Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Dia da Juventude, transcorrido a 15 de outubro do corrente.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Dia da Juventude, transcorrido a 15 de outubro do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 20/10/2000 - Página 20801
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, JUVENTUDE.
  • ADVERTENCIA, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, JUVENTUDE, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, PLANEJAMENTO, IMPLEMENTAÇÃO, AVALIAÇÃO, ATIVIDADE, INFLUENCIA, VIDA, CIDADÃO, ESPECIFICAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA.

           O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a comemoração do Dia da Juventude, a 15 de outubro, oferece-nos o ensejo de refletir sobre o significado de ser jovem nos dias atuais, uma vez que essa condição não é imune às contradições do nosso tempo, ao contrário, é por elas fortemente atingida e transformada.

            Houve uma época em que a juventude representava a contestação. Nessa época, na qual a regra era não confiar em ninguém com mais de trinta anos, o mundo ocidental foi sacudido pelos estudantes universitários franceses, que clamavam pelo socialismo e pela reforma universitária, e pelos jovens americanos, que buscavam estratégias para escapar ao serviço militar no Vietnã.

           Essa geração era mobilizada por uma utopia com dimensões mais ou menos claras: o socialismo, o pacifismo, a liberdade, a igualdade, etc.; exibia disposição para a ação coletiva; e, em conseqüência, em maior ou menor escala, dispunha de recursos de poder capazes de fazer com que suas demandas fossem incluídas na agenda governamental ou com que fossem tratados como uma ameaça a ser combatida.

           Os jovens dos anos sessenta e setenta geraram filhos que compõe a juventude dos anos noventa. Essa última parece ser, ao contrário de seus pais, uma juventude carente de utopias e de organização coletiva, dotada de parcos recursos de poder. Além disso, percebe o poder como não sendo poder dos jovens, já que a cultura do poder institucionalizado privilegia os mais velhos.

           No caso brasileiro, após os anos sessenta e setenta, os jovens só vieram a se mostrar presentes, de forma diluída, em dois momentos, ambos dirigidos pela elites adultas do País: o movimento das Diretas Já e o movimento do impeachment do Presidente Collor. A sua freqüência ao noticiário dos jornais, fora desses momentos, se concentra nas ocorrências policiais, seja pelo envolvimento com o tráfico de drogas, com acidentes de trânsito, com gangues ou em episódios de criminalidade como a incineração do índio pataxó em Brasília.

           Entretanto, esse enorme contingente de 32 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos, não pode ser tratado de maneira uniforme. Como ocorre com os demais grupos etários, a juventude exibe diferenças internas a partir de agudas assimetrias nas suas condições de vida. De fato, é preciso distinguir, pelo menos, duas juventudes, que se diferenciam pelas oportunidades de vida e por uma certa segurança quanto ao futuro: o jovem que vive no mundo das escolas particulares e das universidades, do curso de línguas estrangeiras e dos recursos da microinformática é, certamente, muito diverso daquele que enfrenta as dificuldades do ensino público ou abandona os estudos devido à maternidade precoce ou frente ao imperativo de lutar prematuramente pelo seu sustento e de enfrentar a vida nas ruas.

           Nesse mundo atribulado, sobrevém o paradoxo. A sociedade toma como modelo a juventude, que passa a ser referência para o consumo, para os costumes, exemplo de alegria, descompromisso e certeza quanto ao futuro. Só que os estudos recentes mostram que os jovens sofrem muito neste mundo onde a puberdade se antecipou dos 17 para os 13 anos. Eles se tornam adultos mais cedo. Mas não conseguem emprego. E têm de ficar, em média, até os 25 anos na casa dos pais.

           O resultado é um mundo de ansiedade e depressões. O jovem de hoje é diferente de todas as outras gerações de jovens, porque tem uma cabeça “digital”. Ao mesmo tempo, não tem o que fazer com toda essa informação provida pela tecnologia e tem muito medo do futuro, pois esse conhecimento não lhe garante entrada no mercado de trabalho.

           O que esperar de um futuro em que os jovens gênios dos computadores sonham tornar-se fantásticos hackers, para serem contratados pelas grandes corporações para ensiná-las a se defender de outros hackers?

           Parece certo, ainda, que o fato de ser jovem por si só não constitui uma base de identidade social que oriente a ação política: em geral, o jovem se mobiliza a partir das agregações estabelecidas por instituições pré-existentes. Portanto, na ausência de instituições novas e adequadas, capazes de mobilizar a ação solidária dos jovens, é bastante possível que eles continuem, na melhor das hipóteses, a serem objetos de políticas, sem capacidade de influir sobre as mesmas.

           Nesse sentido, é particularmente desafiador o cumprimento de uma das recomendações do Programa de Ação da Conferência Mundial sobre População e Desenvolvimento das Nações Unidas, do qual o Brasil foi signatário, que estabelece “o envolvimento ativo da juventude no planejamento, na implementação e avaliação das atividades que tenham impacto direito sobre suas vidas.”

           Srªs e Srs. Senadores, o tom reticente deste pronunciamento não tem por finalidade empanar a alegria de uma efeméride - o dia da juventude - mas pretende funcionar como uma advertência sobre a necessidade de a sociedade repensar a atual crise civilizatória e formular novas utopias. Afinal, os jovens estão de volta às ruas - em Seattle, em Londres, na América Latina - em busca de um sonho coletivo.

           Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/10/2000 - Página 20801