Discurso durante a 136ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar fatos que envolvem as associações brasileiras de futebol. Apresentação de projetos de lei que proibe a reeleição de presidentes de federações esportivas e cria o instituto olímpico para apoio aos atletas.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), FUTEBOL.:
  • Apoio à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar fatos que envolvem as associações brasileiras de futebol. Apresentação de projetos de lei que proibe a reeleição de presidentes de federações esportivas e cria o instituto olímpico para apoio aos atletas.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2000 - Página 20601
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), FUTEBOL.
Indexação
  • APOIO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, IRREGULARIDADE, PARTICIPAÇÃO, INSTITUIÇÃO ESPORTIVA, ESPECIFICAÇÃO, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF), CLUBE, FUTEBOL, CONTRIBUIÇÃO, PROGRESSO, APERFEIÇOAMENTO, ESPORTE, PAIS.
  • ANUNCIO, PRETENSÃO, ORADOR, APRESENTAÇÃO, PROJETO, PROIBIÇÃO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE, INSTITUIÇÃO ESPORTIVA, CRIAÇÃO, CENTRO DE TREINAMENTO, MELHORIA, QUALIDADE, ATLETA PROFISSIONAL, PARTICIPAÇÃO, OLIMPIADAS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, a coerência é um dos componentes que mais engrandecem e legitimam a ação do político. Ao longo do trabalho desenvolvido durante os seis mandatos que o povo goiano me conferiu, sempre tive uma preocupação obsessiva com este ponto: coerência nas ações, coerência política e, sobretudo, coerência de princípios.

Logo que assumi a cadeira aqui no Senado, surgiu a proposta de criação da chamada CPI do Judiciário, feita pelo Presidente Antonio Carlos Magalhães. Fui um dos primeiros a apoiar publicamente a iniciativa. Naquele momento, em pronunciamento aqui mesmo no plenário, deixei bem claro que apoiaria toda e qualquer proposta séria de CPI que fosse apresentada no Congresso Nacional. Entendo que toda proposta séria, com indícios sérios, realmente tem de ser acolhida e analisada em profundidade.

Por isso, eu disse e repeti inúmeras vezes aqui no Senado que apoiaria qualquer proposta de CPI, com indícios naturalmente, porque nenhum Senador e nenhuma Senadora vão fazer uma proposta sem indícios e sem uma fundamentação que a justifique.

E assim o fiz em relação em relação à CPI do Sistema Financeiro e também a respeito das denúncias envolvendo o ex-Secretário Geral da Presidência da República, Eduardo Jorge Caldas Pereira, que, no meu entender, também merecia uma investigação mais aprofundada, conduzida dentro da isenção de uma comissão parlamentar de inquérito.

Discute-se agora a CPI do Futebol, proposta pelo eminente Senador Álvaro Dias, do Paraná. Pelas minhas profundas ligações com o setor esportivo brasileiro, surgiram algumas especulações de que eu me oporia á idéia. Isso não é verdade. Assomo a esta tribuna hoje para dizer ao Brasil todo que isso é uma inverdade.

Como nos outros casos, apoiei a proposta de criação desta CPI, que acredito ser séria e bem fundamentada, e coloquei o meu nome à disposição do partido para participar diretamente dos trabalhos, ganhando a indicação para dela ser membro titular.

O futebol é um dos maiores patrimônios do Brasil, tanto do ponto de vista cultural, quanto do ponto de vista econômico. Se pairam dúvidas sobre sua gestão ou sobre o uso indevido dessa instituição que pertence ao povo brasileiro, o Congresso Nacional tem o dever de ir fundo, investigar exaustivamente. O que não pode é o futebol brasileiro ficar patinando em função de suspeitas que nunca são esclarecidas ou devidamente esclarecidas.

Não tenho dúvidas de que o grande beneficiado com as investigações será o esporte. A própria CBF e os clubes de futebol devem apoiar a CPI. O esclarecimento de todas as dúvidas e todas as suspeitas será bom também para essas instituições, que hoje vivem sob pressão e até mesmo chantagem constante de um grupo de oportunistas, inclusive políticos, que se preocupam com o futebol e o esporte apenas como instrumento de promoção e realização de projetos pessoais.

A CBF tem constantemente sido objeto de pressão por parte de oportunistas e até de políticos inescrupulosos. Portanto, a ela interessa - tem que interessar - esta CPI para esclarecer todas e quaisquer dúvidas que o povo brasileiro porventura tenha.

As investigações da CPI do futebol, portanto, terão o meu total e irrestrito apoio. Como político e como desportista, tenho a convicção de que seus trabalhos irão contribuir para o avanço e o aperfeiçoamento do esporte no país.

Aproveito esta oportunidade para anunciar dois projetos que pretendo apresentar nesta Casa no sentido de contribuir com o esporte brasileiro. O primeiro pretende proibir que presidentes de federações esportivas possam ser reeleitos mais de uma vez. O que acontece hoje em praticamente todas as federações esportivas do Brasil é que os presidentes são eleitos e reeleitos muitas vezes, e há casos em que permanecem à frente daqueles instituições até por vinte anos. Isto realmente é um absurdo: criam-se feudos, não se reoxigena essas federações, não se injeta sangue novo nessas federações e fica-se aí manipulando todo o tipo de eleição e manipulando o esporte, seja na área das lutas, seja no esporte olímpico, seja no futebol, seja em qualquer modalidade de esporte.

As federações esportivas do Brasil não podem permitir que uma pessoa seja reeleita indefinidamente. Temos exemplos disso em praticamente todas as federações brasileiras. Eu, inclusive, já tinha anunciado essa minha disposição de, no Congresso Nacional, colocar um paradeiro nessas seguidas reeleições para as presidências de federações.

Discute-se no país sobre a constitucionalidade dessa medida, mas, se for o caso, podemos contornar o problema com uma emenda constitucional, pois penso que temos que contribuir com o esporte brasileiro. Nesse contexto, a primeira grande contribuição é a reoxigenação dos quadros dirigentes do futebol brasileiro, das federações e da CBF.

Existem casos no Brasil de pessoas que estão há décadas no comando de determinados segmentos esportivos, o que gera acomodação e vícios nocivos ao aprimoramento e ao aperfeiçoamento do esporte. A renovação é fundamental, porque dá chances para o surgimento de novos quadros, de novas idéias, de novos projetos.

O segundo projeto que pretendo apresentar diz respeito ao esporte olímpico. A participação brasileira nos Jogos de Sidney, como em olimpíadas anteriores, ficou muito aquém do potencial do Brasil e dos atletas brasileiros. Estou aprofundando estudos no sentido de propor que o país crie uma espécie de instituto olímpico, com o objetivo de apoiar jovens atletas e possibilitar que o Brasil possa disputar com maior sucesso as olimpíadas vindouras. O Brasil precisa criar mecanismos para estimular os jovens atletas, para prepará-los melhor para as futuras olimpíadas.

Com esse projeto, além de contribuirmos parar criar uma geração olímpica vencedora, estaremos certamente colaborando com a diminuição da violência, afastando jovens das drogas e, com toda certeza, criando um caminho novo para uma gama enorme de crianças carentes que, sem o apoio de iniciativas oficiais, correm um risco sério de descambarem para o mundo do crime.

A criação desse instituto para apoiar o esporte olímpico, o Instituto Olímpico, não é uma idéia nova. Essa idéia já surgiu em outras épocas no Brasil. Aliás, outros países também criaram institutos olímpicos que deram excelentes resultados, a exemplo da própria Austrália, que recentemente criou instituto para apoiar os jovens atletas e permitir que pudessem ter sucesso nas olimpíadas. Realmente, isso funcionou.

Assomo a esta tribuna, portanto, para dizer que participarei da CPI do Esporte e participarei com a mesma isenção com que participei de todas as outras CPIs, com muita seriedade.

Pelos motivos que já expus, entendo que o futebol brasileiro precisa realmente ser investigado. Assim procedendo, evitaremos que a CBF fique sendo chantageada todos os dias, inclusive sofrendo ameaças de políticos do seguinte teor: “coloquem tal clube no módulo verde ou nós vamos propor uma CPI” ou “coloquem tal clube no módulo amarelo ou nós vamos propor uma CPI”.

É preciso acabar com isso. Se há dúvidas dos brasileiros a respeito do assunto, se há dúvidas do Senado, se há dúvidas do Congresso, elas têm que ser investigadas. Repito agora aquilo já disse: sou favorável a todas as CPIs quando existem indícios realmente fortes de irregularidades. É papel essencial do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados e do Senado da República, apurar toda e qualquer irregularidade.

Para aqueles que lançaram dúvidas sobre o meu nome, quero repetir o que fiz em Goiás. Depois que deixei o governo de Goiás, foram suscitadas, por parte do atual governador, algumas dúvidas em relação ao meu comportamento como governador. Desafiei S. Exª e pedi aos deputados estaduais de Goiás que propusessem CPIs para apurar todas as dúvidas que porventura o governador tivesse com relação ao meu governo. Ele levantou dúvidas quanto à Celg eu pedi a um deputado nosso que propusesse uma CPI para investigar a Celg durante o meu governo. Os deputados do PSDB não aprovaram a CPI.

Depois levantaram dúvidas relacionadas a Cachoeira Dourada e eu fui o primeiro a pedir uma CPI para investigar o assunto. No entanto, até hoje eles não fizeram isso, justamente porque sabem que, a partir do momento em que forem investigar o meu governo, vão realmente perceber e, mais uma vez, anunciar a Goiás que não houve nenhum comportamento dúbio ou desonesto no nosso governo. Pedi, e peço novamente, se houver dúvida, que se instalem CPIs. Creio que as CPIs são instrumentos sérios que se destinam justamente a dirimir dúvidas e esclarecer a verdade a todos aqueles que realmente pretendem encontrá-la.

Portanto, repito: sou a favor da CPI, participarei dela e quero que essa comissão mergulhe fundo no esporte brasileiro, para que possamos realmente ter o esporte sadio, bem conduzido e realmente digno da História e das tradições do nosso País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


C:\Arquivos de Programas\taquigrafia\macros\normal_teste.dot 7/18/247:30



Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2000 - Página 20601