De acordo com pesquisas sobre comportamento político realizadas por sociólogos catarinenses com diversos grupos de jovens ligados a movimentos sociais, um ar acentuado de ceticismo em relação à realidade prevalece no meio da juventude brasileira, de “anarco-punks” a integrantes de pastorais religiosas. Contudo, a pesquisa logo esclarece que a expressão “ceticismo” não pode ser confundida com ausência de resposta política juvenil. Trata-se, sim, de um comportamento que exprime desilusão com as políticas públicas voltadas para o jovem, que se sente deserdado, inseguro no processo de inserção na vida produtiva do País.

Vale lembrar que o quadro desenhado pelos sociólogos catarinenses - e publicado recentemente pela Folha de S.Paulo - reforça as conclusões de outra pesquisa mais abrangente, que foi, há pouco tempo, realizada pela Fundação Perseu Abramo, de São Paulo. Nessa pesquisa foram entrevistados quase 2 mil jovens, entre 15 e 24 anos, em nove capitais do País. Embora fosse naturalmente previsto, o fato de os jovens majoritariamente preferirem o lazer à política desperta enorme preocupação entre aqueles que vislumbram na juventude a fonte das transformações político-sociais.

Digo isso porque, sob uma leitura mais direta, os valores sedimentados em organizações hierarquizadas e ideologicamente pragmática, não parecem mais seduzir o espírito de nossa juventude. Ainda assim - e aí surge uma contradição dolorosa -, o modo de vida e suas dramáticas dificuldades ocupam lugar central na condução de suas iniciativas políticas. Nessa perspectiva, pode-se interpretar sua rejeição à política como uma crítica, não ao sistema de poder com um todo, mas sim ao modelo de representação vigente. A falta de estímulo para votar pode indicar que os jovens não vêem os políticos eleitos como seus representantes.

Nos Estados Unidos, a crise da representação não se distingue muito daquela verificada em solo brasileiro. Outro dia mesmo, a agência Reuters anunciava que, para as próximas eleições majoritárias, nas quais se elegem governadores e presidente da República, menos de 50% dos jovens do país se dispõem a votar. Seguindo resultado de pesquisa realizada pela MTV e pela Fundação Henry Kaiser entre jovens de 18 a 24 anos, somente metade dos entrevistados estava devidamente registrada para o exercício do voto. Para ser mais exato, apenas 46% da população juvenil norte-americana confirma, em caráter absoluto, comparecimento às urnas em novembro próximo.

Da mesma forma que os brasileiros, os jovens norte-americanos, segundo a mesma reportagem, parecem possuir opiniões muito fortes sobre as questões em foco no debate eleitoral. Todavia, a maioria demonstra indiscutível descrença na eleição como veículo de expressão de opinião, ou como dispositivo de alteração das políticas públicas. Mais precisamente, os estudantes entrevistados afirmaram que não votariam nas eleições por pelo menos dois motivos básicos: a) convicção de que podem atuar mais efetivamente quando se envolvem em atividades comunitárias; b) sensação de que a política trata apenas de mentiras e dinheiro.

Diante do exemplo norte-americano, não há como deixar de identificar semelhanças muito próximas ao caso brasileiro. Agora, se o fenômeno se caracteriza por uma amplitude generalizada no mundo, isso não significa necessariamente impactos semelhantes nos diversos países. Pelo contrário, enquanto nos Estados Unidos a população jovem pode se dar ao luxo de prescindir dos canais formais de participação, por conta do alto grau de desenvolvimento de sua sociedade, no Brasil a realidade estrutural e conjuntural se enquadra no modelo exatamente oposto.

Pior que isso é tomar conhecimento de que, segundo os dados da pesquisa da Fundação Perseu Abramo, a alienação política de nossa juventude cresce na proporção inversa de sua crença no regime democrático. Pela pesquisa, 81% do conjunto dos entrevistados simplesmente não confia nos partidos, nem nos políticos. Quase 60% dos jovens contatados afirmam que, individualmente, não influenciam em “nada” para mudar o rumo político do País. Mais de 70% dos entrevistados declararam que nunca participaram de manifestações, nem sequer assinaram documentos de protesto ou reivindicação.

Nesse triste diapasão, o articulista Stephen Kanitz, da revista Veja, publicou recentemente artigo salientando a baixa popularidade da prática política no meio estudantil. Para ele, a grande maioria dos estudantes de hoje não hesita em escolher medicina, advocacia, computação e jornalismo como futuro profissional, em detrimento da carreira política. Tanto é verdadeiro o enunciado quanto a nota de corte do vestibular de sociologia e política se inscreve como uma das mais baixas de todas as profissões. Por isso mesmo, adverte-nos o articulista, nenhum país sério que, desde Platão, almeje uma administração pública respeitada pode descartar seus melhores cidadãos do exercício da prática política.

Aproveitando as discas do articulista de Veja, não me furtarei a apontar algumas saídas para a apatia política no meio juvenil. Em primeiro lugar, é preciso que tomemos algumas providências de caráter mais urgente, como a de destacar o papel da educação política na formação de nossos estudantes. Por educação política, como gosto de frisar, devemos entender o despertar de uma consciência nova para a responsabilidade da coisa pública. Ou seja, sociedade civil e Estado devem comprometer-se com o propósito de semear uma mentalidade, uma grande cultura, que promova os laços imanentes entre desejos individuais, cidadania e felicidade coletiva.

Nesse contexto - e para concluir -, um programa de educação política deve incorporar não somente tópicos históricos, filosóficos, antropológicos e sociológicos, mas também a estimulação de iniciativas práticas que animem a inserção do jovem no seu cotidiano político, seja nas esferas do município, do estado ou do País. Ainda que os esforços nessa direção tenham sido, até o momento, timidamente parcos, os resultados das últimas eleições do dia primeiro de outubro já anunciam que a juventude brasileira não está de braços cruzados, nem tampouco calada diante da realidade que a oprime.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2000 - Página 20362